SINA DE URUTAU - Foi numa noite de julho que eu me apaixonei
pela primeira vez de verdade. Numa noite negra sem luar que eu amei o primeiro
reflexo reluzente do seu olhar atrevido. Foi você a princesa linda e exuberante
que estava perdida no caminho e eu lhe encontrei, mostrei o caminho de volta e
dividi minha paixão. Bebi do seu gesto o mais angelical dos sorrisos e minhas
narinas se avivaram com o cheiro da rosa de suas faces. Foi assim
vertiginosamente lindo como um show pirotécnico na torcida do Flamengo em pleno
domingo de decisão no Maracanã. E foi assim cravando o seu gadanho na minha
carne, invadindo minhas veias e intoxicando o meu sangue. Foi tomando conta de
mim, tão ofegante quanto perdido em pleno trânsito de qualquer metrópole. E foi
com o jeito René de Vielmond olhar para mim, na apoteose da minha cama, que me
levou por múltiplos caminhos ouvindo a canção da natureza e ensinou-me naquele
momento o segredo de Ariadne, entregando-me o novelo que bordava para que
pudesse sair do labirinto da vida achando o meu próprio caminho de volta a você.
Foi assim e se fez minha Isolda, eu Tristão desfalecido pela espera de sempre. Foi
assim e sequestrou minha paz para uma outra mais plena e verdadeira. Foi assim
e ao toque de sua mão artesã minhas faces enrubesceram e o vinho quente
subiu-me a cabeça e eu não via mais nada além de sua efígie no espelho da minha
cabeça louca de amor. Foi assim e eu não sabia aprendiz como haveria de amar
assim tão perdidamente. Foi assim e pra meu desalento um raio de luz revelou
minha fealdade, um raio de luz, simplesmente, desmoronando castelos e fantasias
construídas em nome do amor. Um raio de luz apenas e tudo acabou. Um raio de
luz afugentou aquela a quem havia doado toda minha alma. Ela fugiu num só
instante, feito a fuga da ninfa Aretuza à paixão arrebatadora de Alfeu, feito
quem foge do leprosário mais execrável. Foi assim e assim tornei-me um pássaro
triste, passando a noite a dar funéreos gemidos e me esgoelando em poemas das
tripas coração, sofrendo por haver recusado uma visita ao Menino Jesus. Foi
assim e hoje sou uma alma penada, um fantasma em forma de ave, quebrando o
silêncio da noite com o meu fadário. Que foi? Foi! Foi! Foi! Hoje sou ave
sinistra, largo agouros à lua e a minha infinita tristeza esconde tenaz
gargalhada de proteger donzelas de seduções. Foi! Foi! Foi! Eu sei, estou
morrendo por querer demais da amante, um desprezado sob a luz de Capéi, esperando
Raoom eternamente, certo de que o amor haverá de me recompensar um dia. Foi!
Foi! Foi! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Nosso caminho não é de grama macia, é um caminho de montanha com
muitas pedras. Mas vai para cima, para frente, em direção ao sol. Você pode
ceder aos sentimentos negativos ou combatê-los, e acredito que você deve
combatê-los. Estou preocupada que a próxima geração não consiga ter uma
conversa real. Quando se trata de sexo, os quinze centímetros mais importantes
são aqueles entre as orelhas. A
sexualidade é uma parte natural e saudável do envelhecimento. Sexo não é
pecado. Muitas pessoas reclamaram que isso tira toda a diversão do sexo. O
tédio é o maior problema. A mesma posição. Mesmo dia da semana. Torna-se chato
quando você não leva nenhuma flor para casa. Não economize nas preliminares -
ou depois. Seja inventivo! Quero que as pessoas me vejam ou leiam sobre mim e
pensem em sexo. Pensamento
da terapeuta, professora e sobrevivente alemã do Holocausto, Ruth Westheimer.
