OS PECADOS DA
MARICICA DE TANACU... – Aquela jovem bela nasceu em Perieni e, ainda muito jovem na Romênia, teve sua
vida revolvida pela tragédia: o pai se suicidara e a família desfeita. Ela foi prum orfanato
em Arad. Ao adolescer começou a trabalhar de babá na Alemanha e, depois, para uma outra família de Banat. Uma
amiga do orfanato tornou-se freira e ela foi visita-la, ocasião em que foi
encorajada a seguir o mesmo caminho. Ponderou: a falta de trabalho e as
dificuldades materiais levavam os jovens à vocação religiosa. Ela precisava de
ajuda espiritual, afora comida e abrigo. Tornou-se então freira, o claustro em Tanacu - uma comunidade isolada de cerca de mil pessoas
em uma área montanhosa cultivada com vinhedos e milho. De repente os sussurros
começaram na sua mente acusando-a de pecadora. O seu estado mental se
deteriorou durante uma missa. Foi encaminhada a um hospital psiquiátrico, recebendo
tratamento de esquizofrênica por duas semanas, sendo liberada para os cuidados do
mosteiro. O irmão a condenava por sofrer de possessão demoníaca, dizendo,
inclusive, que viu o diabo entrar nela. Noutro dia ela insultou a
igreja durante uma missa e foi amordaçada sob a alegação de que seria salva
daquele temperamento incomum por meio de orações, a medicina não poderia
curá-la: Os demônios não
podem ser curados com pílulas. Se tratava do diabo e não de um distúrbio
psíquico... Ela teve uma recaída
e, na comemoração da Ascensão de Jesus, foi acorrentada e levada para o centro
da igreja para ser ungida, porque diziam: Ela poderia ter se matado ou
matado outra pessoa... Sua testa e pulso ungidos com óleo sagrado e mantida
ali por três dias, molhavam seus lábios com água benta, sob orações para
expulsar o diabo. Depois levada para o seu quarto e desamarrada, tida por
curada. Qual não, para quem foi sequestrada pelo padre para o monastério Santa
Trinidad e com a ajuda de quatro freiras, amarraram suas mãos e pernas, taparam
sua boca e foi mantida refém e torturada, completamente imobilizada, acorrentada
em uma cruz de madeira. Ela não aguentou os requintes de crueldade e desmaiou, sofreu
um infarto: brutalmente morta ao ser exorcizada. Diziam que ela estava possuída
por espíritos demoníacos: demonstrava constantemente comportamentos violentos,
rejeitando água benta e espumando pela boca. Tudo em nome da Ordem da Santíssima
Trindade em um quarto úmido do
convento por três dias sem comida. Diagnóstico: morte causada por insuficiência
aguda cardiorrespiratória e asfixia mecânica, com traumas físicos e
desidratação. Ela sofria de esquizofrenia e com uma letal overdose de
adrenalina durante o socorro na ambulância: um duplo assassinato. As marcas das
correntes em seus pulsos e tornozelos. O padre ouvira trovões no seu sadismo e
dissera: A vontade
de Deus foi feita... Foram seis dias
sem comida nem água, até que aos vinte três anos de idade, sucumbia de vez Maricica Irina Cornici (1982-2005). Veja mais abaixo e mais aqui
e aqui.
DITOS & DESDITOS - Sempre fico impressionada com o poder da mente humana de reter todos os
tipos de detalhes, enquanto situações e eventos que selam nosso destino são
completamente esquecidos... O melhor sabor da comida da vida é, sem dúvida, o humor... Pensamento da escritora romena Tatiana Niculescu
(Tatiana Niculescu Bran), autora da obra Deadly Confession - Spovedanie
la Tanacu (Humanitas, 2006), contando a tragédia da jovem Maricica Irina
Cornici, levado para o cinema sob o premiado título Beyond the hills
(2012), dirigido por Cristian Mungiu. Ela também é autora do romance As noites
do patriarca (2011) e Na terra de Deus (2012), este último uma história
africana sobre o ritual de mutilação genital de meninas.
ALGUÉM FALOU: Neuróticos constroem castelos no ar, psicóticos vivem neles. Minha mãe os
limpa... Algumas pessoas acham que ter seios grandes torna
uma mulher estúpida. Na verdade, é
bem o oposto: uma mulher com seios grandes torna os homens estúpidos... Pensamento da comediantescritora estadunidense Rita Rudner.
