Imagens: S.O.S. (1914-1916) & The Red Cross (1918), da pintura e
pacifista britânica Evelyn De Morgan (1855-1919), expressando o seu
horror pela Primeira Guerra Mundial e pela guerra da África do Sul. Veja mais
abaixo e aqui.
SOS, EVELYN,
SALVEM AS NOSSAS ALMAS! - SOS, Evelyn, porque apesar de seu pedido de
ajuda em código Morse e da sua resposta ao horror e à futilidade da guerra, as ondas
trovejantes ainda estão presentes, carregadas de dragões, monstros e serpentes
marinhas que nada mais são que o algoz identificado no próprio humano. Você não
viu os horrores das consequências da Segunda Grande Guerra e sequer imaginaria
as convulsões de agora em Bangladesh,
República Centro-Africana, Honduras, Líbia, Norte do Cáucaso, Ásia Central, Iraque,
Sahel, Sudão, Síria e Líbano, grassando alarmantes além do Paquistão, da
Turquia, do Afeganistão, da Somália, do Sudão do Sul e da República Democrática
do Congo. No Afeganistão a insurreição contínua do Taliban, no maior desastre para
as mulheres afegãs. Na Somália, os militantes continuam atacando dentro como
fora das suas fronteiras, e muitos clãs permanecem em inimizade uns com os
outros. As armas químicas ampliam o conflito sírio atravessando o terceiro
inverno e se alastrando à Turquia e ao Paquistão, extremismos e violência
urbana, ceifando vidas e ameaçando o Líbano e o Iraque. As intervenções
militares na África Central degeneram em caos e violência religiosa. A Guerra
na Donbass, a rebelião no leste da Ucrânia. O processo de paz da Colômbia muito
longe de escapar dos imbróglios políticos. A intolerância desencadeada contra
os mulçumanos em Myanmar. Honduras passou a ser considerado o país mais
violento do mundo por conta dos assassinatos diários e metade da população vive
em extrema pobreza, afora o tráfico de drogas e de seres humanos até o
sequestro e a extorsão. No Iraque foi intensificada a repressão violenta e onda
de ataques, detenções e execuções - milhares de civis mortos vítimas da
destruição. No leste da Líbia ocorrem diários assassinatos de funcionários de
segurança. Os combates mortais na República Centro-Africana (RCA) e o êxodo de
milhares de pessoas por conta do terror. A violência de anos no Sudão com o
crescimento de grupos islâmicos violentos. As instabilidades na região do Sahel
e no norte da Nigéria, os movimentos separatistas, o terrorismo islâmico, a
insurreição sangrenta e as tensões entre o norte e o sul continuam violentos. A
escalada da violência política em Bangladesh, como o Uzbequistão em luta pelas
fronteiras com o Quirguistão e pela água com o Tajiquistão. O perigo em Sochi,
no Norte do Cáucaso, enfim, o que nos leva a compreensão de que não será possível
ainda a libertação física e espiritual. Quiçá um raio de esperança emerja do
arco-íris, porque sabemos: A
tristeza é apenas da Terra, a vida do espírito é alegria... Tudo isso prova a nossa incapacidade e o
mais completo fracasso, porque os que são tal qual nós cultuam ainda o
lamentável expediente da guerra... Veja mais aqui, aqui e aqui.
A ARTE DE EVELYN
A arte da
pintora e pacifista britânica Evelyn
De Morgan (1855-1919). Veja
mais aqui.
DITOS &
DESDITOS - Perco a minha identidade ao redescobri-la nos outros, um ir e
vir, um equilíbrio do individual e do coletivo, o corpo transindividual. Eu
sofro, logo existo... A ferida é a memória do corpo; memoriza a fragilidade, a
dor, ou seja, a sua real existência. É uma defesa contra o objeto e as próteses
mentais... Protegi um pedaço de terra equivalente ao espaço do meu corpo –
protegi-o durante quatro horas, sem me mexer e novamente foi uma espécie de…
quase… carinho que senti por esta terra que senti falta, que certamente sinto
falta. Protegi-o com a minha carne, fazendo uma analogia entre algo biológico e
algo material, que se complementam. A terra é a fonte do meu organismo
biológico e eu a protejo porque sou culpado de ela não existir mais, de estar
desaparecendo... A ação do corpo nunca é pensada como uma obra efêmera, mas
como uma composição mural composta por três passos... Eu, o artista, sou os
outros; dirijo-me a você porque você é a unidade do meu trabalho: o outro... Se
abro o meu corpo é para que você se lembre do seu sangue, é por amor a você: ao
outro... Pensamento da pintora, escultora e artista performática italiana Gina
Pane (1939-1990). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Não há nada que
faça você admirar as pessoas como se ver nelas... Eu queria aprender mais sobre
o amor - que não se constrói nas areias movediças da paixão violenta, mas na
rocha firme do afeto profundo e duradouro... A doutrina simples estava tão
envolvida em dogmas que a semente plantada por Jesus foi escondida e esquecida:
tomando o lugar do professor errante que entregou todos os seus bens mundanos
aos pobres e seguiu os passos de seu Mestre, estavam os homens poderosos da
Igreja. Pensamento da escritora britânica Eleanor Hibbert (1906-1993),
também conhecida pelo pseudônimo Jean Plaidy. Veja mais aqui e aqui.
