sábado, janeiro 03, 2015

AMBER DAWN, AUDRE LORDE, SUSIE BRIGHT & LOUVET DE COUVRAY

 


OS ENCANTOS DE VALKYRIA FREYA - DUAS LUAS - Cego errante vou na rua, sem saber adiante. Nem previa cambaleante, reincidente, que me alumias, antes indecente e E arfante, com tuas luzidias iridescentes duas luas. SEMINEM IN ORE - Ah, Calíope das horas mais profusas, tal musa dos lampejos mais ardentes, vem reverente voz macia e me enternece como carece ter-me presa do seu beijo e eu porejo refém da sua língua buril todo febril na tabuleta do meu corpo, eu fico torto com o seu golpe exato, o fino trato que desvela a fantasia, qual felonia é o seu repasto infrene se faz perene e a me fazer feliz, Oh felatriz do meu gozo mais solene. DECÚBITO VENTRAL - És a paisagem da visão transcendental, uma paragem da mais bela natureza, toda espalmada em decúbito ventral e toda esguia a me expor toda pureza. És meu rincão, a minha posse mais real, a minha língua a percorrer tua extensão, o teu sabor de fruta boa do quintal traz o furor de provocar a polução. A poesia é tua assimetria corporal, faz-me trilhar teus interstícios à margem com o brio do contato interfemoral, eu sigo teus vãos a me dar toda passagem. Quando te tenho em decúbito ventral, o teu vulcão no Cáucaso apetitoso faz-me do cóccix à vertebra cervical com indecências de verso indecoroso. E o meu dedo alisa a fresta labial, enquanto mordo o teu ombro sem temor, aprumo a clava num intercurso tão total para gozar a gula do teu esplendor. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - O prazer sexual é um direito humano básico que todos merecem experimentar. Por trás de cada condenação erótica há um hipócrita ardente... Pensamento da escritora, jornalista e feminista estadunidense Susie Bright (Susannah Bright), que no livro Big Sex Little Death: A Memoir (Seal Press, expressou que: […] Eu não aguentaria mais um minuto tentando convencer o povo de Los Angeles de que uma revolução dos trabalhadores e uma revisão completa da sociedade era um pouquinho mais emocionante do que conseguir um pequeno papel em um comercial do Burger King. [...] Os americanos tiveram de amarrar todas as aspirações radicais com um nó puritano. [...] As feministas radicais não precisavam da infiltração do FBI – o mecanismo para a canibalização fraterna já estava bem encaminhado. [...] Sou tão vulnerável quanto qualquer pessoa à toxicidade da família nuclear americana. Mas eu não chamaria isso de doença ou fracasso moral, mas apontaria o dedo para um sistema que oprime as pessoas como uma lima de metal. Quem não precisa de uma bebida? Quem não vai explodir e atacar as pessoas que ama? [...]. Já na obra Full Exposure: Opening Up to Sexual Creativity and Erotic Expression (HarperOne, 2000) ela expressou que: […] Quando uma jovem descobre o seu poder, tanto sexual como intelectual, ela liberta a sua própria voz, a sua retidão. As primeiras coisas que ela tem de abandonar são o Diabo e qualquer representação religiosa do seu género como manchada ou subserviente. Ela naturalmente se sentirá atraída por deusas ou bruxas ou, como no meu caso, por uma compreensão científica do corpo e por uma visão histórica da política sexual. [...] O sexo é um dos poucos lugares honestos dentro de nós; não sabe mentir, mesmo que mudemos a história para o público [...]. Também na obra The Best of Best American Erotica 2008 (Touchstone, 2008), ela expressou que: […] Histórias assexuadas sobre relações humanas são desonestas. Como alguém escreveu sobre amor, vida ou morte e conseguiu evitá-los com tanta precisão? Foi uma farsa e, felizmente, ficou para trás. [...]. E no livro How to Write a Dirty Story: Reading, Writing, and Publishing Erotica (Touchstone, 2002), ela expressou que: […] O que há de tão maravilhoso nos experimentos é que muitas vezes eles não funcionam. Eles explodem no forno; a Noiva de Frankenstein rasteja e estrangula você com uma malha preta enquanto você grita suas últimas orações. Somente quando você tiver experimentado seus próprios fracassos chocantes, ideias estúpidas e afastamentos repentinos é que você perceberá algo maravilhoso. [...].

