quinta-feira, fevereiro 05, 2015

CHAUSSON, HENFIL, BURROUGHS, RAMPLING, GIGER, DALGALARRONDO & AUBER FIORAVANTE JUNIOR


A MULTA DO FIM DO MUNDO – Imagem: arte sem título de Auber Fioravante Junior - Sempre cumpridora dos compromissos, Vera jamais ousaria acarretar prejuízo a quem quer fosse. E ser canetada por uma multa, seria, pra ela, o fim do mundo! Principalmente porque nem o mais reles inseto seria capaz dela inadvertidamente espragatar, quanto mais causar qualquer dano no trânsito. Isso não! Podia chamá-la de tudo, menos de irresponsável. Notadamente ao volante, isso nunca! Direção defensiva, primeiros socorros, estudos com choferes abalizados, mecânicos juramentados, gente da melhor cepa dera-lhe instruções dela dirigir de lambreta à jamanta Romeu&Julieta, até treminhão, se brincar. Trator? A danada já saiu manipulando marcha até em patrol! E sempre com rigor exigido: de luvas e EPÍ. Correta, bote na conta do pontual; se era para pagar, antecipava. Nunca soubera de inadimplência. Sempre em cima da risca. Mas aquela multa a tirou do sério. Como poderia? Fez uma ginástica mental para identificar a causa. Sempre respeitou faixa de pedestre, meio-fio, parada regulamentar, preferência ao da direita, retrovisor pronto para sinalizar pra quem viesse ou fosse, nunca avançou um sinal vermelho, jamais além do limite de velocidade permitido, o que fosse: nenhuma infração de trânsito na vida. Uma multa? Não, não era possível. E de trânsito. Como? Veículo sempre nos conformes legais, nada sujeito à qualquer possível intervenção: do pisca-pisca, passando pelo extintor até o cano de escape saindo lá trás com fiscalização pra não poluir nada. Mas ficou: uma multa? Como? O guarda mostrando o filme e ela passando na cabeça cada detalhe do dia da multa. 24 de abril. Uma terça. Na Avenida. Remoendo mais as catracas. Lembrava que havia respeitado todas as faixas de pedestres. Todas. Sim, todas as faixas de pedestres respeitadas. Uma a uma. Como poderia? Estava pronta para armar o maior barraco. Justo ali, àquela hora, respeitadora de tudo, dona de todas as razões, infringir um sinal vermelho? Se havia respeitado todas as faixas de pedestres, por que infringira a lei? Quando o funcionário passa o filme: realmente, ela havia respeitado e quando os pedestres passaram, ela botou marcha e seguiu, conforme as últimas quatro faixas de pedestres. Só que nessa última, o sinal estava vermelho, não viu. E ela se valeu da faixa. Mas o sinal, Vera, o sinal estava vermelho. Ela não viu, só a faixa e a passagem dos pedestres. Quando eles passaram, ela engatou marcha, não viu o semáforo, estava fechado e ela passou. A infringência. Não era a faixa, era o semáforo, Vera! Veja mais aqui, aquiaqui.

Imagem: Doku, 2012, do artista plástico do surrealismo e da arte fantástica suíço Hans Rudolf Giger (1940-2014)

Ouvindo Concerto for Violin, Piano & String Quartet Op. 21 (1891) in D Major / D -Dur / en ré majeur 1, do compositor francês Ernest Chausson (1855-1899), com Franco Giulli, Enrica Cavallo & Tartini Quartet. Veja mais aqui e aqui.

RELIGIÃO E SAÚDE MENTAL – Como resultados de investigações científicas que redundaram na obra Religião, psicopatologia & saúde mental, de Paulo Dalgalarrondo, dão conta de que estudos empíricos realizados identificam associações positivas entre religião e saúde mental, inclusive para racionalização do ódio, preconceito e discriminação. Entretanto, diversos outros estudos relataram associações negativas entre essas duas dimensões, alegando que universitários religiosos tendem a ter traços de personalidade como conformismo, homofobia, dependência, atitudes defensivas, baixa autoestima, pior ajustamento, perfeccionismo, insegurança e ódio autodirigido. Outros estudos assinalam que pessoas exacerbadas religiosamente apresentam dependência, culpa excessiva, pensamentos obsessivos, ansiedade e perfeccionismo, evidenciando que a religião incrementa sentimentos de depressão, culpa, vergonha, erodia sentimentos de competência e autoestima, encorajando ao isolamento, intensificando dificuldades de percepção de falhas pessoais ou relacionadas a vida pessoal e subjetiva. Entre os fatores mais negativos estão aquelas religiões que proíbem o uso de vacina, transfusão de sangue e outros tipos de medicação quando de enfermidades e necessitando para saúde. Em suma, destaca então o autor que apesar da maioria das evidencias empíricas apontar para uma associação positiva entre saúde mental, religião e religiosidade, também há, embora em menor numero, evidencia empírica de que, para alguns subgrupos, em determinadas situações e condições de vida, e em certos contextos religiosos, o maior envolvimento com a religião pode, ao contrário, estar associado a aspectos negativos da saúde física e mental. Veja mais aqui.

