quarta-feira, janeiro 07, 2015

MARYSE CONDÉ, SACHIKO MURAKAMI, LISA DIAMOND, WESTHEIMER & DAREL

 


SINA DE URUTAU - Foi numa noite de julho que eu me apaixonei pela primeira vez de verdade. Numa noite negra sem luar que eu amei o primeiro reflexo reluzente do seu olhar atrevido. Foi você a princesa linda e exuberante que estava perdida no caminho e eu lhe encontrei, mostrei o caminho de volta e dividi minha paixão. Bebi do seu gesto o mais angelical dos sorrisos e minhas narinas se avivaram com o cheiro da rosa de suas faces. Foi assim vertiginosamente lindo como um show pirotécnico na torcida do Flamengo em pleno domingo de decisão no Maracanã. E foi assim cravando o seu gadanho na minha carne, invadindo minhas veias e intoxicando o meu sangue. Foi tomando conta de mim, tão ofegante quanto perdido em pleno trânsito de qualquer metrópole. E foi com o jeito René de Vielmond olhar para mim, na apoteose da minha cama, que me levou por múltiplos caminhos ouvindo a canção da natureza e ensinou-me naquele momento o segredo de Ariadne, entregando-me o novelo que bordava para que pudesse sair do labirinto da vida achando o meu próprio caminho de volta a você. Foi assim e se fez minha Isolda, eu Tristão desfalecido pela espera de sempre. Foi assim e sequestrou minha paz para uma outra mais plena e verdadeira. Foi assim e ao toque de sua mão artesã minhas faces enrubesceram e o vinho quente subiu-me a cabeça e eu não via mais nada além de sua efígie no espelho da minha cabeça louca de amor. Foi assim e eu não sabia aprendiz como haveria de amar assim tão perdidamente. Foi assim e pra meu desalento um raio de luz revelou minha fealdade, um raio de luz, simplesmente, desmoronando castelos e fantasias construídas em nome do amor. Um raio de luz apenas e tudo acabou. Um raio de luz afugentou aquela a quem havia doado toda minha alma. Ela fugiu num só instante, feito a fuga da ninfa Aretuza à paixão arrebatadora de Alfeu, feito quem foge do leprosário mais execrável. Foi assim e assim tornei-me um pássaro triste, passando a noite a dar funéreos gemidos e me esgoelando em poemas das tripas coração, sofrendo por haver recusado uma visita ao Menino Jesus. Foi assim e hoje sou uma alma penada, um fantasma em forma de ave, quebrando o silêncio da noite com o meu fadário. Que foi? Foi! Foi! Foi! Hoje sou ave sinistra, largo agouros à lua e a minha infinita tristeza esconde tenaz gargalhada de proteger donzelas de seduções. Foi! Foi! Foi! Eu sei, estou morrendo por querer demais da amante, um desprezado sob a luz de Capéi, esperando Raoom eternamente, certo de que o amor haverá de me recompensar um dia. Foi! Foi! Foi! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Nosso caminho não é de grama macia, é um caminho de montanha com muitas pedras. Mas vai para cima, para frente, em direção ao sol. Você pode ceder aos sentimentos negativos ou combatê-los, e acredito que você deve combatê-los. Estou preocupada que a próxima geração não consiga ter uma conversa real. Quando se trata de sexo, os quinze centímetros mais importantes são aqueles entre as orelhas. A sexualidade é uma parte natural e saudável do envelhecimento. Sexo não é pecado. Muitas pessoas reclamaram que isso tira toda a diversão do sexo. O tédio é o maior problema. A mesma posição. Mesmo dia da semana. Torna-se chato quando você não leva nenhuma flor para casa. Não economize nas preliminares - ou depois. Seja inventivo! Quero que as pessoas me vejam ou leiam sobre mim e pensem em sexo. Pensamento da terapeuta, professora e sobrevivente alemã do Holocausto, Ruth Westheimer.

