A arte
do artista visual austríaco Alfred Kubin
(187701959). Veja mais aqui.
COMO EM CESENA – Art by Giulia Bianchi - A rua, seus olhos nos meus alheios aos passantes,
vêm e vão para onde. A nossa urgência e a lua nas suas pálpebras repousante e
os cílios na face delicada, boca entreaberta para os seios espremidos no decote
abissal. A premência, aonde e a praça iluminava o incêndio da nossa gula
queimando suas pernas que prendiam a minha atracada à promessa do seu porto
seguro. A iminência e o seu braço cruzado sobre as coxas e levavam sua mão nua
e espalmada para a minha alisada por seus dedos sinápticos limítrofes do meu
sexo vivo em ebulição. Os bancos, a calçada, a porta escancarada, rumores de muita
gente, a liturgia irreconhecível aos ouvidos, salmos arrepiantes, preces
inauditas nos nossos corpos febris e pecaminosos sob as nossas vestes desejosas
e prestes a serem devassadas e removidas. A portinhola e a privacidade, meus
lábios nos seus e o universo era a vida na mais exaltada experiência do prazer
e não havia lei nem ordem, o abrigo e o meu sexo empunhado pela sua ávida
devoção, língua às labaredas, sobejo lavando o flagrante da alma e sou
abocanhado aos olhares da batina, polícia, curiosos, porque o nosso gozo não
poderia ser tomado nem roubado. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui e aqui.
DITOS E DESDITOS - Sabemos
que uma nova política de solidariedade, responsabilidade individual e
transformação coletiva é urgentemente necessária. Podemos nos educar
culturalmente para entender como criá-lo? Pensamento do dramaturgo, poeta, educador em
arte comunitária e ativista ecocultural galês-quebequense Dan
Baron Cohen,
que desenvolve a pedagogia de transformance (transformação
sustentável através da performance), em colaboração com redes relevantes na
África, Ásia, América Latina, América do Norte e Europa. Ele atua no
desenvolvimento de comunitário policiamento, formação de professores, hortas
medicinais comunitárias, mídia movida a energia solar e para nutrir um novo paradigma
de educação integrada por meio do desempenho.
ALGUÉM FALOU: Todos
morremos. O objetivo não é vivermos para sempre. O objetivo é criarmos algo que
viverá. Você sempre terá uma desculpa para não viver a sua vida. Pensamento
do escritor estadunidense Chuck Palahniuk.
ALGUÉM FALOU2: A
saúde é a vida no silêncio dos órgãos. Pensamento do fisiologista e
cirurgião vascular francês René Leriche,
que indicava como a doença é, em última instância, o que faz o corpo falar.
O NORMAL E O PATOLÓGICO - A
história das ideias não pode ser necessariamente superposta à história das
ciências. Porém, já que os cientistas, como homens, vivem sua vida num ambiente
e num meio que não são exclusivamente científicos, a história das ciências não
pode negligenciar a história das ideias [...]. Se é verdadeiro que o corpo humano é, em certo sentido, produto da
atividade social, não é absurdo supor que a constância de certos traços,
revelados por uma média, dependa da fidelidade consciente ou inconsciente a
certas normas de vida. Por conseguinte, na espécie humana, a frequência
estatística não traduz apenas uma normatividade vital, mas também uma
normatividade social. [...] o espanto
verdadeiramente vital é a angústia suscitada pela doença. [...]. Trechos
extraídos da obra O normal e o patológico (Forense Universitária, 2002),
do filósofo e médico francês Georges Canguilhem (1904-1995), defendendo
que a vida não pode ser deduzida a partir e apenas de leis físico-químicas, precisando
partir do próprio ser vivo para compreender a vida.