ALGUÉM FALOU: A sexualidade é um aspecto dinâmico e
fluido de nossa identidade e pode mudar ao longo de nossas vidas... Pensamento da psicóloga, professora e
feminista estadunidense Lisa Diamond, que na sua obra Sexual
Fluidity: Understanding Women's Love and Desire (Harvard
University Press, 2009) expressou que: [...] Os ativistas
dos Antigos têm defendido historicamente que a sexualidade entre pessoas do
mesmo sexo é uma escolha de estilo de vida que deve ser desencorajada,
considerada ilegítima e até punida pela cultura em geral. Por outras
palavras, se as pessoas lésbicas/gays/bissexuais não têm de ser gays, mas estão
simplesmente a escolher um caminho de decadência e desvio, então o governo não
deveria ter qualquer obrigação de proteger os seus direitos civis ou honrar as
suas relações; pelo
contrário, o Estado deveria condenar activamente a sexualidade entre pessoas do
mesmo sexo e negar-lhe o reconhecimento legal e social, a fim de desencorajar
outros de seguirem esse caminho. Não
é de surpreender que os defensores dos direitos de gays/lésbicas/bissexuais
vejam as coisas de forma diferente. Eles
argumentam que a orientação sexual não é uma questão de escolha, mas uma
característica inata que está muito além do controle do indivíduo, como a cor
da pele ou dos olhos. Assim, uma vez
que os indivíduos gays/lésbicas/bissexuais não podem escolher ser
heterossexuais, é antiético discriminá-los e negar o reconhecimento legal às
relações entre pessoas do mesmo sexo. [...]
Talvez,
em vez de argumentar que os indivíduos gays/lésbicas/bissexuais merecem
direitos civis porque são impotentes para mudar o seu comportamento, devêssemos
afirmar os direitos fundamentais de todas as pessoas de determinar as suas
próprias vidas emocionais e sexuais. [...] Acho que sua definição muda com base em suas experiências." (vinte e
dois anos, bissexual) Seis
anos depois, esta mesma mulher observou: “Eu
saio com homens e mulheres, mas não gosto da palavra “bissexual”, porque acho
que implica polaridade. Acho que comecei a pensar nisso há cerca de 4 anos e
meio, quando estava envolvido em um longo - termo
relacionamento sério com um homem, mas um homem queer E isso me fez redefinir
as coisas, porque eu não acreditava que um homem queer e uma mulher queer
juntos em um relacionamento como o nosso fossem convencionalmente
heterossexuais." (vinte e oito
anos, bissexual) [...] Embora a
maioria das mulheres que entrevistei sentissem que a sua sexualidade atrações
eram paralelas às suas ligações emocionais, isso nem sempre era O
caso. Na verdade, as
mulheres relataram que, em média, a percentagem das
atrações físicas pelo mesmo sexo que experimentaram diferiram de
suas atrações emocionais pelo mesmo sexo em cerca de 15 por cento aponta
em qualquer direção (em outras palavras, algumas mulheres eram mais emocionalmente
do que fisicamente atraídos por mulheres, enquanto outros eram mais
fisicamente do que emocionalmente atraído). Um pequeno
número de as
mulheres relataram discrepâncias de até 40 pontos percentuais. Tal
como as mulheres com atrações não exclusivas, as mulheres com lacunas
entre seus sentimentos emocionais e físicos, muitas vezes enfrentou
desafios na seleção de um rótulo de identidade confortável. Eles tinham para
decidir se sua identidade sexual era melhor categorizada por padrões
de “amor” ou padrões de “luxúria”, e eles tiveram que prever que
tipo de relacionamento eles podem desejar no futuro. Muitos destas
mulheres tiveram dificuldade em tomar estas determinações. Sue,
por exemplo, sentiu que suas atrações estavam repletas de contradições:
“Prefiro ficar com homens, mas a ideia de ter sexo
com um homem me causa total repulsa. Gostaria, no
entanto, de casar
com uma mulher, e é com ela que quero assumir um compromisso de longo prazo para. [...] Para aqueles de nós que questionam, toda a
sua vida se torna uma questão. Você então
alcança algum nível de compreensão e então ele fica estático? Acho que
não" (vinte e dois anos, sem rótulo) [...]. Veja mais aqui e aqui.
BRUXA NEGRA DE
SALEM – [...] A verdade sempre chega tarde porque anda
mais devagar que a mentira. A verdade
rasteja a passo de caracol.
