GOLPE INESCAPÁVEL - O sapo coaxava,
o cavalo relinchava, o gato miava e Hermelinaldo nasceu com um par de
testículos proeminentes: Esse tem colhões! Era o pai chamando atenção do xodó da
mãe. Ele nem engatinhou: se arrastava sobre as gônadas masculinas para lá e
para cá. Iê! Aí, um dia, no quintal da casa dos avós, ao se amostrar,
atrepou-se no pé de caju frondoso, escorregou e espremeu os cachos. Ui! Doeu. E
muito. O cachorro latia, abelha zumbia, o boi mugia e no selim da bicicleta: magoou,
espremido. Ó. O burro zurrava, o porco grunhia, o papagaio palrava e no
escorrego saiu deslizando e resvalou: arranhões em carne viva. Eita, porra! Ovelhas
baliam, passarinhos chilreavam, o grilo cantava e ele não se sentava: encolhonava
com as pernas cruzadas feito Buda. Hummmmm... A galinha cacarejava, o peru
grugulejava e foi crescendo e até se envaidecia: Tenho colhão, porra! Com o
tempo os bagos aumentavam e o pênis encolhia: Cadê meu pau? Sumia-se na
pentelheira de virar um pitoco ínfimo: Lasquei-me! Nada, era só esfregá-lo, taí
sua punheta. U-hu! Aí começou a sonhar recorrentemente com coisas desconexas: diante
de um trio - um egípcio, um hebreu e um hindu, queriam testemunhar com
juramentos e promessas esmagando os seus quibas! Tá doido! Acordou alvoroçado e
mal cochilava: era ximbra no buraco, bola na caçapa, chute pra gol, via
estrelas e desmaiava. Escapava de quina de mesa, de tiro de revólver, bola
chutada, joelhada de astuta, tudo acertava seus possuídos. Quando não se acidentava
de deixar os seus troços lá pendurados num tronco. Ou pesadelo de uma noite de
torção testicular. Será um alerta? Ameaças de golpe de romper o saco? A
insegurança, os temores, sensibilidade ao toque, inchaço, que será? Hérnia,
epididimite, varicocele, prostatite, orquite, hidrocele, oxe! Ambos atrofiaram
de vez, trauma testicular. Como assim? Não adiantava aplicação de compressa
gelada. Rancolho! Bota essa boca pra lá! Capado! Sai-te! Desprotegido, teve
náuseas, vomitou e, por fim, desmaiou. Teve uma parada cardíaca reflexa. Parece
que foi uma ruptura nos cachos. Eita! Foi submetido a uma orquiectomia. Agora,
sim! Um criptorquídico na foto 3 por 4! Acordou na maior aflição, todo moído. Estava
deveras demolido com dor dilacerante, esfacelado, inutilizado: sujeito castrado,
era uma vez testosterona. Via-se lesionado, nem o pitoco servia mais: Que
utilidade tem isso? Se já era inútil, agora estava monórquido, quase nem falava
mais, só gesticulando e ninguém entendia. Pra ele estava condenado pela Lei de
Murphy, escapar o quanto podia e, pra piorar, até ouviu da mulher: “Você não
mora mais aqui”. Foi o fim: o que restava, agora descolhonado, serventia
nenhuma. Só se via fazendo careta, os olhos apertados, lábios de lua minguante
pra baixo, beiço inferior saliente, todo emborcado, andando penço, as mãos
cruzadas sobre a púbis, guardando o que nem mais existia, sabe-se lá,
cauteloso, precavido: Prevenido vale por 10! E veja mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Somos todos parte de um coletivo maior que procura criar um mundo mais
bonito e justo... Se quisermos iluminar as pessoas ou dar-lhes novos pensamentos e
ideias, temos que estar dispostos a fazer o trabalho de educá-las... Devemos
ter a audácia de aumentar a frequência de nossas verdades... Como uma
ativista que usa a narrativa para combater o estigma, eu sempre fui inflexível
que contamos nossas próprias histórias... Eu nasci indignada. Eu nasci
sem, sabendo que meu povo não foi contado, não estava incluído, não centrado.