A NATUREZA DO PODER - […] O
mais forte dos fortes poderes nos bastidores provou ser aquele - muito visível
- que molda a mentalidade (e a própria palavra) dos cidadãos. Uma força que,
apesar de fazer uso de ferramentas concretas e tangíveis e pela qual às vezes
se derrama sangue, é impalpável em sua manifestação; penetra por toda parte
como gás e cria (sim!) "o novo homem": isto é, o
sujeito-consumidor-escalador frustrado, que se esforça em vão por desejar e
almejar modelos de vida inatingíveis, que acabam constituindo a totalidade de
seu aspirações. Existe a forma "sublime" e quase inafundável de
poder; mas também - não se deve esquecer - a limitação máxima da expressão na
época que promete a todos o máximo de liberdade de expressão. [...]. Trechos
da obra (Belles Lettres, 2010), do historiador Luciano
Canfora, que é professor na
Universidade de Bari e autor de obras, tais como: A democracia – História de uma ideologia (Seuil,
2006), na qual assinala que: É armadilha
entoar hinos à democracia sem definir a qual democracia se refere. É também
autor da obra Crítica da retórica democrática (Estação Liberdade, 2007).
ESTA HISÓRIA – [...] Escrever
é uma forma sofisticada de silêncio. [...] Os mortos morrem, mas continuam a falar em nossa voz. [...] Se você ama alguém que o ama, nunca
desmascare seus sonhos. As pessoas
vivem anos e anos, mas, na realidade, elas vivem apenas por um tempo, e é aí
que podem fazer o que nasceram para fazer. [...] Você sabe como saber se alguém te ama? Ele realmente te ama, quero
dizer. Nunca pensei nisso. Eu sim. E você encontrou uma resposta? Acho que tem
a ver com espera. Se ele pode esperar por você, ele o ama. [....] Esta circunstância misteriosa de que as
coisas do nosso passado continuam a existir mesmo quando saem do âmbito das
nossas vidas e, mais do que isso, amadurecem, trazendo novos frutos a cada
estação, para uma colheita da qual nada mais sabemos. A persistência ilógica da
vida. [...] Quando chegou aonde dava
para ver sua casa, parou. Havia gente do lado de fora, em frente à garagem.
Eram pessoas das casas vizinhas. E algumas que ele não conhecia. Ficou um pouco
à espera. Não tinha bem certeza de que queria prosseguir. Depois, alguém o viu,
e não houve mais nada que fazer. [...] Tomou-a
pela mão e a levou para uma das cadeiras que havia em volta da mesa. Ajudou-a a
sentar. Ela apertava um lenço na mão. Estava com os nós dos dedos brancos,
porque apertava com força. Então, Ultimo lembrou-se da força que a mãe sempre
tivera e se perguntou o que estaria acontecendo para conseguir quebrar uma
mulher como aquela. Inclinou-se para lhe dar um beijo nos cabelos. [...]. Trechos
extraídos da obra Esta história (Cia das Letras, 2007), do escritor e artista
popular italiano Alessandro Baricco. Veja
mais aqui.
SEXO NO CONFESSIONÁRIO - No confessionário de uma igreja de Cesena,
na Itália, estranhas sacudidelas, sussurros, gemidos, abanos, resfolegos e outros
barulhos suspeitos emanavam do interior do confessionário naquela manhã de primeiro
de junho. O celebrante mantinha o ritual, mas a polícia foi chamada por um beato
incomodado. Não era brincadeira. Ao puxar a cortina lilás do compartimento, a
constatação: a serpente era a maçã naquele paraíso, o pecado original ali, ao
vivo e em cores. Uma educadora formosa e um operário priápico, seminus, a
felação. Diante dos agentes, não houve interrupção do ato. Todos assistiram
olhos esbugalhados até o fim. Satisfeitos, foram escoltados e rigorosamente
indiciados pela prática de atos obscenos contrários à decência pública. O escândalo
foi noticiado pelo Corriere dela Sera:
um casal ateu flagrado com atos obscenos durante a missa domingueira. Em depoimento
e posteriores entrevistas concedidas pelo casal gótico, ambos declararam não
interromper a celebração religiosa e que se arrependiam do que fizeram, fato
que facilitou o reencontro deles com a autoridade episcopal. No final, os felizes
apaixonados de alma lavada foram advertidos pelo monsenhor e o perdão soou na
catedral para selar as pazes com a autoridade diocesana. Religiosos inconformados
requereram da cúria diocesana um especialista em direito canônico para
determinação do que reparasse tal ofensa e a purificação do ato profanador. Tal
fato provocou no domingo seguinte, uma missa reparadora com o fito purificar o
templo ultrajado. A página foi virada e não era mais 2006, afinal que dia é
hoje? Ah, lembrei o livro Sexo no
confessionário (Nórdica, 1974), de Norberto Valentini e Clara di Meglio,
que traz entrevistas sobre os limites das relações entre noivos aos olhos da
ihreja, as relações completas e o desejo de continuá-las pelo nubentes,
mulheres sozinhas e privadas de relações afetivas e sexuais estáveis, as
efusões amorosas dos esposos, o desejo de não ter filhos, cônjuges separados e
o refazimento familiar, o confessor e o penitente, entre outros assuntos.