ALMOÇO NU – O escritor, pintor, ator e panfletário estadunidense William Seward Burroughs (1914- 1997), entre as inumeráveis obras, escreveu o romance Almoço Nu (1979, Naked Lunch), que virou filme realizado por David Crinenberg. Trata-se de um romance autobiográfico narrado por um junkie que assume uma diversidade de pseudônimos contando um pesadelo de quinze anos submerso no mundo das drogas. Dessa sua obra-prima destacamos: [...] Rápido... flash branco... o inseto mutilado grita... Acordei com gosto de metal na boca, de volta dos mortos, rastreando o cheiro incolor da morte placenta de murcho macaco cinzento dores fantasma da amputação... — Taxiboys esperando um cliente — disse Eduardo, e morreu de superdose em Madri... Trens de pó queimam através de circunvoluções róseas da carne intumescente... disparam lâmpadas flash do orgasmo... fotos casuais de movimento preso... o lado marrom liso raspa para acender um cigarro... Estava ali, de pé, com um chapéu de palha de 1 920 que alguém lhe dera de presente... suaves e mendicantes palavras caem como pássaros mortos na rua escura... — Não mais... Não mais... No más... Um mar palpitante de britadeiras na penumbra púrpura, tingida com o cheiro podre de metal dos gases do esgoto... rostos de trabalhadores jovens vibram e saem fora de foco, em halos amarelados de lanternas de pilha... canos rompidos ex põem suas entranhas... — Estão reconstruindo a Cidade. Lee concordou com um ar ausente... — Sim... Sempre... Para qualquer lado que se mova, é ruim para o lado oriental... Se eu soubesse, ficaria feliz por poder lhe contar... — Nada bem... no bueno... estou me vendendo... — Num tem... Volte sexta-feira. Tânger, 1959.[...]. Veja mais aqui, aquiaqui.

HENFIL - O cartunista, jornalista, quadrinista e escritor brasileiro Henrique de Souza Filho, o Henfil (1944-1988) foi uma das figuras mais emblemáticas da imprensa e do humor brasileiro nas décadas de 1970/80, por sua obra que foi popularizada pelas tiras, cartuns e livros publicados. Entre suas obras estão os livros Cartas à mãe, o Diário de um Cucaracha (1976), Hiroshima, meu amor (1966), Dez em humor (coletânea, 1984), o popularíssimo Diretas Já! (1984) Henfil na China (1980) Fradim de Libertação (1984) Como se faz humor político (1984), além filme Tanga: Deu no New York Times? (1987). Aqui a nossa mais solene e celebrada homenagem. Veja mais aquiaqui e aqui.

O PORTEIRO DA NOITE – Um dos mais maravilhosos filmes que tive a graça de assistir foi o drama italiano O porteiro da noite (Il portiere di notte, 1974), com roteiro e direção de Liliana Cavani e história de Barbara Alberti. Esse filme traz a história da transgressão sexual no nazismo, quando um sobrevivente de um campo de concentração e seu torturador se encontram novamente treze anos depois da II Guerra Mundial para um relacionamento sadomasoquista. O ex-oficial nazista interpretado por Dirk Bogarde se depara com uma das suas vítimas abusadas na sessões nazistas e pela qual se apaixona e fica obscecado pela sobrevivente Lucia Atherton, personagem vivido pela trabalho extraordinário da atriz britânica Charlotte Rampling, que pode denunciá-lo e os seus comparsas que vivem impunemente se reunindo num hotel onde o mesmo é porteiro. Para essa grande atriz os aplausos da nossa campanha todo dia é dia da mulher. Veja mais aqui.


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    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...