TEATRO DE PALMARES, BREVE HISTÓRIA - O Theatro Cinema Apollo foi inaugurado em 1914, por iniciativa do
engenheiro Fausto Figueiredo junto aos sócios Octaviano de Lagos e Arthur
Magalhães, com o propósito de atender às atividades culturais, que na época
eram desenvolvidas e ganhavam espaço na sociedade local, vindo a representar
para a região um bem cultural que poucas cidades do interior possuíam. Foi
tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
(Fundarpe), como Cine Teatro Apolo, em 1994, por ser o mais antigo do interior,
por possuir uma construção de estilo eclético e por sua importância cultural. O
espaço abrigou por mais de um século, nomes do teatro palmarense como Miguel
Jasseli, Hermilo Borba Filho, Lelé Correia, Fenelon Barreto, Luiz Alberto Machado,
entre outros. MIGUEL JASSELY: O professor, advogado, teatrólogo, ator e
animador cultural Miguel Jasseli (1902-1964), atuou no teatro ao lado de
Valdemar de Oliveira e Samuel Campelo, idealizando e fundando a Federação de
Teatro de Pernambuco. Encenou e dirigiu no Teatro Cinema Apolo, em 1920, a peça
em três atos “O comendador”, escrita pelo também palmarense, Lelé Correia (José
de Barros Correia). Criou o colégio Ateneu Palmarense, dedicada ao ensino
secundário e, em 1931, fundou a Sociedade de Cultura de Palmares, formada por
um grupo de teatro amador no qual se integrou Hermilo Borba Filho, então com 15
anos, com a finalidade era
congregar membros da sociedade local interessados em teatro, música e
literatura. Atuou como secretário do Departamento de Cultura de Palmares, no
primeiro mandato do prefeito Luís Portela de Carvalho (1952-1956). Ele regressa
depois ao Rio de Janeiro, para lecionar e dirigir o Teatro da Juventude, até
falecer naquela localidade, aos 62 anos de idade. HERMILO BORBA FILHO: O escritor,
advogado, dramaturgo, teatrólogo, jornalista, tradutor e crítico literário,
Hermilo Borba Filho (1917-1976), foi aluno de Miguel Jasseli e atuou,
juntamente com o poeta, ator e teatrólogo Lelé Correia, na peça “Feitiço”, de
Oduvaldo Viana Filho, em 1934, no cinema Glória, de Garanhuns. Foi indicado
pelo Jasseli ao Grupo Gente Nossa, de Samuel Campelo. Fundou com Ariano
Suassuna o Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), em 1946. Criou com Valdemar
de Oliveira o Teatro de Amadores de Pernambuco, em 1940. Escrevia a coluna Fora
de cena, no jornal Folha da Manhã, do Recife, como também críticas de teatro
nos jornais Última Hora, Correio Paulistano e para a revista Visão, fazendo
parte do Conselho Editorial do histórico semanário paulista Movimento e integrou
a Comissão Estadual de Teatro, em São Paulo. Na capital paulista ele trabalhou
na Companhia Nydia Lícia com Sérgio Cardoso, na Companhia Cacilda Becker, no grupo
Stúdio Teatral e no Teatro Paulistano de Comédia. Em Recife ele trabalhou no
Teatro Universitário de Pernambuco (TUP), Teatro Operário do Recife, Teatro do
SESI e no Centro de Comunicações do Nordeste (Cecosne). Fundou em 1958, com Ariano
Suassuna, o grupo Teatro Popular do Nordeste (TPN). E com Alfredo de Oliveira fundou
e dirigiu o grupo Teatro de Arena do Recife, em 1960. Publicou os livros Teatro
(TEP), História do Teatro (RJ, 1950), Teoria e Prática do teatro (SP, 1960),
Diálogo do encenador (Recife, 1964) e Apresentação do bumba-meu-boi (Recife,
1966), entre outros. Participou do Movimento de Cultura Popular (MCP) junto com
Paulo Freire. 12 de suas peças foram publicadas na Coleção Teatro Selecionado,
pela Fundação Nacional de Arte (Funarte), em 2007. Escreveu 23 peças teatrais
que foram encenadas no Brasil e no exterior. Em sua homenagem foi instituída,
em 1983, pela Prefeitura dos Palmares, a Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba
Filho e, no Recife, em 1988, foi criado pela Prefeitura do Recife, o Centro de
Formação das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, formado pelo Teatro Hermilo Borba Filho
e Teatro Apolo. FENELON
BARRETO: O professor, advogado, teatrólogo e poeta, Fenelon do Nascimento
Barreto (1898-1961), nasceu em Amaraji, vindo para Palmares ainda criança.