GIGANTE - [...] Quem disse que o amor vence tudo era um tolo. Porque quase tudo vence o amor - ou tenta. [...] Eu nunca vou a casamentos. Perda de tempo. Uma pessoa pode se casar uma dúzia de vezes. Muitas pessoas se casam. Famílias como a nossa, conhecem todo
mundo no estado do Texas e arredores, ora, você poderia passar a vida indo a
casamentos. Mas um funeral, isso é diferente. Você só morre uma vez. [...]. Trechos extraídos
da obra Giant (Harper
Perennial, 2000), da escritora estadunidense Edna Ferber (1885-1968),
que na obra Gigolo (Read & Co, 2007), expressa que: [...] Parece tão distante e diferente. Gosto de lugares diferentes. Gosto de qualquer lugar que não seja aqui. [...],
enquanto que na obra Fanny Herself (University of
Illinois Press, 2001), ela expressa que: […] Depois, havia longas
e preguiçosas tardes de verão, quando não havia nada para fazer além de ler. E sonhar. E ver a cidade passar para o jantar. Acho que é por isso que nossos grandes
homens e mulheres tantas vezes surgiram de pequenas cidades ou vilas. Eles tiveram tempo para sonhar na
adolescência. Nenhum carro para pegar, nenhuma matinê, nenhuma rua da cidade, nenhuma das
ocupações fervilhantes, vazias e consumidoras de energia da criança da cidade. Pouco que seja competitivo, muito que
seja inconscientemente absorvido no período mais impressionável, longas noites
para ler, longas tardes nos campos ou florestas [...]. Veja mais aqui.
A POESIA DE JOSÉ MARTÍ
De onde cresce a palma
E antes de morrer-me quero
Deixar meus versos da alma.
E para todas as partes vou:
Sou arte entre as artes,
E nos montes, monte sou.
Das ervas e das flores,
E de mortais enganos,
E de sublimes dores.
Chover sobre minha cabeça
Os raios da luz mais pura
Da divina beleza.
Das mulheres mais formosas:
E sair dos escombros,
Voando as mariposas.
Com um punhal no costado,
Sem dizer jamais o nome
Daquele que o tinha matado.
Duas vezes vi a alma, duas:
Quando morreu o pobre velho,
Quando ela me disse adeus.
Na entrada da vindima,
Quando a bárbara abelha
Picou a face de mi'a menina
Que igual gozei nunca:
Quando da sentença de minha morte
Leu o alcaide chorando.
Das terras e do mar,
E não era um suspiro. - era
Que meu filho vai despertar.
Tome a joia melhor,
Tomo a um amigo sincero
E ponho a um lado o amor.
Voar no azul sereno,
E morrer em sua guarida
A víbora do veneno.
Cede, lívido, ao descanso,
Sobre o silêncio profundo
Murmura o arroio manso.
De horror e júbilo rija,
Sobre a estrela apagada
Caiu frente a mi'a cornija.
A pena que nele me fere:
O filho de um povo escravo
Vive por ele, cala e morre.
Tudo é música e razão,
E tudo, como o diamante,
Antes que luz é carvão.
Com grande luxo e grande pranto,
E que não há fruta na terra
Como a do campo-santo.
Na pompa do rimador:
Penduro num seco seixo
Meu guarda-pó de doutor.
em julho como em janeiro,
para o amigo verdadeiro
que me dá sua mão franca.