 

ALGUÉM FALOU: A sexualidade é um aspecto dinâmico e fluido de nossa identidade e pode mudar ao longo de nossas vidas... Pensamento da psicóloga, professora e feminista estadunidense Lisa Diamond, que na sua obra Sexual Fluidity: Understanding Women's Love and Desire (Harvard University Press, 2009) expressou que: [...] Os ativistas dos Antigos têm defendido historicamente que a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo é uma escolha de estilo de vida que deve ser desencorajada, considerada ilegítima e até punida pela cultura em geral. Por outras palavras, se as pessoas lésbicas/gays/bissexuais não têm de ser gays, mas estão simplesmente a escolher um caminho de decadência e desvio, então o governo não deveria ter qualquer obrigação de proteger os seus direitos civis ou honrar as suas relações; pelo contrário, o Estado deveria condenar activamente a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo e negar-lhe o reconhecimento legal e social, a fim de desencorajar outros de seguirem esse caminho. Não é de surpreender que os defensores dos direitos de gays/lésbicas/bissexuais vejam as coisas de forma diferente. Eles argumentam que a orientação sexual não é uma questão de escolha, mas uma característica inata que está muito além do controle do indivíduo, como a cor da pele ou dos olhos. Assim, uma vez que os indivíduos gays/lésbicas/bissexuais não podem escolher ser heterossexuais, é antiético discriminá-los e negar o reconhecimento legal às relações entre pessoas do mesmo sexo. [...] Talvez, em vez de argumentar que os indivíduos gays/lésbicas/bissexuais merecem direitos civis porque são impotentes para mudar o seu comportamento, devêssemos afirmar os direitos fundamentais de todas as pessoas de determinar as suas próprias vidas emocionais e sexuais. [...] Acho que sua definição muda com base em suas experiências." (vinte e dois anos, bissexual) Seis anos depois, esta mesma mulher observou: “Eu saio com homens e mulheres, mas não gosto da palavra “bissexual”, porque acho que implica polaridade. Acho que comecei a pensar nisso há cerca de 4 anos e meio, quando estava envolvido em um longo - termo relacionamento sério com um homem, mas um homem queer E isso me fez redefinir as coisas, porque eu não acreditava que um homem queer e uma mulher queer juntos em um relacionamento como o nosso fossem convencionalmente heterossexuais." (vinte e oito anos, bissexual) [...] Embora a maioria das mulheres que entrevistei sentissem que a sua sexualidade atrações eram paralelas às suas ligações emocionais, isso nem sempre era O caso. Na verdade, as mulheres relataram que, em média, a percentagem das atrações físicas pelo mesmo sexo que experimentaram diferiram de suas atrações emocionais pelo mesmo sexo em cerca de 15 por cento aponta em qualquer direção (em outras palavras, algumas mulheres eram mais emocionalmente do que fisicamente atraídos por mulheres, enquanto outros eram mais fisicamente do que emocionalmente atraído). Um pequeno número de as mulheres relataram discrepâncias de até 40 pontos percentuais. Tal como as mulheres com atrações não exclusivas, as mulheres com lacunas entre seus sentimentos emocionais e físicos, muitas vezes enfrentou desafios na seleção de um rótulo de identidade confortável. Eles tinham para decidir se sua identidade sexual era melhor categorizada por padrões de “amor” ou padrões de “luxúria”, e eles tiveram que prever que tipo de relacionamento eles podem desejar no futuro. Muitos destas mulheres tiveram dificuldade em tomar estas determinações. Sue, por exemplo, sentiu que suas atrações estavam repletas de contradições: “Prefiro ficar com homens, mas a ideia de ter sexo com um homem me causa total repulsa. Gostaria, no entanto, de casar com uma mulher, e é com ela que quero assumir um compromisso de longo prazo para. [...] Para aqueles de nós que questionam, toda a sua vida se torna uma questão. Você então alcança algum nível de compreensão e então ele fica estático? Acho que não" (vinte e dois anos, sem rótulo) [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

