OS MISTÉRIOS DE
MARIA – Ela não era Maria, era Isabella Mary, chamada de Minnie por todos os
familiares até sua adolescência – dizem até que seu verdadeiro nome era Caroline. Era filha da criada da casa e,
supostamente, foi adotada por um escritor maníaco por etimologia que se envolvia
por diversas artes e jornalismo. Ele nunca a tratou por filha, o que a fez
passar por momentos tristes numa infância solitária, levando-a a questionar o
mundo e as coisas, ambicionando ir para a escola, quando foi restrita à
educação de tutoras dentro de casa. Mesmo assim estudou música e artes manuais,
acessava a biblioteca do pai constantemente. Sua mãe faleceu repentinamente quando
tinha apenas 10 anos de idade, passando a ser assistida por uma amiga de
infância. Retomou a vida, tocava piano, harpa e bandolim, tornando-se mezzo-soprano. Apresentou-se
publicamente com sucesso as peças criadas de improvisação ao piano. Foi por
esta época que assumiu o codinome de Signorina
Marie di Corelli, dizendo-se
descendente do famoso compositor barroco italiano. Aos 19 anos publica suas
poesias e artigos em jornais e revistas da época. O tempo passa e aos 30 anos publica
seu primeiro livro: A Romance of Two Worlds, resultado de uma
experiência mística influenciada pela teoria elétrica da origem do universo.
Aos
31 anos de idade ela soube a
verdade sobre o seu nascimento e se tornou definitivamente Maria, passando-se
por filha de um misterioso príncipe italiano. Depois publicou seu grande
sucesso: The Sorrows of
Satan. A partir daí envolveu-se
em mistério e enigmas. Tornou-se uma personalidade controversa e, aos
olhos de todos, uma self-made
woman, quebrando regras vitorianas, pois nunca se casara, defendia a
espiritualidade e criticava o materialismo da sociedade. Sobre não ter se
casado dizia: Nunca me casei porque não havia necessidade. Tenho três
animais de estimação em casa que atendem ao mesmo propósito de um marido. Tenho
um cachorro que rosna todas as manhãs, um papagaio que xinga a tarde toda e um
gato que chega tarde da noite... Seus livros eram ignorados pelos críticos,
mas um sucesso de público, tornando-se a autora mais vendida e mais bem paga do
país. Exilou-se na terra natal de Shakespeare, atuando na preservação do
patrimônio histórico e envolvendo-se em litígios duradouros que devastaram suas
posses, quando caiu no esquecimento público e dessomou, vítima de infarto, deixando
um legado de 30 romances, afora contos, artigos e poemas. Veja mais abaixo e
mais aqui & aqui.
DITOS &
DESDITOS - O maior
inimigo do homem não é outro senão seu proprio ego, porque ele, enquanto não
controlado, o deixa surdo e cego para o bem... Quem procura viver
apenas do cérebro e da caneta é, no início de tal carreira, tratado como uma espécie
de pária social... Qualquer era que seja dominada apenas pelo amor ao dinheiro,
tem um núcleo podre dentro dela e deve perecer... Pensamento da escritora
inglesa da Era Vitoriana, Marie Corelli (Isabella Mary Mills, Minnie
Mackay, ou ainda, Caroline
Cody
- 1855-1924), que no seu livro The Soul of Lilith: A Mystical Journey of Self-Discovery
and Enlightenment (Kessinger, 2010), ela expressou: […] Havia algo mais
— algo completamente indefinível — que dava um brilho e radiância singulares a
todo o semblante e sugeria a queima de uma luz através do alabastro — um fluxo
de algum fogo sutil pelas veias que fazia o belo corpo parecer o mero reflexo
de alguma beleza maior interior. [...].
Já no seu exitoso livro The Sorrows of Satan (Lulu, 2014), ela expressou:
[…] Mas um homem dotado de pensamentos originais e do poder de expressá-los,
parece ser considerado por todos em posição de autoridade como muito pior do
que o pior criminoso, e todos os "puxa-sacos" se unem para chutá-lo
até a morte, se puderem. [...]. Na
sua obra Wormwood: A Drama of Paris (The British Library, 2010), ela consigna:
[…] Deixe-me ficar louco, então, por todos os meios! louco com a loucura do
Absinto, a mais selvagem, a mais luxuosa loucura do mundo! Vive la folie!
