quarta-feira, junho 25, 2014

LILLIAN HELLMAN, ELENA FERRANTE, CÉLIE DIAQUOI-DESLANDES & MARTHE LAHOVARY


CONFISSÃO OUTRA – (Imagem Hermínia Veríssimo) - Confesso diante de tudo e de nada, para todos e ninguém, a minha mais solene confissão do que sou no trâmite da solidão. Confesso viver mais que o merecido além das satisfações e plenamente confuso com o que há e não. Confesso adorar o Sol matinal luzindo meus olhos pras graças da vida e sinto-me vivo com o contato de cada alvorada na imensidão do infinito e ser arrebatado com a reluzência a saber-me integrante do espetáculo supra e nos mistérios infras, ubiquidade suprema e una. Confesso a poesia deste instante pelo que há de mais solidário no gozo do que é viver e a plenos pulmões, porque meus passos são versos que se delineiam em canto à vida. Confesso a sempre amizade porque sou no outro o que identifico ser e somos mútuos na caminhada; o lúdico momento das mãos, umas às outras, as que de mim se completam. Confesso que sou de campos, seres e pedras, maior do que tenho, menor que superior por todos amálgamas de mim e de tudo. Confesso, mão espalmada, de pés juntos, pelo que rio e choro encarando firme o inimigo que sempre tive presente e nunca vira e o espelho refletia oi algoz que era eu mesmo o inexorável carrasco de sempre. Confesso amar desmedidamente e, muitas vezes, senão todas, querer mais que o merecimento, porque amo indiscriminadamente e nisso confesso ao amor minha inteireza e ser parte do que talvez falte ou extensão e o que se quer ampliar. Confesso a minha irredutivel teimosia, a minha mais insensata mania de persistir pelos simulacros e de cair e restar prostrado diante do crepúsculo. Confesso meu amadorismo, coração aberto se afogando nas horas de me perder pelos redemoinhos labirinticos das paixão. Confesso à Lua que sou Selenito, sonâmbulo das matas que nem sequer mais existem nas cinzas da ganância. Confesso o fascínio pelos rios e mares, guardando comigo, precavido, os temores de não saber nadar e morrer inevitavelmente afogado. Confesso o que ouço e também o que não li. Confesso janela aberta nenhum segredo escondi – afora os que esqueci e me contaram, os que imaginem nem serem secretos e não passavam de ouropeis, os que desabrocharam das coisas por não passarem de obviedades, os que explodiram na surpresa e os que nem eram por sequer algo de valia. Confesso a covardia de não ter tido coragem de enfrentar meus próprios medos. Confesso ao mundo meu desapontamento com a humanidade perdida, barbárie vigente no bolso guloso dos oportunistas ricaços. Confesso minha incompetência geral: sou uma sombra que fenece ao brilho do caos na inutilidade. Confesso até o que não fiz ou dexei de fazer, omisso reincidente, sucumbente dos segundos mais espremidos. Confesso, enfim, à Justiça todas minhas faltas e pecados – porque corri solto e impune mundo afora vivendo o que podia e restava. Confesso desde ontem e sempre amanhã, porque sou grato pelo prêmio da vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Os bons pais nunca se apressaram em contar aos filhos que lhes deram a morte quando lhes deram a vida, nem como vieram ao mundo. O jogo, sempre corrigido por um cheque, era apenas uma história que anunciava o futuro. Assim como todas as brincadeiras infantis: os fantoches nos mostram o quão curta e conturbada é a nossa vida, o esconde-esconde nos ensina como procurar as emoções, o girar do anel, o quão longe é preciso correr para realizar seus desejos, e do amor cego, do amor cego e loucura. Pensamento da escritora romena Marthe Lahovary (1886-1973), também conhecida como princesa Bibesco e também como Marta Bibescu, ou mesmo pelo nome de batismo Marta Lucia Lahovari.

 

ALGUÉM FALOU: Há momentos em que recorremos a palavras insensatas e fazemos exigências absurdas para esconder sentimentos lineares... Pensamento da escritora italiana Elena Ferrante. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

MULHER INACABADA – […] À medida que outros se tornam mais inteligentes sob estresse, eu fico pesado, como se fosse um animal acorrentado. [...] A maioria das pessoas que sai de uma guerra sente-se perdida e ressentida. O que foi um confronto minuto a minuto consigo mesmo, sua luta com a coragem que você tem contra o desconforto, pelo menos, e a morte do outro lado, liga você às pessoas que conheceu na guerra e faz, por um vez, todos os outros parecem estranhos e frívolos. Os amigos ficam felizes em vê-lo novamente, mas você sabe imediatamente que a maioria deles o colocou de lado e, embora seja fácil dizer que você deveria saber disso antes, a maioria de nós não sabe, e é doloroso . Você está cara a cara com o que acontecerá com você após a morte. [...] Mas o tom moral dos gigantes com cabeças inchadas, dedos gordos pressionados sobre a bomba atômica, olhando uns para os outros através das florestas do mundo, é monstruosamente cômico. [...] Descobri que a meia-idade e a velhice de Dottie transformaram em rocha muitas coisas que antes eram fluidas, e as excentricidades antes encantadoras tornaram-se estranhas demais para serem seguras ou confortáveis. [...] Foi naquela árvore que aprendi a ler, cheio das paixões que só podem chegar aos estudiosos, gananciosos, muito jovens, desnorteados por quase tudo o que lia, suando na tentativa de compreender um mundo de adultos do qual fugi. na vida real, mas queria desesperadamente participar dos livros. (Não conectei os homens e mulheres adultos da literatura com os homens e mulheres adultos que via ao meu redor. Eles eram, para mim, outra espécie. [...]. Trechos extraídos da obra An Unfinished Woman: A Memoir (Little Brown & Co, 1969), da escritora estadunidense Lillian Hellman (1905-1984). Veja mais aqui e aqui.