[...] A vida é muito gentil com os homens, seja qual for a sua cor.
[...] Eles enforcaram minha mãe. Observei seu
corpo balançar nos galhos mais baixos de uma árvore de algodão de seda. Ela cometeu um
crime pelo qual não há perdão. Ela havia
atingido um homem branco. Ela não o
matou, entretanto. Em sua raiva
desajeitada, ela só conseguiu cortar o ombro dele [...] Todo mundo acredita que pode moldar uma bruxa de acordo com sua
maneira de pensar, para que ela satisfaça suas ambições, sonhos e desejos.
[...]. Trechos extraídos da obra I, Tituba, Black Witch of Salem (University of Virginia Press, 2009), da escritora francesa Maryse
Condé, que no livro Crossing the Mangrove (Anchor, 1995)
expressou que: [...] Como é verdade! Os problemas
da vida são como árvores. Vemos o
tronco, vemos os galhos e as folhas. Mas não
podemos ver as raízes, escondidas nas profundezas da terra. E, no entanto,
é a sua forma e natureza e até que ponto escavam no húmus viscoso em busca de
água que precisamos de saber. Então talvez
entenderíamos [...] Não
havia como negar o fato de que a morte da cana-de-açúcar estava soando o
prenúncio de outra coisa no país. Como podemos
chamá-lo? [...] Você não atravessa um
mangue. Você se
cravaria nas raízes dos manguezais. Você seria
sugado e sufocado pela lama salobra.
[...]. No livro Heremakhonon (Three Continents Press, 1982) ela expressou
que: […] É verdade que tenho uma natureza caseira. Abomino
exercícios físicos (exceto fazer amor, é claro). Sempre
acreditei que o esporte deveria ser deixado para os burros
[...]. Já no Victoire: My Mother's Mother (Washington
Square Press, 2014), ela considerou que: […] Não foi
nenhuma surpresa para mim que meus pais, como tantos outros, tenham emergido de
uma espécie de neblina. Meu pai, um
tagarela impenitente, alegou que seu pai tinha ido procurar ouro em Paramaribo,
na Guiana Holandesa, e abodonou sua mãe, que estava amamentando seu bebê no
Morne à Cayes. Outras vezes,
ele afirmava que seu pai era um marinheiro mercante, naufragado na costa de
Sumatra. Onde estava a
verdade? Acho que ele
recriou à vontade, tendo prazer em enunciar as sílabas que o faziam sonhar:
Paramaribo, Sumatra. Graças a ele,
desde muito cedo entendi que se constrói uma identidade. [...]. Por fim uma das suas importantes
frases: Quem ri na frente de uma arma? Somente
aqueles da nossa espécie.
Veja mais aqui e aqui.
DESEJANDO BEM - Meu punho contém tantas moedas \ como posso
carregar. Todos estão carimbados com a efígie da Rainha; \ Elizabeth, DG
Regina, a residente dos bolsos, \ uma mulher que nunca conheci, embora sempre
saiba \ o paradeiro dela. Cada rosto pressionado\ na palma da mão de outra
pessoa antes da minha.\ O fedor de suor e metal. O desperdício disso.\ Desejo
um retorno ou justiça.\ É seguro fazer isso aqui. Você pode jogar fora desejos\
e ninguém vai pescá-los\ antes que a autoridade do parque venha drenar a
piscina\ e devolva as moedas à moeda.\ Talvez eu esteja comprando uma Coca-Cola
para o futuro,\ um picolé, um saco de batatas fritas, uma dose.\ Talvez eu
esteja tentando subornar Deus. \ Não sou do tipo que diz não a um mendigo, \ ou
sim. \ Eu espalhei meu troco\ tudo de uma vez. Cada um completa seu alcance
parabólico,\ cai peso morto. Eu desejo que as ondulações ainda sejam
suficientes\ para mostrar meu rosto: e logo além, estrelas acesas\ brilhante
como moedas encontradas.
Poema da premiada poeta canadense Sachiko Murakami, autora dos
livros Rebuild (2011) e Get Me Out of Here (2015).
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