Vive l'amour! Vive l'animalisme! Vive le Diable! […]. Já no livro A Romance of Two Worlds
(Echo Library, 2006), ela expressa: […] Ninguém está contente
neste mundo, eu acredito. Sempre há algo a desejar, e a última coisa desejada
sempre parece a mais necessária para a felicidade. [...]. Por fim, no seu livro Vendetta; or, the
Story of One Forgotten (Kessinger, 1996), ela expressa: […] Posso
mergulhar a caneta no meu próprio sangue se eu quiser. [...].
ALGUÉM FALOU: Escrever salvou
minha vida. Me salvou, me deu tudo, tirou todas as minhas doenças... Meu único conselho é ficar atento, ouvir com atenção e
gritar por ajuda se precisar... Nossas impressões digitais não desaparecem das
vidas que tocamos... Pensamento da
escritora e educadora estadunidense Judy Blume, que no seu livro Summer Sisters (Delacorte Press, 1998), ela expressa: […]
Nem tudo tem que ter um ponto. Algumas coisas simplesmente são. [...] Qual
é o sentido de pensar em como vai acabar quando é só o começo [...]. Já no seu livro Fudge-a-Mania
(Puffin, 2007), expressa que: […] O ronco mantém os monstros longe. [...]. No livro Tiger Eyes (Delacorte,
2013), ela expressa: […] algumas mudanças acontecem lá no fundo de você. E a
verdade é que só você sabe sobre elas. Talvez seja assim que deveria ser. [...]. Na sua obra Forever... (Atheneum,
2014), ela menciona que: […] Fiz promessas a você que não tenho certeza se posso
cumprir. Nada disso tem a ver com você. É que não sei o que fazer agora. Você
deve estar pensando que pessoa podre eu sou. Bem, acredite em mim, estou
pensando a mesma coisa. Não sei como isso aconteceu ou por quê. Talvez eu possa
superar isso. Você acha que pode esperar — porque não quero que pare de me
amar. Continuo me lembrando de nós e de como foi. Não quero te machucar...
nunca... [...]. Na obra Are You There God? It’s Me, Margaret (Atheneum,
2014), ela expressa que: […] Você está aí,
Deus? Sou eu, Margaret. Acabei de dizer à minha mãe que quero um sutiã. Por
favor, me ajude a crescer, Deus. Você sabe onde [...]. Veja mais aqui e aqui.
TEORIA DA
ALIENAÇÃO –
A obra Marx: a teoria da alienação
(Zahar, 1981), do filósofo húngaro e um dos mais importantes intelectuais marxistas da
atualidade István Mészarós,
aborda temas como as origens do conceito de alienação, a abordagem
judaico-cristã, a alienação como vendalidade universal, a historicidade e
ascensão da antropologia, o fim do positivismo não-crítico, entre outros temas. Da obra destaco o trecho: [...] A universalidade da visão de
Marx tornou-se possível por ter ele conseguido identificar a problemática da
alienação, do ponto de vista do trabalho, adotado criticamente, em sua complexa
totalidade ontológica, caracterizada pelos termos "objetivação",
"alienação" e "apropriação". Essa adoção crítica do ponto
de vista do trabalho significou uma concepção do proletariado não simplesmente
como uma força sociologicamente contraposta ao ponto de vista do capital — e
que com isso permanece na órbita deste último — mas como uma força histórica
que se transcende a si mesma e que não pode deixar de superar a alienação (isto
é, a forma, historicamente dada, de objetivação) no processo de realização de
seus próprios objetivos imediatos, que coincidem com a "reapropriação da
essência humana". Assim, a novidade histórica da teoria da alienação de
Marx, em relação às concepções de seus antecessores, pode ser resumida
preliminarmente da seguinte forma: 1) os termos de referência de sua teoria
são, não as categorias do Sollen ("deve"),
mas as da necessidade ("é") inerente aos fundamentos ontológicos
objetivos da vida humana; 2) seu ponto de vista não é o de uma parcialidade
utópica, mas o da universalidade do trabalho, adotado criticamente; 3) sua
crítica não se articula como uma "totalidade especulativa" abstraía
(hegeliana), mas se refere à totalidade concreta e dinâmica da sociedade,
vista, da base material do proletariado, como uma força histórica necessariamente
autotranscendente ("universal"). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
SEMIOLOGIA DA REPRESENTAÇÃO – No livro Semiologia da representação: teatro,
televisão, história em quadrinhos (Cultrix, 1975), organizada por André Helbo, encontrei o texto de
autoria do organizador sobre a temática O
