domingo, maio 31, 2015

CHARB, WHITMAN, DAMRAU, PROSÉRPINA, ALLORI, BERNINI & TEATRO.


O RAPTO DE PROSÉRPINA/PERSÉFONE – Imagem: escultura O rapto de Prosérpina (1621-1522 – Galleria Borghese, Roma), do artista do Barroco italiano, Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) - Na mitologia latina Prosérpina; na mitologia grega Perséfone, a rainha do submundo (também relacionada com a deusa lusita Atégina). A filha de Júpiter e Ceres (Deméter, deusa das colheitas entre os gregos), estava colhendo flores quando foi raptada por Plutão (Hades entre os gregos), que a fez sua esposa, encantado com a sua beleza. Desesperada com o sumiço, sua mãe destruiu todas as plantações, arrando o mundo ao caos e à fome, exigindo que o deus devolvesse sua filha. Como ardil do deus, convencionou-se que a esposa passaria uma parte do ano que compreende o inverno e o outono no submundo, enquanto que na outra metade vai pra companhia da mãe, durante o verão e a primavera. Na data de hoje dá-se a culminância do Festival de Prosérpina entre os romanos. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Imagem: Venere e Cupido (1570), do pintor histórico e retratista italiano Alessandro Allori – também conhecido como Alessandro Bronzino (1535-1607).

Curtindo Poesie (2011), com a seleção orquestral e operística do compositor e maestro do Romantismo alemão, Richard Strauss (1864-1949), pela soprano dramático alemã Diana Damrau com a Münchner Philharmoniker, liderada por Christian Thielemann.



VAMOS APRUMAR A CONVERSA? PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia do programa Brincarte do Nitolino antecipando as comemorações de amanhã do Dia Mundial da Criança e aniversário da adoção da Declaração dos Direitos da Criança. Como sempre, o programa será realizado a partir das 10hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação pra lá de simpática de Isis Corrêa Naves. Na programação muitas atrações: Turma da Mônica, Banda Nova Estação Recife, Os Três Lobinhos, Farell Oliveira, Clarice Pacheco, Meimei Corrêa, Larissa Manoela, Sandra Fayad, Bita & Os Animais, Bob Zoom, Danny Pink, Eliana, Leandro & Leonardo & muita música, muita poesia, histórias e brincadeiras pra garotada. Para conferir online e ao vivo clique aqui ou aqui.

