TEMPO E EXPRESSÃO LITERÁRIA – O livro “Tempo e expressão literária” do doutor em Letras e
catedrático das universidades de Buenos Aires e La Plata, Raúl H. Castagnino é
dividida em duas partes: tempo e literatura, a primeira. E a segunda: tempo e
teatro. Na primeira parte o autor trata acerca da dimensão tempo, da distância
interior, a época, o tempo objetivo, subjetivo e psicológico em relação à
lírica e ao romance. Na segunda parte trata acerca do fato teatral e o fato
literário ante o tempo, o aristotelismo e o antiaristoteliosmo, o tempo
relativista e o atual, J. W. Dunne e o tempo serial, Dunne e o tempo e os
Conways de Priestley, o valor de teatro ou de ilustração de teorias e uma
síntese bibliográfica. Veja mais aqui.
FONTE:
CASTAGNINO, Raul. Tempo e expressão literária. São
Paulo: Mestre Jou, 1970.
TOTEM E TABU DE FREUD - [...] uma coisa que é proibida com a maior ênfase deve ser algo que é
desejado [..] onde existe uma
proibição tem de haver um desejo subjacente. [...] Se uma só pessoa consegue gratificar o desejo reprimido, o mesmo desejo
está fadado a ser despertado em todos os outros membros da comunidade. A fim de
sofrear a tentação o transgressor invejado tem de ser despojado dos frutos de
seu empreendimento e o castigo, não raramente, proporcionará àqueles que o
executam uma oportunidade de cometer o mesmo ultraje, sob a aparência de um ato
de expiação. Na verdade, este é um dos fundamentos do sistema penal humano e
baseia-se, sem dúvida corretamente, na pressuposição de que os impulsos
proibidos encontram-se presentes tanto no criminoso como na comunidade que se
vinga. Nisto, a psicanálise apenas confirma o costumeiro pronunciamento dos
piedosos: todos nós não passamos de miseráveis pecadores. [...] Na raiz da proibição existe sempre um
impulso hostil contra alguém que o paciente ama - um desejo de que essa pessoa
morra. Esse impulso é reprimido por uma proibição e esta se liga a algum ato
específico, que, por deslocamento, represente talvez um ato hostil contra a pessoa
amada. Existe uma ameaça de morte se o ato for realizado. Mas o processo vai
além e o desejo original de que
a pessoa morra é substituído pelo medo
de que ela possa morrer. Assim é que, quando a neurose parece ser tão
compassivamente altruísta, está simplesmente compensando uma atitude subjacente
contrária de brutal egoísmo. Podemos descrever como ‘sociais’ as emoções que
são determinadas pelas demonstrações de consideração por outra pessoa, sem
tomá-la como objeto sexual. O recuo ao que está por trás desses fatores sociais
pode ser ressaltado como uma característica fundamental da neurose, embora se
trate de uma característica que é posteriormente disfarçada pela
supercompensação. [...] Assim o fato que é característico da neurose é a
preponderância dos elementos sexuais sobre os elementos instintivos sociais. Os instintos sociais, contudo, derivam-se
eles próprios de uma combinação de componentes egoísticos e eróticos em
totalidades de um tipo especial. [...] Poder-se-ia
sustentar que um caso de histeria é a caricatura de uma obra de arte, que uma
neurose obsessiva é a caricatura de uma religião e que um delírio paranóico é a
caricatura de um sistema filosófico. [...] A natureza associal das neuroses tem sua origem genética em seu
propósito mais fundamental, que é fugir de uma realidade insatisfatória para um
mundo mais agradável de fantasia. O mundo real, que é assim evitado pelos
neuróticos, acha-se sob a influência da sociedade humana e das instituições
coletivamente criadas por ela. Voltar as costas à realidade é, ao mesmo tempo,
afastar-se da comunidade dos homens. [...] A raça humana, se seguirmos as autoridades no assunto, desenvolveu, no
decurso das eras, três desses sistemas de pensamento - três grandes
representações do universo: animista (ou mitológica), religiosa e científica.