BRUXA NEGRA DE SALEM – [...] A verdade sempre chega tarde porque anda mais devagar que a mentira. A verdade rasteja a passo de caracol. [...] A vida é muito gentil com os homens, seja qual for a sua cor. [...] Eles enforcaram minha mãe. Observei seu corpo balançar nos galhos mais baixos de uma árvore de algodão de seda. Ela cometeu um crime pelo qual não há perdão. Ela havia atingido um homem branco. Ela não o matou, entretanto. Em sua raiva desajeitada, ela só conseguiu cortar o ombro dele [...] Todo mundo acredita que pode moldar uma bruxa de acordo com sua maneira de pensar, para que ela satisfaça suas ambições, sonhos e desejos. [...]. Trechos extraídos da obra I, Tituba, Black Witch of Salem (University of Virginia Press, 2009), da escritora francesa Maryse Condé, que no livro Crossing the Mangrove (Anchor, 1995) expressou que: [...] Como é verdade! Os problemas da vida são como árvores. Vemos o tronco, vemos os galhos e as folhas. Mas não podemos ver as raízes, escondidas nas profundezas da terra. E, no entanto, é a sua forma e natureza e até que ponto escavam no húmus viscoso em busca de água que precisamos de saber. Então talvez entenderíamos [...] Não havia como negar o fato de que a morte da cana-de-açúcar estava soando o prenúncio de outra coisa no país. Como podemos chamá-lo? [...] Você não atravessa um mangue. Você se cravaria nas raízes dos manguezais. Você seria sugado e sufocado pela lama salobra. [...]. No livro Heremakhonon (Three Continents Press, 1982) ela expressou que: […] É verdade que tenho uma natureza caseira. Abomino exercícios físicos (exceto fazer amor, é claro). Sempre acreditei que o esporte deveria ser deixado para os burros [...]. Já no Victoire: My Mother's Mother (Washington Square Press, 2014), ela considerou que: […] Não foi nenhuma surpresa para mim que meus pais, como tantos outros, tenham emergido de uma espécie de neblina. Meu pai, um tagarela impenitente, alegou que seu pai tinha ido procurar ouro em Paramaribo, na Guiana Holandesa, e abodonou sua mãe, que estava amamentando seu bebê no Morne à Cayes. Outras vezes, ele afirmava que seu pai era um marinheiro mercante, naufragado na costa de Sumatra. Onde estava a verdade? Acho que ele recriou à vontade, tendo prazer em enunciar as sílabas que o faziam sonhar: Paramaribo, Sumatra. Graças a ele, desde muito cedo entendi que se constrói uma identidade. [...]. Por fim uma das suas importantes frases: Quem ri na frente de uma arma? Somente aqueles da nossa espécie. Veja mais aqui e aqui.

 

DESEJANDO BEM - Meu punho contém tantas moedas \ como posso carregar. Todos estão carimbados com a efígie da Rainha; \ Elizabeth, DG Regina, a residente dos bolsos, \ uma mulher que nunca conheci, embora sempre saiba \ o paradeiro dela. Cada rosto pressionado\ na palma da mão de outra pessoa antes da minha.\ O fedor de suor e metal. O desperdício disso.\ Desejo um retorno ou justiça.\ É seguro fazer isso aqui. Você pode jogar fora desejos\ e ninguém vai pescá-los\ antes que a autoridade do parque venha drenar a piscina\ e devolva as moedas à moeda.\ Talvez eu esteja comprando uma Coca-Cola para o futuro,\ um picolé, um saco de batatas fritas, uma dose.\ Talvez eu esteja tentando subornar Deus. \ Não sou do tipo que diz não a um mendigo, \ ou sim. \ Eu espalhei meu troco\ tudo de uma vez. Cada um completa seu alcance parabólico,\ cai peso morto. Eu desejo que as ondulações ainda sejam suficientes\ para mostrar meu rosto: e logo além, estrelas acesas\ brilhante como moedas encontradas. Poema da premiada poeta canadense Sachiko Murakami, autora dos livros Rebuild (2011) e Get Me Out of Here (2015).

 

SACADOUTRAS

 

A ÁRVORE DO CONHECIMENTOEra uma vez uma ilha que ficava em Algum Lugar, cujos habitantes desejavam intensamente ir para outra região e fundar um mundo mais saudável e digno. O problema, todavia, era que a arte e a ciência de natação e da navegação nunca haviam sido desenvolvidas, ou talvez tivessem sido esquecidas. Por isso, havia habitantes que nem sequer pensavam em alternativas à vida na ilha, enquanto outros procuravam encontrar soluções para seus problemas, sem contudo pensar em cruzar as águas. De vez em quando, alguns nativos reinventavam a arte de nadar e navegar. Também de vez em quando, algum estudante ia até eles e entabulavam um diálogo mais ou menos assim: - O que está disposto a fazer para consegui-lo? - Nada. Só desejo levar comigo minha tonelada de repolho. - Que repolho? - A comida que precisarei do outro lado, ou seja lá onde for. Mas há outros alimentos do outro lado. - Não sei o que está dizendo. Não estou seguro. Tenho de levar meu repolho. - Mas não poderá nadar com uma tonelada de repolho. É muito peso. - Então não posso aprender. Chama meu repolho de carga, mas eu o chamo de meu alimento essencial. - Suponhamos que, em vez de repolhos, digamos ideias adquiridas, ou pressuposições, ou certezas? - Hum ... Vou levar meus repolhos para alguém que entenda minhas necessidades. (Humberto Maturana & Francisco Varela, A árvore do conhecimento: as bases biológicas do entendimento humano. São Paulo: Psy, 1995). Veja mais aqui

Imagem: litografia O ferrolho, do gravurista, pintor, desenhista, ilustrador e professor pernambucano, Darel Valença Lins. Veja mais aqui e aqui.