EPÍSTOLA AOS POETAS QUE VIRÃO - Talvez
amanhã os poetas perguntem / por que não celebramos a graciosidade das garotas;
/ Quiçá amanhã os poetas perguntem / por que nossos poemas / eram largas
avenidas por onde vinha a cólera ardente. / Eu respondo: por todas as partes se
ouvia pranto, / por todas as partes nos cercava um muro de ondas negras. / Seria
a poesia / um solitário filete de orvalho? / Tinha que ser um relâmpago
perpétuo. / Eu vos digo: / enquanto alguém padeça, / a rosa não poderá ser
bela; / Enquanto alguém olhe o pão com inveja, / o trigo não poderá dormir; / Enquanto
os mendigos chorem de frio na noite, / meu coração não sorrirá. / Mate a
tristeza, poeta. / Matemos a tristeza com um pau. / Há coisas mais altas / que
chorar o amor de tardes perdidas: / o rumor de um povo que desperta, / isso é
mais belo que o orvalho. / O metal resplandecente de sua cólera, / isso é mais
belo que a lua. / Um homem verdadeiramente livre, / Isso é mais belo que o
diamante. / Porque o homem despertou, / e o fogo fugiu de sua prisão de cinzas
/ para queimar o mundo onde esteve a tristeza. Poema do romancista e poeta
peruano Manuel Scorza (1928-1983). Veja mais aqui e aqui.
O FEMINISMO NO
BRASIL - Foi na década de 60 que, segundo Saffioti
(1987), começaram a aparecer estudos, chamando a atenção para as injustiças
sociais que são vítimas as mulheres. É exatamente em 1960, que surge a Liga
Feminina do Estado da Guanabara. E, por isso, a partir dos anos 60, segundo
Bauer (2001), deu-se a ampliação vertiginosa de matriculas femininas nas
universidades, denunciando a queda de um reduto tradicional do patriarcado
brasileiro: no mercado de trabalho, não
apenas se ampliava a presença feminina como também aumentava sua participação
em áreas não-convencionais dos diferentes setores da produção. Com a edição da
Lei 4121/62, são apresentadas as normas acerca da condição de mãe, esposa e da
incapacidade relativa da mulher que foram retiradas do Código Civil,
conquistando o direito ao trabalho e da guarda dos filhos. Em 1963, deu-se o
Encontro Nacional da Mulher Trabalhadora, onde defendia salário igual para
trabalho igual, da aplicação efetiva das leis sociais e trabalhistas a favor da
mulher. Durante o inicio dos anos 60, no dizer de Teles (2003), a mulher também
participou de movimentos de direita na luta contra a ameaça comunista, com
princípios religiosos e manipuladas pela direita, criando a Campanha da Mulher
pela Democracia (CAMDE), em 1962. Quando os militares assumiram o poder, a
mulher foi relegada a plano secundário. Com o golpe de 1964, desapareceram
todas as associações femininas, voltando apenas a tomar impulso em 1975, com o
Ano Internacional da Mulher. Na segunda metade da década de 60, segundo
Saffioti (1987) começaram a surgir os movimentos feministas que, cada um a seu
modo, passaram a lutar pela igualdade nas relações de gênero. Na França,
segundo Teles (2003), acontecia em 1968 a revolução cultural-sexual. No Brasil,
com os assassinatos da repressão, surgiu a União Brasileira de Mães, no Rio de
Janeiro, com passeatas para impedir a violência. Depois as mulheres se
