Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som dos álbuns Elevation, Op76 nº.2 (Pastel Records, 2024), The
Fauns, Op.60 (Pastel Records, 2024), Cécile Chaminade Performs Original
Piano (Torill Music, 2019), Masters Of The Roll (James Stewart
Music. 2019) e The Hall Collection, Vol. 1 - 1901-1927 (Pierian Recording
Society, 2012), da pianista e compositora francesa Cécile Chaminade (1857-1944).
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CANÇÕES DO VENTO...
– A primeira canção ao amanhecer: da janela a cidade e a brisa de Zéfiro pelas encruzilhadas
transhumanas, corredores e túneis sombrios. Meus versos são escavações no
asfalto aguando plantas, passos, direções invisíveis: opção de existir além dos
limites, como um ressurreto indígena desgarrado de povoado extinto, escapando
do apagamento e de todas as atrozes invisibilidades. Doravante uma ponte móvel,
para lá e cá remexendo quase sem querer, como se eu fosse uma flecha viva
dançante usurpando fronteiras. Iansã ensinou o toque da mão e a pedra, o corpo
pensante, outridade sim, empatia sim, resistir sim e mais: todoutras, cada qual
suas descobertas. Não sou nem nunca fui Medusa, quanta pedra e pó. Alijado
experimentei pelos olhos mortos dos que estão sentados ou deitados nas
bolhoutras e suas vindicações falazes, os meus versos ecosóficos diante das
dicotomias existenciais. Sou-me sucessivos amanheceres. Vou-me pela segunda
canção ao meio dia e com Rayka nas rajadas de Bóreas. Escrever pra quê?
Transbordo, não mais cabendo em mim. Voo além, outroutra. E uma orquídea
desabrocha no peito: é a arte rio que passa e o tempo do longe, o lugar às
margens do agora bem-vindo, salvando-me de uma rede de alçapões com os dilemas
da morte, da autorrealização e do isolamento. Pude errar muito e voltar, ser-me
impreciso e aos malogros, reconhecendo-me vivências, oceânicas experiências
interdimensionais, curando feridas, sarando talhos abertos. Quem não erra? Isso
pode e deve ser afinal o acerto. A dor ensinava e aprendia, deixava deixar: devires,
aporias diatônicas e cromáticas, artisticulturais. Tudo é possível! Sou o meu
próprio prazer no cotidiano: um bicho feio pro riso das crianças. E a terceira
canção entre alvoradas e ocasos não impediu o que previa: adivinhava a dor do
deserto. As ideias são ratoeiras armadas e o corpo pagava o preço. O amor sempre
foi e será paradoxo, quereres equidistantes. Quase sussurro só, um cochicho
talvez, apenas. Fiz tudo que podia e me libertei com a descoberta da arte
escondida: a vida plena e quantos sou, já gritei muito e fiquei rouco; hoje
apenas digo e isso me basta: sorrir & dançar. A luta continua... Até mais
ver.
Enid Blyton:
Se você não pode cuidar de algo que está
sob seus cuidados, você não tem o direito de ficar com ele... Veja mais aqui.
Charlotte Mary Yonge:
As regras gerais são perigosas de serem aplicadas em casos particulares...
Veja mais aqui.
Diane di Prima:
Acho que o poeta é a última pessoa que ainda fala a verdade quando ninguém
mais se atreve a fazê-lo. Penso que o poeta é a primeira pessoa a começar a
moldar e a visualizar as novas formas e a nova consciência quando ninguém mais
começou a senti-las; acho que essas são duas das funções humanas mais
essenciais... Veja mais aqui.
