quarta-feira, janeiro 14, 2015

BATTAILLE, GRADIVA, VILLA-LOBOS, MORISOT, JOHN DOS PASSOS & KIRI TE KANAWA


UMA FORMA MUITO DIFERENTE DE NARRAR – Com sua narrativa em estilo nervoso, diálogos breves e isolados e suas rápidas mudanças de ângulo influenciadas pelos cineastas russos, o romance 1919, o segundo da trilogia USA, do escritor e pintor norte-americano descendente de imigrantes portugueses originários da Madeira, John dos Passos (1896-1970) – o primeiro, Paralelo 42; o segundo, 1919; e o terceiro Dinheiro Graúdo -, o autor traça uma visão de conjunto da vida americana nas primeiras décadas do século recém-passado, revolucionou a literatura da época, criando o que seria denominado de romance coletivista – tipo de ficção em que a ênfase não é colocada sobre um indivíduo, mas sobre todo o grupo social. Por sua raiz lusitana, o autor esteve no Brasil quando escreveu O Brasil em movimento, posteriormente publicado sob o título de O Brasil desperta, o que levou o escritor lusitano Tiago Patrício a realizar uma peça inspirada no romance Manhattan Transfer do escritor, e que será encenada em 2017, nos Estados Unidos. Do seu romance 1919, destacamos: [...] João Ninguém possuía uma cabeça durante vinte anos completos, intensamente, os nervos dos olhos dos ouvidos do palato da língua dos dedos das mãos e dos pés dos sovacos, os nervos que aquecem o corpo e sentem o calor debaixo da pele levaram às circunvoluções cerebrais sensações de dor de doçura de calor de frio de posse de permissão de interdição as grandes paragonas dos jornais; aquilo que se não deve fazer, a tábua de multiplicação e as grandes divisões. Chegou a hora em que todos os homens bons a oportunidade só bate uma vez à nossa porta, é uma grande vida de Ish gebibbel, os cinco primeiros anos foram acima de tudo a segurança, imagina que um huno tentava violar a tua o meu país com razão ou sem ela, em pequenino é que se torce o pepino o que os olhos não veem coração não sente, não lhes dês explicações trata-os com dureza apanhou o que estava a pedir vivemos num país de homens brancos Deus o berro, foi para os anjinhos, se não gostas podes refilar [...]. Veja mais aqui.

Imagem: Nu de dos, 1885, oil on canvas, da pintora impressionista francesa Berthe Morisot (1841-1895)



Ouvindo: Aria (Cantilena)/Bachianas Brasileiras nº 5, de Heitor Villa-Lobos, com a soprano Kiri Te Kanawa, Lynn Harrel and Cello Ensemble/Jeffrey Tate.

A HISTÓRIA DO OLHO – Ao escrever o livro A história do olho – publicado em 1928, sob o pseudônimo de Lord Auch -, o escritor francês Georges Bataille (1897-1962) mistura erotismo, transgressão e sagrado em narrativa antropológica, filosófica, sociológica e artística, com o objetivo de: “Escrevo para apagar meu nome”. Numa tradução e prefácio de Eliane Robert Moraes e ensaios de Julio Cortázar, Roland Barthes e Michel Leiris, destacamos dessa controvertida obra: [..] Pois 0 olho, guloseima canibal, segundo a maravilhosa expressão de Stevenson, produz uma tal inquietação que não conseguimos mordê-lo. O olho chega a ocupar uma posição extremamente elevada no horror por ser, entre outros, olho da consciência. É bastante conhecido 0 poema de Victor Hugo, 0 olho obsessivo e lúgubre, olho vivo e pavorosamente imaginado por Grandville durante um pesadelo ocorrido umn pouco antes de sua morte: 0 criminoso "sonha que acaba de atingir um homem num bosque sombrio, sangue humano foi derramado e, segundo uma expressão que nos brinda 0 espírito com uma imagem feroz, fez um carvalho suar. Com efeito, não se trata de um homem mas de um tronco de arvore ... sangrento ... que se mexe e debate ... sob a arma assassina. Erguem­se as mãos da vitima, suplicantes, mas inutilmente. 0 sangue continua a correr". É nessa altura que aparece 0 olho enorme que se abre num céu negro, perseguindo 0 criminoso através do espaço, até 0 fundo dos mares, onde 0 devora, depois de tomar a forma de um peixe. Inúmeros olhos se multiplicam, enquanto isso, sob as ondas. Grandville escreve a respeito: "Seriam os mil olhos da multidão atraída pelo espetáculo do suplicio prestes a ocorrer?". Mas por que motivo esses olhos absurdos são atraídos, como uma nuvem de moscas, por algo que é repugnante? Por que, igualmente, a cabeça de um semanário ilustrado, perfeitamente sádico, que apareceu em Paris de 1907 a 1924, figura regularmente um olho sobre fundo vermelho que antecede espetáculos sangrentos? Por que 0 olho da polícia, parecido com 0 olho da justiça humana no pesadelo de Grandville, no final das contas nada mais e que a expressão de uma cega sede de sangue? Parecido ainda com 0 olho de Crampon, um condenado a morte que, abordado pelo capelão um momento antes do golpe do cutelo, repeliu, mas arrancou um olho e ofereceu como jovial presente, pois 0 olho era de vidro. Veja mais aqui e aqui.

MARIE ESPINOSA: GRADIVA – Levado pela obra de Freud, me deparei certo dia com o filme Gradiva, ou melhor C´est Gradiva Qui Vous Appelle, de Alain Robbe-Grillet. 2006. O filme conta a história de um jovem crítico de arte inglês, John Locke, que começa pesquisando esboços de Delacroix e, depois, se instala nas ruínas de um antigo palácio perto de Marraquexe, para trabalhar na redação de um livro sobre orientalismo pictórico, com a temática da mulher como objeto de arte. Caindo numa cilada, o filme vai entrando num clima de tensão, mas não passando de um suspense que só valeu a pena pela aparição apreciável da bela atriz Marie Espinosa, desfilando sua nudez e sensualidade para encanto e recheio do imaginário masculino. Só a beleza da Marie Espinosa valeu o preço do ingresso. Veja mais aqui e aqui.



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