incorporaram nas organizações de esquerda, nos campos e nas cidades. Segundo
Teles (2003), participaram da luta armada de 1969 até 1974, sofrendo
discriminação de seus próprios companheiros e foram torturadas. As de direita eram usadas
nas emboscadas, eles não confiavam na capacidade das mulheres de exercer a
violência até as últimas conseqüências. A participação da mulher na luta
armada, conforme Teles (2003), teve um caráter ambíguo, devido à misoginia
existente também no meio da esquerda e à impossibilidade de as mulheres
formularem naquele momento suas reivindicações específicas No final da década
de 60, segundo Buaer (2001), surgiu com ímpeto o movimento feminista que teve
seu auge entre 1970 e 1980 e iniciou um retrocesso a partir de então. E,
segundo Toledo (2008), é quando ocorre o segundo movimento pela emancipação da
mulher, isso foi no final dos anos 60 e inicio dos 70, com os movimentos
feministas que visavam basicamente a liberação sexual. A partir da década de
70, é registrado por Teles (2003) que as mulheres da periferia de São Paulo
criam o Movimento do Custo de Vida, dirigido pelas mulheres das periferias e
pela Igreja. Depois mudou de nome para Movimento contra a Carestia. Foi neste
momento que, para Teles e Melo (2001): [...] As feministas foram às ruas
manifestar-se contra a dominação masculina e suas conseqüências. Foi um estimulo
para as mulheres espancadas mostrarem seus hematomas e o rosto marcado pela
violência de gênero. Foram denunciados os assassinatos de mulheres e a
absolvição dos culpados sob a alegação de legitima defesa da honra,
mantendo-se, contudo, a impunidade. Neste sentido, registra Teles (2003) que as
feministas propiciaram também às trabalhadoras em geral falar de si mesmas e
refletir sobre sua vida e trabalho. A trabalhadora rural passa a denunciar sua
condição de trabalho sem nenhuma cobertura da legislação brasileira. A mulher
do trabalho rural, segundo Moraes (2002, p. 34): [...] além de terem mais
filhos e filhas, as mulheres da zona rural são mães mais cedo porque também tem
menos acesso á informação; porque vivem em muitas regiões onde controlar a
natalidade não é uma prática sequer imaginada; porque os níveis de pobreza em
que elas vivem não se comparam aos níveis de pobreza dos centros urbanos, sem
contar que os dados desse caso são irrisórios se comparados ao numero total de
mães das zonas rurais versus mães que vivem em zonas rurais gozando do
beneficio previdenciário. Nesta mesma linha Saffioti (1987, p. 49) expressa que
nas zonas rurais, é freqüente encontrarem-se trabalhadoras cujas carteiras de
trabalho ficam com o patrão: [...]. Elas não são assinadas. Ficam nas mãos do
patrão para assinatura, o que ocorre apenas se aparecer fiscalização. Como esta
é omissa ou se vende, a maioria esmagadora das carteiras de trabalho nunca é
assina. A legislação que rege o trabalho rural discrimina a mulher numa medida
muito mais profunda do que a legislação urbana. Este fato é reiterado por Teles
(2003) ao mencionar que muitas mulheres do trabalho rural não têm suas carteiras
profissionais assinadas pelos patrões, o que as impede de usufruir de direitos
