A BALSA DA
MEDUSA - Um acontecimento trágico na história
da humanidade foi registrado no ano de 1816, mais precisamente na manhã do dia
2 julho, quando a fragata Medusa, a mais moderna e mais rápida embarcação de
então, comandada por Hugues Chaumareys, um protegido do rei francês Luis XVIII,
naufragou na costa oeste da África, nas proximidades do Marrocos. O naufrágio
tornou-se um escândalo político, principalmente porque o navio pertencia à
chancela governamental com o objetivo de transportar colonos franceses para o
Senegal. Atribuem as causas de tal naufrágio à superlotação e à imperícia do
comandante. É que a navegação contava com aproximadamente 400 passageiros a
bordo, quando cabiam, na verdade, bem menos que isso. E como não havia botes
salva-vidas suficiente para todos, os destroços serviram de embarcação,
transportando cerca dos 149 sobreviventes que singraram precariamente à mercê
da sorte. Com o naufrágio, vários sobreviventes começaram a se digladiar
motivados pela fome e pela sede. Na primeira noite, 20 deles caíram e se
afogaram nas águas do oceano. No segundo dia, 65 deles foram abatidos a tiros
por oficiais por se encontrarem ensandecidos. Era preciso ordem naquele momento
crucial. A liderança entre os náufragos foi assumida pelo médico francês
Jean-Baptiste Henry Savigny que passou a administrar os sobreviventes,
ministrando água do mar com urina para combater a desidratação. Os que não
resistiram, tiveram seus corpos dissecados e suas carnes dependuradas para
secagem ao sol e, posteriormente, serem consumidos para suprir a carência
alimentar. Mais 13 dias depois, restaram apenas os 15 sobreviventes que, à
deriva, foram salvos por um pequeno navio mercante, o Argus.
DITOS & DESDITOS - Esta é sua vida. Você é responsável por isso. Você não viverá para sempre. Não espere. Confie
naquilo que você ama, continue a fazer isso e isso o levará aonde você precisa
ir. A vida não é ordenada. Não importa o quanto tentamos fazer
isso, bem no meio disso morremos, perdemos uma perna, nos apaixonamos ou
deixamos cair um pote de compota de maçã. O estresse é
basicamente uma desconexão da terra, um esquecimento da respiração. O estresse
é um estado de ignorância. Ele acredita que tudo é uma emergência. Nada é tão
importante. Apenas deite-se. Os escritores acabam escrevendo sobre suas
obsessões. Coisas que os assombram; coisas que eles não conseguem
esquecer; histórias que eles carregam em seus
corpos esperando para serem liberadas. Meu objetivo é
escrever todos os dias. Eu digo que é o meu ideal. Tenho cuidado para não
julgar ou criar ansiedade se não o fizer. Ninguém vive de acordo com seu ideal. Pensamento da escritora e pintora
estadunidense Natalie Goldberg. Veja mais
aqui.
ALGUÉM FALOU - O
sentimento e a imaginação nas mulheres só servem para a dor... A mocidade passa
e o dinheiro foi inventado para se gastar... Pensamento da escritora,
teatróloga e abolicionista Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). Veja mais
aqui e aqui.
INSTRUÇÕES DE OPERAÇÃO - [...] E senti como se meu coração
estivesse tão completa e irreparavelmente partido que não poderia haver alegria
verdadeira novamente, que na melhor das hipóteses poderia eventualmente haver
um pouco de contentamento. Todo mundo queria que eu buscasse
ajuda e voltasse à vida, juntasse os cacos e seguisse em frente, e eu tentei,
eu queria, mas só tive que ficar deitado na lama com os braços em volta de mim,
os olhos fechados, de luto, até que eu não precisava mais.
[...] Não me lembro
quem disse isso, mas realmente existem lugares no coração que você nem sabe que
existem até amar um filho. [...]. Trechos extraídos da obra Operating Instructions: A Journal of My Son's First Year (Anchor, 2005), da
escritora e ativista progressista estadunidense Anne Lamott. Veja mais
aqui.
DOIS POEMAS – QUEM TIRA
O QUE EU DANCEI? - Peço peras do olmo. Eu os provo: \ são deliciosos. \ Pedi um
gato por uma lebre; \ Eles deram para mim. \ Contaram-me \ histórias
libidinosas à meia-noite; \ Ele gostou de cada palavra, \ cada gesto. \ Amei a
noite em que amanheceu, \ amei a morte e sonhei com a realidade.EU CONTEI… - Contei
nos dedos \ as vezes que tive, não as vezes que amei. \ As pontas dos dedos \ me
encaravam, as linhas \ da mão riam (será que amei \ o que tinha? Será que quis
dizer \ que quero um pouco \ disso ou daquilo, \ ganhei, perdi tanta \ generosidade?).
\ Agora que me agarro \ ao que tenho - como um pouco \ de nada -, \ vejo linhas
que uma zombaria descarta, \ e lentamente, com ternura, abro o \ punho, deixo \
a areia cair, pego-a novamente. Poemas da poeta argentina Irene Gruss
(1950-2018).






