ELA, A INCÓGNITA DO PRAZER – Imagem: art by Mark Tennant - Não sei se é noite, dia ou tarde. Eu só sei que arde. E com açoite faz alarde na minha temperança. É que não descansa, bole e atordoa. Ah, que coisa boa debaixo do chuveiro, quando sou seu ex-seresteiro e ela emerge dos confins gerais, sensual demais com sua tropical altitude. E vem largando as virtudes na sua nudez. Com completa mudez, tez luminescente, com seu corpo fervente pra me incendiar. Eu me deixo levar por sua boca safada que se diz preparada toda para mim. E se confessa assim com seu sexo molhado. E nele me farto aos bocados até a raiz - do cóccix ao seu túmido veio, pelo entremeio de sua entrega donairosa, seu cheiro de rosa, sua ebulição. Faço na praça festa de peão, sou língua devassa de eterno freguês. E vou pelo vale dos seus ipês, correndo a sua serra do paraíso, todo seu córrego diviso com toda ganância. Eu bebo a sua fragrância com sede medonha, chega ela sonha de olhos virados, gemendo recados de que vai me pegar. E vendo seu esgar, mais me aproveito, sugando seu jeito inquieto a gozar. E a se esbaldar se derrete bem louca, ela vulva inteira na minha boca, chega a gemer e gritar. E me manda parar, depois diz que não, na sua alucinação nem sabe o que quer. Ela é toda mulher que mais se demora com seu gosto de amora no meu paladar. Ela quer mais se fartar e remexe agonia, se espremendo todinha, preu mais me ousar, até alcançar sua intimidade mais escondida, que ela me entrega rendida para eu me apossar. Não sei se sou dono, ou desbravador, se sou o patrono, ou o seu feitor. Sou só dominador da sua volúpia, só vou com argúcia asumir seu poder e todo seu querer, sua identidade, destronar sua majestade e roubá-la de si. No seu frenesi será dominada, submissa encantada que irá me servir. E como um grão vizir, lavrarei minha lei pra que ela faça a grei e cumpra à risca, minha servil odalisca, minha serva querida, minha fêmea homicida, minha escrava cortesã, que me dispõe sua chã, sua carne e beleza, que se digna ser presa para que dela eu me aposse, tomando total posse de tudo que é de seu. E ao me dar o apogeu e todo seu trono, sua alma por abono e tudo que se tem. E como me convém, ela fraqueja e ajoelha feito obediente ovelha, a me adorar. E procura seu maná, meu membro saliente, seu moquém requerente que quer abarcar. E a se lambuzar com minha seiva leitosa, a lamber tão jeitosa, chega a me enlouquecer. Não pára de mexer, tenaz felatriz a sugar tão feliz meu mais louco gozar. E não quer mais parar, feito faminta gulosa na minha pêia preciosa, que me toma à mão como um frágil Sansão rendido ao prazer. Ela mais manda ver e mais me explorar, até que eu chegue a esborrar toda força da vida. E retoma as lambidas de forma inclemente como quem inadimplente está pronta a pagar toda dívida que há, pra ser conivente que deve sucumbente de se ver eternamente na condição de me amar. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – É mais importante saber que
tipo de pessoa tem uma doença do que saber que tipo de doença a pessoa tem.
Pensamento de uma dos mais importantes da história da medicina, o grego Hipócrates (460- 377 a. C.), também
autor da expressão: Tudo quanto
é excesso se opõe à natureza. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: A realidade é aquilo que, quando
deixas de crer nela, não desaparece. Pensamento do escritor estadunidense Philip Kindred Dick
(1928-1982), ou Philip K. Dick ou PKD, autor de diversas obras de ficção
científica.
ARIADNE & JÚPITER - [...] Em um daqueles finais de
tarde, comecei a sentir um estranho desejo que parecia vir das profundezas do
meu corpo ou de algum lugar que eu não podia determinar com exatidão! Aprendi que
as sensações podiam ser intensificadas movendo minhas pernas, com meu corpo
apertado contra a cama. Se eu agarrasse o meu travesseiro, de bruços, sentia um
prazer ainda maior. [...] Era uma
doce tortura. Eu não sabia o seu significado. Um dia, quando fazia aquilo, tive
a sensação de que estava acontecendo uma explosão deliciosa dentro do meu corpo.
[...] Eu adorei. Quis fazer de novo e
fiz, um milhão de vezes. Passei a fazer todos os dias. [...]. Trechos
extraídos da obra A divina comédia de
Ariadne e Júpiter: as surpreendentes e espetaculares aventuras de Ariadne e seu
cão Júpiter no céu e na terra (Bertrand Brasil, 1996), da sexóloga e
feminista teuto-americana Shere Hite (1942-2020). Veja mais
aqui e aqui.
DOIS POEMAS - A OUTRA ESCRITA DA
PELE: Das palavras apanhamos, de
seus músculos esquivos, / com elas nos confundimos e nos acertamos. / Sofremos
e nos flagelamos pelos pensamentos / que se vertem em poemas. / Um gesto louco
e dominador nos joga sobre telas e papéis, / onde tatuamos nossas almas com
tintas dolorosas e arrebatadoras / e nos expomos em roupagens orgásticas. / Esculturas
arrancadas de seus conceitos / e colagens infinitas de sonhos revelados. / Meu
corpo é o corvo que me devora o fígado. / Meu corpo é a cereja que escorre
pelas tuas pernas. / Meu corpo é o livro que defloras página por página, / apesar
das minhas súplicas. / Queres arrancar minha alma custe o que custar, / de seus
temores e pudores, e da inquietude que a ilumina. / Queres me expor sem que eu
exposta esteja. / Meu corpo de solfejos e pérolas é escravo de sua história. / É
o laço. Um ponto. Uma linha. Um plano. DIGITO
EM TUA LÍNGUA ESTE RECADO: Só faltam cinco. / Vou criá-las em preto e
branco para que as cores não me seduzam. / Elas terão que ter suas próprias
seduções. / Nascerão entre brancos, negros e acinzentados. / Uma palheta
onírica e louca será usada para cometê-las. / Ultrapassarão todas as demências
sem grandes alardes. / Santas madonas proscritas de suas sacrovestimentas. / Difícil
será trazer um toque masculino no céu de tantas bocas. / Como será entrelaçar
barbas em cabelos? / Procuro a vertigem dentro de vórtices escalando
hermafroditas irracionais em suas diárias prestidigitações. / Inconsciente
dedilho cada letra do imponderável sem caminhos de volta. / Refeita de tanto
prazer eu me batizo amante. Poemas da poeta, ensaísta, fotógrafa e
artista visual Leila Ferraz, autora
dos livros Cometas (1977) e Poemas plásticos (1980).