domingo, junho 13, 2021

EINSTEIN, HARRIET STOWE, QUINTETO D’ELAS, CAPIBA & PHILIP GALINSKY

 

 

TRÍPTICO DQP – O que não foi nem nunca aconteceu... - Ao som dos álbuns Louise Farrenc (Paulus, 1999) & Vol. 2 (Paulus, 2001), do Quinteto D’Elas, composto pela violinista Betina Stegmann, a violista Adriana Schincariol Vercellino, a violoncelista Marialbi Trisolio, a contrabaixista Ana Valéria Poles e a pianista Helena Scheffel. – Em plena vigência do genocídio duplamente sindêmico do Fecamepa, tudo isso era real e lá estava eu às voltas com as insólitas aventuras no espelho de Wang Tu. Pelo menos, ao me encontrar envolto pelos labirintos da loucura, aliviava a crueldade premeditada da trágica realidade do cotidiano. Passei por tudo: desde a descarga de um raio no cocuruto até o esfacelamento de veias numa transfusão vampírica do mandatário Coisonário. E toda vez que ele passava a trupe dele gritava: Mico! Mico! Mico! Fico na qual é ou será outra a piada? Não foram poucas e o pior: a constatação de que o país não aconteceu nunca, a reboque do umbigocentrismo dos mamelucos sesmeiros que implicam suas questiúnculas coloniais, uns aos outros, para ver quem mais poderoso na preação fedorenta, só para depois barrunfarem desavergonhados os coprólitos de legítimos cucarachas entre os primeiro-mundistas. Triste constatação e maior cara lisa. Estaria eu pior, não fosse, certa feita, assim do nada, emergir a compreensiva observação de Einstein: Todos somos muito ignorantes. O que acontece é que nem todos ignoramos as mesmas coisas. Eita! Que coisa! Chega arriava entre escombros noitadentro, maior desalento. Vez em quando assediado pela esperança quando quase amanhecia com a presença inopinada da novelista e abolicionista estadunidense Harriet Beecher Stowe (1811-1896): A primeira hora da manhã é o leme do dia. As lágrimas mais amargas derramadas sobre os túmulos são pelas palavras que não foram ditas e coisas que não foram feitas. Uma mão amiga no meio da escuridão em pleno raiar do dia. Ao despertar percebi algo tão estranho e não conseguia identificar. Paredes, teto, cama, lençóis, móveis, objetos, tudo muito familiar. Ah, inadvertidamente percebi, estava lá: era o Travesseiro de Chen-Tsi-Tsi.

 


Duas badaladas do sonho múltiplo... - Os sonhos vinham e se misturavam uns aos outros atravessados por pesadelos terríveis do dia-a-dia, acompanhando a trilha sonora agradabilíssima, até ser interrompida por alguém apressado que nunca vira. Era o maestro estadunidense Julius Fifer: Não precisamos de alguém balançando os braços para entendermos uma frase! Não entendi, mas dizia como se aplaudisse a eloquente apresentação do quinteto. Logo saiu para me sacudir numa espiral vertiginosa de tombar estendido no matagal de uma chã. Em meu socorro apareceu Che Guevara (1928-1967): Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida. Derrota após derrota até a vitória final. Ofereceu-me a sua mão, puxou-me e ajudou-me a ficar de pé. Apontou-me ladeira abaixo alguém que confidenciava para uns presentes. Quem era? O jornalista e advogado francês Jules Ferry (1832-1893): O importante é aprender verdadeiramente aquilo que não se pode ignorar. Prestei atenção e logo notei a presença de alguém querendo saber o que se passava. Dei de cara com Dalton Trevisan: O que não me contam eu escuto atrás das portas. E abri o jogo: a viagem onírica compensava a dolorosa ciência de existir naquele momento tão nefasto, para mim, como para todos os meus. Em todo planeta já se começava a respirar; aqui, não, roubavam o oxigênio e nos empurravam para as emergências indigentes e lotadas, quando não para o sepultamento em covas anônimas. É tudo muito triste.

 


Três tons para enganar a dor... – As surpresas não foram poucas: sobre o travesseiro repousava o volume Maracatu Atômico: Tradition, Modernity, and Postmodernity in the Mangue Movement and New Music Scene of Recife, Pernambuco, Brazil (1999), tese de doutoramento do etnólogo estadunidense Philip Galinsky, tratando sobre o movimento dos mangueboys Chico Science & Cia inspirados no Josué de Castro & a lama recifense & a poeira das faces matagrestelitor&sertão. Se o coração inchava satisfeito, logo passou a bumbar retumbante: os tons familiares e efervescentes que buliam nas veias, vísceras e interstícios. Era o cantor Gonzaga Leal com o seu E sentirás o meu cuidado (Autor, 2004) com os tons de Capiba noutras vozes especiais: Naná Vasconcelos, Teca Calazans, Francis & Olívia Hime, Dalva Torres, Kelly Benevides, e eu só solfejando Lá vai na serra Quando se vai um amor Cem anos de choro Depois Relembrando Nazareth pela Valsa Verde e Azul, Sem pressa de chegar no Cais do Porto ou na Nação Nagô Cantando sem saber cantar Duas janelas da Casinha pequenina porque Tu que me deste o teu cuidado. Isso me faz crer que vale a pena viver. E lá vou eu aos expulso do paraíso aos trancos e barrancos entre inferno e purgatório. Até mais ver.

 

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KARIMA ZIALI, ANA JAKA, AMIN MAALOUF & JOÃO PERNAMBUCO

  Poemagem – Acervo ArtLAM . Veja mais abaixo & aqui . Ao som de Sonho de magia (1930), do compositor João Pernambuco (1883-1947), ...