domingo, junho 05, 2022

JUDITH MALINA, MARIE NDIAYE, MARION ZIMMER BRADLEY, LUCIANO GARBATI, HÉLÈNE CIXOUS & PEREIRA DA COSTA

 

 

TRÍPTICO DQP: Uataçara uatá rame uataçába... (Imagem: AcervoLAM) - Ao som dos álbuns For Organ and Brass (Subtext Recordings, 2017) e Chords (Subtext Recordings, 2019), de Ellen Arkbro. – Despertei asfixiado por uma bomba de gás lacrimogêneo. Meu nome era outro e morria de tarde sacudido de cabeça pra baixo num buraco bem fundo, só as pernas de fora... Quem me reconheceria assim jamais. O que era de mim na grande indignação com as emboscadas dos nativos nas veredas da floresta, o meu povo morria comigo a cada instante. Por isso ressurreto entre claroscuros e quase nada ao entardecer na pele de ninguém autá, como se dizia na modinha popular de lá dos setecentos do Vocabulário de Pereira da Costa: Caranguejo anda ao atá / procurando sua estrada / vem seu mestre titio / faz dos caranguejos cambada... Outras eram as chuvas e trovoadas antes dos invernos das burundangas e, por incrível que pareça, me apareceu Gayle Forman para avisar que: Há uma diferença entre perder algo que você sabia que tinha e perder algo que você descobriu que você tinha. Um é uma decepção. O outro parece perder um pedaço de si mesmo. Era mesmo eu e meus muitos pedaços, um deles Barbara Pym: As pequenas coisas da vida eram muitas vezes muito maiores do que as grandes coisas. Era só o meu poente e antes que anoitecesse na pele de Reynaldo Arenas: Sempre considerei desprezível rastejar como se a vida fosse um favor. Se você não pode viver do jeito que você quer, não há sentido em viver... O que meu país se tornou, ah, o que sempre foi: um palmo a menos, um passo a menos na vida de cada dia. O caminheiro segue errante...

 


A trinitita da tragédia... - E se mortovivo era ou nem tanto, quase, algo me ofuscava: o caleidoscópio das tragédias no brilho atomsita achado no deserto de Trinity. E me assombrava com o vidro de alamogordo que não era nada mais que um resíduo vítreo que me deram de Hiroshima ou Nagasaki, e com os plastigomerados de Corcoran&Moore&Jazvac. Mas de repente, no meio de tanta incandescência, era ela que eu nem sabia para me dizer da Lemúria de Cervé: Na verdade, nem todos se perderam e jamais se perderão porque a continuidade da vida lhes veio em socorro e salvou para eles um remanescente da maior e mais nobre das raças que já existiram... Quem era? Só sei que se parecia com o Sol de tão brilhante, impressionantemente corpulenta e pele bronzeada, cabelos pretos, traços refinados, olhos castanhos claros e grandes, penetrantes e agudos escondidos num véu de fibra vegetal a proteger-lhes a face. Retirou o véu e pude ver a sua beleza realçada numa pequena protuberância no centro da fronte: ela fechava os olhos. Achegava-se acesa e fez uma incisão carinhosa no dedo indicador da minha mão direita e na dela, e atou-nos, mãos juntas, para que seu sangue fluísse no meu e nos tornássemos um só. E me ensinou ali a Lei do Sagrado Quatro e as lições do Livro de Dzyan. Foi preciso algum tempo para que eu tomasse pé da situação, ao sabê-la uma chumash, Gu Oficial, feita rainha Califa que governava ilha distante e queria que eu visse os escritos nas cataratas de Klamath e fôssemos para o cone do vulcão extinto do monte Shasta para encontrar os maias do Iucatão. Aí como se fosse a dramaturgatriz poeta teuto-americana Judith Malina (1926-2015) confidenciou: Não deixar esquecer, não contemporizar com o que não pode e não deve ser atenuado pelo passar dos anos... Nada entendia e ela rodopiava no ar e já era a escritora estadunidense Marion Zimmer Bradley (1930-1999): Nunca foi nem nunca será fácil trabalhar! Mas a estrada que está construída sobre a esperança é mais prazerosa ao viajante do que a estrada construída sobre o desespero, mesmo que ambas levem à mesma destruição... E cada vez mais rodopiava e mais e não me deixava esquecer o passado que queimava dentro do meu peito e mente como uma ferida aberta e sangue jorrando dos meus poros. As pedras estranhas luziam como uma ameaça pronta para me destruir. Ao que me fora dado, apenas segurei a mão dela com força, precisava me salvar. Ela virou-se para mim e mergulhei na sua imensidão.