Eu lutei através de escolas de baixo recursos, comunidades e projetos
habitacionais... Pensamento da escritora, jornalista e ativista
estadunidense Janet Mock. Veja mais aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: Quando uma
medida se torna uma meta, ela deixa de ser uma boa medida... Pensamento da antropóloga
e acadêmica britânica Marilyn Strathern, que Partial Connections
(Association for Social Anthropology in Oceania, 1991), ela expressou: [...] A
certeza em si parece parcial, a informação intermitente. Uma resposta é outra
pergunta, uma conexão uma lacuna, uma similaridade uma diferença, e vice-versa [...]
Um mundo obcecado com os uns e com as multiplicações e divisões dos uns cria
problemas para a conceptualização das relações [...]. Veja mais aqui &
aqui.
DOUTRINAS
EXISTENCIALISTAS – […] O esforço para atingir a perfeição lógica
elimina o sentido do real: tende sempre a lançar para a sombra e para o
esquecimento o sentido do problema e até o próprio problema que suscitou o
sistema. A moldura devora o painel; a dialética suprime o mistério [...].
Trecho extraído da obra As doutrinas existencialistas: de Kierkegaard a Sartre
(Tavares Martins, 1957), de filósofo francês Régis Jolivet (1891-1966).
Veja mais aqui.
AS PALAVRAS & AS COISAS – [...] Solapam
secretamente a linguagem, porque impedem de nomear isto e aquilo, porque
fracionam os nomes comuns ou os emaranham, porque arruínam de antemão a “sintaxe”,
e não somente aquela que constrói as frases — aquela, menos manifesta, que
autoriza “manter juntos” (ao lado e em frente umas das outras) as palavras e as
coisas [...]. Trecho extraído da obra As palavras e as coisas: uma
arqueologia das ciências humanas (Martins Fontes, 1999), do filósofo,
historiador, filólogo, teórico social e crítico literário francês Michel
Foucault (1926-1984). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
DESENVOLVIMENTO
DO PSIQUISMO – [...] Podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser um homem. O
que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe
ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento
histórico da sociedade humana. O indivíduo é colocado diante de uma imensidade
de riquezas acumuladas ao longo dos séculos por inumeráveis gerações de homens,
os únicos seres, no nosso planeta, que são criadores. As gerações humanas
morrem e sucedem-se, mas aquilo que criaram passa às gerações seguintes que
multiplicam e aperfeiçoam pelo trabalho e pela luta as riquezas que lhes foram transmitidas
e passam o testemunho do desenvolvimento da humanidade. [...] Mas é um
ideal acessível o do desenvolvimento no homem de todas as suas aptidões
humanas? A força deste preconceito profundamente enraizado nos espíritos,
segundo o qual o desenvolvimento espiritual do homem tem a sua origem em si
mesmo, é tão grande que ela a por o problema ao contrário: não seria a
aquisição dos progressos da ciência a condição da formação das aptidões
científicas, mas as aptidões científicas que seriam a condição desta aquisição:
não será a apropriação da arte a condição do desenvolvimento do talento
artístico, mas o talento artístico que condicionará a apropriação da arte.
Citam-se em apoio desta teoria fatos que testemunham da aptidão de uns e da
incapacidade total de outros para tal ou tal atividade, sem mesmo se interrogam
donde vêm estas aptidões; tem-se geralmente a espontaneidade da sua primeira aparição
por prova da sua idoneidade. O verdadeiro problema não está, portanto, na
aptidão ou inaptidão das pessoas paras se tornarem senhores das aquisições da
cultura humana, fazer delas aquisições da sua personalidade e dar-lhe a sua
contribuição. O fundo do problema é que cada homem, cada povo tenha a
possibilidade prática de tomar o caminho de um desenvolvimento que nada
entrave. Tal é o fim para o qual deve tender agora a humanidade virada para o
progresso. [...]. Trechos extraídos da obra O desenvolvimento do
psiquismo (Livros Horizonte, 1978), do psicólogo russo Alexis
Nikolaevich Leontiev (1903-1979). Veja mais aqui & aqui.
