JUSTIÇA 619 - (Em
memória de Mõnica Susana Pinus Binstock – 1953-1980) - Ah, Mónica, o meu
coração latinamericano é mantido em luto, sou Buenos Aires lamentando pela
montonera. Ela era socióloga e nascida a 30 de janeiro, a mesma que fora
baleada em confronto com a Triple A, dos ditadores argentinos. Hospitalizada
por isso, foi submetida à tortura. Com a sua libertação exilou-se em Cuba,
seguindo pro México. Anos depois decidiu morar no Brasil, em virtude de vigorar
aqui a Lei da Anistia, exilados voltavam e presos políticos foram liberando. Mesmo
assim, ainda estava montada a engrenagem da inominável Operação Condor, razão
pela qual, vindo do México, eis que se deu o seu desaparecimento por sequestro,
juntamente com Horacio, no Rio só foi comprovado em 2002, por conta da farta
documentação estadunidense sobre as violações aos direitos humanos cometidas
pelo Estado argentino e o envolvimento conivente das autoridades brasileiras da
ditadura do golpe militar de 1964, dada pela Freedom of Information Act. Consta
que detida clandestinamente em El Campito para onde foi levada pela Operação
Gringo, pela qual foi vítima de práticas ilegais e arbitrárias violadoras dos
direitos humanos. Capturada viva, desapareceu para nunca mais integrando o rol
das Filhas da Dor. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Não sou dos mais altos escalões da sociedade, nem dos mais baixos. Sou uma mulher advogada,
professora universitária, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Ao mesmo tempo, eu
cozinho. E mesmo quando estou
prestes a ir para a prisão, uma das primeiras coisas que faço é preparar comida
suficiente e colocá-la na geladeira para minha família...
Eu, que defendi muitos prisioneiros de consciência, como os sete líderes
bahá'ís presos e outros, enfrentaria restrições inaceitáveis em meu trabalho de
direitos humanos se voltasse ao Irã, se não fosse preso, agora meu próprio
advogado - que também representa muitos outros
ativistas - está detida e seu advogado foi ameaçado de prisão por defendê-la. Onde está a justiça se o
seu advogado for preso por defendê-lo? Pensamento da jurista e ativista iraniana exilada, Shirin Ebadi. Veja mais
aqui.
ALGUÉM FALOU - Quem passa pelo sexo
pago não é um esquálido a ser punido, mas sim um cidadão livre, muitas vezes
sozinha, idosa, viúvo ou pouco atraente. O homem perfeito? Um hermafrodita: um indivíduo com um órgão masculino,
o pênis, e um órgão feminino, o cérebro. Ser mulher é uma dádiva da natureza
ou, como no meu caso, uma dádiva que dei a mim mesma. Pensamento da atriz, escritora e ativista italiana Vladimir Luxuria
(Wladimiro Guadagno).
DIÁRIO DE
UM PREDADOR – [...] Nenhuma saída fácil. Nenhuma escapatória. De você mesmo. Você teve que APRENDER a LIDAR com
as cartas que recebeu. Tive que aprender da maneira mais
difícil que o mundo não te DEVE porra nenhuma. Não é motivo, nem desculpa. Sem desculpas. Tive que aprender que algumas formas
de insanidade correm na família, genética pura, linhas de vida poluídas, cheias
de doenças. Profanidade. Vício. Co-dependência. Incapacidade de lidar com a
realidade, o que diabos isso significa quando você nasce em um gueto emocional
de abuso sem fim. Onde a única saída é dentro... bem
no fundo, então você abre buracos na sua pele, pensando que se você pudesse
apenas concentrar a dor, ela não continuaria sendo um ambiente que tudo consome
e que o sufoca desde a primeira respiração. dia para o seu último dia de morte. Dia após dia. Dia após dia. Eu sabia tudo sobre isso. [...]. Trechos extraídos da obra Paradoxia:
A Predator's Diary (Akashic, 2007), da
cantora, escritora e atriz estadunidense Lydia Lunch (pseudônimo de
Lydia Koch), autora que se expressa: Resolvi me trancar. Uma segregação forçada. Sabático. Um retiro dentro de mim. Eu mesmo. Brinque de esconde-esconde no
espelho. O espelho angulado ao pé da minha
cama. Reflexos distorcidos ricocheteando
no infinito. Obcecado com a minha imagem, a
miríade de estatuetas distorcidas que dançavam diante de mim em rápida
sucessão, cada traço exagerado, cada pequena imperfeição uma nova delicadeza. Veja mais
aqui.
DOIS POEMAS – AS ROSAS DE SAADI - Eu pretendia esta manhã te trazer rosas; \ Mas pus tantas em minhas vestes rigorosas\ Que os nós cerrados não as puderam guardar.\ Os nós se romperam. As rosas se soltaram\ No vento, até chegar ao mar todas voaram.\ Seguiram a água para não mais voltar.\ A onda se viu de um vermelho incendiado.\ À noite o vestido ainda está perfumado…\ Respira em mim o aroma para recordar. OS SEPARADOS - Não escreva. \ Estou triste e gostaria de morrer.\ Os lindos verões sem você são a noite sem tocha. \ Fechei meus braços que não te alcançam, \ E bater no meu coração é bater na sepultura. \ Não escreva ! Não escreva.\ Só aprendemos a morrer para nós mesmos. \ Pergunte só a Deus... só a você, se eu te amei! \ No fundo da tua ausência, ouvindo que me amas, \ É ouvir o céu sem nunca subir lá. \ Não escreva ! Não escreva. \ Eu tenho medo de você;\ Tenho medo da minha memória; \ Ela manteve sua voz que me chama com frequência. \ Não mostre água viva para quem não pode beber. \ Uma caligrafia querida é um retrato vivo. \ Não escreva ! Não escrevas estas doces palavras que já não me atrevo a ler: \ Parece que sua voz os espalha sobre meu coração; \ Que eu os vejo queimando através do seu sorriso; \ Parece que um beijo as marca em meu coração. Não escreva! Poemas da poeta francesa Marceline Desbordes-Valmore (1786-1859). Veja mais aqui, aqui e aqui.