código teatral: codificação e fenômeno teatral, do qual destaco o seguinte
trecho: É possível – sem cair num
reducionismo de mau gosto – extrapolar em direção da critica os conceitos
operatórios da Linguística? É lícito conceber, em termos de signos, linguagem,
língua, um estudo científico que abra de imediato o caminho da semiótica aos
modelos teatrais? Em uma palavra: existe uma semiologia teatral? A resposa em
que essa interrogação implica postula um universo de pesquisa que não pode ser
legitimado sem a retificação de critérios definidores adequados à comunicação e
ao funcionamento teatrais. Mais além, esse tipo de diligenciamento supõe um
investimento incondicional do pensamento numa axiologia linguística; essa
inevitável tautologia que relaciona a pratica dramatúrgica – mesmo a contrario
– com a comunicação e, consequentemente, com o seu suporte – a língua, e até a
linguagem – está próxima da contradição. De fato, como encontrar os parâmetros
de uma especificidade pelo canal de um questionamento colocado em termos de
influencias e que erige a linguagem, exemplo escolhido, não exatamente em
instrumento metodológico, nem mesmo em metáfora epistemológica, mas em modelo
conceitual ou ideológico? Esse debate reenvia à dupla articulação do vetor
semiológico contemporâneo. A primeira orientação, inspirada num cientificismo
próximo do terror, considera sob a alçada de sua analise unicamente os termos
convertíveis ao dogmatismo pós-saussuriano: “A semiologia analisa e descreve
todos os meios e sistemas de comunicação utilizados pelos homens e talvez os
utilizados pelos animais” (Mounin). A segunda, aproveitando prováveis
contribuições à gnosiologia, pretende ultrapassar a disciplina de que procede
para atingir o conjunto de praticas significantes. Translinguistica, critica de
sua origem, atravessando a “comunicação do sentido de que a linguística faz seu
objeto”, a semiótica coloca em evidencia “essa outra cena que é a produção do
sentido anterior ao sentido, o que permite assim que, na sua pluralidade e em
suas respectivas especificidades, os sistemas significantes e sistemas
produtivos joguem no interior de um mesmo texto aberto em lugar de funcionar
nele com instancias rivais” (Kristeva) [...] Veja mais aqui e aqui.
VIAGEM AOS SEIOS DE DUÍLIA – No livro A Morte da Porta-Estandarte e Outras
Histórias (1965), do escritor, professor e homem de teatro Aníbal Machado (1894-1964), encontro o conto Viagem aos seios de
Duília, que foi adaptado para o cinema (1964), num filme dirigido por
Carlos Hugo Christensen, narrando a tragédia, da qual destaco o seguinte
trecho: [...] No dia seguinte postou-se,
como outros de sua idade, numa das esquinas da Rua Gonçalves Dias, local
preferido pelos militares da reserva e aposentados de luxo, gente saudosa do
passado. Notou que eles se compraziam em adejar perto dos doces da confeitaria,
e ver passar as damas elegantes de outrora. Ali se perfilava, de terno branco,
um velho Almirante de suas relações: - Olhe, faça como eu: nunca se convença de
que é aposentado. Adquira algum vício, se já não o tem. Evite os velhos. Um
pouco de exercício pela manhã. Hormônios às refeições, não é mau. Quanto a
conviver, só com gente moça. Ele aprendera na véspera o que era conviver com
gente moça... Para rematar, e como índice de otimismo, contou-lhe o Almirante
uma anedota pornográfica. O funcionário riu com esforço, e despediu-se enojado.
Entrou numa livraria. Buscaria a solução na leitura dos romances. Pediu um, à
escolha do caixeiro. Tentou ler. Impossível passar das primeiras páginas. Não
compreendia como tanta gente perde horas lendo mentiras. Ao atravessar, dias
depois, o Viaduto, deixou o livro cair lá embaixo, sentiu-se livre daquilo. O
melhor mesmo era ficar debruçado à janela. E todas as manhãs, enquanto a criada
abria a meio as venezianas para deixar sair a poeira da arrumação, José Maria
as escancarava para fazer entrar a paisagem. Dali devassava recantos
desconhecidos. Ilhas que jamais suspeitara. Acompanhava a evolução das nuvens,
começava a distinguir as mutações da luz no céu e sobre as águas. Notava que
tinha progredido alguma coisa na percepção dos fenômenos naturais. Começava a
sentir realmente a paisagem. E se considerava quase livre da uréia burocrática.
