sábado, novembro 15, 2014

ELIOT, MARIE NDIAYE, ROSALIND KRAUSS, HARRY FRANKFURT & TEATRO DE PALMARES

 

TEATRO DE PALMARES, BREVE HISTÓRIA - O Theatro Cinema Apollo foi inaugurado em 1914, por iniciativa do engenheiro Fausto Figueiredo junto aos sócios Octaviano de Lagos e Arthur Magalhães, com o propósito de atender às atividades culturais, que na época eram desenvolvidas e ganhavam espaço na sociedade local, vindo a representar para a região um bem cultural que poucas cidades do interior possuíam. Foi tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), como Cine Teatro Apolo, em 1994, por ser o mais antigo do interior, por possuir uma construção de estilo eclético e por sua importância cultural. O espaço abrigou por mais de um século, nomes do teatro palmarense como Miguel Jasseli, Hermilo Borba Filho, Lelé Correia, Fenelon Barreto, Luiz Alberto Machado, entre outros. MIGUEL JASSELY: O professor, advogado, teatrólogo, ator e animador cultural Miguel Jasseli (1902-1964), atuou no teatro ao lado de Valdemar de Oliveira e Samuel Campelo, idealizando e fundando a Federação de Teatro de Pernambuco. Encenou e dirigiu no Teatro Cinema Apolo, em 1920, a peça em três atos “O comendador”, escrita pelo também palmarense, Lelé Correia (José de Barros Correia). Criou o colégio Ateneu Palmarense, dedicada ao ensino secundário e, em 1931, fundou a Sociedade de Cultura de Palmares, formada por um grupo de teatro amador no qual se integrou Hermilo Borba Filho, então com 15 anos, com a finalidade era congregar membros da sociedade local interessados em teatro, música e literatura. Atuou como secretário do Departamento de Cultura de Palmares, no primeiro mandato do prefeito Luís Portela de Carvalho (1952-1956). Ele regressa depois ao Rio de Janeiro, para lecionar e dirigir o Teatro da Juventude, até falecer naquela localidade, aos 62 anos de idade. HERMILO BORBA FILHO: O escritor, advogado, dramaturgo, teatrólogo, jornalista, tradutor e crítico literário, Hermilo Borba Filho (1917-1976), foi aluno de Miguel Jasseli e atuou, juntamente com o poeta, ator e teatrólogo Lelé Correia, na peça “Feitiço”, de Oduvaldo Viana Filho, em 1934, no cinema Glória, de Garanhuns. Foi indicado pelo Jasseli ao Grupo Gente Nossa, de Samuel Campelo. Fundou com Ariano Suassuna o Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), em 1946. Criou com Valdemar de Oliveira o Teatro de Amadores de Pernambuco, em 1940. Escrevia a coluna Fora de cena, no jornal Folha da Manhã, do Recife, como também críticas de teatro nos jornais Última Hora, Correio Paulistano e para a revista Visão, fazendo parte do Conselho Editorial do histórico semanário paulista Movimento e integrou a Comissão Estadual de Teatro, em São Paulo. Na capital paulista ele trabalhou na Companhia Nydia Lícia com Sérgio Cardoso, na Companhia Cacilda Becker, no grupo Stúdio Teatral e no Teatro Paulistano de Comédia. Em Recife ele trabalhou no Teatro Universitário de Pernambuco (TUP), Teatro Operário do Recife, Teatro do SESI e no Centro de Comunicações do Nordeste (Cecosne). Fundou em 1958, com Ariano Suassuna, o grupo Teatro Popular do Nordeste (TPN). E com Alfredo de Oliveira fundou e dirigiu o grupo Teatro de Arena do Recife, em 1960. Publicou os livros Teatro (TEP), História do Teatro (RJ, 1950), Teoria e Prática do teatro (SP, 1960), Diálogo do encenador (Recife, 1964) e Apresentação do bumba-meu-boi (Recife, 1966), entre outros. Participou do Movimento de Cultura Popular (MCP) junto com Paulo Freire. 12 de suas peças foram publicadas na Coleção Teatro Selecionado, pela Fundação Nacional de Arte (Funarte), em 2007. Escreveu 23 peças teatrais que foram encenadas no Brasil e no exterior. Em sua homenagem foi instituída, em 1983, pela Prefeitura dos Palmares, a Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho e, no Recife, em 1988, foi criado pela Prefeitura do Recife, o Centro de Formação das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, formado pelo Teatro Hermilo Borba Filho e Teatro Apolo. FENELON BARRETO: O professor, advogado, teatrólogo e poeta, Fenelon do Nascimento Barreto (1898-1961), nasceu em Amaraji, vindo para Palmares ainda criança. Colaborou com jornais e revistas editadas, tornando-se editor das revistas Palmares e Palmira, e do jornal do Clube Literário; foi professor de Língua Portuguesa e Literatura no Colégio Nossa Senhora de Lourdes e em outros educandários. Exerceu a função de Promotor Adjunto da Comarca de Palmares e foi Secretário de Administração na gestão do prefeito João Buarque, deixando uma extensa obra que se conserva inédita e sob a guarda da família. Entre as suas mais de 20 peças teatrais, estão Adoração, Gabriel, o tísico, Maldição, A noiva, Os dois irmãos, O náufrago da Mafalda, entre outras. ASSOCIAÇÃO TEATRAL PALMARES (ATEP): Em meados dos anos 1970, um grupo de atores palmarenses, capitaneado por Luiz Alberto Machado, juntamente com Luiz Barreto, reuniu-se para encenar a peça “Adoração”, de Fenelon Barreto. Os ensaios envolveram atores que atuaram em peças tanto do próprio Fenelon, como do Lelé Correia, a exemplo de Léa de Dudu, Givanilton Mendes, Guarino, Flávia, entre outros. A montagem malogrou tendo em vista discussões entre o filho caçula, Luiz Barreto, que participava do elenco, e as exigências financeiras dos demais familiares do autor teatral. Diante desse impasse, Luiz Alberto Machado escreve o seu próprio texto teatral, “Em busca de um lugar ao sol sob a especulação imobiliária” (mais tarde encenada com o título de O Prêmio), reunindo o que sobrou do elenco da anterior montagem malograda, mais a participação de jovens atores locais, como Mano Germano, Toínho DuRego, Rollandry Silvério, entre outros. Em 1983, Luiz Alberto Machado encenou seu segundo texto teatral, A Viagem Noturna do Sol, que ganhou uma leitura dramática pelo Grupo TTTrês Produções Artísticas, dirigida por José Manoel Sobrinho, na sala Clênio Wanderley, Casa da Cultura, do Recife. No ano seguinte Luiz Alberto Machado foi convidado pelo escritor Paulo Cavalcanti, a adaptar, dirigir, musicar e encenar a peça “João sem terra”, de Hermilo Borba Filho. Reunião um grupo de atores que haviam criado o Grupo Terra, a exemplo dos atores Valter Portela, Nazaré Silva, Leonilda Silva, Eri Guerra, Roberto Quental, Khátia e Andreia Silva, encenando o espetáculo na inauguração do teatro da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, então sediada no Teatro Cinema Apolo. Foi criada em seguida a Associação Teatral Palmarense (ATEP), presidida por Luiz Alberto Machado, então diretor regional da Federação de Teatro Amador de Pernambuco (Feteape), ocasião em que firmando parceria entre as duas instituições, realizou cursos e oficinas semanais para a classe teatral palmarense, por mais de dois anos nas dependências da Biblioteca Fenelon Barreto. O resultado dos cursos e oficinas levaram a encenação do espetáculo “Contrastes Natalinos”, com membros dos 22 grupos teatrais palmarenses. na inauguração do anfitetatro da Praça Paulo Paranhos. Entre os grupos participantes da Atep estava o Grupo Cultural dos Palmares (Grucalp), criado pelo poeta, artista plástico e artesão, Teles Júnior, e mantido por seu filho, Jaorish Teles. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Mais do que uma rejeição ou dissolução do passado, a originalidade de vanguarda é concebida como uma origem literal, um começo do zero, um nascimento. Já não aceitamos o “modelo de sublimação” segundo o qual “a função da arte é sublimar ou transformar a experiência, elevando-a do comum ao extraordinário, do comum ao único, do inferior ao elevado... Ao expor a multiplicidade, a facticidade, a repetição e o estereótipo que estão no cerne de cada gesto estético, a fotografia desconstrói a possibilidade de diferenciação entre o original e a cópia. A fotografia põe em causa todo o conceito de singularidade do objecto de arte, a originalidade do autor, a coerência da obra dentro da qual foi feito e a individualidade da chamada auto-expressão... Pensamento da crítica e professora estadunidense Rosalind Krauss.

