VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? – De
antemão: aquele abraço! (com a trilha sonora de Gilberto Gil: “O Rio de Janeiro continua lindo...”). E
aprumando a conversa: mesmo sabendo, como diz o memorável Nelson Rodrigues, que
as pessoas não entendem o carinho porque desconfiadas levam pro campo da
falsidade, mas captam e sacam logo a bofetada, a delicadeza é imprescindível.
Isso leva a gente pra entender melhor a teoria do reforço vicariante de Albert
Bandura: se na televisão só aparece agressões, se em casa a gente só vê ameaça
na comunicação dos parentes, se na esquina brotam discussões arrepiadas com
ofensas, desmoralizações e risco no chão (cara dum, cara doutro, quem não pisar
é gafanhoto - só que com correrias de balas, facas ou escoriações), e se no
frigir dos ovos, enfim, tudo é na base do vai ou racha - e do desafiador: me
respeite! Você não sabe com quem está falando -, tanto se busca consensos que a
gente só se depara com a plenitude do litígio. Ora, ora. Cadê o abraço? E a
gentileza? Vamos desarmar: aquele abraço! Levar por menos dá menos prejuízo. E salve
a diferença, a biodiversidade! Salve a ativista pela paz Betty Williams (Nobel
da Paz, 1976). E pra você, pessoamiga, vou entoando a minha Crença: [...] É
preciso respeitar as diferenças e não se equiparar ao que é hostil das
desavenças. Lutar contra a mantença
desigual que forja o algoz na força do poder irracional. Se entregar agora, todo dia e a noite inteira,
testemunhar assim as coisas verdadeiras. Colher a lágrima do olhar mais
desolado para irrigar a sede do carinho devastado. É preciso ter no olhar a
flor da vida, trazer a luz do sol nas mãos amanhecidas. E perceber o amor no
menor gesto natural para valer o sonho mais presente mais real. E vamos aprumar
a conversa! Aprume aqui.
Imagem: Reclining Nude, da pintora impressionista estadunidense Mary Cassatt (1844-1926)
Curtindo o álbum do ciclo compreendido pelas quatro óperas épicas Der Ring des Nibelungen (1848 - Deutsche Grammophon, 1994), do compositor, maestro, diretor de teatro e ensaísta alemão Richard Wagner (1813-1883), performed by the Metropolitan Opera Orchestra directed by James Levine.
A
ESPADA DA DEUSA – No
livro O oceano de rios de contos
(Séc. XI), composta pelo monge sul indiano e pensador revolucionário Somadeva Suri (920-966), também autor
da obra Upasakadyayana – uma seção do champu Yashastilaka –, do Nitivakyamrtam
(Néctar da Ciência Polity) e do Yashastilaka, há a narrativa denominada A
espada da deusa, da qual destaco os seguintes trechos na tradução de José Paulo
Paes: [...] No comum desejo de chegarem a
ter filhos, tato o rei como suas duas esposas ofereciam constantes sacrifícios
a Ambica, jejuando amiúde e dormindo sobre duros leitos de darba. Conquista por
essas devotas oferendas, a deusa, que sempre se mostra propicia aos homens
piedosos, apareceu um dia em sonhos ao príncipe, entregou-lhe duas maçãs nunca
vistas iguais na Terra e lhe disse: - Levanta-te, dá estas frutas de comer às
tuas mulheres e terás dois filhos que assombrarão o mundo com as suas proezas.
Ditas essas palavras, a figura da deusa desapareceu do sonho e quando o rei
despertou, na manhã seguinte, viu, com gratíssima surpresa, que tinha em mãos
as duas frutas que vira em sonhos. [...] Por mais adversa que a sorte se nos apresente, e por muito que os
obstáculos nos tolham o passo, o homem nobre e generoso alcançará sempre o seu
fim. Veja mais aqui.
PIGMALIÃO – A peça teatral em cinco atos Pigmalião (1913), do dramaturgo,
escritor e jornalista irlandês Bernard
Shaw (1856-1950), conta a história de uma mendiga que vende flores pelas
ruas escuras de Londres e é transformada em mulher da alta sociedade. Da obra
destaco o trecho inicial na tradução de Millôr Fernandes: Londres, às 11h15 da noite. Torrentes de chuva,
grossa, de verão. Apitos frenéticos em todas as direções, chamando táxis.