trabalhistas. Com isso, conforme Toledo (2008), as mulheres passaram a atuar no
movimento sindical, criando comissões específicas para tratar da questão. Com
um trabalho assíduo e combativo, desnudaram os conflitos entre os sexos junto
aos trabalhadores. Por resultado, as feministas que se tornaram profissionais
de saúde, e vice-versa, são as primeiras a ocupar os espaços da administração
pública, trazendo para o movimento as experiências de lidar com o completo
emaranhado do aparato do Estado. E são as feministas que cobram a grande dívida
social e econômica que tem o patriarcado perante a humanidade, em vista das
injustiças milenares cometidas sob sua autoridade. É quando mais tarde, algumas
feministas, ao encaminharem a proposta de criação dos conselhos, órgãos
específicos para tratar das políticas públicas voltadas às mulheres,
conquistaram um espaço de articulação dentro do aparelho do Estado. É a partir
de meados da década de 70 que, segundo Bauer (2001), os primeiros movimentos
organizados de mulheres cresciam e se espalhavam por todo país e as teorias de
Simone de Beauvoir e de Betty Friedan eram amplamente debatidos nos diversos
espaços sociais, da universidade à fabrica de sutiãs, passando pelos sindicatos
e pelos partidos políticos. Foi a partir do Ano Internacional da Mulher, em
1975, que, segundo Saffioti (1987), que um número crescente de cientistas, em
geral mulheres, passou a dedicar-se ao estudo da condição feminina. Para Teles
(2003), a instituição do ano de 1975 como Ano Internacional da Mulher,
promovida pela ONU, foi um pretexto suficientemente forte para desencadear a
manifestação das idéias feministas e a ação das mulheres. Foi quando se deu o
manifesto da Mulher Brasileira, em favor da anistia. Daí surge o Movimento
Feminino pela anistia, contando com o apoio da ONU, as manifestações das
mulheres aumentaram, possibilitando o I Encontro de Mulheres do Rio de Janeiro.
Em São Paulo, aconteceu o Encontro para o Diagnóstico da Mulher Paulista,
patrocinado pelo Centro de Informação da ONU e pela Cúria Metropolitana,
nascendo por conseqüência o Centro de Desenvolvimento da Mulher Brasileira. Neste
mesmo ano, surge o jornal Brasil Mulher, quando toma força as campanhas do feminismo
e à defesa da anistia a todos os presos e perseguidos políticos. O Jornal
começa em Londrina, no Paraná e se transfere para São, até 1979. Em 1976 surge uma
outra publicação, o jornal Nós Mulheres. É quando se dá em 1977, o I Encontro
da Mulher que Trabalha, promoção do Centro da Mulher Brasileira, no Rio de
Janeiro. Neste ano o governo aboliu a proibição do trabalho noturno par as
mulheres. Surge então a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Mulher,
impedindo a mulher trabalhadora de participar. A partir daí vieram as greves de
1978 com participação das mulheres. Dá-se, neste mesmo ano, o Congresso da
Mulher Metalúrgica, promovido pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo
do Campo. No ano seguinte é realizado o I Congresso da Mulher Paulista, que
criou o Movimento de Luta por Creche, debatendo o papel da mulher e da família.