O PROTAGONISMO
DA MULHER - [...] Esses cuidados derivam da percepção comercial de que, apesar
de quererem ler sobre sexo, muitas mulheres ainda se assustam com o explícito,
como os órgãos sexuais sendo citados. Curiosamente, a própria vagina é a menos
mencionada, mesmo com as narrações sempre sendo da personagem feminina e em
primeira pessoa. Como o objetivo é vender, suaviza-se e simplifica-se a
linguagem para atender ao maior número de pessoas possível, sempre se
preocupando com a ideia do que é vulgar, segundo o senso comum. [...] Nas
reuniões de consolidação de vocabulário, que eram formais ou informais, estavam
presentes mulheres de diferentes faixas etárias, pois a intenção era que todas se
identificassem com o que estava sendo contado. Livros eróticos têm diversas gírias
e o jeito de falar de sexo varia de acordo com a idade. Discutia-se se era melhor
usar “excitada”, “molhada”, “úmida” ou “molhadinha” em cenas que descreviam a
excitação sexual da mulher e “enfiar”, “meter” ou “penetrar” em cenas onde o
homem penetrava a mulher. O objetivo era que se chegasse a um denominador comum
que fizesse a cena ser entendida por todas as mulheres presentes, que fosse
excitante e também que se aproximasse o máximo possível da fala, como se fosse
uma conversa entre amigas. [...] É possível fazer as seguintes relações
entre a protagonista do conto de fada e a do romance e da literatura erótica de
hoje: a princesa passa a ser uma mulher contemporânea, que trabalha e estuda; o
padrão de beleza da personagem feminina permanece o mesmo: mulheres magras,
brancas e de cabelo liso; as duas não notam sua beleza. O príncipe, personagem
masculino, é o CEO de uma empresa, um magnata poderoso; o cavalo branco vira
carros luxuosos; o castelo vira um apartamento com decoração impecável nos
Estados Unidos; e a princesa, que era salva de situações de perigo, como
engasgar com uma maçã e morrer ou cair em um sono profundo, na literatura
erótica, é salva de si mesma, é apresentada à sexualidade e a um novo modo de
vida. [...]. Trechos extraídos da obra O protagonismo da mulher na
literatura erótica contemporânea (UFRJ, 2015), Paula Fernandes Drummond
Francklin. Veja mais aqui.
AVALOVORA – [...] Presidem este encontro o signo da
escuridão − símile de insciência e do caos− e o signo da confluência: germe do
cosmos e evocador da ordenação mental. Terra, espaço, Lua, movimento, Sol e
tempo preparam a conjugação da simetria e das trevas [...]. Trecho extraído
da obra Avalovara (Companhia das Letras, 1995), do escritor e dramaturgo
Osman Lins (1924-1978). Veja mais aqui.
OS POEMAS - Os poemas são pássaros que chegam \ não se sabe de onde e pousam \ no livro que lês.\ Quando fechas o livro, eles alçam voo\ como de um alçapão.\ Eles não têm pouso\ nem porto\ alimentam-se um instante em cada par de mãos\ e partem. \ E olhas, então, essas tuas mãos vazias, \ no maravilhado espanto de saberes\ que o alimento deles já estava em ti.... Poema do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
O CÂNTICO DOS BRAVOS - Sobreviverei apesar das doenças e dos inimigos \ como uma águia no pico mais alto. \ Aproximo-me do sol com desprezo \ e das nuvens, da chuva e de todos os presságios desfavoráveis. \ Ando sonhadoramente pelo mundo dos sentimentos \ enquanto canto. Esta é a natureza dos poetas. Versos do poeta tunisiano Aboul-Qacem Echebbi (1909-1934).
CRÔNICA DE AMOR
POR ELA