sexta-feira, janeiro 23, 2015

EYRA HARBAR, ELIZABETH WURTZEL, JEANNE MOREAU, SHERE HITE & MARGARET SANGER

 


A FRANCESA TANTAS MULHERES... – Aquela filha de uma bailarina inglesa e de um barman francês detestava a rotina e estereótipos, uma múltipla mulher: de carne e osso, emoções e profundidade. Passou pela Comédie-Française e pelo Teatro Nacional Popular (TNP) e foi pras telas com beleza personalíssima, de nenhuma perfeição nem hipersensualidade: a medida humana exata – inteligente, sensível, complexa, intuitiva. Foi Florence Carala no Ascenseur pour l'échafaud, foi Jeanne Tournier no Les amants, foi Anne Desbarèdes no Moderato cantábile - baseado no romance homônimo de Marguerite Duras e o prêmio de Cannes. Foi mais: Lidia no La notte, Catherine no Jules et Jim e cantando Le Tourbillon de la vie. Foi a interesseira e sedutora Eva Olivier nas cenas de Losey, foi a criada astuciosa Céléstine no Le journal d'une femme de chambre, foi a escolhida pelo mercador, Virginie Ducrot, no The Immortal Story (1968), baseado no conto de Karen Blixen. Foi a sedutora assassina Julie Kohler no La mariée était en noir, foi Maria no Le jardin qui basculhe, foi a Joana Francesa de Cacá, foi Amande, instrutora de Nikita (1990): As pessoas – e as mulheres em especial – preocupam-se demais com o envelhecimento. Mas nós parecemos mais novos se não nos preocuparmos com ele. Porque para lá da beleza, do sexo, da titilação, da superfície, há um ser humano. E é isso que tem que emergir... Afora ter sido a escritora Marguerite Duras no Cet amour-là e quantas mais foi, afora ter dirigido o semibiográfico drama Lumière. Muitas e ela: Viva a grande atriz e cantora Jeanne Moreau (1928-2017). Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - A expressão de nossa sexualidade deve ser guiada por princípios de consenso, respeito e cuidado mútuo. Nenhuma mulher pode se considerar livre se não controlar seu próprio corpo. Nenhuma mulher pode se considerar livre até que possa escolher conscientemente se quer ou não ser mãe. Um ato sexual mútuo e satisfeito é de grande benefício para a mulher média, o magnetismo disso é doador de saúde. Quando não é desejado por parte da mulher e ela não tem resposta, não deve acontecer. Este é um ato de prostituição e é degradante para a sensibilidade mais fina da mulher, apesar de todas as certidões de casamento na terra em contrário... Pensamento da sexóloga, enfermeira, escritora e ativista estadunidense Margaret Sanger (Margaret Higgins Sanger ou Margaret Louise Higgins – 1879-1966), que no livro Woman and the New Race (Cosimo Classics, 2005), expressou que: […] A mulher deve ter sua liberdade, a liberdade fundamental de escolher se será ou não mãe e quantos filhos terá. Independentemente da atitude do homem, esse problema é dela — e antes que possa ser dele, é somente dela. Ela atravessa o vale da morte sozinha, cada vez que um bebê nasce. Assim como não é direito nem do homem nem do estado coagi-la a essa provação, também é direito dela decidir se ela irá suportá-la. [...]. Em 1914, ela foi processada pelos Estados Unidos, sob às leis do Ato Federal Comstock, de 1873. As leis do Ato Comstock proibiam a circulação, venda e produção de toda literatura com qualquer tipo de conteúdo sexual, erótico ou informações e ativismo sobre controle de natalidade, seja sobre contraceptivos ou aborto. Com medo do que poderia acontecer, Sanger se refugiou nos países britânicos até que fosse seguro retornar aos Estados Unidos. Por sua ligação à organização Federação de Paternidade Planejada da América, ela foi, e ainda é, alvo frequente dos críticos do aborto. Entretanto, o Planned Parenthood Federation of America passou a realizar abortos apenas em 1970, quatro anos após sua morte. A ONG, fundada em 1916, funciona até hoje, e é responsável por metade dos abortos legais nos Estados Unidos, além de globalmente oferecer serviços como educação sexual e controle de natalidade, inclusive no Brasil. O trabalho de Sanger com comunidades carentes também foi louvado por Martin Luther King, em seu discurso de aceitação do prêmio Margaret Sanger Award, em 1966.

 

ALGUÉM FALOU: A sexualidade é uma fonte de alegria, prazer e conexão, e não apenas de procriação. Não se pode decretar que as mulheres sejam sexualmente livres quando não são economicamente livres. Temos direito aos nossos próprios corpos. Onde há amor duradouro, há família. Pensamento da sexóloga e feminista teuto-americana Shere Hite (1942-2020). Veja mais aqui e aqui.

