quinta-feira, maio 07, 2015

HUME, KAVÁFIS, BRAHMS, BORNHEIM, BUKOVSKI, MULLOVA, IMANOL, MONICA FERNANDEZ, VELTA & APLE.

Imagem: In silence I lose (en um silencio me pierdo), da artista plástica mexicana Monica Fernandez.

Ouvindo Violin Sonatas 1-3 / Violin Concerto (2006), do compositor do Romantismo alemão Johannes Brahms (1833-1897), na interpretação da violinista russa Viktoria Mullova, regência de Claudio Abbado, Berlin Philharmonic Orchestra.

INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENTENDIMENTO HUMANO – O livro Investigação sobre o entendimento humano (Abril, 1979), do filósofo, historiador e ensaísta escocês David Hume (1711-1776), aborda temas como das diferentes espécies de filosofia, da origem e da associação de ideias, dúvidas céticas sobre as operações do entendimento, solução cética das duvidas, da probabilidade, da ideia de conexão necessária, da liberdade e da necessidade, da razão dos animais, dos milagres, de uma providencia particular e de um estado futuro, da filosofia cética ou acadêmica, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho inicial: A filosofia moral, ou ciência da natureza humana, pode ser tratada de duas maneiras diferentes; cada uma delas tem seu mérito peculiar e pode contribuir para o entretenimento, instrução e reforma da humanidade. A primeira considera o homem como nascido prin cipalmente para a ação; como influenciado em suas avaliações pelo gosto e pelo sentimento; perseguindo um objeto e evitando outro, segundo o valor que esses objetos parecem possuir e de acordo com a luz sob a qual eles próprios se apresentam. Como se admite que a virtude é o mais valioso dos objetos, os filósofos desta classe pintam-na com as mais agradáveis cores e, valendo-se da poesia e da eloquência, discorrem acerca do assunto de maneira fácil e clara: o mais adequado para agradar a imaginação e cativar as inclinações. Escolhem, na vida cotidiana, as observações e exemplos mais notáveis, colocam os caracteres opostos num contraste adequado e, atraindo-nos para os caminhos da virtude com visões de glória e de felicidade, dirigem nossos passos nestes caminhos com os mais sadios preceitos e os mais ilustres exemplos. Fazem-nos sentir a diferença entre o vício e a virtude; excitam e regulam nossos sentimentos; e se eles podem dirigir nossos corações para o amor da probidade e da verdadeira honra, pensam que atingiram plenamente o fim de todos os seus esforços. Veja mais aqui.

O SENTIDO E A MÁSCARA – O livro O sentido e a máscara (Perspectiva, 1975), do filósofo, professor e crítico de teatro brasileiro Gerd Bornheim (1929-2002), aborda temas como as questões do teatro contemporâneo, a compreensão do teatro de vanguarda, Ionesco e o Teatro Puro, duas características do Expressionismo, breves observações sobre o sentido e a evolução do trágico, Kleist e a condição romântica, Egmont de Goethe, vigência de Brecht, a proposito de Jacques e a submissão de Ionesco, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho inicial: A situação do teatro contemporâneo é extremamente complexa, para não dizer caótica. Errado, contudo, andaria quem disso inferisse que se trata de um teatro pobre, sem imaginação, desprovido de recursos maiores. Deve-se mesmo afirmar que é exatamente o contrario que se verifica: o panorama do teatro de hoje é, inegavelmente, de uma riqueza imensa, de uma pluralidade de experiências jamais vista em nenhuma fase da história da dramaturgia e da arte cênica. E é precisamente esta pujança que torna a realidade teatral problemática, complexa, e mesmo caótica. O grande problema está em captar a sua unidade, ou em estabelecer os critérios básicos que possibilitem uma visão orgânica e unitária do conjunto. Poder-se-ia pensar que essa dificuldade se deva ao fato de ainda não dispormos da suficiente perspectiva histórica para julgar tal estado de coisas. Isto, porém, afora de ser demasiado simples, desobriga da necessidade de uma tomada de consciência da situação. Veja mais aqui.

DESEJOS, A CIDADE E ESCULTOR DE TIANA – No livro Poemas (Nova Fronteira, 1982), do poeta grego Konstantínos Kaváfis (1863-1933), traduzido pelo também poeta José Paulo Paes, encontrei os seus belíssimos poemas, entre os quais destaco inicialmente o seu poema Desejos: Belos corpos de mortos que nunca envelhencem, com lagrimas sepultos em mausoléus brilhantes, jasmins nos pés, cabeça circundada de rosas – assim são os desejos que um dia feneceram sem chegar a cumprir-se, sem conhecerem antes o prazer de uma noite ou a manhã luminosa. Também meritório de destaque o seu poema A cidade: Dizes: vou partir / Para outras terras, para outros mares / Para uma cidade tão bela / Como esta nunca foi nem pode ser / Esta cidade onde a cada passo se aperta / O nó corredio: coração sepultado na tumba de um corpo, / Coração inútil, gasto, quanto tempo ainda / Será preciso ficar confinado entre as paredes / Das ruelas de um espírito banal? / Para onde quer que olhe / Só vejo as sombras ruínas da minha vida. / Tantos anos vividos, desperdiçados / Tantos anos perdidos. Por fim, o poema Escultor de Tiana: Conforme ireis ouvir, eu não sou principiante. / Muita pedra passou-me pelas mãos. / Em minha pátria, Tiana, muitos são / que me conhecem. Estátuas em profusão / os senadores têm-me encomendado. / Já vou mostrar / algumas delas. Contemplai esta Réia vetusta, / cheia de fortaleza, venerável, augusta. / Vede Pompeu. Vede Mário, Emílio Paulo, / Cipião o Africano, todos lado a lado, / imagens tão fiéis quanto a um artesão / é dado fazer. Pátrocolo (que devo retocar). / Cesarião ali está, um pouco adiante, / junto ao bloco de mármore amarelado. / Uma estátua de Poseidon agora tenho em mente. / Preocupa-me nessa obra, principalmente, / como esculpir os cavalos, difícil questão. / É mister que seus corpos e seus cascos / revelem claramente, tão ligeiros eles são, / voar sobre as águas, não pisar o chão. / Mas eis, de minhas obras, a que amo realmente, / aquela em que pus maior empenho e maior emoção; / ao ascender meu espírito ao mundo do Ideal, / num certo dia do mais cálido verão, / sonhou esta imagem do jovem Hermes imortal. Veja mais aqui.