Este movimento, segundo Saffioti (1987, p. 87), conseguiu congregar milhares de
mulheres: [...] não apenas aquelas que tinham filhos em idade pré-escolar e,
portanto, potenciais usuárias deste equipamento de uso coletivo, como aquelas, que,
podendo pagar empregadas ou pré-escolas para os filhos, compreenderam as
enormes dificuldades das menos privilegiadas. É neste contexto que, segundo
Toledo (2008), dá-se o terceiro movimento pela emancipação da mulher, de
caráter sobretudo sindical e protagonizada principalmente pela mulher
trabalhadora latino-americana. Assinala Soihet (2010) que embora as discussões
sobre as questões de gênero se iniciassem a partir da década de 1970, só mais
tarde difundiram-se no Brasil, especialmente no que tange à história. É o que
expressa Teles (2003) ao mencionar que o movimento feminista brasileiro começou
a colocar em destaque a questão da violência contra a mulher em 1980, mais
precisamente no II Congresso da Mulher Paulista. É em 1981, que surge o Mulherio,
organizado por feministas, em São Paulo. Durou até 1987. Em 1983, surge o
Conselho Estadual da Condição Feminina, em São Paulo. Em 1984 o governo
brasileiro, através do Ministério da Saúde, propõe o Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher (PAISM) que só atendia de 15 a 49 anos, depois
ampliando a todas as mulheres. Às barreiras de natureza ideológica, assinala
Teles (2003) que soma-se a ausência de infra-estrutura: falta de consultórios
ginecológicos devidamente equipados, de diafragma e outros métodos
contraceptivos, de maternidades e hospitais. Em 1985, o governo federal criou o
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, que se tornou um instrumento de
mobilização das mulheres por suas reivindicações. É neste período que, segundo
Bauer (2001) se dão a criação dos primeiros Conselhos de Defesa dos Direitos da
Mulher, seu ingresso nas Forças Armadas e em outros redutos masculinos
tradicionais, como a Academia Brasileira de Letras e o Poder Judiciário, além
de uma atuação marcante nos debates em torno da redemocratização do país,
traduziram-se em exemplos eloqüentes desses novos tempos. Esses exemplos
mostram que a participação efetiva da mulher no processo de desenvolvimento é
no Brasil contemporâneo um fato inequívoco e irreversível na sociedade
brasileira. Para Bauer (2001), a mulher não é mais, como no passado distante e
mesmo recente, figura marginal do acontecer político, econômico e cultural, uma
vez que parte para a luta para firmar seu espaço na sociedade, em igualdade de
condições com os homens, tendo como projeto de conquista da plena cidadania e
reconhecimento de sua importância indelével na construção da civilização
brasileira. Neste cenário, explicita Teles (2003, p. 131) que: A mulher se
mantinha até então calada frente à violência domestica. No Brasil, fazia-se
crer que somente os homens negros e pobres espancavam as mulheres, devido ao
alcoolismo ou à extrema pobreza. Ou quando rico, era admitido em defesa da
honra. [...] No decorrer dessa luta, evidenciou-se não só a violência praticada
contra a mulher, como a conivência da sociedade e das autoridades constituídas,
policiais e judiciárias, em relação a esse tipo de crime. Este movimento,
segundo Saffioti (2004) não significa que as feministas não deixaram de ser
femininas, nem são mal amadas, feias e invejosas do poder masculino. Argumenta
a autora que as feministas são seres humanos sem consciência dominada, que
lutam sem cessar pela igualdade social entre homens e mulheres, entre brancos e
negros, entre ricos e pobres e preparam as pautas para elaboração do Encontro
Nacional da Mulher pela Constituinte. Por fim, foi na década de 80, com a
promulgação da Constituição Federal, baseada no Estado Democrático de Direito,
a partir do princípio da dignidade humana e do exercício da cidadania,
possibilitando a igualdade de direitos entre homens e mulheres, passando a
mulher a ser tutelada constitucionalmente como sujeito de direitos. Os direitos
da mulher, conforme Cavalcanti (2010), estão consagrados na Constituição
Federal vigente e nas convenções internacionais. Estes direitos, no Brasil,
foram negados por décadas, preteridos por razões baseadas na sua condição de
inferioridade e de negação de sua cidadania. É quando se dá, conforme Teles
(2003), o Movimento das Mulheres que significa ações organizadas de grupos que
reivindicam direitos ou melhores condições de vida e trabalho. Com isso,