Veja mais aqui e aqui.
FALE COMIGO:
OUVINDO NAS ENTRELINHAS - [...] Acho que podemos
aprender muito sobre uma pessoa no exato momento em que a linguagem falha com
ela. No exato
momento em que ela tem que ser mais criativa do que imaginaria para se
comunicar. É o exato
momento em que ela tem que cavar mais fundo do que a superfície para encontrar
palavras e, ao mesmo tempo, é um momento em que ela quer muito se comunicar. Ela está
cavando fundo e projetando ao mesmo tempo.
[...].
Trecho extraído da obra Talk to Me: Listening Between the Lines (Random
House. 2000), da dramaturga e atriz estadunidense Anna Deavere Smith,
que na obra Letters to a Young Artist:
Straight-up Advice on Making a Life in the Arts-For Actors, Performers,
Writers, and Artists of Every Kind (Vintage, 2006), expressou que: […] Nós que
estamos nas artes corremos o risco de estar em um concurso de popularidade em
vez de uma profissão. Se esse fato lhe causa desespero... escolha outra
profissão. Seu desejo de se comunicar deve ser maior do que seu relacionamento
com as realidades caóticas e injustas... Temos que criar nossos próprios
padrões de disciplina […] Comprometa-se a
encontrar a verdadeira natureza da arte. Vá atrás
daquela coisa que ninguém pode lhe ensinar. Vá atrás
daquela comunhão, daquela comunhão real com sua alma, e da disciplina de
expressar aquela comunhão com os outros. Isso não vem
da competição. Isso vem de
ser um com o que você está fazendo [...] Até o ciúme é baseado em fantasias: a fantasia de que outra pessoa
tem o que lhe pertence. [...] Meu trabalho não é
adquirir poder; é questionar o
poder. [...]. Veja mais
aqui e aqui.
DOIS POEMAS - A BALADA DE BONNIE PARKER - Não, \ o que
você vê não é nem mesmo a sombra do meu lado selvagem \ Eu poderia ter sido
Bonnie Parker \ com essa vontade de espiar pela janela \ para fugir
constantemente, \ assistir o passado se destruir \ como as cidades noturnas
fazem \ quando o espelho retrovisor treme\ Eu também sonhei com uma vida
perigosa \ colecionando histórias \ Sonhei com as vezes que escapei da morte \ mostrando
as cicatrizes que os \ dias deixaram para trás\ Eu a vejo e me vejo \ com minha
altura média \ Eu me vejo escrevendo poemas ruins \ com saudades da minha mãe \
Eu me vejo saindo dos caminhos perigosos \ mirando o futuro na cabeça \ sempre
sorrindo\ Eu poderia ter sido Bonnie Parker \ se não fosse porque eu me agarro \
às costas daqueles \ que nunca \ andarão ao meu lado nas estradas\ A vida ainda
está lá fora \ e eu não a alcanço\ O que você vê aqui \ ainda não são
cicatrizes\ Dê-me um tempo \ e eu lhe contarei sobre como sobreviver \ sem que
minhas palavras se desintegrem. II - Minha mãe às vezes passa as tardes \ relembrando,
assistindo a fitas antigas \ que ainda funcionam em um aparelho \ que treme e
reclama como um velho \ antes de passar uma história de faz de conta.\ Aquela
menina \ que para momentaneamente \ diante das cenas vertiginosas \ que minha
mãe diz que sou eu \ ou pelo menos aquela que queriam que eu fosse \ cabelos
longos presos por duas tranças \ testa larga \rosto pequeno e limpo/ corado e
sardento \ os mesmos olhos \ fixos numa grande pinhata \ que prometia/ como a
vida promete \ algo que achávamos colorido e doce \ Um menino \ que eu não
consigo ver \ porque seus olhos estão cobertos \ balança primeiro \ e a piñata
balança\ outro balanço \ ele rasga\ mais um \ e transborda\ Eu teria corrido
como os outros \ se não fosse pela mão do meu pai \ e sua voz severa\ me
dizendo\ Não você\ você é uma menina grande agora \ ele abaixa a câmera \ e
nesse movimento minha confusão desaparece \ como a confusão dele vinte anos
depois \ quando ainda temos dificuldade \ em concordar. Poemas da escritora, editora e jornalista
guatemalteca Vania Vargas, autora de obras tais
como Cuentos
infantiles (Catafixia, 2010), Quizá
ese día tampoco sea hoy (Cultura 2010), Los habitantes del aire (Cultura 2014) e Señas particulares y cicatrices
(Catafixia, 2015).