 

ALGUÉM FALOU: A sexualidade é uma parte integral da espiritualidade e não deve ser separada dela... Pensamento da escritora e ativista caribenha-americana Audre Lorde (1934-1992). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

OS AMORES DA NOITE DE FAUBLAS - [...] Um profundo silêncio reinou por alguns momentos. “Você já está dormindo, linda criança? disse-me a marquesa com voz alterada. Não, eu não durmo!" Ela correu para meus braços e me apertou contra seu peito. "Deuses! ela exclamou com uma surpresa que teria sido muito natural se fosse fingida, “é um homem!” e então, me afastando prontamente: “O quê! Senhor, é possível?... — Senhora, eu lhe disse, respondi tremendo. — Você me disse, senhor; mas isso era confiável? Foi um bom ponto para dizer! você não deveria ter ficado na minha casa..., ou pelo menos não deveria ter impedido que lhe arranjassem outra cama... — Senhora, não sou eu! é Monsieur le Marquis. — Mas, Monsieur, fale mais baixo... Monsieur, você não devia ter ficado na minha casa, tinha que ir. — Bom, senhora, eu vou... — Ela me segura. o braço: “Vá embora! onde fica isso, senhor, e o que fazer? acorde minhas mulheres, arrisque um escândalo…, talvez mostre a todo o meu povo que um homem entrou na minha cama; que sinto tanto a sua falta? — Senhora, me desculpe, não se zangue, vou me jogar numa poltrona. — Sim, numa poltrona! sim… sem dúvida, é necessário!… Mas vejam o lindo recurso (ainda me segurando pelo braço). Cansado como ele está! pelo quão frio está! pegar um resfriado, destruir sua saúde!... Você merece que eu te trate com esse rigor... Vamos, fica aí; mas prometa-me que serei bom. — Contanto que me perdoe, senhora. — Não, eu não a perdôo! mas eu me importo mais com você do que você comigo. Veja como a mão dele já está fria!” e por pena ela colocou-o no colar de marfim. Guiada pela natureza e pelo amor, esta mão feliz desceu um pouco; Não sei que agitação fez meu sangue ferver. “Nenhuma mulher já passou pelo constrangimento que ele me deixa? respondeu a marquesa num tom mais gentil. Então me perdoe, minha querida mãe...—Sim, sua querida mãe! Você tem muita consideração por sua mãe, pequena libertina que você é! Seus braços, que a princípio me afastaram, me atraíram suavemente. Logo nos encontramos tão próximos um do outro que nossos lábios se encontraram; Tive a ousadia de imprimir um beijo ardente nela. “Faublas, foi isso que você me prometeu?” ela me disse com uma voz quase morta. Sua mão se desviou, um fogo devorador circulou em minhas veias… “Ah! Senhora, perdoe-me, estou morrendo! — Ah! meu querido Faublas,... meu amigo!..." Fiquei imóvel. A marquesa teve pena do meu constrangimento que não poderia desagradá-la,... ajudou a minha tímida inexperiência... Recebi, com tanto espanto como prazer, uma lição encantadora que repeti mais de uma vez. Passamos várias horas neste exercício suave; Começava a adormecer no peito da minha bela amante, quando ouvi o som de uma porta abrindo-se suavemente: entramos, avançamos na ponta dos pés; Fiquei sem armas numa casa que não conhecia; Não pude evitar de sentir medo. A marquesa, que adivinhou o que era, disse-me em voz baixa para ocupar o seu lugar e dar-lhe o meu; Obedeci prontamente: mal havia me agachado na beira da cama quando as cortinas do lado que acabava de deixar estavam entreabertas. “Quem veio me acordar assim?” disse a marquesa. Hesitamos por alguns momentos, depois explicamos sem responder. “E o que é essa fantasia? ela continuou. O que! Senhor, você escolhe tão mal o seu tempo, sem atenção para mim, sem respeito pela inocência de um jovem que, talvez, não esteja dormindo, ou que possa acordar? Você não é razoável, por favor, retire-se. O marquês insistiu, gaguejando desculpas cômicas à esposa. “Não, senhor”, disse ela, “eu não quero isso, não vai acontecer, garanto-lhe que não vai acontecer, peço-lhe que se retire”. Ela se jogou da cama, pegou-o pelo braço e o chutou porta afora. Minha linda amante voltou para mim rindo. “Você não acha meu processo muito nobre? ela me disse; veja o que eu recusei por sua causa.” Senti que lhe devia uma compensação, ofereci-a com ardor, foi aceite com gratidão; uma mulher de vinte e cinco anos é tão complacente quando ama! A natureza tem tantos recursos para um novato de dezesseis anos! [...]; Trecho extraído da obra Les Amours du chevalier de Faublas (Nabu Press, 2011), do escritor, dramaturgo e jornalista francês Jean-Baptiste Louvet de Couvray (1760- 1797).

