terça-feira, dezembro 30, 2014

ESTHER DUFLO, NUSSBAUM, BYUNG-CHUL HAN, PAULO FREIRE, BRECHT & MARY ASTOR

 


O FASCÍNIO DA MAMA KILLA - Nasceu no Titicaca a filha do criador de todas as coisas, ela me vigiava e eu não sabia. Ali perto morava Ka-Ata-Killa, eu sabia, vez em quando a via e seus olhos refletiam uma luz magnífica além de toda imaginação, como se deles emergisse um metal huaca, um artefato letal e divino a iluminar o meu andino céu noturno. Pela luz dela eu navegava até bem longe e da janela dela ela me via pescador errante pelas noites e dias. Numa curva do rio, do nada, ela a mim se revelou. E veio com todo esplendor pra me fazer Endymion na sua nudez Selene de todos os céus e o reino de todas as águas. E na sua boca a delícia da felação de todas as mais gulosas apaixonadas, dos seus seios a oferta e amparo de todos os pomares e jardins, de suas pernas todos os caminhos pra seguir, de suas coxas todas as rotas dos prazeres e da felicidade. Estava assustado porque havia me levado pro templo nas profundezas da selva, mas dali não arredei nem dela quis fugir. Enganou-se comigo porque não resisti nem a rejeitei, ela assim pensou e me sequestrou. Em seu espelho mágico insistia em me perguntar: Você me ama? E não podia mentir nem esconder minha verdadeira natureza. Apesar de temeroso a desejava e temeu que mentisse e enlouquecesse, tão desesperada soltou seus raios e um cataclisma quase me fez sucumbir, como se fosse atacada por um ente celestial ou um espírito maligno e desmaiei. Ao despertar estava no alto do céu diante da Mãe da lua que me fez Inti, irmão e marido, na corte celestial, e compreendia todos os meus desejos e temores. A Tríplice deusa no Templo do Sol, deu-me amparo nas nevadas altitudes do Andes e se fez Mama Killa, a bela mulher, mãe do firmamento a dar-me toda prosperidade do Tawantinsuyu. E se fez Mama Ocllo toda lua cheia e do seu ventre o fervor de todas as mulheres casadas e virgens, viúvas e solitárias, que teciam o destino atravessando o tempo e todos os meus espaços no eclipse da nossa comunhão auspiciosa e temível no festival do meu sacrifício por todos os seus domínios e atributos. E se fez Mama Cocha, a ordem após o caos, e do seu gozo a grandeza dos orgasmos de todas as fiéis seguidoras no culto ao Sapa Inca pelos ciclos de destruição e renascimento do mundo. E feito Capéi me fez Selenito amparado indefeso em seu corpo nu. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui

 


FALEI EQUIDADE: A equidade é o reino do outro na heterogeneidade, porque o outro do outro sou eu, assim comungamos, assim vivermos (LAM). Já dizia Paulo Freire: Se nossa opção é progressista, \ se estamos a favor da vida e não da morte, \ da equidade e não da injustiça, \ do direito e não do arbítrio, \ da convivência com o diferente e não de sua negação, \ não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. \ (Nossas escolhas). Veja mais aqui e aqui.

 

DITOS & DESDITOS - A pobreza não é apenas uma condição econômica, mas também uma privação de oportunidades. A economia deve centrar-se na melhoria do bem-estar das pessoas e não apenas no crescimento do PIB. A igualdade de gênero é crucial para o desenvolvimento e o progresso económico. A pobreza não é inevitável nem imutável, pode ser erradicada. A educação é a arma mais poderosa para quebrar o ciclo da pobreza. Pensamento da economista francesa Esther Duflo, co-fundadora e diretora do Laboratório de Ação contra a Pobreza Abdul Latif Jameel e professora de Economia da Alívio à Pobreza e Desenvolvimento no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Empatia e compaixão são a base de uma sociedade justa e equitativa. O respeito pelos outros é essencial para uma coexistência pacífica e harmoniosa. O amor e a amizade são elementos fundamentais na vida humana e devemos cuidar deles e cultivá-los. A arte e a literatura nos ajudam a desenvolver nossa imaginação e compreensão dos outros. A educação é o motor do progresso social e pessoal. Pensamento da filósofa estadunidense Martha Nussbaum.