SACADOUTRAS
PSICOPATOLOGIA
& MEMÓRIA - A memória, para Dalgalarrondo (2008), é a
capacidade de registrar, manter e evocar as experiências e os fatos já
ocorridos. A capacidade de memorizar relaciona-se intimamente
com o nível de consciência, com a atenção e com o interesse afetivo. Os
processos da memória são codificação, armazenamento e recuperação. TIPOS DE MEMÓRIA – Para
Dalgalarrondo (2008), os tipos de memória são: cognitiva, genética,
imunológica, coletiva ou cultural. Memória cognitiva
(psicológica), que permite ao indivíduo registrar, conservar e
evocar, a qualquer momento, os dados aprendidos da experiência. A memória
cognitiva é composta de três fases ou elementos básicos: Fase de registro
(percepção, gerenciamento e início da fixação) Fase
de conservação (retenção) Fase de evocação
(também denominada de lembranças, recordações ou
recuperação). Memória genética (genótipo): conteúdos
de informações biológicas adquiridos ao longo da história filogenética da
espécie, contidas no material genético (DNA, RNA, cromossomos, mitocôndrias)
dos seres vivos. Memória imunológica: informações
registradas e potencialmente recuperáveis pelo sistema imunológico de um ser
vivo. Memória coletiva ou cultural: conhecimentos
e práticas culturais (costumes, valores, habilidades artísticas e estéticas,
preconceitos, ideologias, estilo de vida, etc.) produzidos, acumulados e
mantidos por um grupo social minimamente estável. FATORES
PSICOLÓGICOS DO PROCESSO DE MEMORIZAÇÃO - Dalgalarrondo (2008) assinala que do ponto de vista
psicológico, o processo de fixação (engramação)
depende de: nível de consciência e estado geral do organismo (o indivíduo deve
estar desperto, não muito cansado, bem-nutrido, calmo, etc.); atenção global e
capacidade de manutenção de atenção concentrada sobre o conteúdo a ser fixado
(capacidade do indivíduo concentrar-se); sensopercepção preservada; interesse e
colorido emocional relacionado ao conteúdo mnêmico a ser fixado, assim como do
empenho do indivíduo em aprender (vontade e afetividade); conhecimento anterior
(elementos já conhecidos ajudam a adquirir elementos novos); capacidade de
compreensão do conteúdo a ser fixado; organização temporal das repetições
(distribuição harmônica e ritmada no tempo auxilia na fixação de novos
elementos); canais sensoperceptivos envolvidos na percepção, já que, quanto
maior o número de canais sensoriais, mais eficaz a fixação (p. ex., o método
audiovisual de ensino de línguas). A conservação
(retenção) dos elementos mnêmicos depende de: repetição (pois,
de modo geral, quanto mais se repete um conteúdo, mais facilmente este se
conserva); associação com outros elementos (cadeia de elementos mnêmicos). A
evocação é a capacidade de recuperar e atualizar os dados fixados. Esquecimento
é a denominação que se dá à impossibilidade de evocar e recordar. Segundo Dalgalarrondo (2008), oesquecimento
(o oposto da evocação) se dá por três vias:
esquecimento normal, fisiológico: por
desinteresse do indivíduo ou por desuso; esquecimento por repressão:
quando se trata de conteúdo desagradável ou pouco importante para o indivíduo,
podendo, no entanto, o sujeito, por esforço próprio, voltar a recordar certos
conteúdos reprimidos (que ficam estocados no préconsciente); e esquecimento por
recalque: certos conteúdos
mnêmicos, devido ao fato de serem emocionalmente insuportáveis, são banidos da
consciência, podendo ser recuperados apenas em circunstâncias especiais (ficam
estocados no inconsciente). Segundo a lei de Ribot, o
indivíduo que sofre uma lesão ou doença cerebral, sempre que esse processo
patológico atinge seus mecanismos mnêmicos de registro e recordação, tende a
perder os conteúdos da memória (esquecimento) seguindo algumas regularidades: o
sujeito perde as lembranças e seus conteúdos na ordem e no sentido inverso que
os adquiriu; consequência do item anterior, ele perde primeiro elementos