Pessoas correm, buscando abrigo no pórtico da igreja de São Paulo (não a
catedral de Wren, a igreja de Inigo Jones, no mercado de legumes de Covent Garden).
Entre essas estão uma senhora e sua filha, vestidas com roupas de gala. Todos
contemplam a chuva com olhar desesperançado, exceto um homem que, de costas pro
resto, está apenas preocupado com o que escreve num caderno de notas. O relógio
da igreja bate um quarto de hora. Filha: (Encolhida no espaço entre as colunas centrais do
pórtico.) Estou gelada até os ossos. Onde é que Freddy se
meteu esse tempo todo? Saiu daqui há mais de meia hora. Mãe: (À direita da filha.) Que é isso? Não tem nem dez
minutos. Está arranjando o táxi. Homem: (À direita da senhora.) Êli num vai pergá carro ninhum
cum essi toró, num sinhora. Só lá pras meia-noite. Dispois do pensoal todu dus
triatru i pra casa drumi. Mãe: Mas nós temos que arranjar um
táxi. Não pode mos permanecer aqui, de pé, até à meia-noite. Não é possível que
não haja um táxi. Homem: Num mi olha ansim não, madama. A
curpa num é minha. Filha: Se Freddy tivesse um mínimo de
iniciativa tinha pegado um táxi na porta do teatro. Mãe: O que é que o rapaz podia fazer com aquela multidão?
Filha: A multidão toda pegou táxi. Só ele é que não. (Freddy se materializa no meio da chuva, vindo do
lado da rua Southampton. Vem fechando um guarda-chuva. Está todo molhado. É um
rapaz de vinte anos, já com acentuada gordura na cintura. Veste smoking.) Filha: Quer dizer que você não arranjou
um táxi? Freddy: Nem com dinheiro, nem com
conversa. Mãe: Ah, Freddy, não é possível. Você
desistiu logo! Tem que haver um táxi. Filha: Coisa mais cansativa. Você quer
que eu e mamãe saiamos correndo por aí atrás de um carro? Freddy: Eu já disse; estão todos ocupados. A chuva caiu de
repente; ninguém estava preparado; todo mundo correu pros táxis. Fui até
Charing Cross e, depois, pro outro lado, andei até Ludgate Circus; não passou
um táxi vazio. Mãe: Você tentou na praça Trafalgar? Freddy: Lá é que não tem mesmo nenhum. Nem vazio nem cheio.
Mãe: Você foi até lá? Freddy: Fui até a estação de Charing
Cross, já disse. A senhora queria que eu andasse até Westminter? Era melhor ir
a pé pra casa. Filha: Você desiste com uma facilidade. Mãe: Você é mesmo tão sem expediente, Freddy. Procura de
novo, de qualquer maneira; e não me volta aqui sem um táxi. Freddy: Vou me ensopar à toa. Bem, eu que me sacrifique. Filha: E nós; vamos ficar a noite inteira aqui, nesta ventania,
só com essa roupinha no corpo? Que egoísmo, meu Deus... Freddy: Está bem, eu vou, eu vou. Eu já disse, eu vou. (Abre o guarda-chuva.) Lá vou eu. (Sai correndo na direção de Strand, mas colide com
uma florista que vem correndo em direção contrária, procurando abrigo. Joga o
cesto dela no chão. Um fulgor de raio, seguido pelo estrondo de um trovão,
orquestra e ilumina o incidente.) [...]
A obra foi adaptada para o cinema como o nome de My Fair Lady (Minha Bela Dama,
1964). Veja mais aqui e aqui.