Ouvindo: Juventude transviada, do cantor e compositor Luiz Melodia.

TERRA OCA: DESFAZENDO UM EQUÍVOCO – Era final dos anos 1970, ou por aí, quando o professor João José do Nascimento me trouxe um livro: Terra oca, de Raymond Bernard. Na hora eu disse: - Esse nome eu conheço! Quero! E logo corri para lê-lo avidamente. Fiquei extasiado. Pudera, um sujeito com a reputação que esse autor sempre teve, trazer uma teoria como essa, era coisa para lá de revolucionária. Só anos e anos mais tarde foi que consegui desfazer um equívoco. Seguinte: o Raymond Bernard (1923-2006) que eu já havia lido diversos livros editados no Brasil pela Editora Renes, era um profícuo e inspirado escritor e advogado francês, que reorganizou a Antiga e Mística Ordem Resacruz (Amorc) em seu país, tornando-se membro da Grande Loja Maçônica da França e fundador do então Círculo Internacional de Pesquisas Culturais e Espirituais (Circe) que foi absorvido posteriormente pela Ordem Soberana do Templo Iniciático (Osti). Já o Raymond Bernard do livro Terra oca, que também se assinava como Dr. Raymond W. Bernand PhD, como Dr. Robert Raymond e como Dr. Uriel Adriana AB, MA, PhD, todos eram pseudônimos do escritor esotérico, autor místico, praticante de medicina alternativa e praticante da subcultura da realidade alternativa, o norteamericano Walter Siegmeister (1901–1965), que na verdade obteve seu PhD em Educação pela New York University, era irmão do compositor Elie Siegmeister e, após uma viagem ao Equador e uma estadia no Brasil, apresentou a polêmica teoria divulgando a ideia de um mundo subterrâneo ocupado por raças não-humanas. Para ele o Brasil possuía entradas para túneis que levavam à terra oca. Ah, um não tem nada a ver com o outro: cada um, cada um. Pronto, está esclarecido. Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá!

LADY FRANCISCO, A MOÇA DO FUSCÃO: NUNCA FUI SANTA! – A atriz mineira Lady Chuquer Volla Borelli Francisco De Bourbon, ou simplesmente Lady Francisco, é uma militante defensora dos direitos dos animais que virou revelação artística da Escola Mineira de Artes Dramáticas há muitos e muitos anos atrás. Ao lado de Juscelino Kubstichek, ela inaugurou a TV Itacolomi, em Belo Horizonte e foi agraciada com o prêmio Ary Barroso de melhor teleatriz por sua participação na peça Um bonde chamado desejo, na qual foi ovacionada pela plateia ao lado da atriz Cacilda Becker. No início da carreira fez teatro de revista no Rio de Janeiro e trabalhou na TV Tupi, TV Machete e TV Globo onde até hoje atua em novelas. Iniciou na televisão em 1972, na novela Jerônimo, o herói do sertão, participando do filme Um varão entre as mulheres, de 1974, a partir dos quais passou a atuar ora em filmes, o último deles Sexo Selvagem dos Filhos da Noite, de 1987, ora na televisão, participando em várias novelas, entre as quais a sua última participação foi na novela Geração Brasil, de 2014. Também foi ganhadora do prêmio Candango de melhor atriz por sua atuação no filme O crime de Zé Bigorna – também premiado no Festival de Berlim -, ao lado de Lima Duarte, no Festival de Brasília, em 1977. Ao todo, são 24 filmes – muitos deles ou quase todos reassisti muitas e muitas vezes! -, e 25 novelas. Ela lançou em 2004 o livro autobiográfico Nunca fui santa e, em 1983, o compacto simples pela gravadora Cid, A moça do fuscão com um pôster sexy da artista encartado no disco. A sua cinebiografia Lady Francisco – De boates de quinta a palcos reluzentes, está no filme de curta metragem, sob a direção de Rochane Torres e Marco Polo, contando a vida dessa diva do cinema, do teatro, do circo e da televisão brasileira. Hoje é aniversário dela e, como fã, dou todos os salves & vivas: Parabéns, Lady Francisco!


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