domingo, maio 10, 2015

NANCY FRASER, ARIEL SALLEH, BAKHTIN, CAMUS, LUIZ GONZAGA & ZETAFUL

 


O QUASE MEGANHA - Zetaful era curioso e desconfiado de nascença. Tudo queria saber e meter o bedelho da dívida no meio do troço todo. De tanto intrometer seu nariz nas coisas foi crescendo com seu olhar aquilino, nariz graúdo e adunco, um riso sardônico pela beirada dos beiços, um ar diabólico. Logo no jardim da infância ganhou o apelido salutar de baba-ovo. Daí pro primário passou pra dedo-duro lambecu, leva&traz da professora entregando as cabeludas traquinagens. No ginasial era o cheleléu do censor: o primeiro a se perfilar com os pulmões cheios, mão direita espalmada ao peito estufado esquerdo, aos berros com os versos do Hino Nacional. Era comum vê-lo batendo os calcanhares na pisada e às continências para meganhas e autoridades, pois sonhada um dia usar farda e quepe. No colegial esmerou-se e ganhou o apelido de araque: todo dia delações às ouças do bispo que era o diretor, sobre a conduta pecaminosa das meninas saidinhas, do comunismo dos rebeldes, dos nefastos mal-encarados, fuxicos e suspeitas. Pouco tempo depois era tratado aos apupos por chumbeta. Aos 17 anos alistou-se todo envaidecido, só que crescera muito e virou um varapau famélico, de corcova e ar sinistro: Pronde vai esse esquelético? Foi dispensado. Isso causou-lhe o primeiro desapontamento na vida. O sonho se esfacelara de deixa-lo abatumado pelos cantos, piongo de fazer dó. Um professor de civismo encheu-lhe das atenções, orientando-o ao concurso da polícia militar. Aí pegou gás, inscreveu-se, estudou com afinco, contava nos dedos os dias dos meses da prova, caprichou na entrada do portão e aprumou os chutes nas questões: Tô feito! Ansioso pelo resultado: não passou. Voltou-se pro da polícia civil, novo malogro. Ah, a guarda municipal, essa é canja! E danou-se no processo seletivo, reprovado. Eita, lasqueira! E agora? Concluído o colegial era a hora da faculdade: começou a fazer ponto na porta da delegacia. Não demorou muito lá ia ele todo furtivo catando intrigas e litígios, facilitando pros agentes. Fez amizade com o escrivão que lhe dava ordens de faz-tudo: conserta ali, varre aqui, leva o recado pra lá, vai comprar um brebote acolá, e assim se deu aos pedidos, carregamentos, ajeitados de bregueços, despachos de crianças pras escolas, quebra-galho das esposas, inspecionava os presos, pegava encomendas acertadas, trouxas de roupas pra lavanderia, pagava as caranhas, engraxava botas, levava botijão de gás na cacunda, encerava o piso, carregava feira, portava as valises alheias, conta pro juiz, acordo pro promotor, intimação de advogado, dava banho em bêbado, dava pisa em atrevido mais fraco, atirava no pé de safado e dava bronca: Foi o delegado que mandou! E comeu merda, rasgou dinheiro e foi parar no hospício, se passando por general de 10 estrelas, enrolado num golpe de estado pra deixar a cidade independente do país e ele queria mandar e desmandar como ditador. Ainda hoje eu vi o biruta marchando meio dia em ponto rua acima e abaixo, coitado! Veja mais aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - A violência, em todas as suas formas, é parte integrante do funcionamento cotidiano da sociedade capitalista – pois é somente por meio de uma mistura de coerção bruta e consentimento construído que o sistema pode se sustentar nos melhores momentos. Uma forma de violência não pode ser interrompida sem interromper as outras. Pensamento da filósofa estadunidense Nancy Fraser, que na sua obra Fortunes of Feminism: From State-Managed Capitalism to Neoliberal Crisis (Verso, 2013), expressou: […] à medida que o neoliberalismo entrou em sua crise atual, o desejo de reinventar o radicalismo feminista pode estar revivendo. Em um Ato Três que ainda está se desenrolando, poderíamos ver um feminismo revigorado se juntar a outras forças emancipatórias visando submeter mercados descontrolados ao controle democrático. Nesse caso, o movimento recuperaria seu espírito insurrecional, ao mesmo tempo em que aprofundava seus insights característicos: sua crítica estrutural do androcentrismo do capitalismo, sua análise sistêmica da dominação masculina e suas revisões sensíveis ao gênero da democracia e da justiça. [...] Aqui, consequentemente, encontramos dois conjuntos principais de instituições que despolitizam as necessidades sociais: primeiro, instituições domésticas, especialmente a forma doméstica normativa, a saber, a família nuclear moderna, chefiada por homens; e, segundo, instituições do sistema capitalista econômico-oficial, especialmente locais de trabalho remunerados, mercados, mecanismos de crédito e empresas e corporações “privadas”. As instituições domésticas despolitizam certas questões personalizando-as e/ou familiarizando-as; elas as transformam em questões privadas-domésticas ou pessoais-familiares em contraposição a questões públicas e políticas. As instituições do sistema capitalista econômico-oficial despolitizam certas questões economizando-as; as questões em questão aqui são transformadas em imperativos de mercado impessoais ou como prerrogativas de propriedade “privada” ou como problemas técnicos para gerentes e planejadores, tudo em contraposição a questões políticas. [...] Enquanto o modelo Universal Breadwinner penaliza as mulheres por não serem como os homens, o modelo Caregiver Parity as relega a uma “trilha de mamãe” inferior. Concluo, portanto, que as feministas devem desenvolver um terceiro modelo — “Universal Caregiver” — que induziria os homens a se tornarem mais como as mulheres são agora: pessoas que combinam emprego com responsabilidades de cuidado primário. Tratando os padrões de vida atuais das mulheres como a norma, esse modelo teria como objetivo superar a separação entre o ganha-pão e o trabalho de cuidado. Evitando tanto o trabalhismo do Universal Breadwinner quanto o privatismo doméstico da Caregiver Parity, ele visa fornecer justiça de gênero e segurança para todos. [...]. Sobre o feminismo ela ainda expressa: Como eu vejo, o feminismo dominante do nosso tempo adotou uma abordagem que não consegue alcançar justiça nem para as mulheres, muito menos para qualquer outra pessoa. O problema é que esse feminismo está focado em encorajar mulheres educadas de classe média a "se inclinarem" e "quebrarem o teto de vidro" — em outras palavras, a subirem na escada corporativa. Por definição, então, suas beneficiárias só podem ser mulheres da classe profissional-gerencial. E na ausência de mudanças estruturais na sociedade capitalista, essas mulheres só podem se beneficiar ao se apoiarem em outras — ao descarregarem seu próprio trabalho de cuidado e trabalho doméstico em trabalhadoras precárias e de baixa renda, tipicamente mulheres racializadas e/ou imigrantes. Então isso não é, e não pode ser, um feminismo para todas as mulheres! Mas isso não é tudo. O feminismo convencional adotou uma visão tênue e centrada no mercado de igualdade, que se encaixa perfeitamente com a visão corporativa neoliberal predominante. Então, ele tende a se alinhar com uma forma especialmente predatória de capitalismo do tipo "o vencedor leva tudo", que está engordando investidores ao canibalizar os padrões de vida de todos os outros. Pior ainda, esse feminismo está fornecendo um álibi para essas predações. Cada vez mais, é o pensamento feminista liberal que fornece o carisma, a aura de emancipação, na qual o neoliberalismo se baseia para legitimar sua vasta redistribuição ascendente de riqueza. Já seu no livro Scales of Justice: Reimagining Political Space in a Globalizing (World/Columbia University Press, 2009), ela expressa: [...] A terceira dimensão da justiça é política. É claro que distribuição e reconhecimento também são políticos no sentido de que ambos sofrem rejeição e o peso do poder; e normalmente são vistas como exigindo arbitragem estatal. Mas entendo a política num sentido mais específico e constitutivo, que se refere à natureza da jurisdição do Estado e às regras de decisão com as quais ele estrutura o confronto. O político, nesse sentido, fornece o palco onde as lutas por distribuição e reconhecimento se desenvolvem. Ao estabelecer os critérios de filiação social e, assim, determinar quem é considerado membro, a dimensão política da justiça especifica o escopo das outras duas dimensões: ela nos diz quem está incluído e quem está excluído do círculo daqueles que têm direito à distribuição justa e ao reconhecimento mútuo. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Um holocausto acontece entre nós: amanhã ao amanhecer, outra planta ou ave antiga estará extinta; novecentos milhões de pessoas passarão fome; rios represados correm azedos e solos ressecados se rompem; continentes fervilham de refugiados ambientais; vírus artificiais são liberados; silenciosamente, um buraco na camada de ozônio e radiação eletromagnética eliminam novas vítimas de câncer; vazamentos de óleo sufocam a vida marinha e o derretimento dos mares ameaça comunidades insulares; partes de corpos e DNA são cortados e comercializados; pessoas da cidade respiram ar sulfuroso, sua comida misturada com pesticidas de guerra; e mães dão à luz bebês gelatinosos sem membros da precipitação nuclear que circunda o globo. Você também fechará os olhos para esses crimes, o modelo linear de "progresso" exportado por um Ocidente esclarecido?... Pensamento da socióloga australiana Ariel Salleh, que no seu livro Ecofeminism as Politics: nature, Marx and the postmodern (Zed Books, 1997), ela expressa que: […] A palavra "ecofeminismo" pode ser nova, mas o pulso por trás dela sempre impulsionou os esforços das mulheres para salvar seu sustento e tornar suas comunidades seguras. Das moradoras da floresta Chipko do norte da Índia, há cerca de 300 anos, às mães da mineração de carvão dos Apalaches agora, a luta para criar sociedades que afirmem a vida continua. Ela se intensifica hoje, à medida que a globalização corporativa expande e contrai, não deixando pedra sobre pedra, nenhum corpo sem uso. A parceria de Maria Mies e Vandana Shiva simboliza esse comum terreno entre as mulheres; fala de uma energia popular que é encontrada em um movimento em todos os continentes. As feministas ecológicas são lutadoras de rua e filósofas. [...].