recentemente adquiridos e, depois, os elementos mais antigos; perde primeiro
elementos mais complexos e, depois, os mais simples; perde primeiro os
elementos mais estranhos, menos habituais e, só posteriormente, os mais
familiares; primeiramente, perde os conteúdos mais neutros; depois, perde os
elementos afetivos e, apenas no fim, os hábitos e os comportamentos costumeiros
mais profundamente enraizados no repertório comportamental e mental. O reconhecimento
é a capacidade de identificar o conteúdo mnêmico como lembrança e diferenciá-la
da imaginação e de representações atuais. FASES OU TIPOS DE MEMÓRIA - Dalgalarrondo (2008) observa que em
relação ao processo temporal de aquisição e evocação de elementos mnêmicos, a
neuropsicologia moderna divide a memória em quatro fases ou tipos: imediata ou
de curtíssimo prazo, recente ou de curto prazo, remota ou de longo prazo. A memória
imediata ou de curtíssimo prazo (de poucos segundos até 1 a 3 minutos). Este
tipo de memória confunde-se com a atenção e com a memória de trabalho (que será
vista adiante), pois é a capacidade de reter o material (palavras, números,
imagens, etc.) imediatamente após ser percebido. A memória imediata tem
capacidade limitada e depende da concentração, da fatigabilidade e de certo
treino. As memórias imediata e de trabalho dependem sobretudo da integridade
das áreas pré-frontais. A memória recente ou de
curto prazo (de poucos minutos até 3 a 6 horas). Refere-se
à capacidade de reter a informação por curto período. Também é um tipo de
memória de capacidade limitada. A memória recente depende de estruturas
cerebrais das partes mediais dos lobos temporais, como a região CA1 do
hipocampo, do córtex entorrinal, assim como do córtex parietal posterior. A memória
remota ou de longo prazo (de meses até muitos anos). É a
capacidade de evocação de informações e acontecimentos ocorridos no passado,
geralmente após muito tempo do evento (pode durar por toda a vida). É um tipo
de memória de capacidade bem mais ampla que a imediata e a recente. Acredita-se
que a memória remota relaciona-se tanto ao hipocampo (no processo de
transferência de memórias recentes para remotas) como a amplas e difusas áreas
corticais, principalmente frontais, incluindo todos os outros lobos cerebrais,
sobretudo em suas áreas corticais de associação. ALTERAÇÕES
DA MEMÓRIA – As alterações da memoria são classificadas em quantitativas e
qualitativas. ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS – As alterações quantitativas
compreendem a hipermnesia, a hipmnesia e a amnesia. A HIPERMNESIA – Conforme
Paim (1993), a hipermnesia ocorre quando se evocam lembranças casuais com mais
vivacidade e exatidão que ordinariamente, ou quando se recordam
particularidades que comumente não surgem. Não existe na realidade aumento da
memoria; verifica-se apenas maior facilidade na evocação, limitada
habitualmente a períodos específicos, a eventualidades específicas ou a
experiências realizadas com afetos particularmente intensos. As hipermnésias,
para Dalgalarrondo (2008), são
as representações (elementos mnêmicos) afluem
rapidamente, em tropel, ganhando em número, perdendo, porém, em clareza e
precisão. A hipermnésia traduz mais a aceleração geral do ritmo psíquico que
uma alteração propriamente da memória. A HIPOMNESIA
– A hipomnesia, para Paim (1993), é a diminuição do numero de lembras evocáveis
na unidade de tempo. A AMNÉSIA – A amnesia, segundo Paim (1993), é a
desaparição completa das representações mnêmicas correspondentes a um
determinado tempo da vida do individuo. Denomina-se amnésia,
para Dalgalarrondo (2008), a
perda da memória, seja a da capacidade de fixar ou a da capacidade de manter e
evocar antigos conteúdos mnêmicos. A amnésia
anterógrada designa a amnesia que se refere aos fatos transcorridos depois da
causa determinante do distúrbio, como sinônimo de perturbação da fixação.
