quinta-feira, janeiro 08, 2015

HANNIE ROUWELER, NANCY HOLT, EDITH STEIN & MIYAMOTO MUSASHI

 


O AMOR VENCE A MORTE - Era ela linda e mais que isso: Edith nasceu durante a festa do Yom Kippur. Também era Theresa, a caçula de onze irmãos. Era órfã de pai e amparada pela devotada mãe quando perdeu a fé ainda jovem. E me viu flagrá-la com seus olhos socráticos. Na verdade, vi-a passar polonesa pela rua Michaelisstraße, ali perto morava. Dos seus olhos emanavam a coragem e força materna, um exemplo ideal. Persegui seus passos e ela correspondia aos meus olhares com um sorriso angelical de olhos vivos. Durou pouco porque ela abandonou a escola por causa de uma crise de fé e viajou para a casa da irmã em Hamburgo. Tempos depois reaparecera para minha felicidade. E retomou os estudos para ser brilhantemente foi reconhecida pelo empenho e aptidão. Estudávamos história e alemão quando ela se interessou por filosofia, movida pelas tragédias da guerra primeira. Inquieta e mesmo sem o consentimento materno, ela fez-se auxiliar de enfermagem voluntariamente, na Cruz Vermelha, e atuou num hospital austríaco para cuidar de enfermos de doenças contagiosas. Depois serviu no front, num hospital militar. Cruzamo-nos mais uma vez e soube que havia se tornado professora suplente, enquanto se doutorava com temática sobre o problema da empatia. Não podia deixar passar em branco e estudamos fenomenologia com Husserl, enquanto reivindicava professoras na universidade, sem conseguir emprego. Desiludiu-se com a política e chorou ao meu ombro. Uma nova e dolorosa crise interior fê-la buscar do Livro da Vida, enquanto lecionava no liceu para moças e no instituto para formação de professoras. Escreveu para publicação do seu estudo sobre "Uma investigação sobre o Estado", enquanto tentava uma cátedra universitária sem sucesso, até conseguir a docência no Instituto Alemão de Pedagogia Científica. E me fiz sua filosofia e nos amamos pela teologia nos delírios dos desejos mais exaltados. Sua boca aos beijos confessava os anseios aristotélicos mais ousados, e me abrigava em seus seios judeus, enquanto seus quadris pitagóricos remexiam como se Hypatia cedesse difusa a si própria ao movimento planetário em torno da minha volúpia solar. E sua vagina sáfica devorou-me o pênis inchado por seus beijos e lambidas e carícias zis, para que antecipadamente a canonizasse com meu sexo bruto na revelação da sua nudez angelical, como se buscasse deus e nele fez-se santa puta a abrigar sua alma. Mas o mundo lhe era amargo e tornou-se freira carmelita descalça no monastério de Colônia com a ascensão nazista, sendo proibida de ocupar cargos públicos. Foi para o Carmelo da Holanda quando passou a sofrer represálias e nem deu tempo que dissesse adeus. Morreram a mãe e o mestre, afora a violenta Noite dos Cristais. Deu-se guerra segunda e seus familiares emigraram ou foram deportados. Ela uma "doctor veritatis" foi, por fim, capturada pela Gestapo e, como se fosse de vez para o seu povo, foi dizimada pelo veneno de uma câmara de gás, num campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Ela fez-se em mim e comigo ficou para sempre. Veja mais abaixo e mais aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Todo o meu trabalho gira em torno do lugar, do tempo, do espaço interior versus espaço exterior, da orientação no espaço (muitas vezes, de alguma forma, designada astronómicamente) e de outros aspectos relacionados com as percepções: a luz, o espaço, o enquadramento, o foco. Desde 1969, a minha principal preocupação tem sido realizar esculturas em paisagens ou espaços urbanos abertos, utilizando materiais como pedra, betão, tijolo e aço. Embora por vezes espaços interiores (salas inteiras) sejam utilizados como locações, os lugares, tanto interiores como exteriores, são parte integrante das esculturas, das ideias para os trabalhos que se desenvolvem a partir da minha relação com esses locais. Os meus filmes, os meus videoteipes e o meu livro, também concebidos num quadro perceptivo, são geralmente evocações de paisagens ou deslocamentos de lugares. Indicações do espaço (através de imagens de rastreamento, panorâmicas, tomadas aéreas e tomadas de caminhada) e aspectos da natureza (padrões criados pela luz solar, nuvens de poeira, reflexos na água) são capturados visualmente e transportados para outros lugares através do filme ao longo do tempo, enquanto o a psicologia do lugar é revelada por meio de vozes, sons ou músicas locais nas trilhas sonoras ou no texto que as acompanha. Declaração da artista estadunidense Nancy Holt (1938-2014) para Video Data Bank, em 1988.