 

ESTÉTICA DA CRIAÇÃO VERBAL – A obra Estética da criação verbal (Martins Fontes, 1997), do filósofo e pensador russo teórico da cultura e das artes Mikhail Bakhtin (1895-1975), aborda temas como o autor e o herói, o problema do herói na atividade estética, a forma espacial do herói, o excedente da visão estética, a exterioridade: aspecto físico, configuração espacial e do ato; o corpo interior e exterior, o todo espacial, teoria do horizonte e do ambiente, o herói e sua integridade na obra de arte, a relação emotivo-volitiva com a determinação interior, problema da morte, o ritmo, a alma, o ato e a introspecção-confissão, a autobiografia e a biografia, o herói lírico, o caráter, o tipo, a hagiografia, o romance de educação na história do realismo, uma tipologia histórica do romance, os gêneros do discurso, o problema do texto, os estudos literários hoje, entre outros importantes assuntos. Do livro destaco o trecho inicial: A relação do autor com o herói, tal como se inscreve em sua arquitetônica estável e em sua dinâmica viva, deve ser compreendida tanto sob o ângulo do princípio básico a que obedece, quanto sob o ângulo das particularidades individuais que ela reveste neste ou naquele autor, nesta ou naquela obra. Propomo-nos, em primeiro lugar, definir esse princípio básico, em segundo, extrair dele os processos e os tipos de individuação e, para terminar, verificar nossas posições mediante uma análise da relação do autor com o herói nas obras de Dostoievski, Puchkin e outros. Já enfatizamos o bastante que todos os componentes de uma obra nos são dados através da reação que eles suscitam no autor, a qual engloba tanto o próprio objeto quanto a reação do herói ao objeto (uma reação a uma reação); é nesse sentido que um autor modifica todas as particularidades de um herói, seus traços característicos, os episódios de sua vida, seus atos, pensamentos, sentimentos, do mesmo modo que, na vida, reagimos com um juízo de valor a todas as manifestações daqueles que nos rodeiam: na vida, todavia, nossas reações são díspares, são reações a manifestações isoladas e não ao todo do homem, e mesmo quando o determinamos enquanto todo, definindo-o como bom, mau, egoísta, etc., expressamos unicamente a posição que adotamos a respeito dele na prática cotidiana, e esse juízo o determina menos do que traduz o que esperamos dele; ou então se tratará apenas de uma impressão aleatória produzida por esse todo ou, enfim, de uma má generalização empírica. Na vida, o que nos interessa não é o todo do homem, mas os atos isolados com os quais nos confrontamos e que, de uma maneira ou de outra, nos dizem respeito. E, como veremos mais adiante, é ainda em nós mesmos que somos menos aptos para perceber o todo da nossa pessoa. Na obra de arte, em compensação, na base das reações de um autor às manifestações isoladas do herói, haverá uma reação global ao todo do herói cujas manifestações isoladas adquirem importância no interior do conjunto constituído por esse todo, na qualidade de componentes desse todo. Essa reação a um todo é precisamente específica da reação estética que reúne o que a postura ético-cognitiva determina e julga e lhe assegura o acabamento em forma de um todo concreto-visual que é também um todo significante. Essa reação global ao herói é assinalada por uma posição