 

ALGUÉM FALOU: Se a farsa segue à tragédia, o que segue à farsa? Com um dedinho de clareza veio um monte de merda... Pensamento do filósofo e professor estadunidense Harry Gordon Frankfurt (1929-2023).

 

A BRUXA - [...] Pareceu-me que meu talento estava enfraquecendo gradativamente. Por que eu não poderia ser uma bruxa decente?, perguntei-me nessas ocasiões. Será que lhe faltou vontade, entusiasmo, coragem? Eu não gostava o suficiente de poder, disse a mim mesmo, nem desgostava bastante da fatalidade. [...] Comecei então a duvidar se alguma vez possuíra outro dom que não o da fabulação; Cheguei até a duvidar da existência dos poderes que as mulheres da minha família materna acreditavam possuir. Era possível que fossem apenas superstições, disse a mim mesmo; Talvez tanto eu como a minha mãe, com a sua suposta grande habilidade, a única coisa que tenhamos feito foi acreditar pelo valor nominal - ao ponto de dar por certo tudo o que pensávamos ter visto - nas histórias de algumas pessoas infelizes, de alguns pobres, submissos e velhas ingenuamente malévolas, como minha avó crédula, mãe de minha mãe, que tinha tanto entusiasmo pela adivinhação. [...]. Trechos extraídos da obra La Sorcière (MINUIT, 2003), da escritora, roteirista e dramaturga francesa Marie NDiaye. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 


OS HOMENS OCOS

"A penny for the Old Guy"

T. S Elikot


Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada
Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;
Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.
Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo
- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.
E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos
Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio
Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada
Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa
Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

REFERÊNCIA
ELIOT, T. S. Poesia: tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. Veja mais aqui, aqui e aqui.




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