ESTA É A FORMA FÊMEA - O livro Folhas de Relva (Harbra, 2011), do poeta, ensaísta e jornalista estadunidense Walt Whitman (1819-1892), publicado primeiramente em 1855, reunindo apenas dose poemas, tendo sucessivas reedições até a sua edição de leito de morte em 1891-1892, com mais de quatrocentos poemas, sendo, pois, considerado pelo autor que cada edição era um livro próprio e distinto com alteração do conteúdo e da forma. Da obra destaco o poema Esta é a forma fêmea, traduzido por Geir Campos: Esta é a forma fêmea, /dela dos pés à cabeça emana um halo divino, / ela chama com ardente atração irrecusável, / sou absorvido por seu respirar como se não fosse mais / do que um vapor indefeso, tudo fica de lado / a não ser ela e eu, / os livros, a arte, a religião, o tempo, a terra sólida e visível, / e o que do céu se esperava e do inferno se temia, / tudo se acaba, / estranhos filamentos, incontroláveis renovos / aparecem fora dela, / e a ação correspondente também incontrolável, / cabelo, peito, quadris, curvatura de pernas, mãos displicentes / caindo todas difusas, difusas também as minhas, / maré de influxo e influxo de maré, carne de amor inturgescendo / e a doer deliciosamente, / inexauríveis jatos límpidos de amor quentes e enormes, / geléia de amor trêmula, alucinado sopro e sumo delirante, / noite de amor de noivo certa e maciamente laborando / no amanhecer prostrado, / a ondular para o presto e proveitoso dia, / perdida na separação do dia de carne doce e envolvente. / Eis o núcleo - depois vem a criança nascida de mulher, / vem o homem nascido de mulher, / eis o banho de origem, a emergência do pequeno e do grande, / e a saída outra vez. / Não vos vexeis, mulheres: em vosso privilégio tendes fechados / os outros e está a passagem dos outros, / vós sois os portões do corpo e sois os portões da alma. / A fêmea tem todas as qualidades e as tempera, / está no seu lugar e move-se com perfeito equilíbrio, / ela é todas as coisas devidamente veladas, / passiva e ativa ao mesmo tempo, / é para conceber filhas bem como filhos / e filhos bem como filhas. / Assim como eu vejo minha alma refletida na Natureza, / como vejo através de um nevoeiro, Uma de inexprimível / plenitude, sanidade, beleza, / vejo de cabeça baixa e de braços dobrados sobre o peito - / a Fêmea eu vejo. / O macho não é mais nem menos do que a alma, / ele também está no seu lugar, / ele também é todo qualidades, é ação e força, / o fluxo do universo conhecido nele se encontra, / o desdém fica-lhe bem, ficam-lhe bem os apetites e a ousadia, / as mais fundas paixões, o maior entusiasmo / e a tristeza maior, ficam-lhe bem, o orgulho é para ele, / orgulho de homem, elevado ao máximo é calmante / e excelente para a alma, / fica-lhe bem o conhecimento, ele sempre o aprecia, / tudo ele chama à própria experiência, / qualquer que seja o valor, quaisquer que sejam o mar / e o vento, no fim é aqui que ele faz as sondagens. / (Onde mais lança ele a sua sonda, senão aqui?) / Sagrado é o corpo do homem, como é sagrado / o corpo da mulher, / sagrado não importa de quem seja - é o mais humilde numa / turma de trabalhadores? / É um dos imigrantes de face turva apenas desembarcados no cais? / São todos daqui ou de qualquer parte, da mesma forma / Que os bem colocados da mesma forma que vós, / cada um tem na procissão o lugar dele ou dela. / (E tudo uma procissão, o universo é uma procissão de movimento medido e perfeito). Sabeis tanto de vós mesmos para chamardes ignorante / ao mais humilde? / Julgai-vos com direito a uma boa visão, e ele ou ela / Sem direito a visão alguma? / Imaginais que a matéria se fez coesa do caos em que flutuava, / e o solo veio para a superfície, e as águas correm / e brotam as plantas, para vós só, para ele e ela nada? / Em leilão um corpo de homem / (antes da guerra vou amiúde ao mercado de escravos e assisto a venda) / e ajudo ao leiloeiro, o descuidado não sabe o seu negócio / nem pela metade. / Senhores olhem esta maravilha, / quaisquer que sejam os lanços dos lançadores / jamais serão bastante altos para isto, / para isto o globo levou quintilhões de anos em preparos / sem animal ou planta, / para isto os ciclos evolutivos desenrolaram-se de fato / e com firmeza. Esta cabeça o cérebro capaz de tudo, / nela e abaixo dela a argamassa dos herois. / Examinai estas pernas, vermelhas, pretas ou brancas, / trabalhadas em nervos e tendões, / deviam estar abertas para que as pudésseis ver. / Sentidos os mais finos, olhos acesos de vida, energia, vontade, / músculo do peito em flocos, pescoço e espinha flexíveis, / carne não flácida, pernas e braços de justo tamanho, / mais maravilhas lá dentro. / Lá dentro corre o sangue, / mesmo sangue antigo, o mesmo sangue em seu curso vermelho! / Se alguma coisa é sagrada o corpo humano é sagrado, / e a glória e doçura de um ser humano é o dom / da humanidade incorrompida, / e assim no homem como na mulher um corpo limpo, / forte, de boa fibra, é mais bonito do que o mais bonito rosto. / Ali pulsa e bombeia um coração, ali todas as paixões, desejos, / conquistas, aspirações. / (Imaginais que não estão ali, porque não são exibidas / Em parlatórios e salas de aula?) / Isto não é unicamente um homem, é um pai de outros / que a seu turno serão pais, / nele reside o princípio de populosos estados / e faustosas repúblicas, / ele encerra imortais vidas sem conta / com incontáveis encarnações e deleites. / Como sabeis quem surgirá do rebento do seu rebento / atravessando os séculos? (De quem vós mesmos descobriríeis que vindes, se pudésseis / seguir o vosso rastro pelos séculos passados?) / Um corpo de mulher posto em leilão: / ela também não é somente ela, é a pródiga mãe de mães, / é a portadora daqueles que hão de crescer e dar parceiros / para as mães. / Alguma vez amastes o corpo de uma mulher? / Alguma vez amastes o corpo de um homem? / Não percebeis que são exatamente os mesmos para todos / Em todas as épocas e nações em toda a terra? / Vistes o doido que estragou seu próprio corpo em vida? / e a doida que estragou seu próprio corpo em vida? / Pois eles não se escondem, nem a si mesmos / podem esconder. Veja mais aqui e aqui.