de princípio, produtiva e criadora. De uma maneira geral, uma relação assinalada por uma posição de principio é produtiva e criadora. O que na vida, na cognição e no ato, designamos como objeto determinado, não recebe sua designação, seu rosto, senão através da nossa relação com ele: é nossa relação que determina o objeto e sua estrutura e não o contrário; é somente quando nossa relação se torna aleatória, como que caprichosa, quando nos afastamos da relação de princípio que estabelecemos com as coisas e com o mundo, que o objeto se nos torna alheio e fica autônomo, começa a se desagregar, abandonando-nos ao reino do aleatório no qual perdemos a nós mesmos e perdemos também a determinação estável do mundo. O autor não encontra uma visão do herói que se assinale de imediato por um princípio criador e escape ao aleatório, uma reação que se assinale de imediato por um princípio produtivo; e não é a partir de uma relação de valores, de imediato unificada, que o herói se organizará em um todo: o herói revelará muitos disfarces, máscaras aleatórias, gestos falsos, atos inesperados que dependem das reações emotivo-volitivas do autor; este terá de abrir um caminho através do caos dessas reações para desembocar em sua autêntica postura de valores e para que o rosto da personagem se estabilize, por fim, em um todo necessário. Quantos véus, que escondem a face do ser mais próximo, que parecia perfeitamente familiar, não precisamos, do mesmo modo, levantar, véus depositados nele pelas casualidades de nossas reações, de nosso relacionamento com ele e pelas situações da vida, para ver-lhe o rosto em sua verdade e seu todo. O artista que luta por uma imagem determinada e estável de um herói luta, em larga medida, consigo mesmo. Os mecanismos psicológicos desse processo não poderiam, tais como se apresentam, ser objeto de nosso estudo, pois só temos acesso indireto a eles através do que ficou depositado deles na obra de arte; em outras palavras, só através da história ideal de um sentido e das leis que lhe regem a estruturação. Quanto a determinar a causalidade temporal, o desenvolvimento psicológico desse processo, estes são pontos sobre os quais, no conjunto, ficamos à mercê das hipóteses, e eles não têm nenhuma serventia para a estética. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Imagem abstrata do artista visual francês Patrice Murciano.

Ouvindo Luiz Gonzaga Grande Música Brasil (Copacabana) com os grandes clássicos de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião (1912-1989) na interpretação sinfônica do maestro, arranjador e compositor Guerra Peixe (1914-1993). Veja mais aqui, aqui & aqui.

PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO ESPECIAL DIA DAS MÃES - Neste domingo, a partir das 10hs, realizamos mais uma edição do programa Brincarte do Nitolino, no blog MCLAM do programa Domingo Romântico. Na programação comandada pela Ísis Corrêa Naves muitas atrações: Fernanda Montenegro, Turma da Mônica, Clevane Pessoa, Monsyerrá Batista, Marcos Luedy, Pedro Bial, Tia Cris, Turma do Seu Lobato, Padre Fábio de Melo, Fábio Jr, Balão Mágico, Aline Barros, Cristina Mel, Rick & Renner, Meimei Corrêa, A Galinha Pintadinha, Bruno & Marrone & muita música, muita poesia, histórias e brincadeiras pra garotada. Confira online e ao vivo aqui ou aqui.