Colaborou com jornais e revistas editadas, tornando-se editor das revistas
Palmares e Palmira, e do jornal do Clube Literário; foi professor de Língua
Portuguesa e Literatura no Colégio Nossa Senhora de Lourdes e em outros
educandários. Exerceu a função de Promotor Adjunto da Comarca de Palmares e foi
Secretário de Administração na gestão do prefeito João Buarque, deixando uma
extensa obra que se conserva inédita e sob a guarda da família. Entre as suas mais
de 20 peças teatrais, estão Adoração, Gabriel, o tísico, Maldição, A noiva, Os
dois irmãos, O náufrago da Mafalda, entre outras. ASSOCIAÇÃO TEATRAL PALMARES
(ATEP): Em meados dos anos 1970, um grupo de atores palmarenses, capitaneado
por Luiz Alberto Machado, juntamente com Luiz Barreto, reuniu-se para encenar a
peça “Adoração”, de Fenelon Barreto. Os ensaios envolveram atores que atuaram
em peças tanto do próprio Fenelon, como do Lelé Correia, a exemplo de Léa de
Dudu, Givanilton Mendes, Guarino, Flávia, entre outros. A montagem malogrou
tendo em vista discussões entre o filho caçula, Luiz Barreto, que participava
do elenco, e as exigências financeiras dos demais familiares do autor teatral. Diante
desse impasse, Luiz Alberto Machado escreve o seu próprio texto teatral, “Em busca
de um lugar ao sol sob a especulação imobiliária” (mais tarde encenada com o
título de O Prêmio), reunindo o que sobrou do elenco da anterior montagem
malograda, mais a participação de jovens atores locais, como Mano Germano,
Toínho DuRego, Rollandry Silvério, entre outros. Em 1983, Luiz Alberto Machado
encenou seu segundo texto teatral, A Viagem Noturna do Sol, que ganhou uma
leitura dramática pelo Grupo TTTrês Produções Artísticas, dirigida por José
Manoel Sobrinho, na sala Clênio Wanderley, Casa da Cultura, do Recife. No ano
seguinte Luiz Alberto Machado foi convidado pelo escritor Paulo Cavalcanti, a
adaptar, dirigir, musicar e encenar a peça “João sem terra”, de Hermilo Borba
Filho. Reunião um grupo de atores que haviam criado o Grupo Terra, a exemplo dos
atores Valter Portela, Nazaré Silva, Leonilda Silva, Eri Guerra, Roberto
Quental, Khátia e Andreia Silva, encenando o espetáculo na inauguração do
teatro da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, então sediada no Teatro
Cinema Apolo. Foi criada em seguida a Associação Teatral Palmarense (ATEP),
presidida por Luiz Alberto Machado, então diretor regional da Federação de
Teatro Amador de Pernambuco (Feteape), ocasião em que firmando parceria entre
as duas instituições, realizou cursos e oficinas semanais para a classe teatral
palmarense, por mais de dois anos nas dependências da Biblioteca Fenelon
Barreto. O resultado dos cursos e oficinas levaram a encenação do espetáculo “Contrastes
Natalinos”, com membros dos 22 grupos teatrais palmarenses. na inauguração do
anfitetatro da Praça Paulo Paranhos. Entre os grupos participantes da Atep
estava o Grupo Cultural dos Palmares (Grucalp), criado pelo poeta, artista
plástico e artesão, Teles Júnior, e mantido por seu filho, Jaorish Teles. Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS
- Mais
do que uma rejeição ou dissolução do passado, a originalidade de vanguarda é
concebida como uma origem literal, um começo do zero, um nascimento.
Já não aceitamos o “modelo de sublimação” segundo o qual “a função da arte é
sublimar ou transformar a experiência, elevando-a do comum ao extraordinário,
do comum ao único, do inferior ao elevado... Ao expor a
multiplicidade, a facticidade, a repetição e o estereótipo que estão no cerne
de cada gesto estético, a fotografia desconstrói a possibilidade de
diferenciação entre o original e a cópia. A fotografia põe em causa todo o conceito
de singularidade do objecto de arte, a originalidade do autor, a coerência da
obra dentro da qual foi feito e a individualidade da chamada auto-expressão... Pensamento
da crítica e professora estadunidense Rosalind Krauss.
ALGUÉM FALOU: Se
a farsa segue à tragédia, o que segue à farsa? Com um dedinho de clareza veio
um monte de merda... Pensamento do filósofo e professor estadunidense Harry
Gordon Frankfurt (1929-2023).
A BRUXA - [...] Pareceu-me que meu
talento estava enfraquecendo gradativamente. Por que eu não poderia ser uma bruxa
decente?, perguntei-me nessas ocasiões. Será que lhe faltou vontade, entusiasmo,
coragem? Eu não gostava o suficiente de poder,
disse a mim mesmo, nem desgostava bastante da fatalidade. [...]
Comecei então a duvidar se alguma vez possuíra outro dom que não o da
fabulação; Cheguei até a duvidar da existência dos
poderes que as mulheres da minha família materna acreditavam possuir. Era possível que fossem apenas
superstições, disse a mim mesmo; Talvez tanto eu como a minha mãe, com a
sua suposta grande habilidade, a única coisa que tenhamos feito foi acreditar
pelo valor nominal - ao ponto de dar por certo tudo o que pensávamos ter visto
- nas histórias de algumas pessoas infelizes, de alguns pobres, submissos e
velhas ingenuamente malévolas, como minha avó crédula, mãe de minha mãe, que
tinha tanto entusiasmo pela adivinhação. [...]. Trechos
extraídos da obra La Sorcière (MINUIT,
2003), da escritora, roteirista e dramaturga
francesa Marie NDiaye. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada
Força paralisada, gesto sem vigor;
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo
No reino crepuscular
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.