Destas, o animismo, o primeiro a ser criado, é talvez o mais coerente e
completo e o que dá uma explicação verdadeiramente total da natureza do
universo. [...] Com esses três
estágios em mente, pode-se dizer que o animismo em si mesmo não é ainda uma
religião, mas contém os fundamentos sobre os quais as religiões posteriormente
foram criadas. É evidente também que os mitos se baseiam em premissas
animistas, embora os pormenores da relação entre os mitos e o animismo pareçam
estar inexplicados em alguns aspectos essenciais. [...] A feitiçaria seria, então, a arte de
influenciar espíritos tratando-os da mesma maneira como se tratariam seres
humanos em circunstâncias semelhantes: apaziguando-os, corrigindo-os,
tornando-os propícios, intimidando-os, roubando-lhes o poder, submetendo-os à
nossa vontade - através dos mesmos métodos que se têm mostrado eficazes com
homens vivos. A magia, por outro lado, é algo diferente: fundamentalmente, ela
despreza os espíritos e faz uso de procedimentos especiais e não dos métodos
psicológicos do dia-a-dia. É fácil imaginar que a magia é o ramo mais primitivo
e mais importante da técnica animista, porque, entre outros, os métodos mágicos
podem ser utilizados para tratar com os espíritos e a magia pode ser aplicada
também a casos onde, segundo nos parece, o processo de espiritualização da
natureza ainda não foi realizado. [...] A
magia tem de servir aos mais variados propósitos - ela deve submeter os
fenômenos naturais à vontade do homem, proteger o indivíduo de seus inimigos e
de perigo, bem como conceder-lhe poderes para prejudicar os primeiros. Mas o
princípio em cuja pressuposição a ação mágica se baseia - ou, mais
propriamente, o princípio da magia - é tão notável que nenhuma das autoridades
deixou de identificá-lo. [...] Apenas
em um único campo de nossa civilização foi mantida a onipotência de pensamentos
e esse campo é o da arte. Somente na arte acontece ainda que um homem consumido
por desejos efetue algo que se assemelhe à realização desses desejos e o que
faça com um sentido lúdico produza efeitos emocionais - graças à ilusão
artística - como se fosse algo real. As pessoas falam com justiça da ‘magia da
arte’ e comparam os artistas aos mágicos. Mas a comparação talvez seja mais
significativa do que pretende ser. Não pode haver dúvida de que a arte não
começou como arte por amor à arte. Ela funcionou originalmente a serviço de
impulsos que estão hoje, em sua maior parte, extintos. E entre eles podemos
suspeitar da presença de muitos intuitos mágicos. [...] Ao concluir, então, esta investigação excepcionalmente
condensada, gostaria de insistir em que o resultado dela mostra que os começos
da religião, da moral, da sociedade e da arte convergem para o complexo de
Édipo. Isso entra em completo acordo com a descoberta psicanalítica de que o
mesmo complexo constitui o núcleo de todas as neuroses, pelo menos até onde vai
nosso conhecimento atual. Parece-me ser uma descoberta muito surpreendente que
também os problemas da psicologia social se mostrem solúveis com base num único
ponto concreto: - a relação do homem com o pai. É mesmo possível que ainda
outro problema psicológico se encaixe nesta mesma conexão. Muitas vezes tive
ocasião de assinalar que a ambivalência emocional, no sentido próprio da
expressão - ou seja, a existência simultânea de amor e ódio para os mesmos
objetos - jaz na raiz de muitas instituições culturais importantes. Não sabemos
nada da origem dessa ambivalência. Uma das pressuposições possíveis é que ela
seja um fenômeno fundamental de nossa vida emocional. Mas parece-me bastante válido
considerar outra possibilidade, ou seja, que originalmente ela não fazia parte
de nossa vida emocional, mas foi adquirida pela raça humana em conexão com o
complexo-pai, precisamente onde o exame psicanalítico de indivíduos modernos
ainda a encontra revelada em toda a sua força. TOTEM E TABU – O livro Totem
e tabu & outros trabalhos, de Sigmund Freud, aborda temas como o horror
ao incesto, totemismo, exogamia, tabu e ambivalência emocional, expiação ou
purificação, fixação psíquica, ritos de apaziguamento, tabu aos mortos, função
do luto, tabu e a neurose, animismo, magia, onipotência dos pensamentos, senso
de culpa, deslocamento, perturbações psiconeuróticas, autocensuras obsessivas,
animismo, narcisismo, animatismo, o retorno do totemsmo na infância, teorias
nominalistas, teorias sociológicas, teorias psicológicas, as fobias, o
sacrifício, o totemismo e as religiões, a doutrina do pecado original e um
posfácio contendo os interesses científicos, psicológicos, fisiológicos,
filosóficos, biológicos, do desenvolvimento, sociológico e educacional da
psicanálise, observações e exemplos da prática analítica, sonhos, fausse
reconnaissance (déja raconte) no tratamento psicanalítico, Pitágoras, Moises de
Michelangelo e um post escript com algumas reflexões sobre psicologia escolar. Veja
mais aqui e aqui.
REFERÊNCIA
FREUD, Sigmund. Totem e tabu & outros
trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
Veja mais sobre:
E mais:
As pernas no Cinema & o Seminário – A
relação do objeto, de Jacques Lacan aqui.
As pernas de Úrsula de Claudia Tajes
& Mil Platôes de Gilles Deleuze & Félix Guattari aqui.
Marlene Dietrich & Hannah Arendt aqui.
Diálogos sobre o conhecimento de Paul
Feyerabend & a poesia de Lilian Maial aqui.
As pernas da repórter Gracinaura aqui.
A tragédia humana de Imre Madách, a música
de Pierre Rode, o cinema de Robert Joseph Flaherty, a pintura de Franz West, a
arte de Vera Ellen & Anne Chevalier & Sarah Clarke aqui.
Educação, orientação e prevenção do abuso
sexual aqui.
Segmentação do mercado na área de
serviços aqui.
Das bundas & outros estudos
bundológicos aqui.
Aristóteles, Rachel de Queiroz, Chick Corea,
Costa-Gavras,Aldemir
Martins, Teresa Ann Savoy, José Terra Correia,
Fernando & Isaura, Combate à Corrupção & Garantismo Penal aqui.
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As obras de Gandhi & Programa das
Crianças aqui.
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defesa aqui.
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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Musical Tataritaritatá - Fanpage.