 

O SINO TOCANDO - Eu costumava comparar um poema a uma oração. Isso está certo?  Não a oração de cortejo e gratidão servida por bruxas queer.\ Orando na infância. Quando menina, me ajoelhei diante do tabernáculo\ e insistiu em sentar-se ao lado do vitral.\ No tipo certo de sol de domingo enviaria uma fatia de rosa\ luz através do vidro e até o piso de porcelanato.\ Se eu estendesse minha mão, a luz rosa faria meus dedos brilharem.\ Sinos tocaram quando o padre disse hoc est enim corpus meum.\ Esse é o meu corpo\ Fui batizado aos quatro anos de idade, bastante tarde para o rito romano. Minha mãe queria\ eu aceitar Deus, ter idade suficiente para dizê-lo em voz alta, para me iniciar.\ Aos quatro anos eu tinha idade suficiente para dizer sim\ sim, recebo a luz de Cristo e tenho idade suficiente\ reconhecer água, vela e cruz como recorrentes\ símbolos, mas, em termos de desenvolvimento, a fé era impossível.\ Os pré-escolares não compreendem o pensamento abstrato.\ Em vez de abstração, crianças de quatro anos são animistas.\ Tudo está vivo e tem um propósito. Tudo\ sente e comunica. Nada é inanimado.\ Que maravilha\ literalmente maravilhoso\ estágio da cognição. \ Então, digamos que meu eu de quatro anos tocou a campainha\ uma língua humana, e a campainha dizia:  não importa o joelho dobrado.\ Não importa o padre. A cruz, o livro, a missa, não importa.\ E o sino dizia hoc est enim corpus meum significa \este é o meu corpo, mas não importa, este é o meu corpo \ porque você, criança, passará metade da vida\ me perguntando se você algum dia reivindicará seu próprio corpo\ e me perguntando se a poesia pode ajudá-lo a fazer essa afirmação.\ Certa vez, li versos de minha poesia citados no texto de um anúncio pessoal estranho.\ Só posso esperar que o colocador do referido anúncio tenha seus desejos atendidos e reencontrados. Poema da premiada escritora canadense Amber Dawn. Veja mais aqui e aqui.