E para o cruel que me arranca
o coração com que vivo,
cardo, urtiga não cultivo:
cultivo uma rosa branca.
Corre qual luz a voz; em alta torre
Qual nave despenhada em sirte horrendo,
Some-se o raio, e em ligeira barca
O homem, como alado, fende o ar.
Assim o amor, sem pompa nem mistério,
Morre, logo que nasce, de saciado!
Prisão é a casa de pombas já mortas
E ávidos caçadores! Se tantos peitos
Dos homens se laceram, e as carnes
Rasgadas rolam na terra, não se vêem
Dentro mais que frutos esmagados!
Dos salões e das praças; agoniza
A flor que nasce. Aquela virgem
Trêmula que preferia dar à morte
A mão pura que a um ignorado jovem;
O gozo de temer; aquele sair
Do peito o coração; o inefável
Prazer de merecer; o grato susto
De caminhar depressa e sem desvio
Para a casa da amada, e às suas portas
Como um menino feliz romper em choro;
E o contemplar, de nosso amor ao fogo,
As rosas tingindo-se de cor,
- Serão patranhas? Pois, quem possuirá
Tempo pra ser fidalgo? Embora sinta
Qual áureo vaso ou quadro suntuoso,
Dama gentil na casa de um magnata!
Ou, se tem sede, estende o seu braço
E a taça que passa a bebe toda!
Depois, a taça turva no pó rola,
E o hábil provador – manchado o peito
Por um sangue invisível – segue alegre,
Coroado de mirtos, seu caminho!
Não são os corpos já, mas só resíduos,
E campas e farrapos! E as almas
Não são como na árvore frutos ricos
Em cuja pele macia o suco doce
Transborda quando ficam bem maduros.
- Mas fruta à venda que com brutais pancadas
O rude lavrador torna madura!
Das noites só de insônia! De uma vida
Esmagada antes do tempo! O que nos falta
Que a ventura não existe? Como lebre
Assustada, o espírito esconde-se,
Fugindo trêmulo ao caçador que ri,
Como em bosque selvoso, em nosso peito;
E o desejo, enlaçado na febre,
Qual rico caçador percorre o bosque.
De taças por esvaziar, ou taças ocas!
Tenho medo, ai de mim!, que este meu vinho
Seja peçonha, e em minhas veias logo
Qual duende vingador os dentes crave!
Tenho sede, - mas de um vinho que na terra
Ninguém sabe beber! Não padeci
Bastante ainda para derrubar o muro
Que me separa, oh dor, do meu vinhedo!
Bebei vós, mesquinhos provadores
De humanos vinhos fracos, esses copos
Onde o suco do lírio em grandes goles
Sem compaixão e sem temor se bebe!
Bebei! Eu sou honrado e tenho medo!
Denuncia tudo. E crava
Com fúria de mão escrava
A ignomínia do tirano.
Mostra o quanto possas,
A trilha obscura, as poças,
Do tirano e do erro.
Que morras de sua mordida,
Mas não entortes tua vida
Falando mal de mulher!
onde em silêncio divino
repousam heróis, de pé.
De noite, aos fulgores da alma,
falo com eles, de noite.
Estão em fila; passeio
Por entre as filas; as mãos
de pedra lhes beijo; entreabrem
os olhos de pedra; movem
os lábios de pedra; tremem
as barbas de pedra; choram;
vibra a espada na bainha!
Calada lhes beijo as mãos.
Estão em fila; passeio
por entre as filas; choroso
me abraço a um mármore. — “Ó mármore,
dizem que bebem teus filhos
o próprio sangue nas taças
envenenadas dos déspotas!
Que falam a língua torpe
dos libertinos! Que comem
reunidos o pão do opróbrio
na mesa tinta de sangue!
Que gastam em parolagem
as últimas fibras! Dizem,
ó mármore adormecido,
que tua raça está morta!”
esse herói que abraço; agarra-me
o pescoço; varre a terra
com meus cabelos; levanta
o braço; fulge-lhe o braço
semelhante a um sol; ressoa
a pedra; buscam a cinta
as mãos diáfanas; da peanha
saltam os homens de mármore!
meu pequerrucho
me despertava
com um grande beijo.
sobre meu peito
freios forjava
com meus cabelos.
tanto eu como ele
me esporeava
meu cavaleiro:
que suave espora
seus dois pés frescos!
meu cavaleiro!
seus pés pequenos
dois pés que cabem
juntos num beijo!