Ocorre nos casos de ofuscamento da consciência, nos estados de agitação, na
síndrome de Korsakov. Os doentes com amnesia anterógrada não podem relembrar os
fatos recentes, conservando entretanto a capacidade para recordar
acontecimentos do passado mais remoto. Observa-se como fato geral que os
defeitos pronunciados da fixação se acompanham frequentemente de fabulações. Na amnésia
anterógrada, Dalgalarrondo (2008) identifica que o indivíduo não
consegue mais fixar elementos mnêmicos a partir do evento que lhe causou o dano
cerebral. A amnésia anterógrada é um distúrbio-chave e bastante frequente na
maior parte dos distúrbios neurocognitivos. A amnesia
retrógrada refere-se à perda da memoria dos fatos ocorridos antes de um insulto
cerebral (traumatismos cranianos, apoplexia, ictus paralítico, eclampsia,
tentativas e enforcamento, intoxicação por óxido de carbono, embriaguez grave)
e que se estende a dias ou semanas para trás da lesão. Consiste habitualmente,
na perda da memoria relativa a um espaço de tempo limitado: algumas horas, dias,
mais raramente semanas ou anos. Em alguns casos, a amnesia retrógrada pode
compreender todos os acontecimentos anteriores da vida do enfermo. Segundo
Dalgalarrondo (2008), na amnésia
retrógrada, o indivíduo perde a memória para fatos ocorridos
antes do início da doença (ou trauma). Sua ocorrência sem amnésia anterógrada
pode ser observada em quadros dissociativos (psicogênicos), como a amnésia
dissociativa e a fuga dissociativa. A amnesia
retroanterógrada é a que se refere aos fatos ocorridos antes e depois da causa
determinante. Trata-se de uma alteração simultânea da fixação e da evocação.
Encontra-se nos casos graves de demências orgânicas, de amência e de
traumatismo cranioencefálicos. Se é de instalação súbita e total, privando o
individuo da capacidade de compreensão e de orientação no tempo e no espaço,
toma o nome de psicorrexe. A amnesia transitória se caracteriza pela
incapacidade de fixar acontecimentos recentes. Os enfermos conservam a
capacidade de evocação, porém revelam transtornos da orientação
têmporo-espacial, fabulações e perseveração. A amnesia lacunar ocorre nos casos
de traumatismos cranioencefálicos. Esta perda de memória esteve na razão
inversa do tempo que decorreu entre as ações e a queda, e a volta da memoria
operou-se numa ordem determinada, do mais longínquo para o mais próximo. ALTERAÇÕES
QUALITATIVAS – Para Paim (1993), os transtornos qualitativos da memória de
evocação denominam-se de paramnésias, as quais são divididas em ilusões
mnêmicas, alucinações mnêmicas, fabulações, fenômeno do já visto, cruotomnesia
e ecmnesia. As ilusões mnêmicas são constituídas pela formação das lembranças
em virtude do acréscimo de elementos falsos ao núcleo da imagem mnêmica, razão
pela qual esta adquire o caráter de lembrança fictícia. Segundo
Dalgalarrondo (2008), nas
ilusões mnêmicas há o acréscimo de
elementos falsos a um núcleo verdadeiro de memória. Por isso, a lembrança
adquire caráter fictício. Muitos pacientes informam sobre o seu passado
indicando claramente deformação de lembranças reais. Ocorre na esquizofrenia,
na paranóia, na histeria grave, nos transtornos da personalidade (borderline,
histriônica, esquizotípica, etc). As
alucinações mnêmicas são as criações imaginativas com aparência de
reminiscência, que não correspondem a nenhuma imagem de épocas passadas. Segundo
Dalgalarrondo (2008), as
alucinações mnêmicas são verdadeiras
criações imaginativas com a aparência de lembranças ou reminiscências que não
correspondem a qualquer elemento mnêmico, a qualquer lembrança verdadeira.
Podem surgir de modo repentino, sem corresponder a qualquer acontecimento.