POEMAS:
VENTOS, LER & DOS ENCANTAMENTOS –
Tive um prazer enorme ao conhecer o excelente blog Poemas, do escritor gaúcho Pedro
Du Bois, no qual ele reúne seus poemas e postagens. Ele foi vencedor do
Premio Literário Livraria Asabeça pelo livro Os objetos e as coisas (Scortecci,
2005), e é membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos
Escritores Piracicaba. Da sua lavra destaco inicialmente o seu poema
Ventos: Busco no vento / a invenção / da
poeira suspensa / na inovação / do papel esvoaçante / na renovação / da terra
revolvida / na entonação / do surdo canto do pássaro / caído em correntes
aéreas / desfavoráveis ao voo / aos pássaros o vento / limita facilidades /
para se locomoverem / quedas ensinam aos ventos / a dosagem das passagens.
Também é meritório de registro o seu poema Ler: que mais / (além de ler) / posso fazer / nestes dias de inúteis
notícias / de grades / e portas trancadas / onde pessoas / imobilizadas esperam
/ o passar das datas / na esperança de enriquecerem / no soar das trombetas populares?
/eco-invadido (dis)penso o futuro / e me remeto / ao tempo imprevidente / onde
canções não contam músicas / e letras trôpegas represam / acordes inconclusos /
rasgo paredes no ocaso / fechado ao porvir melindroso dos iconoclastas /
distribuídos em tribos entre deuses acostumados / aos pedidos e aos receberes
de tão pouco / na leitura obtusa escondida em alforjes / viajo minha vida
desinteressada / de progressos menores / e do chegar ao final / das obras
(in)satisfeitas. Por fim, destaco Dos encantamentos: dos encantamentos tenho lembranças / em uníssimas cordas distendidas /
nos corpos sobre a pedra no afago / com que o carrasco pensa usufruir / a dor
do condenado no espasmo / que o arremete ao nada / dos encantamentos tenho a
realidade / erma de dias isentos em claridades / na espera do corte de lascas
de cimento / com a ponta dos dedos desprovidos / de vaidade e veleidade / dos
encantamentos tenho o subterfúgio / em que as horas são substituídas / na
ilusória atemporalidade do passado. Veja mais aqui.
DAS
PARFUM – O romance O perfume (Das parfum – Record, 1985), do escritor alemão Patrick Süskind,
conta a história de um homem do séc. XVIII, em Paris, que nasceu no meio de
tripas de peixe atrás de uma banca, com um olfato apurado extraordinariamente e
que não possui cheiro próprio. Sua mãe era uma peixeira que foi executada por
infanticídios logo após seu nascimento. Por causa do seu olfato apuradíssimo,
torna-se aprendiz de perfumista e passa a criar fragrâncias dos mais diversos
aromas. A sua busca pelo perfume perfeito leva-o a cometer assassinatos contra
mulheres que lhe chamavam atenção pelo odor, até o final da tragédia de sua
vida. Essa obra foi adaptada para o cinema em 2006, com direção de Tom Tykwer,
no qual se destaca o desempenho da bela atriz alemã Karoline Herfurth. O romance também inspirou o cantor, compositor e
músico estadunidense Kurt Cobain (1967-1994), na canção Scentless Apprentice,
gravada no álbum In Utero (1993), da banda Nirvana. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Hoje é dia da memorável atriz estadunidense
Susan Strasberg (1938-1999).
Veja mais sobre:
Mãe é mãe & Deus proteja a minha, a
sua, a nossa & o da mãe-joana & e das mães (do guarda, do juiz de
futebol e dos políticos) que são coitadas!, Inteligência emocional de John Gottman, o teatro de Máximo
Gorki, a poesia de Jorge Tufic, a música de Caetano Veloso,
Travessuras de mãe de Denise Fraga, a arte de Luciah Lopez , a pintura de Gustav Klimt & Lena Gal aqui.
E mais:
A literatura de Aníbal Machado, Teoria da
alienação de István Mészarós, Semiologia da representação de André Helbo, o
cinema de Roberto Rossellini & Anna Magnani, a música de Keith Jarret,
Erótica pornográfica de J. J. Sobral, a pintura de Jean-Léon Gérome.&
Almeida Junior aqui.
Direitos humanos fundamentais aqui.
A arte de Dhara - Maria Alzira Barros aqui.
Exercício de admiração de Emil Cioran.
Abril despedaçado de Ismail Kadaré, O teatro de arte de Meyerhold, Fridha
Khalo, A música de Badi Assad, A pintura de Karel Appel, Carlota Joaquina &
Clube Caiubi de Compositores aqui.