 

NAÇÃO PROZAC - [...] Essa é a questão sobre a depressão: um ser humano pode sobreviver a quase tudo, desde que veja o fim à vista. Mas a depressão é tão insidiosa, e se agrava diariamente, que é impossível ver o fim. [...] Alguns amigos não entendem isso. Eles não entendem o quão desesperada eu estou para que alguém diga, eu te amo e te apoio do jeito que você é porque você é maravilhosa do jeito que você é. Eles não entendem que eu não consigo me lembrar de ninguém me dizendo isso. Eu sou tão exigente e difícil para meus amigos porque eu quero desmoronar e desmoronar diante deles para que eles me amem mesmo que eu não seja divertida, deitada na cama, chorando o tempo todo, sem me mover. A depressão é sobre Se você me amasse, você faria. [...] É tudo o que eu quero na vida: que essa dor pareça ter um propósito. [...] Eu sou a garota que está perdida no espaço, a garota que está sempre desaparecendo, sempre desaparecendo e recuando cada vez mais para o fundo. Assim como o gato de Cheshire, um dia eu irei embora de repente, mas o calor artificial do meu sorriso, aquela curva falsa e palhaça, do tipo que você vê em pessoas miseravelmente tristes e vilões em filmes da Disney, permanecerá para trás como um resquício irônico. Eu sou a garota que você vê na fotografia de alguma festa em algum lugar ou algum piquenique no parque, aquela que de fato logo irá embora. Quando você olhar para a foto novamente, quero lhe garantir, eu não estarei mais lá. Eu serei apagada da história, como uma traidora na União Soviética. Porque a cada dia que passa, eu me sinto me tornando mais e mais invisível. [...]. Trechos extraídos da obra Prozac Nation (Riverhead, 2002), da escritora e jornalista estadunidense Elizabeth Wurtzel (1967-2020). Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS - COISAS DE MULHER - A primeira vez \ o sangue, \ como uma filha, \ caminhou pela vida \ com a sua verdade, \ e foi sempre \ até o fim \ anunciando \ a fertilidade \ e todos os seus tempos. GOLPE - Entendo o ar \ quando o empurro, \ da minha boca levo \ até a concha do seu ouvido \ e ele fica estagnado como o mar \ para ser ouvido. Poemas da escritora e advogada panamenha Eyra Harbar, autora dos livros Burnt Paradise (Panamá, 2014), Mirrors (INAC, 2003), Where the Beetle Dwells (UTP, 2002), entre outros.

 

SACADOUTRAS

 

VIVA O POVO BRASILEIRO – Sempre tive os maiores deleites nas leituras que fiz do grande e imortal escritor baiano João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). Entre seus livros, não menos prazeroso foi a detida e quase de um fôlego só devorar Viva o Povo Brasileiro (Nova Fronteira, 1984). Tive que me segurar para não ter um troço de tanto rir. Trago aqui um fragmento dessa magnífica obra para que todos tenham uma pequena ideia da maravilha de livro que é: [...] O comportamento das almas inopinadamente descarnadas, sobretudo quando muito jovem, é objeto de grande controvérsia e mesmo de versões diametralmente contraditórias, resultando que, em todo o assunto, não há um só ponto pacífico. Em Amoreiras, por exemplo, afirma-se que a conjunção especial dos pontos cardeais, dos equinócios, das linhas magnéticas, dos meridianos mentais, das alfridárias mais potentes, dos polos esotéricos, das correntes alquímico-filosofais, das atrações da lua e dos astros fixos e errantes e de mais centenas de forças arcanas – tudo isso faz com que, por lá, as almas dos mortos se recusem a sair, continuando a trafegar livremente entre os vivos, interferindo na vida de todo dia e às vezes fazendo um sem número de exigências. Diz-se que era por causa dos tupinambás que la moravam, que com mil artes e manhas de índios amarravam as almas dos mortos até que eles pagassem os obséquios que morreram devendo, ou resolvessem qualquer pendência de que foram partes. Mas depois dos tupinambás, vieram os portugueses, espanhóis, holandeses, até franceses, e os defuntos, mesmo não havendo mais índios para os amarram, continuaram por lé, desafiando as ordens dos padres e feiticeiros mais respeitados para que se retirassem. Em seguida, chegaram os pretos de várias nações da África e, não importa de onde viessem e de que deuses trouxessem consigo, nenhum deles jamais pôde livrar-se de seus mortos, tanto assim que foram os que melhor aprenderam a conviver com essa circunstancia, não havendo, por exemplo, órgãos e viúvos entre eles. Os muitos deles que não conseguiram suportar viver na companhia de uma memória infinita e na presença de tudo o que já existiu mudaram-se para lugares bem longe de Amoreiras e jamais comem qualquer coisa vinda de lá. Veja mais aquiaqui.

Imagem: Olympia (1865), do pintor francês Édouard Manet (1832-1883). Veja mais aqui.

Ouvindo: Saga da Amazônia, do cantor e compositor Vital Farias.