ESTADO DE SÍTIO – A peça teatral em três partes, Estado de Sítio (1948), do escritor, dramaturgo e filósofo francês Albert Camus (1913-1960), conta uma história pcprroda numa pequena cidade litorânea assolada pela peste e dominada pelo medo. Da obra destaco o trecho final: (Pelas portas que se abrem o vento sopra, cada vez mais forte). NADA: Há uma justiça, sim: a que fazem à minha aversão do mundo. Sim, ides recomeçar. Mas não é mais assunto meu. Não conteis comigo, para vos fornecer o perfeito culpado; não tenho a virtude da melancoplia. Ó Velho Mundo! É preciso partir. Teus carrascos estãos cansados, seu ódio tornou-se frio demais. Sei muitas coisas, o próprio desprezo cumpriu o seu tempo. Adeus, brava gente. Um dia aprendereis que não se pode viver bem sabendo que o homem nada é e que a face de Deus é horrível. (Dentro do vento que sopra tempestuoso, Nada salta o paredão e atira-se ao mar. O Pescador corre atrás dele). O PESCADOR: caiu! As vagas encolerizadas o ferem e o sufocam em suas cristas. Essa boca mentirosa enche-se de sal – e vai calar-se, enfim. Olhai! O mar furioso tem a cor das anêmonas. Ele nos vinga. Sua cólera é a nossa cólera. Ele clama a reunião de todos os homens do mar, a confraternização dos solitários. Ó vaga! Ó mar, pátria dos insurretos, eis aqui teu povo, que jamais cederá. A grande onda das profundezas, nutrida na amargura das águas, arrebatará vossas cidades horríveis! Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui e aqui.

O ARREVESADO AMOR DE PIRANGI E DONZELA – No livro O general está pintando (Globo, 1973), do escritor, advogado, dramaturgo, jornalista e tradutor Hermilo Borba Filho (1917-1976), encontrei a maravilhosa narrativa de O arrevesado amor de Pirangi e Donzela, do qual destaco o seguinte trecho: [...] Às cinco, com os alevantadores da alvora, passou Donzela, de longe o cheiro anunciando a sua presença, o vestido que já mais não era levando o lixo na barra, preta contra a claridade, cabelos para o céu, desdentada, com o saco de provisões ainda vazio, cantando como sempre à boca fechada, vez perdida uma palavra: qual? Ali nunca parara, que lhe dera na veneta? Ficou frente-frente com Pirangi, nele o nojo, riu banguela, pensou segundo deve ter cheiro de morcego, ela riu de novo, os pés levaram-na levantando poeira, o sol já se metera entre as duas torres da igreja. Em quinze noite corridas, na mesma hora, o morcego mestre-de-cerimonia, Pirangi papou a mulher que não era mulher, de cada vez depois prometendo a si mesmo que da próxima abriria bem os olhos, atento ao mais mínimo, mas nem nem, sucumbia, não sabia, era e não era, podia ser sonho, numa das vezes ate ouviu um boa-noite que não era de pássaros noturnos, não estava acontecendo nada? Comprovou o contrario em seguida com uma gota grossa de sêmen que ainda ficara, além do instrumento deslizante. Em quinze alvoradas seguidas, na mesma hora, com os alevantadores, Donzela, no mesmo cerimonial de fedor, risada, poeira. E depois das quinze noites seguidas, mais nada; e depois das quinze alvoradas seguidas, nem tampouco para mim [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,,  aqui, aqui e aqui.

TOADA DE BEIRA-RIO – No livro Pedra no lago (São José, 1956), da escritora, teatróloga e tradutora Stella Leonardos, encontro o belíssimo poema Toada de Beira-Rio, o qual transcrevo aqui: Não sou eu quem canta o Rio: / o Ro é que canta em mim / feito um rio feito um rio / feito um rio que me veia / feito um rio que me veio / do mesmo torrão que vim. / Vivo esse fluido descante / escorrendo pelas toantes / luz gratuita ou sombra só. / Ah eu Rio em sol meu canto / em perdido lá, meu canto / triste em si, meu canto em dó. / Se acaso a poesia brota / no segredo verde tropo / e nervura de canção / terá vindo do Carioca / voz guardada, voz de brota / mistério tempo-criação. / Se o acaso é desencanto / sobrevivo solo de ais, / é que saudade encantos / nas cantarias dos antes, / tempo-lagrima rolando / nas consoantes e vogais. / Feito um rio feito feito um rio / feito um rio que me veia / feito um rio que me veio / do mesmo torrão que vim, / não sou eu quem canta o Rio: / o Rio é que canta em mim. Veja mais aqui.