Brincarte do Nitolino, Tratado lógico-filosófico de Ludwig
Wittgenstein, o teatro futurista de Filippo Marinetti, a literatura de Azar
Nafisi, a música de Nelson Freire, a pintura de Eugène Delacroix, Augustine de
Charcot, a arte de SoKo, a fotografia de John De Mirjian, a cangaceira Dadá
& O eco da trombeta de Maria Iraci Leal aqui.
A sina de Agar, A nascente de Ayn Rand, o teatro de
Jean-Louis Barrault, Mundos oscilantes de Adalgisa Nery, a literatura de Anita
Loos, a música de Cláudia Riccitelli & The Bossa Nova exciting Jazz
Samba Rhythms, a pintura de Jose Gutierrez de la Vega & Amor como
princípio de Delasnieve Daspet aqui.
Canto de circo de Osman Lins, a arte de
Paul Éluard, a música de Paulo César Pinheiro, o teatro de Adolphe Appia, a
poesia de Alberto de Oliveira, o cinema de Pedro Almodóvar & Penélope Cruz,
a pintura de Francesco Hayez & José Malhoa, A travessia poética de Valéria
Pisauro & Programa Tataritaritatá aqui.
Três poemas & a dança revelou o
amor... aqui.
A dança dos meninos, a poesia de Manuel Bandeira & João
Cabral de Melo Neto, A dançarina de Yasunari Kawabata, A dança poética de Amiri
Baraka, A dançarina do Kama Sutra de Kama Sutra, de Vatsyayana, a música de
Isabel Soveral & António Chagas Rosa, a pintura de Jose Manuel Abraham, Pas
de Deux & a fotografia de M. Richard Kirstel, Dança Alagoas & Ary
Buarque aqui.
O voo da mulher & mulheres no mundo, o teatro de Federico Garcia Lorca, Os
adoradores de cabras de Gianni Guadalupi & Alberto Manguel, a música de
Duke Ellington, o cinema de Lars von Trier & Nicole Kidman, a arte de
Tatiana Parcero & Caco Galhardo, Como veio a primeira chuva & Pétalas
do Silêncio de Rô Lopes aqui.
O dono da razão, a poesia de Murilo Mendes, Identidade e
etnia de Carlos Rodrigues Brandão, Fundamentos da educação de Maria
Sérgio Michaliszyn, a pintura de Jules Pascin, a arte de Francisco
Zúñiga & a música de Ju Martins aqui.
Não era pra ser, nem foi, Entre a vida e a morte de Nathalie
Sarraute, a música de Galina Ustvolskaya, a fotografia de Takashi Aman, o ativismo de Emmeline Parnkhurst, o cinema
de Sarah Gravon & Carey Mulligan, a gravura de Jean-Frédéric Maximilien de Waldeck, a arte de
Paul-Émile Chabas & Carlos Alberto Santos aqui.
A esperança equilibrista, O espaço da cidadania de Milton Santos,
Admirável mundo novo de Aldous Huxley, Os saberes da educação de Edgar Morin, a
música de Vivaldi & Michala Petri, a fotografia de Andreas
Feininger, a pintura de Gianluca Mantovani & Jose
De la Barra, a arte de Daniele Lunghin & Dave
Stevens aqui.
Eita! Vou por ali no que vem e que vai, a literatura de Ítalo Calvino, Os tempos
da Praieira de Costa Porto, a poesia de Louise Glück,
Neurofilosofia & Neurociências, a música de Edson Zampronha, Betina Muller
& Mike Edwards, a arte de Laszlo Moholy-Nagy & Anke
Catesby aqui.
O aperto que virou vexame trágico, As estratégias sensíveis de Muniz
Sodré, a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, Tecnologias: memórias e
esquecimentos de Maria Cristina Franco Ferraz, a fotografia de Alexander
Yakovlev, a arte de William Mulready & Doris Savard, a pintura de Angelo
Hasse, a música de Asaph Eleutério, Ricardo
Loureiro & Rádio Estrada 55 aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis
Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.