DOIS POEMAS
A SITUAÇÃO DE UM ESCRAVO - O ar a bordo era fétido
e pútrido. Acorrentados pelos tornozelos em caixões, o mal arrastou a mim e a
outros com cicatrizes nos lábios para bordo. Humilhadas sob o sol, fomos
despidas, examinadas da cabeça aos pés e colocadas em alojamentos para sermos
estupradas. Meus sentidos ficaram entorpecidos pelo abuso, crises de fome com
náuseas, prisão de ventre e dores de cabeça me deixaram doente. As alucinações
vindas da distância desamparada causaram arrepios na minha espinha enquanto
sussurros embaladores de algemas me atormentavam. A âncora foi colocada, velas
enormes fizeram o navio voar em meio a nuvens escuras ameaçadoras. O trovão
retumbou como um monstro faminto. A brisa fria varreu o navio enquanto fiquei
entorpecido de dor por meses. Couro pesado desceu sobre minha carne encolhida e
meus membros algemados. Sofri a angústia de ontem enquanto o zelo sagrado em
meu peito brilhava precedendo minhas angústias. Um palco elevado de madeira me
recebeu em terra. Nus, expostos ao raio penetrante do sol, os lances eram
computados cuidadosamente. As negociações foram feitas, eu agora pertencia à
“massa”. Trabalhando no calor das plantações em condições adversas, minhas
costas doíam e os ferimentos causados pelas chicotadas do feitor
doíam – meus dedos sangravam por
ter colhido algodão. Mentalmente subjugado, escondi-me atrás do bálsamo
calmante da religião. Minha mente não era mais minha, esse corpo pertencia à
“massa”. Eu constantemente empinava na noite sagrada, lamentando um futuro sem
esperança para meu filho – cantarolando uma canção lânguida na esperança de que
meus ancestrais pudessem ouvir minha situação. Levantei a cabeça para o céu e
imaginei a carícia da liberdade sob uma constelação.
SAPIOSSEXUAL - Sinto-me sexualmente atraída pela
inteligência. Conversas íntimas brotando de uma mente eloquente, despindo minha
consciência e fazendo amor com meus pensamentos. Dando-me orgasmos estimulantes
cerebrais a partir do intercâmbio ao vivo de discussões alucinantes,
transmissões diretas estimulando meus sentidos de locutor em um jogo de
palavras sensual onde nossos pensamentos lutam com nossos sentimentos em uma
linguagem intelectual. Sinto atração sexual por um homem inteligente.
Constantemente perdidos em um jogo de acasalamento mental enquanto nossos
pensamentos convergem para uma fusão cósmica. Mentes se estendendo como
estrelas binárias em uma galáxia. Nadando em um oceano de filosofia e
psicologia, um mar de ideias brilhantes, e valsando em uma floresta de
oportunidades em um ninho de amor analítico que transborda teorias e fatos
sangrentos. No alto de um amor que me arrebata com cada palavra enquanto sou
dominado por um extenso vocabulário. Dar gases que contraem nossos ouvidos e
fazem nossas mentes se prenderem ao sexo da alma. Interesse despertado,
cuidadosamente sintonizado com uma mulher peculiar como eu. Seduzindo meus
nervos com conversas explosivas. Levando-me em uma jornada fascinante e
pensativa para expor as maravilhas da mente. Através de desvios de lógica,
verdade e sensualidade entrelaçadas em conhecimento feliz. Redirecionando o
jogo sexual superficial e falso que os homens jogavam comigo. Sinto-me
sexualmente atraído pela inteligência. De dois amantes sapiossexuais
embriagados de paixão, construindo energia criativa e liberando vibrações
intelectuais, culminando com a estimulação mental. Acariciando minha carne com
poesia cognitiva a partir de emoções existentes enquanto o levanto em um
profundo recital de poesia falada sobre o mundo. Educando-o, dando-lhe algo
para meditar. Intrigando-me com sua bela mente, provocando meus pensamentos,
despertando neurônios enquanto as sinapses de nossos cérebros executam danças
complexas. As batidas tornam-se uma cadência ressonante. Fusão de instrumentos
musicais enquanto nossos pensamentos giram e criam um ritmo harmonioso em uma
dança mental orgástica profunda em um mundo que vive a pior revolução sexual.
Um mundo onde a beleza física é superestimada e a inteligência subestimada.
Mentes escravizadas, presas à paixão fugaz e à fachada física como a erva
mágica. Ignorância que confunde a mente. Um mundo onde as mulheres inteligentes
são intimidadoras e rotuladas de “Senhorita Sabe Tudo ou Cabeçuda”. Um mundo
onde os homens inteligentes são intimidadores e rotulados de “Sr. Saiba tudo ou
tenha orgulho”. Em um mundo onde mora uma mulher Sapiossexual como eu.
Poemas da artista e poeta ugandesa Carolyne M. Acen – Afroetry.
VOCÊ TEM QUE OLHAR - [...]
Você não pode recuperar o que perdeu. Aqueles
que perderam a aparência humana não podem voltar a ser pessoas. Mas o
sistema pode ser corrigido e essa é a minha esperança. É por
isso que indico os nomes reais de pessoas e instituições. É por
isso que escrevo a verdade. [...]
