UMA FORMA MUITO DIFERENTE
DE NARRAR – Com sua
narrativa em estilo nervoso, diálogos breves e isolados e suas rápidas mudanças
de ângulo influenciadas pelos cineastas russos, o romance 1919, o segundo da trilogia USA, do escritor e pintor
norte-americano descendente de imigrantes portugueses originários da Madeira, John
dos Passos (1896-1970) – o primeiro, Paralelo
42; o segundo, 1919; e o terceiro
Dinheiro Graúdo -, o autor traça uma
visão de conjunto da vida americana nas primeiras décadas do século
recém-passado, revolucionou a literatura da época, criando o que seria
denominado de romance coletivista – tipo de ficção em que a ênfase não é
colocada sobre um indivíduo, mas sobre todo o grupo social. Por sua raiz
lusitana, o autor esteve no Brasil quando escreveu O Brasil em movimento, posteriormente publicado sob o título de O Brasil desperta, o que levou o
escritor lusitano Tiago Patrício a realizar uma peça inspirada no romance Manhattan Transfer do escritor, e que
será encenada em 2017, nos Estados Unidos. Do seu romance 1919, destacamos: [...]
João Ninguém possuía uma cabeça durante
vinte anos completos, intensamente, os nervos dos olhos dos ouvidos do palato
da língua dos dedos das mãos e dos pés dos sovacos, os nervos que aquecem o
corpo e sentem o calor debaixo da pele levaram às circunvoluções cerebrais
sensações de dor de doçura de calor de frio de posse de permissão de interdição
as grandes paragonas dos jornais; aquilo que se não deve fazer, a tábua de
multiplicação e as grandes divisões. Chegou a hora em que todos os homens bons a
oportunidade só bate uma vez à nossa porta, é uma grande vida de Ish gebibbel,
os cinco primeiros anos foram acima de tudo a segurança, imagina que um huno
tentava violar a tua o meu país com razão ou sem ela, em pequenino é que se
torce o pepino o que os olhos não veem coração não sente, não lhes dês
explicações trata-os com dureza apanhou o que estava a pedir vivemos num país
de homens brancos Deus o berro, foi para os anjinhos, se não gostas podes
refilar [...]. Veja mais aqui.
Imagem: Nu de dos, 1885, oil on canvas, da pintora impressionista francesa Berthe Morisot (1841-1895)
Ouvindo: Aria (Cantilena)/Bachianas Brasileiras nº 5, de Heitor Villa-Lobos, com a soprano Kiri Te Kanawa, Lynn Harrel and Cello Ensemble/Jeffrey Tate.
A HISTÓRIA DO OLHO – Ao escrever o livro A história do olho – publicado em 1928,
sob o pseudônimo de Lord Auch -, o escritor francês Georges Bataille
(1897-1962) mistura erotismo, transgressão e sagrado em narrativa
antropológica, filosófica, sociológica e artística, com o objetivo de: “Escrevo para apagar meu nome”. Numa
tradução e prefácio de Eliane Robert Moraes e ensaios de Julio Cortázar, Roland
Barthes e Michel Leiris, destacamos dessa controvertida obra: [..] Pois 0 olho, guloseima canibal, segundo a maravilhosa expressão de
Stevenson, produz uma tal inquietação que não conseguimos mordê-lo. O olho
chega a ocupar uma posição extremamente elevada no horror por ser, entre
outros, olho da consciência. É bastante conhecido 0 poema de Victor
Hugo, 0 olho obsessivo e lúgubre, olho vivo e
pavorosamente imaginado por Grandville durante um pesadelo ocorrido umn pouco
antes de sua morte: 0 criminoso "sonha que acaba de atingir um homem num
bosque sombrio, sangue humano foi derramado e, segundo uma expressão que nos
brinda 0 espírito com uma imagem feroz, fez um carvalho suar. Com efeito, não se trata de um homem
mas de um tronco de arvore ... sangrento ... que se mexe e debate ... sob a
arma assassina. Erguemse as mãos da vitima, suplicantes, mas inutilmente. 0
sangue continua a correr". É nessa altura que aparece 0 olho enorme que se abre num céu negro, perseguindo
0 criminoso através do espaço, até 0 fundo dos mares, onde 0 devora, depois de
tomar a forma de um peixe. Inúmeros olhos se multiplicam, enquanto isso, sob as
ondas. Grandville escreve a respeito: "Seriam os mil olhos da multidão atraída
pelo espetáculo do suplicio prestes a ocorrer?". Mas por que motivo esses
olhos absurdos são atraídos, como uma nuvem de moscas, por algo que é
repugnante? Por que, igualmente, a cabeça de um semanário ilustrado,
perfeitamente sádico, que apareceu em Paris de 1907 a 1924, figura regularmente
um olho sobre fundo vermelho que antecede espetáculos sangrentos? Por que 0 olho da polícia, parecido com 0 olho da justiça humana no pesadelo de Grandville,
no final das contas nada mais e que a expressão de uma cega sede de sangue?