MULHERES – A obra Mulheres (L&PM, 2011), do escritor estadunidense nascido na Alemanha Charles Bukowski (1920-1994), conta a história de um casal, o cinquentão alcoolatra, misantropo e amante de música clássica Henry Chinaski (alter ego do autor) e a escultora divorciada Lydia. Depois de um jejum sexual longuíssimo no qual não desejava mulher alguma, ele passa a ter vários relacionamentos que são enlouquecedores e rompidos para sofrimento delas. Da obra destaco o trecho inicial: Eu tinha cinquenta anos e há quatro não ia pra cama com nenhuma mulher. Não tinha amigas. Olhava pras mulheres nas ruas ou em qualquer lugar que as visse, mas olhava sem desejo e com uma impressão de futilidade. Me masturbava regularmente, mas a ideia de ter um relacionamento com uma mulher – mesmo em termos não sexuais – estava além da minha imaginação. Eu tinha uma filha ilegítima de seis anos. Vivia com a mãe, e eu pagava pensão pra criança. Anos antes, tinha me casado, aos 35. Durou dois anos e meio. Minha mulher pediu divórcio. Só estive apaixonado uma vez – ela morreu de alcoolismo agudo, aos 48, quando eu tinha 38. Já minha mulher era 12 anos mais jovem que eu. Deve estar morta também, não tenho certeza. Ela me escrevia uma longa carta todo Natal nos primeiros seis anos depois do divórcio. Nunca respondi... Não lembro bem quando vi Lydia Vance pela primeira vez. Foi há cerca de seis anos, eu tinha acabado de largar um emprego de doze anos como funcionário dos Correios e estava tentando virar escritor. Estava morrendo de medo e bebia mais do que nunca. Tentava escrever meu primeiro romance. Bebia meio litro de uísque e uma dúzia de meias-cervejas, todas as noites, enquanto escrevia. Fumava charutos baratos e datilografava e bebia e escutava música clássica no rádio até de madrugada. Fixara uma meta de dez páginas por noite, mas nunca sabia, até a manhã seguinte, quantas páginas tinha escrito. Levantava de manhã, vomitava, ia até a sala e conferia no sofá quantas folhas tinha ali. Sempre passavam das minhas dez. Às vezes tinha 17, 18, 23, 25 páginas. Claro que o trabalho de cada noite tinha que ser desbastado ou tinha que ser jogado fora. Gastei 21 noites pra escrever meu primeiro romance. Os proprietários do condomínio em que eu morava viviam nos fundos e achavam que eu era maluco. Todas as manhãs, ao acordar, tinha um saco enorme de supermercado na minha porta. O conteúdo variava, mas, em geral, tinha tomates, rabanetes, laranjas, cebolinhas, latas de sopa, cebolas. Uma ou outra noite eu bebia cerveja com eles até quatro ou cinco da madrugada. O velho se apagava, e a velha e eu ficávamos de mãos dadas, e eu dava uns beijos nela de vez em quando. Sempre dava um beijão nela na porta. Era enrugada pra danar, mas o que é que ela podia fazer? Era católica e ficava uma gracinha quando botava seu chapéu cor-de-rosa e saía pra igreja, domingo de manhã. Veja mais aqui.

ACADEMIA PALMARENSE DE LETRAS – Fiquei bastante feliz e lisonjeado com o convite recebido do amigo Juarez Carlos da Silva, me convidando para o9 lançamento da sua obra literária Academia Palmarense de Letras (APLE), que acontecerá no dia 09 de junho – dia dos festejos da emancipação política da cidade -, às 20hs, no Teatro Cinema Apolo, na cidade da Mata Sul pernambucana, Palmares. Meus parabéns e votos de sucesso para o caro amigo e obrigado pelo convite. Veja mais aqui.

O REI PASMADO E A RAINHA NUA – A comédia Rei pasmado e rainha nua (1991), do diretor espanhol Imanol Uribe, é baseada no romance homônimo (Crónica del rey pasmado, 1989 – Rosa dos Tempos, 1993), do escritor, professor, dramaturgo e jornalista espanhol da Geração de 36, Gonzalo Torrente Ballester (1910-1999), narrando uma histórica ocorrida em 1620, durante o período da inquisição na época do Absolutismo, em que um jovem  rei, tendo perdido a virgindade com uma prostituta, fica motivado com a possibilidade de ver a rainha nua. Trata-se de uma dessas comédias para lá de engraçadas e inesquecíveis com um elenco de primeira e que não resisto a rever sempre que posso. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A heroína brasileiríssima Velta, do quadrinista paraibano Emir Ribeiro. Veja mais aqui, aqui e aqui


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A literatura de Juan Carlos Onetti aqui e aqui.
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