 

SOCIEDADE DO CANSAÇO - [...] A reclamação do indivíduo depressivo “Nada é possível” só pode ocorrer numa sociedade que pensa: “Nada é impossível”. [...] A aceleração da vida contemporânea também desempenha um papel nesta falta de ser. A sociedade do trabalho e da realização não é uma sociedade livre. Gera novas restrições. Em última análise, a dialética entre senhor e escravo não produz uma sociedade onde todos sejam livres e também capazes de lazer. Pelo contrário, conduz a uma sociedade de trabalho em que o próprio senhor se tornou um escravo trabalhador. Nesta sociedade de compulsão, todos carregam dentro de si um campo de trabalho. Este campo de trabalho é definido pelo facto de se ser simultaneamente prisioneiro e guarda, vítima e perpetrador. A pessoa se explora. Significa que a exploração é possível mesmo sem dominação. [...] A sociedade de hoje não é mais o mundo disciplinar de Hospitais, hospícios, prisões, quartéis e fábricas de Foucault. Há muito que foi substituído por outro regime, nomeadamente uma sociedade de estúdios de fitness, torres de escritórios, bancos, aeroportos, centros comerciais e laboratórios genéticos. A sociedade do século XXI já não é uma sociedade disciplinar, mas sim uma sociedade de realizações [Leistungsgesellschaft]. Além disso, seus habitantes não são mais “sujeitos de obediência”, mas “sujeitos de realização”. Eles são empreendedores de si mesmos. [...] Nas redes sociais, a função dos “amigos” é principalmente aumentar o narcisismo, concedendo atenção, como consumidores, ao ego exibido como uma mercadoria. [...] Se o sono representa o ponto alto do relaxamento corporal, o tédio profundo é o auge do relaxamento mental. Um Rush puramente agitado não produz nada de novo. Reproduz e acelera o que já está disponível. [...] A violência da positividade não priva, ela satura; não exclui, esgota [...] A depressão – que muitas vezes culmina em esgotamento – decorre de uma autorreferência excessiva, superexcitada e excessiva que assumiu características destrutivas. O sujeito exausto e depressivo da realização se desgasta, por assim dizer. Está cansado, exausto por si mesmo e em guerra consigo mesmo. Totalmente incapaz de dar um passo para fora, de ficar fora de si mesmo, de confiar no Outro, no mundo, ele trava suas mandíbulas sobre si mesmo; paradoxalmente, isso leva o eu ao vazio e ao esvaziamento. Ele se desgasta em uma corrida desenfreada que corre contra si mesmo. [...]. Trechos extraídos da obra Müdigkeitsgesellschaft - The Burnout Society (Matthes & Seitz Berlin, 2010), do filósofo e ensaísta sul-coreano Byung-Chul Han. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

UMA VIDA NO CINEMA - [...] Admiro a nudez e gosto de sexo, assim como muitas pessoas na década de trinta. Mas, para mim, a superexposição embota a diversão... O sexo como algo belo pode desaparecer em breve. Uma vez que era uma faca tão finamente afiada, o fio ficava invisível até ser tocado e então cortar profundamente. Agora é tão rombudo que apenas machuca e deixa marcas feias. A nudez é aceitável na privacidade do meu quarto com o parceiro apropriado. Ou para um modelo em aula de vida na escola de artes. Ou conforme retratado em pedra e tinta. Mas não gosto que seja usado como piada ou para excitar. Ou seja tão franco sobre isso. [...]. Trecho extraído da obra A Life On Film (Bantam Doubleday Dell, 1972), da atriz estadunidense Mary Astor (Lucile Vasconcellos Laghanke - 1906-1987), que também se expressa: Nunca admita nada para ninguém. Honestidade não é a melhor política... Veja mais aqui e aqui.

