AH, THEREZINHA - (Therezinha Viana de Assis – 1941-1978) - Aquela
moça sergipana estudava Economia na faculdade quando se engajou politicamente participando
de organizações clandestinas. Tornou-se depois economiária em Belo Horizonte. Foi
lá que foi presa e torturada, por quatro anos encarcerada. Ao sair da prisão exilou-se
no Chile, onde especializou-se na sua área e com militância no MIR. Foi lá que
ela se passou a assinar como de Jesus. Não demorou muito, com o golpe de
Pinochet na queda de Allende, foi pra Holanda, doutorando-se em Amsterdam.
Trabalhava na prefeitura local, mas por conta da não renovação do seu contrato,
passou a ter problemas psicológicos motivado pelo isolamento e consequências
das torturas na prisão. Um belo dia foi encontrada morta, foi o que soube duma
carta de um outro exilado de lá ao bispo de Lins: havia se jogado pela janela de
seu quarto no terceiro andar dum edifício, na verdade sétimo andar. Conta-se que
foi encontrada com diversas fraturas das costelas e uma hemorragia no baço. Socorrida,
não resistiu a uma cirurgia emergencial. Sua irmã preocupada por não receber mais
suas cartas, deu conta de que estava sendo seguida. Por isso, havia saído de
férias, aprendendo outras línguas e viajando pela Rússia e países da Europa
Oriental. Ao retornar das viagens, encontrou seu apartamento invadido. E todos
os dias quando voltava do trabalho encontrava tudo remexido e desarrumado pela
polícia secreta do Chile, presume-se. Alegou pra irmã que recebia ligações anônimas
ameaçadoras. Exatamente por isso desconfiavam que não foi suicídio. Guardo
apenas sua foto do Dossiê da Ditadura, o seu nome na lista dos desaparecidos do
Golpe Militar de 1964, no rol das Filhas da Dor. Veja mais aqui, aqui, aqui e
aqui.
DITOS & DESDITOS – A pluralidade dos seres únicos é o que
caracteriza a condição humana; nós somos seres únicos e por isso nós
somos plurais. E essa unicidade que garante a pluralidade... Pensamento da filósofa
política alemã de origem judaica Hannah Arendt (1906-1975). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Estou aqui hoje porque me recusei a ser infeliz. Eu tive uma
chance. Estou aqui hoje porque eu odiava tudo o mais. Quando a vida lhe dá
limões, não faça limonada, faça limonada rosa. Seja único. Se você tiver uma
paixão por isso, então pare de desejar e faça isso. Pensamento da atriz,
roteirista, comediante e ativista estadunidense Wanda Sykes.
ALTERIDADE – [...]
Na relação com o outro este
aparece para mim como alguém a quem eu devo algo, em relação a quem eu
sou responsável. Daqui a assimetria da relação Eu/Você, uma relação de
completa diferença entre mim e você, porque toda a relação com o
outro é uma relação de responsabilidade. [...]. Trecho extraído da obra Alterity and transcendence (Columbia University Press, 1999), do
filósofo francês Emmanuel Lévinas (1906-1995), que na obra Totalité et infini (Livre de Poche, 1990),
expressa que: [...] Minha procura por justiça pressupõe uma nova
relação, na qual todo o excesso de responsabilidade que eu devo ter
perante o outro é subordinado à questão da justiça. Na justiça
existe comparação, e o outro não tem nenhum privilégio em relação a mim.
Entre pessoas que adentram esta relação, uma outra relação deve ser
estabelecida, que pressupõe a comparação entre eles, isto é, pressupõe,
justiça e cidadania. Limitação daquela responsabilidade inicial, a justiça
ainda assim marca uma subordinação do eu em relação ao outro. Com a
chegada do terceiro, o problema fundamental da justiça é colocado,
o problema do direito, que é sempre do outro. [...]. Já no
livro O humanismo do outro homem (Vozes, 2009),
ele expressa que: [...] O estudo do homem, imbricado numa civilização
e economia que se tornaram planetárias, não se pode limitar a uma tomada de consciência: sua morte, seu
renascimento e sua transformação acontecem, doravante, longe dele
mesmo. [...]. Por fim, no livro Entre nós: ensaios sobre a alteridade (Vozes, 1997), ele expressa o conceito de alteridade como: [...]
instrumento de interpretação
da história e nasce de uma ruptura da indiferença, da possibilidade do um-para-o-outro,
que é o acontecimento ético, um
existir-para-outrem, mais forte que a ameaça de morte.
[...] a alteridade nasce de uma tomada de posição
ética e de um reconhecimento intelectivo: aceitar a relação com o Outro como constitutiva do ser, mas de um ser no mundo,
uma escolha ética pelo reconhecimento da alteridade
como relação entre os homens na
diferença; e um desejo intelectivo de conhecer,
e reconhecer, esse Outro a quem estou ligado irremediavelmente por estar no mundo em sua companhia. A relação com o
Outro pressupõe querer compreendê-lo,
mas essa relação excede a
simples compreensão. O conhecimento
de outrem exige, além de
curiosidade [...] simpatia ou amor, maneiras de ser distintas da
contemplação impassível. Mas também porque, na nossa relação com outrem,
este não nos afeta a partir de
um conceito. Ele é ente e conta como tal [...] Compreender uma pessoa é
já falar-lhe”. Deixar o outro
ser é ter aceito essa existência,
tê-la tomado em consideração.
