A ILUSÃO DE MAYA - Seu nome era a água e o véu da ilusão da mãe budista, jamais um
espantalho exilado no meu coração erradio. Quantas vezes ela escondida pelo vidro
da janela com seus olhos atirados em mim. Não pouparia sequer a ousadia de invadi-la
escadarias tortuosas para todos os lados, mergulhando firme na ilusão. Ah,
Eleanora, eu a receberia de braços abertos e a envolveria como se fosse aquela
judia taurina nascida lá pelas bandas de Kiev, justo na eclosão da Revolução
Russa. Alentaria a sua sensação de quem mal completara cinco anos, na fuga dos
pogrons antissemitas para New York. Não lhe resistiria jamais, mesmo depois da separação
dos pais, quando você foi entregue para um internato na Suíça. Lá eu iria todas
as vezes até acompanhá-la nos seus quinze anos, retornando assustada para se
tornar ativista das causas socialistas com os estudos em jornalismo e ciência
política. E estaria na festa do seu casamento e, logo, saberia da separação repetina
a desabrochar-lhe em poesia. E a embalaria com a coreografia ensaística do Religious Possession in
Dancing. E
estaria ao lado quando emergisse o experimentalismo da parceria no Meshes of
the Afternoon, para chegar até Study in Choreography for Camera e o Three
Abandoned Films. Engrossaria as fileiras no At Land, testemunhando os
aplausos na fotografia do An Anagram of Ideas on Art, Form and Film. Descobriria o seu lirismo underground no Haiti e a iniciação da sacerdotisa do Vodu: Divine Horsemen: The
Living Gods of Haiti. Participaria festivo da colagem musical Meditation on Violence. Eu já saberia do seu desejo Medusa
pra chegar no The Very Eye of Night. Meus
olhos estariam nos seus a todo momento, não fosse aquele indesejável derrame cerebral e suas cinzas no Monte
Fuji para sumir como uma temporada de estranhos. O que ficou foi vê-la
ressurreta nua, ali deitada na areia da praia dos nossos sonhos. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Estamos
em um mundo. Somos uma nação. E, portanto, o que há de comum entre nós, o que
deveria ser comum entre nós, é o amor e a paz. Temos o sonho e temos a capacidade. E começamos a alcançar
muitos dos nossos objetivos. E não vamos parar por
aqui. Construiremos nosso país. E não
estamos falando apenas do Iêmen. Falando de todas as
nações ou de todos os povos que buscam a liberdade. Pensamento da ativista e jornalista iemenita Tawakel Karman,
prêmio Nobel da Paz de 2011. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Nascemos homem, mulher e
seres sexuais. Aprendemos nossas preferências e orientações sexuais. Pensamento da psicóloga,
sexóloga e acadêmica estadunidense Virginia Johnson (Mary Virginia
Eshelman – 1925-2013).
POESIA & CINEMA - [...] Não
creio que estejamos sempre predispostos à poesia; toda a noção de distinguir e,
se preferir, rotular as coisas não é uma questão de defini-las, mas sim de dar
uma pista sobre o estado de espírito que você traz a elas. [...] Se você estiver
observando o que acontece, talvez não entenda o que alguns dos retardados
querem dizer, porque eles estão preocupados com a forma como isso acontece.
[...] Ora, a poesia, a meu ver, não consiste em assonância; ou ritmo, ou
rima, ou qualquer uma dessas outras qualidades que associamos como
características da poesia. A poesia, na minha opinião, é uma abordagem à
experiência, no sentido de que um poeta está a olhar para a mesma experiência
que um dramaturgo pode estar a olhar. Aparece de forma diferente porque eles
estão olhando para isso de um ponto de vista diferente e porque estão
preocupados com diferentes elementos nele contidos. Ora, as características da
poesia, como a rima, ou a cor, ou qualquer uma dessas qualidades emocionais que
atribuímos à obra poética, também podem estar presentes em obras que não são
poesia, e isso nos confundirá. A distinção da poesia é a sua construção (o que
quero dizer com “uma estrutura poética”), e a construção poética surge do
facto, se quiserem, de ser uma investigação “vertical” de uma situação, na
medida em que sonda as ramificações do momento, e preocupa-se com as suas
qualidades e a sua profundidade, de modo que temos a poesia preocupada, num
certo sentido, não com o que está a acontecer, mas com o que parece ou com o que
significa. Um poema, a meu ver, cria formas visíveis ou auditivas para algo que
é invisível, que é o sentimento, ou a emoção, ou o conteúdo metafísico do
movimento. Agora também pode incluir ação, mas o seu ataque é o que eu chamaria
de ataque “vertical”, e isto pode ficar um pouco mais claro se o compararmos
com o que eu chamaria de ataque “horizontal” do drama, que diz respeito com o
desenvolvimento, digamos, dentro de uma situação muito pequena, de sentimento
para sentimento. Talvez isso ficasse mais claro se você pegasse uma obra de
Shakespeare que combinasse os dois movimentos. [...] A mesma coisa se
aplicaria às sequências dos sonhos. Ocorrem num momento em que a intensificação
é realizada não pela ação, mas pela iluminação desse momento. [,,,]. Trechos
extraídos do texto Poetry and Film (Cinema 16 Symposium – Poetry and the
Film - Filmculture, 1963), da cineasta, fotógrafa, escritora e coreógrafa rissa
Maya Deren (Eleanora Derenkovskaya – 1917-1061). Veja mais aqui e aqui.