UNA GIORNATA PARTICOLARE – O drama Una giornata particolare (Um dia muito especial, 1977), do cineasta italiano Ettore Scola, conta a história dos vizinhos, a dona de casa Antonieta e o homossexual radialista Gabrielle que se encontram no dia da visita de Hitler à Itália fascista de Mussolini, que se descobrem em uma relação intensa durante o evento. Destaque para atuação da sempre bela atriz Sophia Loren. Veja mais aqui, aqui, aqui, aquiaqui.



















IMAGEM DO DIA
Obras do artista russo Léon Bakst (1866-1924)

Veja mais sobre:
Maria Esperantina, orgasmo de uma noite & nunca mais, a poesia de Ascenso Ferreira, O sexo na história de Reay Tannahill, a literatura de Ulrike Marie Meinhof, Oropa, França & Bahia de Alceu Valença, Trem das Alagoas de Guazzelli & a arte de Xenia Hausner aqui.

E mais:
A função do orgasmo de Wilhelm Reich, La rebelión de las masas de José Ortega y Gasset, a poesia de Ascenso Ferreira, a música de Alexander Scriabin, a pintura de Renato Alarcão, a arte de Pablo Garat, Orgazmo & O orgasmo de Esperantina aqui.
O suicídio de Karl Marx, As caçarolas de Tolinho & Bestinha, A primavera de Ginsberg & Padre Bidião aqui.
Salmo da Cana, Os doze trabalhos de Peisândro de Rodes, Os trabalhos e os dias de Hesíodo, Germinal de Émile Zola, O operário em construção de Vinicius de Moraes, a gravura de Cândido Portinari, O informe de Brodie de Jorge Luis Borges, a escultura de Auguste Rodin, a música de Chico Buarque, o teatro de Nelson Rodrigues, Tempos modernos de Chaplin, a arte de Magda Mraz & Infância, Imagem e Literatura: uma experiência psicossocial na comunidade do Jacaré – AL aqui.
Quando ela dança tangará no céu azul do amor, A condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, A estética da desaparição de Paul Virilio, a música de Anna-Sophia Mutter, a pintura de Eloir Junior & Alex Alemany, David Peterson, Luciah Lopez, a arte de Carlos Zemek & Magnum Opus de Isabel Furini aqui.
Elucubrações das horas corrida, O pensamento comunicacional de Bernard Miège, O outro por si mesmo de Jean Baudrillard, a pintura de Vicente Romero Redondo & Edilson Viriato, a coreografia de Doris Uhlich, a arte de Efigênia Rolim, Meu delírio de Érica Christieh, a música de Sarah Brasil, a arte de David Lynch & Sandra Hiromoto aqui.
Se não vai de um jeito, vai de outro, A marcha da insensatez de Barbara Tuchman, A educação com carinho de Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, a música de Kyung-Wha Chung, a pintura de Joan Miró & Eugène Leroy, a arte de Anna Dart & Eugene J. Martin, Remando no éden de Bárbara Lia, a fotografia de Faisal Iskandar, Revista Poética Brasileira & Mhario Lincoln aqui.
Palco da vida, A terceira mulher de Gilles Lipovetsky, A vida mística de Jesus de Harvey Spencer Lewis, Toda palavra de Viviane Mosé, a música de Andersen Viana, a pintura de Maria Szantho & Maxime des Touches, a arte de Katia Kimieck & Vavá Diehl, Roseli Rodrigues & Balé Teatro Guaíra aqui.
Do raiar do dia aos naufrágios crepusculares, A metafísica da realidade virtual de Michael R. Heim, História dos hebreus de Flavio Josefo, a música de Milton Nascimento & Fernando Brant, a poesia de Helena Kolody, a fotografia de André Brito, a arte de Rollandry Silvério, a pintura de George Grosz & Fernando Rosa, Estilhaços da catarse de Carla Torrini aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Frederick W. Ruckstull
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GLÓRIA STEINEM, MIN JIN LEE, LINDA SUE PARK & LADY TEMPESTADE

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Apimentada (2018) e Nossa Melhor Visão de Mundo (2023), d a compositora, pianista e profes...