terça-feira, fevereiro 14, 2017

UMUTINA, ANTÔNIO NÓBREGA, OSKAR KOKOSCHKA & MOZART FERNANDES

NADA MELHOR QUE A VIDA E VIVER ALÉM DOS PRÓPRIOS LIMITES – Imagem: Dent du Midi, do pintor e escritor austríaco Oskar Kokoschka (1886-1980). - A vida é muito mais que pelejar, espernear, bater o pé e se danar de amor. Dos amores que vêm e vão, nem todos são tão meritórios assim: chegaram e se foram, nada mais. De resto, é só juntar os cacos e tentar se refazer dos destroços. É que existe vida fora dos centros urbanos hostis e medonhos, com suas modas nas vitrines e luminosos, pendengas, decisões judiciais, miudezas e patifarias. Existe vida além dos empregos certinhos e burocráticos, com relógio de ponto, detector de metais e o que resta de garantida aposentadora. É muito além de comprar e vender, passar calote ou se aproveitar das oportunidades; das cenas da TV, do consumo desenfreado, ou da gula insaciável por todas as novidades do mercado, como se tudo não valesse mais que ter e poder. Existe vida fora das bancas e notas do colégio, dos apartamentos com tudo arrumado e das casas suntuosas, dos carros da feira automobilistica e do umbigo que se acha mais importante que qualquer outra coisa do planeta. Existe vida fora dos muros altos com segurança privada, das revistas de fofoca, do glamour das celebridades e dos buracos afetivos que doem mais que qualquer talho profundo na carne. Existe vida além das trapalhadas dos políticos e todas as farras da corrupção, dos viadutos, dos prédios, dos filmes de amor, de todos os contrastes e todas as indagações irrespondíveis. Existe vida além dessa contemporaneidade estilhaçada para quem entende mais de solidão que os escandinavos no meio do tédio de achar que não tem nada mais pra fazer; além das adoções por filhos desejados só pelo capricho de pais que temem a sua solidão; do estardalhaço das feiras e fantasias eróticas; além dos limites de qualquer crença ou de qualquer horizonte; das salas de estar e reunião de familia, das fotos penduradas escondendo as desavenças e as devastadoras vinganças; mais que os latifundios de toda ambição capitalista, dos condominios luxuosos, do papel higiênico utilizado, dos sacos de lixo jogados, das malas dos aeroportos por destinos turísticos e entretenimento; mais do que bloco do eu sozinho e da interdependencia entre eu e todos; do saneamento básico e ambiente salubre no meio da maior nojeira pobretã e do progresso canhestra pela industrialização; do que apenas se comunicar com as outras pessoas por meio de artefatos tecnológicos e contar história ou fazer festa apenas pela conectividade; dos descontentamentos e incômodos de ter que aturar além da paciência; além da maximização dos lucros, além da falsa independencia de que não se precisa de ninguém e só de si proprio para sobreviver a vida inteira, oh não! É preciso exagerar, às vezes, um pouco mais para que a verdade possa ser dita em poucas ou simples palavras. Não há nada mais, cada qual sua escuridão. Pior que ser cego é não enxergar a vida com olhos sãos. Ah, pois é. Caeté mandou me chamar. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

 Curtindo os dvds Lunário Perpétuo (2002) e Nove de fevereiro (2006) do artista e músico brasileiro Antônio Nóbrega. Veja mais aqui e aqui.

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DESTAQUE: A CRIAÇÃO DOS HOMENS
Primeiro não havia gente e Haipucu, o Pai, andava triste, sozinho. Ele foi pensando na vida. Tratou de descobrir e juntar a fruta da bacaba do campo. E juntava fruta macho e fruta fêmea. Foi juntando, juntando, emendando até ter dois pés de comprimento. Então pôs de lado... Quando chegou a noite, ele ouviu conversa e ficou assustado. Foi ver e encontrou as frutas transformadas em pessoas. Gostou da sua companhia. Ficaram com ele e logo constituiram familia. Foi indo, foi indo, experimentou juntar fruta de figueira de folha larga. Juntou e botou debaixo da esteira, que às vezes é mágica. De noite ouviu conversa e assustou-se. Viu que aquela fruta também tinha virado gente e ficou satisfeito, pois já tinha muita gente para sua companhia. Depois de algum tempo, achou que aquela gente era pouca. E experimentou colher fruta de bacaba do mato. Juntou até um palmo de cumprimento e saiu tudo gente de cabelo comprido, dois homens e duas mulheres, dois casais. Experimentou com mel de tataíra e também saiu um casal, com cabeça mais pelada. Quando já tinha bastante gente, criou barriga de perna dos dois lados. Quando Haipucu sentiu as dores do parto, procurou uma árvore, que era uma figueira. Aí se lhe abriram as duas pernas e nasceram quatro crianças, dois meninos e duas meninas. Junto de Haipucui só ficaram os filhos das fruteiras.
A criação dos homens, lenda Umutina recolhida por Harald Schultz (Revista do Arquivo Municipal, 1949). Os Umutina viviam antigamente na margem direita do rio Paraguai, estendendo-se até o rio Cuiabá, migrando depois para as margens do rio Bugres. No início do século XX, eles foram vítimas da violência do homem branco, perdendo sua terra e sua língua nativa. Deles ainda resta a tribo Balotiponé, localizada na Terra Indígena Umutina, no Mato Grosso. Veja mais aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor e escritor austríaco Oskar Kokoschka (1886-1980).
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: arte do artista plástico, designer, grafiteiro e tatuador Mozart Fernandes.
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