A DOUTRINA SECRETA – A escritora e ocultista russa Elena Petrovna Blavatskaya, popularmente conhecida como Helena Blavatsky ou Madame Blavatsky (1831-1891), realizou viagens e experiências insólitas até que, aos vinte anos de idade, teve um encontro com o Mestre Mahatma Morya-El, tornando-se a partir de então, a primeira mulher ocidental a penetrar no Tibet e a ser iniciada na Grande Loja Branca. Teve depois contato com o Mestre Ku-Hu-Mi, fundando, a partir disso, a Sociedade Teosófica, ao lado de Henry Stell Olcott e William Q. Judge. É autora dos monumentais livros Isis sem Véus e a Doutrina Secreta. De seus pensamentos destacamos: Há um caminho, íngreme e espinhoso, envolto em perigos de toda espécie, mas ainda assim um caminho, e que leva ao próprio coração do Universo. Para aqueles que prosseguem vitoriosos já uma recompensa indescritível – o poder de abençoar e salvar a humanidade; para aqueles que falham, já outras vidas nas quais o sucesso pode vir. Veja mais aqui, aquiaqui

O VERMELHO E O NEGRO – O escritor francês Stendhal – pseudônimo de Marie-Henry Beyle (1783-1842),, criou algumas das obras literárias mais importantes do século XIX, um total de três romances completos e dois inacabados, dois volumes de contos e novelas, além de obras críticas, narrativas autobiográficas e de viagens. A  sua obra O vermelho e o negro, é uma das obras primas do autor, traçando a vida e o perfil psicológico de Julien Sorel, tendo por fundo a França do período da restauração napoleônica, retratada ao mesmo tempo com agudo realismo e fantasia transfigurada. No livro, o protagonista escreve a seguinte carta: Vinguei-me, escrevia-lhe ele. infelizmente, meu nome aparecerá nos jornais, e eu não poderei sair incógnito deste mundo. Morrerei dentro de dois meses. A vingança foi atroz, como a dor de ser separado de você. Daqui em diante, proibi-me de escrever e de pronunciar o seu nome. Não falem nunca em mim, nem mesmo ao meu filho; o silêncio será a única maneira de honrar-me. Para o comum dos homens, eu serei um assassino vulgar... [...] Ninguém me verá falar nem escrever; com isso você terá recebido as minhas últimas palavras e também as minhas últimas adorações. J. S. Depois de ter partido essa carta foi que, pela primeira vez, Julien, já mais senhor de si, sentiu-se muito infeliz. Cada uma das esperanças da ambição teve de ser arrancada, sucessivamente de seu coração por esta terrível frase: “Eu vou morrer”. A morte, por si mesma, não lhe era horrível. Toda a sua vida não fora mais que uma longa preparação para a desgraça, e ele não esquecera a que passa por ser a maior de todas. “Como!”, pensava ele [...] Levou mais de uma hora procurando analisar-se a esse respeito. Quando viu claro na sua alma, e quando a verdade apareceu diante de seus olhos tão nitidamente como um dos pilares da prisão, ele pensou nos remorsos! “Por que os teria eu? Fui ofendido de uma forma atroz: matei, mereço a morte, mas é só. Morro depois de ter saldado a minha conta com a humanidade. Não deixo nenhuma obrigação por cumprir, não devo nada a ninguém; minha morte só tem de vergonhoso o instrumento: só isto, é verdade, basta de sobejo para cobrir-me de vergonha aos olhos dos burqueses de Verrières; mas, sob o ponto de vista intelectual, nada é mais insignificante! Resta-me um meio para ser considerado por eles: será lançar ao povo moedas de ouro ao encaminhar-me para o suplicio. Minha memória, ligada à ideia do ouro, será resplandescente para eles. Depois desse raciocínio, que após um minuto lhe pareceu evidente, pensou: “Não tenho nada mais a fazer na terra”, e adormeceu profundamente. Veja mais aqui, aquiaqui.

JEANNE MOREAU
A vida é arriscada. O clichê é que a vida é uma montanha. Você vai para cima, chega ao topo e depois desce. A morte é um mistério absoluto. Somos todos vulneráveis a isso, é o que torna a vida interessante e cheia de suspense. Saber morrer é saber viver. O que é a morte, afinal? É o resultado da vida...
Pensamento da atriz e cantora francesa Jeanne Moreau (1928-2017).

JOANA FRANCESA – Quando assisti o filme Joanna Francesa (1973), de Cacá Diégues, além de ficar maravilhado com o filme, duas coisas me chamaram a atenção: a interpretação da atriz francesa Jeanne Moreau e a música-título do Chico Buarque. Relembrando o filme, Joana é uma francesa possuidora de um prostíbulo em São Paulo no início da década de 1930. Ao receber uma proposta do Coronel Aureliano, ela aceita visitar a esposa dele que se encontra moribunda num engenho de açúcar, em Santa Rita, interior de Alagoas. Lá ela conhece a família: uma sogra dominadora, filhos incestuosos e a rivalidade dele com a família Lima que em razão deles construírem uma usina, levam-no à bancarrota. O filme é lindo! A música, maravilha; Jeanne Moreau, encantadora. Veja mais aqui.


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