[...] eu compreendo o ser em outrem, além de sua particularidade de ente; a pessoa com a qual estou em relação, chamo-a ser, mas, ao chamá-la
ser, eu a invoco. Não penso apenas que ela é, dirijo-lhe a palavra.
Ele é meu associado no seio da relação que só devia torná-la presente.
Eu lhe falei, isto é, negligenciei o ser universal que ela encarna, para me ater ao ente particular que ela é [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
PENSAMENTO & LINGUAGEM – [...] A atividade vital humana caracteriza-se
pelo trabalho social e este, mediante a divisão de suas funções, origina
novas formas de comportamento, independentes dos motivos biológicos
elementares. A conduta já não está determinada por objetivos
instintivos diretos... O trabalho social e a divisão do trabalho provocam a
aparição de motivos sociais de comportamento. É precisamente em relação
com todos esses fatores que no homem criam-se novos motivos complexos
para a ação e se constituem essas formas de atividade psíquica
específicas do homem. Nestas, os motivos iniciais e os objetivos
originam determinadas ações e essas ações se levam a cabo por meio
de correspondentes operações especiais. [...]. Trecho
extraído da obra Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Lúria
(ArtMed,1986), do neuropsicólogo russo Alexander Luria
(1902-1977). Veja mais aqui e aqui.
SUBINDO AS PAREDES DO MUNDO - [...] Considere como seria estranho se tudo o que sabemos sobre
elefantes tivesse sido escrito por elefantes. Reconheceríamos um? Que autor de elefantes descreveria -
ou talvez até percebesse - as características que são comuns a todos os
elefantes? Nós nos encontraríamos detectando-os
a partir de pistas indiretas; por exemplo, os naturalistas de
elefantes certamente nos diriam que todos os outros animais sofrem de falta de
nariz, o que os obriga a usar as patas de maneira não natural. [...] Então, quando o macho
humano descreve seu mundo, ele mapeia suas distâncias de seu centro de
referência natural tácito, ele mesmo. [...] Trechos
extraidos da obra Up the Walls of the World (Ace, 1984), da escritora estadunidense Alice Sheldon (1915-1987),
que na obra Ten Thousand Light-Years From Home (1973), destaco um trecho
do conto Sou muito grande, mas
adoro brincar: [...] Você pode entender por que um sistema buscaria
informações - mas por que diabos ele oferece informações? Por que nos esforçamos para ser
compreendidos? Por que a recusa em aceitar a
comunicação é tão dolorosa? [...].
DOIS POEMAS: DE
UMA VEZ POR TODAS - De uma vez por todas \ me
declaro mulher \ de ovários bem colocados, \ que triste seria de minha \ parte
chamar-me Napoleão ou Rigoberto, \ carregando para a vida \ uma andorinha \ sem
recado entre as pernas. DESEJOS IRREVERENTES - Como eu gostaria \ de estar na
cama com Walt Whitman, \ bebendo nas cantinas de Malcolm Lowry \ ou “Under the
Volcano”. \ Processe Franz Kafka à minha maneira. \ Observe com atenção e
atenção \ Francis Bacon. \ Estar com Salvador Dalí \ numa tarde de tourada \ e
tocar-lhe o traseiro \ enquanto pensava em Gala \ ou em Federico García Lorca. Cante
meus poemas de amor e outras canções desesperadas \ para Pablo Neruda, repita
“De Profundis” com todos os meus segredos sexuais para Oscar Wilde e seu amante
amaldiçoado. Como eu gostaria de estar rindo ao lado de Baudelaire com meus
quinze anos em sua cama. \ Talvez eu tivesse gostado \ de foder Hitler,
Calígula, \ Napoleão, você \ e outros filhos da puta. Filmando um Decameron
diferente \ com Pier Paolo Passolini. Estar acariciando e beijando Rabindranah
Tagore. Falando de amor com Juan Ramón Molina. Condenem sem piedade os jesuítas
pedófilos. Culpar Marlon Brando por não ter me conhecido. Persiga Felipe
Buchard, Ezequiel Padilla e Simón, de cantina em cantina, de bairro em bairro, de
santuário em santuário. Conspirando com o sangue latino de Gabriel García
Márquez. Desamo um militar como o Fernando. \ Respeitar as mulheres do 1+1, \ mas
não todas \ - como diz María Ester \ com o consentimento de Leslie - \ Ficar
com raiva de Ramón Matta \ por nunca ter me convidado para um show. \ Gostaria
de mencionar minha mãe a seu pai, \ a Nietzsche, a Gorky \ e a Simone de
Beauvoir. \ Ainda respeitam Marx, Lenin, \ a luta de classes. \ E ria dos
comunistas crioulos, \ apesar da Perestroika. \ Nunca entendendo as fraquezas
de Woody Allen \ Corte o ovo de Van Gogh \ e não a outra orelha. \ Cair no choro,
escrever merda, \ dançar mambo, salsa e mais salsa \ e brincar de boneca até de
avó. \ desculpas ao meu melhor amigo\ para Monsenhor Santos e outros Rodríguez,
\ volte a ser bom, cafona e estúpido. \ Continue sonhando, amando, fornicando \
e contando piadas até chegar à \ hilaridade.\ Voe e voe para longe \ até
encontrar aquele todo-poderoso \que me fez à sua imagem e ao seu tudo.\ Amém. Poemas da poeta e atriz hondurenha Juana Pavón (Margarita
Velásquez Pavón – 1945- 2019).