Esse noivado tardio com a natureza fê-lo voltar às impressões da adolescência. Duília!
Toda vez que pensava nela, o longo e inexpressivo interregno do Ministério, que
chegava a confundir-se com a duração definitiva de sua própria vida,
apagava-se-lhe de repente da memória. O tempo contraía-se. Duília! Reviu-se na
cidade natal com apenas dezesseis anos de idade, a acompanhar a procissão que
ela seguia cantando. Foi nessa festa da igreja, num fim de tarde, que tivera a
grande revelação. Passou a praticar com mais assiduidade a janela. Quanto mais
o fazia, mais as colinas da outra margem lhe recordavam a presença corporal da
moça. Às vezes chegava a dormir com a sensação de ter deixado a cabeça pousada no
colo dela. As colinas se transformavam em seios de Duília. Espantava-se da
metamorfose, mas se comprazia na evocação. Não ignorava o que havia de
alucinatório nisso. Chegava a envergonhar-se. Como evitá-lo? E por que, se isso
lhe fazia bem? Era o aforamento súbito da namorada, seus seios reluzindo na
memória como duas gemas no fundo d'água. Só agora se dava conta de que, sem querer,
transferira para Adélia a imagem remota. Mas Adélia não podia perceber que era
apenas a projeção da outra. Mesmo porque, temendo o ridículo, José Maria jamais
se deixara trair. Disponível, sem jeito de viver no presente, compreendeu que
despertara com muitos anos de atraso nos dias de hoje. Não encontraria mais os
caminhos do futuro, nem havia mais futuro nenhum. Chegara ao fim da pista. [...]
Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
ERÓTICA PORNOGRÁFICA – No livro Erótica pornográfica (ErosPoética, 2007), poeta J. J. Sobral, pseudônimo do escritor e
artista plástico português Antonio Galrinho, estão reunidos 44 poemas
fesceninos com advertência, introdução e apresentação todas em quadras com
heptassílabos em rimas alternadas, descrevendo desde as estruturas da cópula,
seus atores, modalidades e aspectos sensuais. Do livro destaco a Ode à foda, em
seus seguintes trechos: [...] Seja homem com mulher / Seja entre eles e elas / A
foda deverá ser / Feita com apalpadelas / Broche, minete, apalpões / Dentadas e
lambidelas / Mãos, nalgas, mamas, colhões / Língua no cu deles e delas [...] Sem
foda a vida cessava / Coisa que dá que pensar / Deve ser valorizada / Há que a
foda respeitar / Muita vida no planeta / Foi com a foda gerada / A foda não é
abjeta / Não deve ser condenada / Se não houvesse tesão / Se um dia a foda
acabasse / De que valeria então / Que a Terra ainda girasse? [...] Vivam aqueles que fodem / Com alegria e
prazer / Viva o caralho do homem / Viva a cona da mulher / Sempre existiu o
foder / É coisa bastante antiga / Que se faz pelo prazer / Ou para encher a
barriga / Foda não é coisa obscena / Com foda se gera vida / Seja com picha
pequena / Ou com ela bem comprida. [...] Uns fodem mais por prazer / Outros por amor, paixão / Há quem foda por
traição / Ou apenas por foder / [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
ROMA, CITTÀ APERTA – O drama de guerra Roma, città
aperta (Roma, Cidade Aberta, 1945), do
cineasta do neorrealismo italiano Roberto
Rossellini (1906-1977), considerado um dos maiores filmes da história ela
crítica mundial, contando a ocupação nazista à cidade de Roma, entre os anos
1943/44, declarada cidade aberta para evitar bombardeios aéreos, mostrando a
união de comunistas e católicos para combater os alemães e as tropas fascistas.
O filme é maravilhos e o destaque principal vai para atuação da atriz italiana Anna Magnani (1908-1973), a primeira
atriz estrangeira a receber o Oscar de Melhor Atriz pela Academia de Hollywood. Veja mais aqui & aqui.