 


ALGUÉM FALOU: O mundo não precisa do que as mulheres têm, precisa do que as mulheres são. E quando chega a noite, e você olha para trás, para o dia, e vê como tudo foi fragmentado, e quanto você planejou que foi desfeito, e todas as razões pelas quais você tem para ficar envergonhado e envergonhado: apenas aceite tudo exatamente como é... A alma da mulher é constituída como um abrigo onde outras almas podem se desdobrar. A alma da mulher deve ser expansiva e aberta a todos os seres humanos, deve estar tranquila para que nenhuma pequena chama fraca seja apagada pelos ventos tempestuosos; quente para não entorpecer os botões frágeis... vazio de si mesmo, para que nele haja espaço a vida estranha; finalmente, dona de si e também do seu corpo, para que a pessoa inteira esteja prontamente à disposição de qualquer chamado. A mulher procura naturalmente abraçar aquilo que é vivo, pessoal e completo. Valorizar, guardar, proteger, nutrir e promover o crescimento é o seu anseio materno natural. Cada mulher que vive à luz da eternidade pode cumprir a sua vocação, seja no casamento, numa ordem religiosa ou numa profissão mundana. Não aceite como amor nada que carece de verdade. Aqueles que permanecerem em silêncio são responsáveis. Pensamento da filósofa judia alemã Edith Stein (Edith Theresa Hedwig Stein, 1891-1942).

 

DOKKŌDŌ - […] O fato é que o mundo não se importa com você ou comigo, com nossas esperanças, nossos desejos ou nossos sonhos. E o mundo de sonhos, esperanças e desejos que se constrói entre nossos ouvidos não é necessariamente um reflexo do que realmente está acontecendo ao nosso redor. [...] Sinto-me confiante nesta suposição porque entre mim e os meus alunos de longa data, muitas vezes acontecem coisas que parecem telepatia, mas é mais verdadeiramente uma relação que atingiu uma maturidade onde as palavras não são necessárias para uma comunicação plena. Um rápido aceno na direção de algum equipamento na sala e o aluno que está lá há anos entenderá que isso significa: “Vá buscar isso”. A afirmação tácita nessa pergunta é presumida a partir do contexto da lição. Não preciso dizer exatamente qual equipamento levar, porque eles já sabem o que estou pedindo. Eles existem há tempo suficiente para serem capazes de somar dois mais dois. Para um iniciante pode parecer um superpoder, mas é apenas relacionamento. Poderíamos e deveríamos assumir que o mesmo se aplica aqui. Nem todos os detalhes precisavam ser explicados. [...] quando você aceita as coisas como elas são, isso permite que você entre na realidade. O véu de fantasia com o qual a maioria de nós nos protege é rasgado em pedaços e podemos lidar com as coisas como elas realmente são, boas, más ou indiferentes. O fato é que o mundo não se importa com você ou comigo, com nossas esperanças, nossos desejos ou nossos sonhos. E o mundo de sonhos, esperanças e desejos que se constrói entre nossos ouvidos não é necessariamente um reflexo do que realmente está acontecendo ao nosso redor. [...] Se você está angustiado por alguma coisa externa, a dor não se deve às coisas em si, mas à sua avaliação delas. [...]. Trechos extraídos da obra Dokkōdō - The Way of Walking Alone: Half Crazy, Half Genius—Finding Modern Meaning in the Sword Saint’s Last Words (Stickman, 2015), do guerreiro lendário, escritor, samurai e espadachim japonês Miyamoto Musashi (Benosuke, Shinmen Musashi No Kami Fujiwara No Genshin – 1584-1645), também conhecido pelo nome budista Niten Dōraku e Shinmen Takezō na cultura popular.