Ocorrem principalmente na esquizofrenia e em outras psicoses funcionais. As fabulações consistem no relato de coisas fantásticas que, na
realidade, nunca aconteceram. Em grande parte, resultam de uma alteração da
fixação e de uma incapacidade para reconhecer como falsas as imagens produzidas
pela fantasia. Segundo Dalgalarrondo (2008), as fabulações (ou
confabulações), os elementos da imaginação do doente ou mesmo
lembranças isoladas completam artificialmente as lacunas de memória,
produzidas, em geral, por déficit da memória de fixação. Além do déficit de
fixação, o doente não é capaz de reconhecer como falsas as imagens produzidas
pela fantasia. As fabulações (ou confabulações) são invenções, produtos da
imaginação do paciente, que preenchem um vazio da memória. O paciente não tem
intenção de mentir ou enganar o entrevistador. É possível produzi-las,
direcioná-las ou estimulá-las ao perguntar ao doente se ele lembra de um
encontro há dois anos, em um bar de seu bairro, ou perguntando-lhe o que fez no
domingo anterior (ou na noite passada). As fabulações são entendidas como um
déficit de “monitoração da realidade”. Ocorrem frequentemente na síndrome
de Korsakoff, secundária ao alcoolismo crônico, associado a
déficit da tiamina (vitamina B1), traumatismo craniano, encefalite herpética,
intoxicação pelo monóxido de carbono, etc. A síndrome de Korsakoff é
caracterizada por déficit intenso de memória de fixação (sobretudo do tipo
episódica), que geralmente vem acompanhado de fabulações e desorientação
temporoespacial. O fenômeno do já visto consiste
no fato de o individuo ter a impressão de que a vivencia atual foi
experimentada no passado. A criptomnésia é um falseamento da memória em virtude
do qual as lembranças perdem suas qualidades e aparecem ao paciente como fatos
novos. A ecmnesia consiste na revivescência muito intensa, às vezes de duração
breve, de lembranças anteriores que pareciam esquecidas. Esses indivíduos podem
perder a identidade atual e vivem as cenas evocadas como se estivessem
recolocados na época de sua existência em que elas sucederam. Veja mais aqui,
aqui & aqui. 
DE PROFESSORES E ALUNOS – No segundo volume da coleção Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia,
do filósofo
francês Gilles Deleuze (1925-1995) e
do filósofo, psicanalista e militante revolucionário francês Félix Guattari (1930-1992), é tratada a
temática dos postulados da linguística e sobre alguns regimes de signos. No que
concerne à relação professor x aluno, os autores expressam que: [...] A professora não se
questiona quando interroga um aluno, assim como não se questiona quando ensina
uma regra de gramática ou de cálculo. Ela "ensigna", dá ordens,
comanda. Os mandamentos do professor não são exteriores nem se acrescentam ao
que ele nos ensina. Não provêm de significações primeiras, não são a
consequência de informações: a ordem se apoia sempre, e desde o início, em
ordens, por isso é redundância. A máquina do ensino obrigatório não comunica
informações, mas impõe à criança coordenadas semióticas com todas as bases
duais da gramática (masculino-feminino, singular-plural, substantivo-verbo,
sujeito do enunciado-sujeito de enunciação etc). A unidade elementar da linguagem
— o enunciado — é a palavra de ordem. Mais do que o senso comum, faculdade que
centralizaria as informações, é preciso definir uma faculdade abominável que
consiste em emitir, receber e transmitir as palavras de ordem. [...]
As palavras não são ferramentas; mas damos às crianças linguagem, canetas e
cadernos, assim como damos pás e picaretas aos operários. Uma regra de
gramática é um marcador de poder, antes de ser um marcador sintático. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
ANIMAIS QUE PLANTAM GENTE & CERRADO CAPITAL - A
escritoramiga e ambientalista Sandra
Fayad é criadora de uma Horta Comunitária na Asa Norte (DF), após catorze
anos de experiência com o cultivo de ervas medicionais e condimentos em um
sítio no Lago. O foco do seu trabalho literário é resultante da observação e da
efetiva atuação junto ao meio ambiente. Sobre essa temática, ela publicou o seu
primeiro livro Animais que plantam gente
(LGE, 2008) e Cerrado Capital: a vida em
duas estações (ArteLetras, 2011). No seu segundo livro, destaco o poema Rainha do Cerrado: Sou árvore de raiz profunda, / primogênita da valentia, / meus galhos
finos, contorcidos / enfrentam ventos, com galhardia. / Sou rainha gerada no
cerrado, / nascida na seca do inverno, / crescida no aguaceiro do verão / pela
graça do Padre Eterno. / Vem ser meu ipê na primavera, / pintar de roxo, rosa e
amarelo, / essa amor que já foi quimera. / Acredita na paixão que te revelo. /
Liberta-me da maldita espera / e acorrenta-me a ti, elo por elo. Veja mais
aqui. 