 

TEMPESTADE - A orquestra infernal da natureza\ Começou esta noite\ Sob um céu acolchoado de negro\ Flashes de pratos, temporal.\ As árvores se despem enquanto dançam\ As bananas e os pinheiros\ A brilhante dança da valsa do furacão\ O mar executa sua partitura macabra\ Seus olhos azuis se arregalam\ Som de ondas se casando\ Para as notas erradas da chuva\ O vento sussurra uma sentença de morte\ Interminável e grave\ É a festa no inferno. Poema da escritora haitiana Célie Diaquoi-Deslandes (1907-1989)

 

OUTRAS DITADAS VALENDO

 


 (Ouvindo 1984, do pianista clássico e tecladista de rock progressivo britânico Rick Wakeman, baseado na obra de George Orwell).

PENSAMENTO DO DIA: “Todo ser vivo é um poema de piedade [...] Uma vez que não temos o poder de criar, não nos assiste o direito de destruir. Cada homem é arquiteto do seu destino” (Mahatma Gandhi).


GANDHI – O advogado e fundador do Estado moderno indiano Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948), popularmente conhecido como Mahatma Gandhi, foi o maior defensor do Satyagraha como um meio de revolução. A sua biografia é cheia de curiosidades: tornou-se noivo aos oito anos, casou-se aos doze, cursou as escolas públicas de Porbandar, tornou-se advogado em Londres e quando estava prestes a enriquecer renunciou a tudo, abandonando a prática da advocacia que, para ele, era “uma profissão imoral”. A respeito disso, um certo professor de Harvard comentando sobre o seu comportamento jurídico, recebeu de um aluno a afirmação que agir contra Gandhi seria injusto, ao que o professor respondeu: “Se quer justiça, moço, atravesse a rua e entre na Escola de Teologia; aqui é escola de Direito”. É que Gandhi defendia a rebelião através da greve religiosa contra a violência e por meio da desobediência à injustiça: “O soldado nunca deve temer a morte”. A não-cooperação pacífica era a única arma do mundo que habilitaria os fracos a vencer os fortes: “Foi esta a arma que produziu a vitoria dos primitivos cristãos contra os opressores romanos”. O objetivo de Gandhi era liquidar o inimigo transformando-o em amigo. Contudo, era incompreendido tanto por brancos como por hindus: “Sei que muitas pessoas no Ocidente – e mesmo aqui no Oriente – julgam impossível uma vitória não-violenta. Reconheço que podemos estar longe de alcançá-la; que talvez não se verifique durante a minha existência. Podem ser necessárias muitas gerações. Mas no fim o triunfo há de vir [...] Nenhum inimigo pode ser bastante forte ou bastante feroz para resistir ao fogo do amor [...] Na realidade, todos nós perdemos a vida na batalha universal da existência [...]”. Veja mais aqui


1984, GEORGE ORWELL – Quando li esse clássico da literatura mundial e das distopias, eu era ainda um adolescente cheio de ideias na cabeça. Ler 1984, escrito pelo jornalista e escritor inglês George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair – 1903-1950), deu-me um choque a ponto de ficar amedrontado com as perspectivas das sociedades totalitárias. É que à época a gente vivia na segunda metade dos anos 1970, em plena ditadura militar: totalitária e opressora. A ideia da vigilância absoluta e do controle do pensamento do Big Brother, num mundo tripartido e carregado pela verdade recontada diariamente pelo protagonista Winston Smith, ameaçava demais ao ponte dos maiores temores. No meio do cenário assombroso que vivíamos no Brasil, a obra atormentava as minhas ideias juvenis: o temor que o poder ditador alcançasse a vida privada: o Big Brother está de olho em você. E, por tabela, emendei logo leitura do “Um pouco de ar, por favor! (na sombra de 1984)”, a história de uma pessoa que vive à sombra da guerra, o alerta ligado pelas vinte e quatro horas do dia, vigilante de não pregar um olho sequer: a ditadura e a guerra fria. Estarrecedor. Todavia, essas obras me fizeram ter uma outra visão do poder e de como estamos sujeitos a tudo na vida: tudo por um triz. Releitura recomendada. Veja mais aqui

MAURREN MAGGI – A atleta de ouro e eterna musa Tataritaritatá, Maurren Maggi, comemora mais um aniversário de vida. Nossos parabéns e nossa homenagem aqui.


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