Parecido ainda com 0 olho de Crampon, um condenado a morte que, abordado pelo capelão
um momento antes do golpe do cutelo, repeliu, mas arrancou um olho e ofereceu
como jovial presente, pois 0 olho era de vidro. Veja mais aqui e aqui.
MARIE
ESPINOSA: GRADIVA –
Levado pela obra de Freud, me deparei certo dia com o filme Gradiva, ou melhor C´est Gradiva Qui Vous Appelle, de Alain Robbe-Grillet. 2006. O
filme conta a história de um jovem crítico de arte inglês, John Locke, que começa
pesquisando esboços de Delacroix e, depois, se instala nas ruínas de um antigo
palácio perto de Marraquexe, para trabalhar na redação de um livro sobre
orientalismo pictórico, com a temática da mulher como objeto de arte. Caindo
numa cilada, o filme vai entrando num clima de tensão, mas não passando de um
suspense que só valeu a pena pela aparição apreciável da bela atriz Marie
Espinosa, desfilando sua nudez e sensualidade para encanto e recheio do imaginário
masculino. Só a beleza da Marie Espinosa valeu o preço do ingresso. Veja mais
aqui e aqui.
Veja mais sobre:
Ovídio, Nikolai
Gógol, Eduardo Giannetti, Xangai, Bob
Rafelson, Diana/Ártemis, Theresa Russel & Agostino Carracci aqui.
E mais:
Antígona de Sófocles aqui.
Perfume de mulher aqui.
João Cabral de Melo Neto, Rigoberta
Menchú Tum, Joan Baez, Simone de Beauvoir & Eduardo Viana aqui.
Hermeto Pascoal, Eric Kandel, Ludwig van
Beethoven, Linda Lovelace & Nina Kozoriz aqui.
Oswald de Andrade, Stanislaw Ponte Preta,
Mary Whiton Calkins, Hypatia de Alexandria, Geraldo Azevedo & Parmigiano aqui.
Hannah Arendt, Tarsila do
Amaral, Edvard
Hagerup Grieg, Rubem Braga & Eleanor Jack Gibson aqui.
Paul Feyerabend, Gilberto
Mendes, Brian de
Palma, Sandra Scarr, Chaim Soutine, Penelope Ann Miller
& Programa Tataritaritatá aqui.
A vida é linda, apesar dos enrustidos
& dos chatos de galocha, Selene, A
lenda Bororo das duas pombas, Laura Tedeschi, Witold Lutoslawski & Ewa
Kupiec aqui.
No país da sabiduria, só sabido ganha
jogo, Alfosno Hernández Catá, Sebastião Salgado, Zé Paulo Becker, Pedro Sangeon
& Michael Malfano aqui.
O milagre do amor na festa do dia e da
noite, Oscar Wilde, Richard Strauss & Inga Nielsen, Violante Placido &
Luciah Lopez aqui.
No país do Fecamepa, até no dia da
felicidade não dá pra ser feliz
& João Câmara aqui.
Contratos Mercantis, Denise Dalmacchio,
Fernanda Guimarães, Jussanam, Consiglia Latorre, Aline Calixto & Fátima
Lacerda aqui.
Psicologia no Brasil, Armélia Sueli Santos Salles, Carmen Queiroz,
Bárbara Rodrix, Verônica Ferriani, Paula Moreno & Liz Rosa aqui.
Mesmer & Mesmerismo, Nara Salles,
Mirianês Zabot, Elaine Guedes, Eleonora Falcone, Juliana Farina & Dani
Gurgel aqui.
Martin Buber, Elisabeth Carvalho Nascimento, Célia Mara, Adryana BB,
Ivete Souza, Sandra Vianna & Elisete aqui.
Ayn Rand, Teca Calazans, Danny Reis,
Tatiana Rocha, Valéria Oliveira, Natália Mallo & Dani Lasalvia aqui.
István Mészarós, Tetê Espíndola, Luciana Melo, Fhatima Santos, Thaís Fraga, Ana
Diniz & Patty Ascher aqui.
Literatura de cordel: o papé da rapariga
de Bob Motta aqui.
Proezas do Biritoaldo: quando o urubu tá
numa de caipora, não há pau que escore: o de debaixo caga no de cima aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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