 

ORAÇÃO PÓS-GUERRA - o futuro começou \ com longos meses \ minados no tempo, \ só resta o amanhã, \ preferimos estar livres de \ preocupações enquanto as horas \ correm, passada a \ inércia das coisas \ vamos cantar, esperar, implorar, \ que nem tudo vai assim rápido \ e a paz para sempre \ está ancorada? \ poupe-nos da destruição \ e da desgraça permanentes, buscando \ o que nosso coração deseja, \ lembremo-nos humildemente \ de que nem um único dia na terra \ retorna \ para nenhum de nós. Poema da poeta e tradutora holandesa Hannie Rouweler, autora da obra Raindrops on the Water (1988).

 

SACADOUTRAS

 


ENTENDENDO O RISCADO DESSA TAL PÓS-MODERNIDADE – Houve um tempo em que o conhecimento se encontrava espalhado. Uns sujeitos pensantes, denominados de pré-socráticos, juntaram tudo, consolidando a coisa. Na Modernidade deram uma rachada no bolo e tornaram tudo especialista, fragmentado, canhestra – e no meio uma onça Juma virada no creu. A rachadura trouxe antagonismos, dicotomias inconciliáveis. Ou oito, ou oitenta; ou vai pra lá, ou pra cá; no meio que não pode: ou é de disso ou daquilo. E isso obrigou-nos a escolher entre isso ou aquilo, ou cai fora. Hoje, graças à Holística e ao desenvolvimento das Neurociências, temos a possibilidade de avaliar essas dicotomias, suplantá-las e podemos visualizar toda a amplitude que nos expresse a totalidade e o todo. Inda bem e vamos aprumar a conversa e tataritaritatá (LAM). Veja mais aqui e aqui.

Imagem: In the Bathroom, do pintor do grupo Nabis francês Pierre Bonnard (1867-1947). Veja mais aqui.

Ouvindo: Clair de lune, do compositor francês Claude-Achille Debussy (1962-1918), ao som do violão brasileiro de Laurindo Almeida (1917-1995). Veja mais aqui e aqui.

UM JEITO DE SER – No maravilhoso livro Um jeito de ser, do psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902-1987), recolhi esse belíssimo pensamento: [...] Creio que sei por que me é gratificante ouvir alguém. Quando consigo realmente ouvir alguém, isso me coloca em contato com ele, isso enriquece a minha vida. [...] Quando efetivamente ouço uma pessoa e os significados que lhe são importantes naquele momento, ouvindo não suas palavras mas ela mesma, e quando lhe demonstro que ouvi seus significados pessoais e íntimos, muitas coisas acontecem. Há, em primeiro lugar, um olhar agradecido. Ela se sente aliviada. Quer falar mais sobre seu mundo. Sente-se impelida em direção a um novo sentido de liberdade. Torna-se mais aberta ao processo de mudança. [...] Assim, estimar ou amar e ser estimado e amado são experiências que promovem crescimento. Veja mais aquiaqui e aqui.

TODO DIA É DIA DA MULHER – A socióloga, economista, escritora, pacifista e sindicalista estadunidense, Emily Greene Balch (1867-1961), foi presidente honorária da Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade, sendo agraciada com o prêmio Nobel da Paz de 1946. Sua orientação religiosa Quaker a dotara de forte caráter, voltando-se para a criação de uma casa-abrigo para trabalhadoras das fabricas de tabaco e manufatura, ao final de um dia árduo de trabalho. Fundou o jornal A Nação e desenvolveu intenso trabalho voltado para a paz e a defesa dos direitos das mulheres. Veja mais aquiaqui.


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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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