EVOLUÇÃO E SENTIDO DO TEATRO – No livro Evolução e sentido do teatro (Zahar, 1964), do educador, professor e crítico de teatro e mitologia Francis Fergusson (1904-1986), destaco o trecho A sensibilidade histriônica: a percepção mimética da ação: [...] Sei que a maior parte da teoria contemporânea – seja de arte ou de conhecimento ou de psicologia – não dá margem ao conceito de ação ou de imitação da ação. Provavelmente é o seu realismo primitivo que é inaceitável, tanto para os que querem reduzir todo o conhecimento a fatos e conceitos abstratos como para os que tentam manter o absolutismo da arte. As objeções dos semânticos à epistemologia de Aristóteles baseada no nous, ou inteligência aperceptiva, não são muito convincentes, mas representam um hábito mental contemporâneo importante e resistente. Aristóteles não é tão desavisado como pensam; o que ele tem, que eles não tem não é a credulidade ingênua, mas o reconhecimento de que percebemos coisas e pessoas antes da doutrinação, como ele diz. A sensibilidade histriônica, a percepção da ação, é uma dessas tomadas de consciências primitivas diretas. As teorias contemporâneas de arte que omitem ou rejeitam o conceito da imitação da ação resultam mais inquietantes do que as teorias pseudocientíficas, devido à compreensão que nos possibilitam da obra real do artista em nosso tempo. Elas nos lembram como é difícil – depois de trezentos anos de racionalismo e idealismo, com os tipos tradicionais de comportamento perdidos ou desacreditados, como torna-se difícil ver qualquer ação que não seja a nossa própria. Eliot, por exemplo, provavelmente o mais realizado poeta vivo, não parece achar a fórmula aristotélica válida ou útil. Sugere então que o proposito do poeta é encontrar equivalentes objetivos para seus sentimentos. A expressão equivalentes objetivos parece enfatizar o famoso classicismo de Eliot. Entretanto, ela não se refere às visões do poeta, mas ao poema que ele está fazendo; e leva a supor que é apenas um sentimento o que o poeta deve transmitir. Assim, a fórmula está mais perto da noção romântica de arte como expressão de sentimento ou paixão, do que da doutrina de imitação. A ênfase no poema e sua forma, até à exclusão do que ele representa, reconhece apenas um dos instintos que Aristóteles considerava as raízes da poesia em geral, o instinto para a harmonia e o ritmo. Talvez essa ênfase na característica diferenciadora da arte – o que a separa de outras percepções de ação – seja necessária para reafirmar a existência da arte. Talvez seja estratégia pobre para um poeta preocupar-se, no momento da composição, com a verdade em qualquer sentido, exceto a verdade para com seus sentimentos. E pode ser que, em nossa época perturbada, o poeta tenha apenas uma inspiração patética; e que se não se agarrar à univocidade da paixão divinatória esteja em perigo de não ter mais nada com que trabalhar. Poesia, diz Aristóteles, como reconhecendo as limitações de sua própria teoria, implica ou um dom feliz da natureza ou um esforço enlouquecedor. No primeiro caso, o homem pode tomar a forma de qualquer personagem; no segundo, se desprende de seu próprio ser. Tais considerações recordam-nos o mistério do ato criador em qualquer arte; recordam-nos nossa dependência dos mestres, e a dependência dele da cultura circundante. Entretanto, a noção do drama como imitação da ação é possível para nós e muito valiosa. De certa forma nós temos realmente percepção direta da vida mutável da psique antes de qualquer doutrinação; antes mesmo de imitá-la por meio de palavras ou sons musicais. Quando percebemos diretamente a ação que o artista pretende, podemos compreender a objetividade de uma visão,s eja como for que ele tenha chegado a ela; e em consequência a própria forma de sua arte. Só assim pode alguém captar as analogias entre representar e escrever para teatro, entre várias formas de drama e entre o drama e outras artes. Veja mais aqui e aqui.

LE MEILLEUR DE LA VIE – A comédia Le Meilleur de la vie (1985), realizado pelo diretor, roteirista e ator francês Reinaud Victor (1946-1991), conta a história de dois amantes que brigam por sua condição econômica: ela rica, alegre, sensível e independente, ele pobre, possessivo, violento e introvertido. Eles se casam, têm um filho e divergem das amizades e do estilo de vida diferente de cada um, tomando a vida deles guinada inesperada. O destaque da película vai para a premiadíssima atriz e diretora francesa Sandrine Bonnaire. Veja mais aqui

IMAGEM DO DIA
Charge do caricaturista, cartunista e jornalista francês Charb – Stéphane Charbonnier (1967-2015), assassinado no massacre do jornal satírico francês Charlie Hebdo, no qual era diretor, extraída do livro Marx, manual de instruções (Boitempo, 2013) do filósofo, professor e dirigente da Quarta Internacional, Daniel Bensaid (1946-2010).


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Vamos aprumar a conversa: Psicologia escolar, Ensaios das obras escolhidas de Walter Benjamin, Felicidade clandestina de Clarice Lispector, Folhas da relva de Walt Whitman, A cantora careca de Eugène Ionesco, a pintura de Siron Franco, a música de Enya, o cinema de Nathaniel Hawthorne & Demi Moore aqui.

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Pocotós & outras bufas, A comissão da verdade do Fecamepa & Vera indignada: será a Carolina Dickman? aqui.
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