 

SACADOUTRAS


PARÁBOLA BUDISTA – Uma parábola budista dá conta das caminhadas de Buda, quando perto de um rio largo, encontrou um sadhu, um homem de renúncia. Este, tendo reconhecido o mestre, disse-lhe: - Veja, Gautama, medito aqui neste local há 50 anos em busca de autodomínio. Consegui grande poder e graças a este poder, posso fazer grandes coisas, veja. E dizendo isso se levantou e caminhou sobre as águas do rio, até o outro lado e retornou sobre elas. O Buda tudo contemplou com enfado e indiferença. Então, quebrando o silêncio, disse: - Você meditou 50 anos para poder fazer isto? Perplexo e contrariado, o sadhu desafiou: - Então me diga qual milagre você pode realizar maior que o que eu demonstrei? Ao que Buda respondeu: Meus milagres são estes: quando tenho fome como, quando tenho sede, bebo e quando tenho sono, durmo. E seguiu em frente seu caminho. A respeito do autodomínio, escreveu o autor do livro Nossa herança do antigo Egito, Rodman R. Clayson: Para a concretização de um ideal a pessoa deve praticar o autodomínio. Há uma maneira pela qual o domínio do eu é alcançado: o estudo adequado e sistemático das leis da natureza, das leis que regem o universo, que regem o homem, e que influenciam a relação do homem para com tudo que existe. [...] Lembremo-nos da vida de alguns grandes homens e mulheres da história que alcançaram aquilo que chamamos de autodomínio. Mark Twian, que era por todos amado, perdeu um a um os membros de sua família por doença ou acidente. Benjamim Franklin foi traído por seu próprio filho. Wagner, apesar do banimento e da pobreza, escreveu milhões de notas para suas operas, e obteve sucesso na direção de espetáculos. Francis Bacon foi traído por seus inimigos e muito pouco compreendido [...] Pensemos em Robert Louis Steven, que escreveu algumas de suas estórias enquanto preso ao leito com tuberculose. Pensemos em Beethoven que imprimia em seu lar um verdadeiro reinado de terror para escrever sua música. E pensemos em Mozart, cujo único estúdio era um barulhento parque com cervejarias e salão de bilhar. Quase todas as pessoas que consideramos como extremamente bem sucedidas passaram por muito sofrimento. [...] Spinoza, grande filósofo e místico, é um desses exemplos. Devido aos seis ideais, foi excomungado da sinagoga, e não era menos censurável para os cristãos. Tão profunda era a animosidade contra Spinoza que uma tentativa de assassinato foi contra ele perpetrado. Hoje, o mundo a ele se refere como uma das mais profundas mentes de todos os tempos. [...] Talvez devêssemos cantar louvores por aquilo que temos, em vez de lamentarmos a falta daquilo que pensamos que deveríamos ter, não nos deixando dominar em qualquer momento pelas emanações do incenso dos supostos deuses do materialismo. Por meio das provações é que o homem se torna, até certo ponto, mais espiritualizado e mais senhor de si mesmo. As provações e os sofrimentos nos harmonizam com as aflições do mundo e nos tornam mais complacentes, mais tolerantes, e mais benevolentes em nossa atitude para com os outros. [...] O autodomínio é, em suma, a prestração altruística de serviço e a capacidade de criar oportunidades para prestar esse serviço. Isso proporciona os meios para concretizar um ideal digno.(Rodman R. Clayson, Como concretizar um ideal). Veja mais aqui


Imagem: Female nude with corall necklace, do pintor expressionista alemão August Macke (1887-1914). Veja mais aqui.


Ouvindo: Going for the one, oitavo álbum da banda de rock progressivo Yes, 1977. Veja mais aqui.

A AMEAÇA CONTEMPORÂNEA – O antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997), em seu livro América Latina: a pátria grande, de 1986, já anunciava a ameaça da contemporaneidade: [...] A maior ameaça que pesa hoje sobre a humanidade – ameaça que, felizmente, não é fatal nem inevitável – é, pois, a de mergulhar mais ainda na penúria até a exaustão, numa era de fome e estupidificação. Tido isto apenas para que os novos ricos fruam a riqueza acumulada e reativem uma civilização obsoleta, sem causa, sem missão nem apetite senão o de enricar. Sua última grandeza será a de endurecer os corações e tapar os ouvidos para assistir, impávida, à humanidade morrer de fome [...]. (Darcy Ribeiro, América Latina: a pátria grande), Veja mais aqui e aqui


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