terça-feira, fevereiro 07, 2017

OS BOROROS, LUTOSLAWSKI & EWA KUPIEC, LAURA TEDESCHI & SELENE

A VIDA É LINDA, APESAR DOS ENRUSTIDOS & DOS CHATOS DE GALOCHA! - Imagem: Il lago di Lucerna, da artista plástica italiana Laura Tedeschi. - A vida é muito mais que a tragédia diária do noticiário no café da manhã, entre o bocejo e o queixo caído com a espetacularização dos acontecimentos de ficar vidrado com o glamour voyeurista das últimas ofertas promocionais das modas e grifes pras festinhas e baladas do final de semana, durante os intervalos da programação enquanto não arreda o pé pra não perder nenhum close das séries dubladas e com alto teor de violência pro prazer mais obscuro do telespectador. Ou no almoço às pressas dos pegue-pague das comidas rápidas, com as mastigadas do umbigo empinado e com deus na barriga, pra cair na tarde do trânsito louco com os atropelamentos dos desavisados e acidentes pela imperícia e imprudência com a morte dos outros nas enfermarias, ou com o alarme das rebeliões nas infectas celas das penitenciárias que são mais covis fabricantes de bandidos que sequer reintegra qualquer um ali sacudido e ninguém quer sabe do que se passa por ali. Ou no jantar com as cenas da novela no desfile das mazelas para entretenimento e nenhuma indignação na noite, em meio a bebedeira de vomitar até os bofes e findar arrependido por horas plantado no departamento da vergonha, ao constatar que não tem mais jeito mijando de propósito a tampa da privada como todo macho de respeito faz quando acha que é melhor pra estacionar na vaga de cadeirante sem querer nem saber quem precisa, ou gastar uma fortuna com o aniversário e em compras de adereços pro cão de estimação que equivalem ao sustento de mais de dez crianças dos orfanatos tão detestáveis, quanto os fedorentos abrigos de velhos e prefere ver só coisas boas nos cliques e papos indiferentes com o lixo descartável dos acessórios e utensílios da última moda, ou se estão vendendo aquíferos ou fontes com desmatamento, ou se poluindo ou depredando patrimônio natural ou histórico da humanidade, pouco importa essas coisas alheias que não dizem respeito à vida meritória e perfumada dos que se acham de bem e acima de qualquer suspeita. Ah, Deus não só existe como faz parte de tudo e de todas as coisas, e está além do que vê quem meramente olha no meio de uma oração de joelhos diante dos pregadores com seu templos seculares e a caridade pública garantidora de um paraíso no céu pros timoratos religiosos. A bem da verdade a vida é linda, apesar dos enrustidos e chatos de galocha. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

Curtindo a obra do compositor polonês Witold Lutoslawski (1913-1994), na interpretação da pianista polonesa Ewa Kupiec.

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DESTAQUE: A LENDA BORORO DAS DUAS POMBAS
Vivia sozinha em sua oca uma mulher chamada Birimodo, nome que também é usado para homem, e não tinha ninguém que lhe preparasse um pouco de comida quando voltava cansada da floresta, ou a ajudasse nos seus afazeres domésticos. Certo dia, porém, voltando da mata, teve a feliz surpresa de achar sua panela de barro cozido cheia de um pitéu feito de farinha de milho. – Oh! -, exclamou ela – quem terá preparado a comida para mim? Estava com muita fome e não perdeu tempo em procurar saber quem era, e tratou logo de comer. Nos dias seguintes também encontrou a sua comida pronta e ficou ansiosa por saber quem lhe fazia tal favor. Dos vizinhos só soubera que durante sua ausência, em sua casa ouviam-se barulho e sonoras gargalhadas. Quem poderia fazer isso se com ela, na oca, só havia duas pombas às quais cuidava com todo carinho? Grande era o seu desejo de poder explicar a causa, mas não o conseguia. Por fim, veio-lhe à mente fingir que ia para a mata em busca de frutos. Tomou o seu patuá e saiu. Voltou muito mais cedo do que costumava e, chegando perto de casa, pôs-se a caminhar vagarosamente, parando de espaço a espaço a fim de escutar. Na verdade, devia estar gente lá dentro; ouviu a conversinha de duas vozes suaves e depois sonoras gargalhadas, que era um gosto ouvi-las. Abriu inesperadamente a porta e viu duas meninas ocupadas em preparar a comida. Ao vê-la, as meninas procurar voltar logo ao seu estado natural, mas não tiveram tempo porque Birimodo o impediu e disse: - Não vos transformeis, sereis minhas filhas. E tomou-as amorosamente sobre os joelhos, alisando-as, acariciando-as. Compreendera tudo perfeitamente: as duas pombas transformavam-se em meninas e lhe preparavam a comida;
As duas pombas, lenda recolhida da obra Os Bororos orientais (Companhia Editora Nacional, 1942), de Antônio Colbacchini e Cesar Albisetti. Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte da artista plástica italiana Laura Tedeschi.
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