Folia Tataritaritatá. Veja
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A FOLIA DO
BIRITOALDO DESANDOU NO CARNAVAL - Biritoaldo
resolveu dar as caras depois de longo sumiço. – Onde andava esse menino, hem? Quem
sabe, ora! Quando as gaias dele dão curto-circuito, o cabra desaparece de
ninguém vê-lo, parece mais que envulta e desenvulta assim do nada, ora. Pois é,
ele indagorinha saiu do armário e se inscreveu no bloco dAs Puaras. Cuma? E foi? Vai dar o que falar. E deu, de chapa com a
desconfiança dos organizadores entre si: - Será que esse é macho mesmo? Sei
não. De soslaio ficou ele sendo investigado dos trejeitos aos afazeres – como queriam
tudo preto no branco, nada melhor que perseguir seus mínimos passos e gestos,
vai que ele baitolasse às escondidas, aí seria de vez sustado, excluído e
sacudido pra sempre da agremiação carnavalesca. Não obstante, mesmo com a
inscrição abonada sob suspeita, ele queria era se esbaldar pela primeira na
vida de folião. Assim foi e na última sexta ele chegou na hora do esquente, uma
espécie de alongamento pro treino: pulo na vara. Lá estavam todos os cuecas horrorosamente
bêbados e vestidos de mulher, maior inhaca e cada um mais tristemente ocrídio
que o outro. Era de dar medo a feiúra de tanta mocreia esquisita. Destá. Quando
Biritoaldo deu o ar graça, explodiu a mangação: - Até pra ser feio esse é
horrível! Coisa de sujos falando de um malavado. Diziam, então, que para uma drag queen, estava a pior das piores. Não
tinha quem se aguentasse de pé tanto de rir, mãos aos buchos embolando no chão pra
não estourar. Meio que descabreado insistiu: - Qual da vez? Vai pular vara
assim mesmo? Vou. Quero ver a desgraça. E lá foram cada qual sarrafo na mão, bunda
de fora, fazendo carreira e tentando pular 1, 2 e, mesmo que nenhum deles
conseguisse superar nem meio metro, queriam, por fim da força, que pulassem
mais de 3 de altura. Só ovação e pilhéria, a lapada dos quequéos passava já dos
limites, resultando mesuras e trapalhadas mais pra videocassetadas que para
competição inconveniente. A coisa já se bandeava pra extravagância de
biriteiros que não tinham mais o que fazer de tão chamuscados pela carraspana,
além de trocar as pernas em apostas fúteis e inúteis que, no final, não davam
em nada, a não ser na comemoração do carnaval de doidos nas viradas da teibei
queimando tudo garganta adentro, do espinhaço ao solado dos pés. A maior
presepada pra dedadas e licenciosidades aprumadas no furico um do outro, isso
sim. Mas chegou a vez de Biritoaldo sob o maior coro de “bicha”, pegar o mastro,
se atrapalhar todo e se estatelar desacordado com a vara enfiada no rabo. Vixe!
Oportunidade dessa ninguém da tropa perde, né? Eita! Pintaram e bordaram com o
desinfeliz, transformaram-no em exagero descomunal que serviu de atração pro
desfile: um boiola bêbo por andor. Como era a primeira vez dele, perdeu a
viagem. Olha o cara, meu? Quem é? Aquele perdeu o bonde! E tome presepada! Quando
acordou estava estirado no meio-fio quase pisoteado pelo zoadeiro dos foliões
do Galo da Madrugada. Como? Oxe! Foi tomando pé da situação e se sentindo
estranho no meio daquela folia. Onde estou? Não sabia. Tentou se levantar e
sentiu uma dor danada no frosquete; passou a mão e um líquido viscoso saiu-lhe
do procto: - Porra, fui arrombado e nem vi! Arretou-se! Maldisse a vida e a
alma de todos os viventes e mortos! Passou o dedo indicador pra ajeitar as
pregas do rabo, doíam-lhe do osso do mucumbu até o toitiço! Ajeitando-se de
banda pra não magoar mais de tão dolorido, conseguiu levantar-se aos tombos, encostado
num poste pra tomar jeito de andar, botou o pé pra frente, cambaleou zonzo e
deu fé: estava na Avenida Guararapes, no Recife: - Danou-se! Andei mais de 120
quilômetros e nem vi nada. Daí a pouco só ouviu: - Olhele! Olhele! Intrigado gritou:
- Olhele o quê, camboio de viado? Olhele! Olhele! Qualé, quer briga, é? E
cantaram: Um recruta desavisado, só sai de cu esfolado! Se freva desengoçado,
pode ver que é viado! Que frevo mais bosta, passo tudo na munheca, seus
frescos! Nem terminou de falar e foi levado aos empurrões por uma avalanche de
gente, perdendo-se no meio da frevança, de só se achar vinte e quatro horas depois
totalmente desmiolado em lugar incerto e não sabido. Vôte! Isso é que é
carnaval? Quero mais não, quero mais não. Queria era ir pro seu lar e só achou
o caminho da casa da peste! Como ainda é segunda-feira, a gente só vai saber
daqui mais uns dias o paradeiro dele. E vamos aprumar a conversa &
tataritaritatá! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Frevo do mundo (Candeeiro Records, 2008), com participação e
releituras modernas de frevos por Edu Lobo, Céu, João Donato, Mundo Livre S/A, Siba e a
Fuloresta, Cordel de Fogo Encantado, Orquestra Popular Bomba do Emetério, entre
outros.
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DESTAQUE: ARRIFE
(fragmento)
[...] cidade
dos portos e dos cais
Veneza mítica de novos gondoleiros
Que vêm para a cidade....
O corre-corre dos meninos
Correndo com os comparsas
Com passos magros e velhos
Em toda multidão sem esplendores
Mas como vinhas
Rodeada de pastores e pastores
De bumba-meu-boi, baiões, maracatus,
E outros requebros
Que nos perdemos no teu frevo mágico!
É o teu destino
Acender velas, violas,
Aos mistérios e crendices
Do teu povo inquieto que pasma
Como rastro no rosto
Na aresta da atlética civilização! [...].
Trecho do poema Arrifes, do poeta, jornalista e crítico literário Mário Hélio, recolhido da antologia
Poesia Viva do Recife: 100 poetas vivem, amam e eternizam a cidade (CEPE, 1996),
organizada pelo poeta, editor e agitador cultural Juareiz Correya.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Ela baila nua no meu coração...
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra neste Carnaval
Recital
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