ESTILÍSTICA – [...]
O sujeito falante rege-se por um sistema linguístico de
representações intelectivas que estabelece a comunicação pela linguagem, e
simultaneamente o utiliza para satisfazer os seus impulsos de expressão. [...] Nestas condições, a estilística defronta-se com três tarefas:
1) caracterizar, de maneira ampla, uma personalidade, partindo do estudo da
linguagem; 2) isolar os traços do sistema linguístico, que não são propriamente
coletivos e concorrem para uma como que língua individual; 3) concatenar e
interpretar os dados expressivos, determinador pela Kundgape [manifestação
psíquica, expressividade] e pelo Appell [apelo], que se integram nos traços da
língua e fazem da linguagem esse conjunto complexo e amplo de enérgeia psíquica.
[...] Não se trata, contudo, de disciplinas a rigor separadas [...]. A
personalidade linguística caracteriza-se pelos traços não-coletivos do seu
sistema e pela manifestação psíquica que funciona em sua linguagem. Por outro
lado, os traços não-coletivos do sistema são fáceis ou, antes, inelutavelmente
transpostos para o plano da emoção e da vontade expressiva. A liberdade que a
língua faculta num ou noutro ponto permite-nos ser originais continuando, pelo
menos, inteligíveis; e essa oportunidade o nosso espírito logo aproveita para o
fim das suas exigências expressivas [...]. Trechos extraídos da obra Contribuição
à estilística portuguesa (Livraria Acadêmica, 1953), do linguista,
pesquisador e professor Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1904-1970).
A BUSCA DO AMOR - [...] Duas vezes em
sua vida ela confundiu outra coisa com isso; era como ver alguém na rua que você acha
que é um amigo, você assobia, acena e corre atrás dele, e não só não é o amigo,
mas nem mesmo é muito parecido com ele. Poucos minutos depois, o verdadeiro amigo aparece à vista, e então você não
consegue imaginar como confundiu aquela outra pessoa com ele. Linda agora contemplava a face autêntica
do amor e sabia disso, mas isso a assustava. Que isso acontecesse tão casualmente,
através de uma série de acidentes, era assustador [...]
sempre no auge da felicidade ou se afogando nas águas
negras do desespero que amavam ou odiavam, viviam em um mundo de superlativos [...]
Ela estava cheia de uma felicidade estranha, selvagem e
desconhecida, e sabia que isso era amor. Duas vezes em sua vida ela confundiu outra coisa com isso; era como ver alguém na rua que você acha
que é um amigo, você assobia, acena e corre atrás dele, mas não só não é o
amigo, mas nem mesmo é muito parecido com ele. Poucos minutos depois, o verdadeiro amigo
aparece à vista, e então você não consegue imaginar como confundiu aquela outra
pessoa com ele. [...]
Tenho notado muitas vezes que quando as mulheres se olham
em cada reflexo e olham furtivamente para os seus espelhos, dificilmente é,
como geralmente se supõe, por vaidade, mas muito mais frequentemente por um
sentimento de que nem tudo é tão deveria ser [...]. Trechos extraídos da obra The Pursuit of Love (Vintage, 2010),
da escritora britânica Nancy Mitford (1904-1973), que também expressa
que: Para se apaixonar você tem que estar no estado de
espírito para que isso aconteça, como uma doença... Acho que o trabalho
doméstico é muito mais cansativo e assustador do que a caça, sem comparação,
mas depois da caça comemos ovos para o chá e fomos obrigados a descansar
durante horas, mas depois do trabalho doméstico as pessoas esperam que
continuemos como se nada de especial tivesse acontecido... Veja mais aqui e aqui.
À FILHA DA JARDINEIRA – Se sou Hades, minha carruagem estilhaçada \
Quando te vi; meu velho esqueleto incendiado\ Com brasa brilhante — no meu
peito, invernada\ Através de tempestuosas cidades, meu coração arruinado.\ O
calor de seus dedos, seus suspiros, cerziria-os na mão—\ Imprimindo carne e
osso com um fio dourado,\ Que talvez faça-os durar mais do que a estação\ Quando
apenas sombras frias na cama me dão agrado.\ Agora sementado em mim e
rapidamente consumido,\ O solo fértil que eu não me sabia dispor,\ Essa ânsia
pelo brilho do sol, indocilmente florescido\ É suficiente para enlouquecer um
conquistador—\ Tolo o suficiente para desfazer um reino em ar\ Eu engoliria a
morte inteira para te fazer ficar.
Poema da premiada escritora estadunidense Alyssa Wong.
OUTRAS SACADAS DE SOBREMESA