observa-se que na década de 80, segundo Soihet (2010, p. 77), ocorreram as
manifestações informais em que “[...] se expressavam as diversas formas de atuação
e intervenção femininas, com abordagens que resultavam do vulto assumido pela
história social e, posteriormente, pela história cultural”. Na década de 90,
segundo Toledo (2008), ocorrem as transformações advindas das revoluções nos
países do Leste europeu. A Convenção de Belém do Pará, realizada no Brasil em 9
de junho de 1994, ratificou e ampliou a Declaração e o Programa de Ação da
Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena, em 1993, e foi
ratificada pelo Brasil em 27 de novembro de 1995. Esta convenção, conforme
Oliveira (2010, p. 1): [...] resulta da peleja do feminismo mundial para
visibilizar a violência contra a mulher e exigir dos Estados-membros da
Organização dos Estados Americanos (OEA) ações preventivas e punitivas para coibir
a violência de gênero, entendida como toda e qualquer ação ou conduta, baseada
no gênero, que cause morte, dano físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto
no âmbito público como no privado. Nesta convenção fica definida a violência
contra mulher em nível regional, disciplinando sua tipologia e declarando,
conforme Cavalcanti (2010, p. 97), a violência contra mulher como “[...] grave
violência dos direitos humanos fundamentais e ofensa à dignidade humana”. Hoje,
no dizer de Soihet (2010, p. 87): Divergência de posições, debates,
controvérsias, este é o quadro hoje da história das mulheres; quadro que se
afigura dos mais promissores e que coincide com a diversidade de correntes
presentes na historiografia atual. Diversidade que se manifesta na existência
de vertentes que enxergam a teoria como ferramenta indispensável à construção
do conhecimento histórico sobre as mulheres, até as que relativizam a sua
presença, em nome do caráter fluido, ambíguo, do tema em foco: as mulheres como
seres sociais. As lutas das mulheres prosseguem, portanto, rumo a conquista de
seus direitos e a efetividade das políticas públicas de defesa dos seus
direitos e no combate à violência. Veja mais aqui, aqui e aqui.
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VERA INDIGNADA NA FLIMAR – Estava eu devidamente personificado de Nitolino e descansando das recreações com contações & cantações de histórias para a garotada presente ao segundo dia da II Flimar, quando de repente, meio dia em ponto, eis que surge mais ousada que nunca e completamente embevecida com a festa toda, a indefectível e indignada Vera.
- Vera, mulher, tu por aqui? -, dei-lhe minha afetiva saudação.
- Apois, num é, menino. E tu, hem? Tais podendo. Esse teu personagem aguça minha pedofilia, me vejo logo feito naquela cena da Marília Pera com o menino do Pixote. Vixe! Já tô de boca cheia e babando pelas intimidades!
- Eita, Vera doida essa!
- Deixe de brincadeira e vamos sumir daqui, menino!
- Peraí, Vera, ainda tenho apresentações pra fazer, só termino lá pelas 5 da tarde, mulher.
A danada fez um muxoxo de poucos amigos e ficou me beliscando como uma potranca raçuda tremendo de cio.
- E aí, mulher, o que estás achando da II Flimar?
- Ah, está ótima! Melhor que no ano passado. Essa orla da Manguaba ficou ótima, só não está melhor mesmo, porque ainda não deu para molhar o biscoito, mas você promete para mais tarde, né?
- Ficou realmente muito legal essa orla, tudo de muito bom gosto...
Era eu descoversando e sacando a agonia dela. Claro, para quem saiu agora do Big Shit Bôbras, está somente gozando da notoriedade alcançada, vez que virou celebridade regional pela assimetria corporal de deusa exagerada, pelos posicionamentos gasguitos de feminista fêmea e pelas contundentes opiniões a respeito de tudo e de todos.
Não deixando por menos, ela sapecou com a sua peculiar fúria:
- Essa cidade merecia o nome bonito que sempre teve: Madalena, ou melhor, Santa Maria Madalena do Sul. Pra mim bastava Madalena mesmo. Esse negócio de Marechal Deodoro, todo mundo sabe: é coisa de machista cavalo-batizado. Eu sei que o povinho daqui, em sua grande maioria, é cristão e odeia Madalena. Sou da trupe do Dan Brown e simpática daqueles guardiões do Santo Graal. Isso explica tudo. Se esse povo soubesse a história da Proclamação da República, saberia logo a tramóia toda que a gente vive e logo veriam que esse marechal bostão não merece nem um peido sequer duma cidade linda como esta. Falei tá falado.
- Eita, Vera doida da gota!!!
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