 


O nome da maldição... - Imagem do artista argentino Luciano Garbati. - Quando dei por mim estava num imenso salão vazio. Ouvi passos e fiquei atento. Apareceu-me irresistível Eve Babitz como quem vinha pronta para o icônico xadrez de Duchamp: inebriante e gloriosa com balouçantes seios orgulhosos de festeirescritora nua que não tinha a mínima vergonha da luxúria e o sexo como uma forma de arte nos seus livros. Sentou-se à mesa feita Mathilde ReumauxO alsaciano está morto, viva o alsaciano! A Alsácia mudou, a elasticidade deve mudar com ela -, no jogo de Arrabal: o xadrez levou séculos para atingir as alturas da inteligência humana. E em apenas quatro horas mexendo as peças, seguindo as jogadas dela passei da ignorância absoluta ao domínio do jogo. Não sabia como, ela me enfeitiçava e o feitiço me ensinava. Era ela, disse-me: simplesmente, Medusa da Silva, órfã de nascença que havia vivido com a madrinha e fora, ainda jovem e bela, estuprada pelo tio desalmado. Por conta disso fora expulsa: a vaidade é um veneno. Nem a culpa sabia, maculou o nome da família e fora amaldiçoada. Nada entendia e a vida tornou-se uma balsa insuportável. Na sarjeta fora recolhida por Hesíodo que lhe restituiu a dignidade para ser louvada em frente ao Tribunal no Collect Pond Park. Foi nessa hora que inflou o peito para me dizer Hélène Cixous: Basta olhar diretamente para a Medusa para vê-la. E ela não é mortal. Ela é linda e está rindo... Os homens cometeram o maior crime contra as mulheres. Insidiosamente, violentamente, eles os levaram a odiar as mulheres, a serem seus próprios inimigos, a mobilizar sua imensa força contra si mesmos, a serem os executores de suas necessidades viris. Disse-me entre lágrimas. Era certo que havia dado a volta por cima e se tornado a ginasta campeã risonha Katelyn Ohashi para me contar nua Marie NDiaye: Parecia-me que meu talento estava gradualmente enfraquecendo. Por que eu não poderia ser uma bruxa decente?, eu me perguntava em tais ocasiões. Faltava-lhe vontade, entusiasmo, coragem? Era ela ali e a nudez da alma entre a alvorada e o crepúsculo o meio dia, tarde e meia, alta noite, madrugada: ontem nunca será amanhã. Eu sentia: era a minha cabeça que ela segurava. Se ela sempre fora a vítima de toda farsa, eu também inocente carregando culpas que jamais soubera. Simplesmente culpados por viver. Outrora soubesse a vida que se foi, se não sei claro qual escuro, já era tarde demais. Até mais ver.


A primeira regra de descoberta é ter cérebros e boa sorte. A segunda regra de descoberta é sentar-se apertado e esperar até conseguir uma ideia brilhante... Onde devo começar? Comece a partir da declaração do problema. ... O que posso fazer? Visualize o problema como um todo o mais claramente e tão vividamente quanto puder. ... O que posso ganhar fazendo... Para ensinar efetivamente um professor deve desenvolver um sentimento por seu assunto. Ele não pode fazer seus alunos sentirem sua vitalidade se ele não sentir isso sozinho. Ele não pode compartilhar seu entusiasmo quando ele não tem entusiasmo para compartilhar. Como ele faz o seu ponto pode ser tão importante quanto o ponto que ele faz: ele deve sentir-se pessoalmente para ser importante.

Pensamento do professor e matemático húngaro George Pólya (1887-1985). Veja mais Educação & Livroterapia aqui e aqui.

 



CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame,...