Não há razão para você sentir dor. Não há nenhuma razão
para sentir dor [...]
Mas se este livro ajudar alguém com a sua dor, significará que não foi
escrito em vão. E que, pelo menos, o que nos aconteceu teve algum significado.
[...]. Trechos extraídos da obra Tienes que mirar ( Batiscafo,
2022),
da escritora, jornalista e roteirista russa Anna Starobinets.
O UNIVERSAL NA SELVA -
[...] As cenas são múltiplas,
disparatadas. E, em cada uma delas, o termo “universal” é brandido como um
estandarte. É preciso combater o de perigo do deslocamento, as ameaças
presumidas da separação. [...] Devolver a cada um o que
é de cada um. Não se corta em pedaços a essência imaterial da humanidade.
Fazê-lo é impedir-se de produzir enunciados de verdades partilhadas. Pior
ainda, é renunciar ao discurso de uma emancipação comum. Alimentar pulsões
tribais contra a paciente elevação do trabalho e da cultura. [...] É
sabido: a nossa é uma época da recuperação e da distorção. As palavras,
mastigadas e remastigadas na boca, acabam por significar aquilo contra o que,
justamente, elas haviam sido forjadas. [...] O museu universal é
acolhimento: ele defende uma hospitalidade viva. Limitá-la se constituiria em
uma violência. Esse museu abre suas portas a todos os humanos, a todos os
objetos, de onde quer que venham. Mais ainda, ele relembra o próprio de todo
devir humano: a passagem, a travessia. Ser do mundo é, primeiramente e de
maneira essencial, circular, estar em movimento, jamais ser determinado e
entravado pelas fronteiras da pátria, do Estado-nação, que produzem exclusão.
[...] Ali onde a colonização significava a monopolização
do mundo por alguns, o imperativo da descolonização exige que se devolva o
mundo ao mundo, que se dê a cada parte do mundo a possibilidade de acolher o
mundo, de fazer mundo. “Assimilar, não ser assimilados”, como corolário do ato
de restituir. [...] Nesse sentido, atrás da questão do
universal se abriga sempre aquela da identidade, isso é, a da identificação do
sujeito que fala, que toma a iniciativa de começar um relato e de configurar um
mundo. As reflexões sobre o universalismo esbarram em uma dificuldade
constitutiva e insuperável: o universal é sempre limitado pela situação daquele
que o enuncia. [...]. Trechos do estudo O universal na selva (Concinnitas,
maio de 2020), da filósofa e escritora francesa Nadia Yala Kisukidi, que é professora da
Universidade de Paris 8 e autora da obra Bergson ou l’humanité créatrice
(CNRS, 2013).
CENTENÁRIO DE OSMAN
LINS
Duas vezes foi criado o mundo: quando passou do
nada para o existente; e quando, alçado a um passo mais sutil, fez-se palavra.
O caos, portanto, não cessou com o aparecimento do universo; mas quando a
consciência do homem, nomeando o criado, recriando-o, portanto, separou,
ordenou, uniu. A palavra, porém, não é o símbolo ou reflexo do que significa,
função servil, e sim o seu espírito, o sopro na argila. Uma coisa não existe
realmente enquanto não nomeada: então, investe-se da palavra que a ilumina e,
logrando identidade, adquire igualmente estabilidade. Porque nenhum gêmeo é
igual a outro; só o nome gêmeo é realmente idêntico ao nome gêmeo. Assim, gêmea
inumerável de si mesma, a palavra é o que permanece, é o centro, é a
invariante, não se contagiando da flutuação que a circunda e salvando o
expresso das transformações que acabariam por negá-lo. Evocadora a ponto de um
lugar, um reino, jamais desaparecer de todo, enquanto subsistir o nome que os
designou (Byblos, Carthago, Suméria), a palavra, sendo o espírito do que -
ainda que só imaginariamente - existe, permanece ainda, por incorruptível, como
o esplendor do que foi, podendo, mesmo transmigrada, mesmo esquecida, ser
reintegrada em sua original clareza. Distingue, fixa, ordena e recria: ei-la.
Texto do escritor Osman Lins (1924-1978). Veja
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UM OFERECIMENTO:
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Diário TTTTT aqui.
Cantarau
Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O
lobisomem Zonzo aqui.
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VALUNA – Vale
do Rio Una aqui.
&
Crônica de
amor por ela aqui.