 

É PRECISO AGIR - Primeiro levaram os negros \ Mas não me importei com isso\ Eu não era negro\ Em seguida levaram alguns operários\ Mas não me importei com isso\ Eu também não era operário\ Depois prenderam os miseráveis\ Mas não me importei com isso\ Porque eu não sou miserável\ Depois agarraram uns desempregados\ Mas como tenho meu emprego\ Também não me importei\ Agora estão me levando\ Mas já é tarde.\ Como eu não me importei com ninguém\ Ninguém se importa comigo. Poema do dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

SACADOUTRAS

 

A LIÇÃO DO OLHAR DE NIETZSCHE – [...] Eu apresento a partir de agora, para não perder o meu jeito afirmativo, este jeito que só tem a ver mediada e involuntariamente com a contradição e a crítica, as três tarefas em virtude das quais se precisa de educadores. Tem-se de aprender a ver, tem-se de aprender a pensar, tem-se de aprender a falar e escrever: o alvo em todas as três é uma cultura nobre. Aprender a ver: acostumar os olhos à quietude, à paciência, a aguardar atentamente as coisas; protelar os juízos, aprender a circundar e envolver o caso singular por todos os lados. Esta é a primeira preparação para a espiritualidade: não reagir imediatamente a um estímulo, mas saber acolher os instintos que entravam e isolam. Aprender a ver, assim como eu o entendo, é quase isso que o modo de falar não-filosófico chama de a vontade forte: o essencial nisso é precisamente o fato de poder não "querer", de poder suspender a decisão. Toda ação sem espiritualidade, bem como toda vulgaridade repousa sobre a incapacidade de sustentar uma oposição a um estímulo - o "precisa-se reagir" segue-se a cada impulso. Em muitos casos, uma tal necessidade já é prova de um caráter doentio, de decadência, de um sintoma de esgotamento. – Quase tudo que a rudeza não-filosófica denomina com o nome de "vício" é meramente aquela incapacidade fisiológica de não reagir. Uma aplicação do ter-aprendido-a-ver: à medida que nos tornamos um destes que aprende, nos tornamos em geral lentos, desconfiados e resistentes. Deixa-se inicialmente advir todo tipo de coisa estranha e nova com uma quietude hostil - se retirará a mão daí. O ter todas as portas abertas, o deitar de bruços submisso diante de todo e qualquer pequeno fato, o inserir-se e o lançar-se sempre pronto para o salto no diverso, em resumo a célebre "objetividade moderna" é de mau gosto, é não-nobre par excellence. (Friedrich Nietzsche, Crepúsculo dos ídolos). Veja mais aqui, aqui e aqui.

Imagem: A seated female nude, possibly Mademoiselle Marie-Gabrielle Capet, 1815, do pintor francês François-André Vincent (1746-1816).



Ouvindo Concerto nº 1 para piano, do compositor russo Dmitriy Borisovich Kabalevskiy (1904-1987).

PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das 21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação desta terça aquiogo mais, a partir das 21hs, acontecerá mais uma edição do programa Tataritaritatá Especial de Ano Novo com muita festa e a apresentação da querida Meimei Corrêa. E com as seguintes atrações na programação: Egberto Gismonti, Pat Metheny, Quinteto Armorial, Sonia Mello, Clara Redig, Meimei Corrêa, Rosana Simpson, Katya Chamma, Tatiana Cobbett & Marcoliva, Ricardo Machado, João Pinheiro & Hermila Guedes, Auri Viola, Lyara Velloso, Dery Nascimento & Paulinho Pedra Azul, Alex Rios, Wilson Monteiro, Mazinho, Cikó, Zé Linaldo, Ozi dos Palmares, Paulinho Natureza & Sandra Regina Alves Moura, JB, Tirso Florence de Biasi & muito mais! Veja mais aqui.

SERVIÇO:
O que? Programa Tataritaritatá Especial de Ano Novo
Quando? Hoje, terça, 30 de dezembro, a partir das 21hs (horário de Brasília)
Onde? No MCLAM -
Apresentação: Meimei Corrêa



SACADAS DO CASCUDO – O historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), além de uma personalidade das mais maravilhosas da cultura brasileira, também tirava das suas: “O Brasil não tem problemas, só soluções adiadas”, “Não se assombre, em Natal eu sou o único pecador profissional. Os outros são amadores” e mais essa: “Não me interessei por nada no mundo. Daí a minha fidelidade mental ao meu trabalho. Sou um brasileiro feliz, diz Diógenes. Vivia minha vida e não a vida indicada pelos outros. Não fui o que quiseram, fui o que senti, a volição de ser. Hoje, sou um resto de idade, estou fora do ar, tenhos dias eufóricos, compreendeu? O trabalho para mim não era maldição. Era como o trabalho gostoso de fazer um filho. Prazer”. E vamos aprumar a conversa e tataritaritatá! Veja mais aqui.


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CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame,...