VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? – ENTREGA:
Dê-me sua mão nessa rua. Nossos sonhos são tantos que já nem sei seguir por
veleidades, por esta eternidade de sentir só oh! tenha dó. Sou curumim da flor
de anil, mil emoções a mil darão vigor à nossa lida, ressurreição da vida quando
valer o pó. Por favor não vá fingir sorriso de manhã, sou o carinho da areia na
entrega do mar. E até invadiu minhas veias o fogo de amar. Não vá fazer do
desejo agonia malsã porque nossas mãos anunciam: o amor já está prá chegar. Dê-me
sua mão, as minhas são suas e faça delas duas a fonte que jamais secou. Faça
delas a alegria da vitória e do vencedor. Faça assim no calor dos seus dias e
de noite no feitiço do amor (Primeira Reunião: Bagaço, 1992). Poema musicado
por Jucimar Luiz Siqueira – Mazinho. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: Nude study, do pintor alemão Fritz von Uhde (1848-1911)
Curtindo a Suite Española, Op.47 - in honor of the Queen of Spain (1886-1887), do compositor, pianista e dramaturgo espanhol Isaac Albéniz (1860-1909), com a New Philarmonia, regente Rafael Frühbeck de Burgos.
O INDIVIDUO NA SOCIEDADE – O livro O individuo, a sociedade e o Estado e outros ensaios (1940 - Hedra,
2007), da anarquista lituana Emma
Goldman (1869-1940), trata acerca da defesa da liberdade do individuo
criticando a submissão ao pode estatal e a militarização estratégia dos Estados
Unidos. Da obra destaco o trecho inicial: A
dúvida reina no espírito dos homens, porque a nossa civilização treme nas suas
bases. As instituições atuais não inspiram mais confiança e os mais
inteligentes compreendem que a industrialização capitalista vai ao encontro dos
próprios fins que ela entendeu empreender. O mundo não sabe como sair disso. O
parlamentarismo e a democracia fraquejam e alguns acreditam encontrar uma
salvação optando pelo fascismo ou por outras formas de governos fortes. Do
combate ideológico mundial sairão soluções para os problemas sociais urgentes
que se colocam atualmente (crises econômicas, desemprego, guerra, desarmamento,
relações internacionais, etc.). Ora, é destas soluções que dependem o bem estar
do indivíduo e o destino da sociedade humana. O Estado, o governo com as suas
funções e poderes, torna-se assim o centro de interesses do homem que reflete.Os
desenvolvimentos políticos que se têm dado em todas as nações civilizadas
levam-nos a colocar estas questões: Queremos um governo forte? Deveremos preferir
a democracia e o parlamentarismo? O fascismo, de uma forma ou de outra, a
ditadura quer seja monárquica, burguesa ou proletária - oferecerão soluções
para os males ou para as dificuldades que assaltam a nossa sociedade? Por
outras palavras, conseguiremos fazer desaparecer as taras da democracia com a
ajuda de um sistema ainda mais democrático, ou antes deveremos resolver a questão
do governo popular com a espada da ditadura? A minha resposta é: nem com um nem
com a outra. Eu sou contra a ditadura e o fascismo, oponho-me aos regimes
parlamentares e ás chamadas democracias políticas. Foi com razão que se falou
do nazismo como de um ataque contra a civilização. Poder-se-ia dizer o mesmo de
todas as formas de ditadura, de opressão e de coação. Vejamos, o que é a
civilização? Todo o progresso foi essencialmente marcado pelo aumento das
liberdades do indivíduo em desfavor da autoridade exterior tanto no que
respeita à sua existência física como política ou econômica. No mundo físico, o
homem progrediu até submeter as forças da natureza e utilizá-las em seu próprio
proveito. O homem primitivo dá os seus primeiros passos na estrada do progresso
assim que consegue fazer brotar o fogo, reter o vento e captar a água,
ultrapassando-se a si próprio. [...] Veja mais aqui.
A
METAMORFOSE – A novela A metamorfose (1915 – Ulisseia, 2011),
do escritor tcheco Franz Kafka
(1883-1924), conta a história de um caixeiro viajante que amanhece transformado
num monstruoso inseto e as dificuldades dessa transformação, suas angustias,
até que a família primeiro sente medo, depois o aceita e, enfim, o odeia e
resolve livrar-se dele. Da obra destaco os trechos iniciais: Numa manhã, ao despertar de sonhos
inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto.
Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao
levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em
duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a
posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as
inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente
diante de seus olhos. Que me aconteceu ? — pensou. Não era nenhum sonho. O
quarto, um vulgar quarto humano, apenas bastante acanhado, ali estava, como de
costume, entre as quatro paredes que lhe eram familiares. Por cima da mesa,
onde estava deitado, desembrulhada e em completa desordem, uma série de
amostras de roupas: Samsa era caixeiro-viajante, estava pendurada a fotografia
que recentemente recortara de uma revista ilustrada e colocara numa bonita
moldura dourada. Mostrava uma senhora, de chapéu e estola de peles, rigidamente
sentada, a estender ao espectador um enorme regalo de peles, onde o antebraço
sumia! Gregório desviou então a vista para a janela e deu com o céu nublado —
ouviam-se os pingos de chuva a baterem na calha da janela e isso o fez
sentir-se bastante melancólico. Não seria melhor dormir um pouco e esquecer
todo este delírio? — cogitou. Mas era impossível, estava habituado a dormir
para o lado direito e, na presente situação, não podia virar-se. Por mais que
se esforçasse por inclinar o corpo para a direita, tornava sempre a rebolar,
ficando de costas. Tentou, pelo menos, cem vezes, fechando os olhos, para evitar
ver as pernas a debaterem-se, e só desistiu quando começou a sentir no flanco
uma ligeira dor entorpecida que nunca antes experimentara. Oh, meu Deus,
pensou, que trabalho tão cansativo escolhi! Viajar, dia sim, dia não. É um
trabalho muito mais irritante do que o trabalho do escritório propriamente
dito, e ainda por cima há ainda o desconforto de andar sempre a viajar,
preocupado com as ligações dos trens, com a cama e com as refeições irregulares,
com conhecimentos casuais, que são sempre novos e nunca se tornam amigos
íntimos. Diabos levem tudo isto! Sentiu uma leve comichão na barriga; arrastou-se
lentamente sobre as costas, — mais para cima na cama, de modo a conseguir mexer
mais facilmente a cabeça, identificou o local da comichão, que estava rodeado
de uma série de pequenas manchas brancas cuja natureza não compreendeu no
momento, e fez menção de tocar lá com uma perna, mas imediatamente a retirou,
pois, ao seu contato, sentiu-se percorrido por um arrepio gelado. Voltou a
deixar-se escorregar para a posição inicial. Isto de levantar cedo, pensou,
deixa a pessoa estúpida. Um homem necessita de sono. Há outros comerciantes que
vivem como mulheres de harém. Por exemplo, quando volto para o hotel, de manhã,
para tomar nota das encomendas que tenho, esses se limitam a sentar-se à mesa
para o pequeno almoço. Eu que tentasse sequer fazer isso com o meu patrão: era
logo despedido. De qualquer maneira, era, capaz de ser bom para mim — quem
sabe? Se não tivesse de me aguentar, por causa dos meus pais, há muito tempo
que me teria despedido; iria ter com o patrão e lhe falar exatamente o que
penso dele. Havia de cair ao comprido em cima da secretária! Também é um hábito
esquisito, esse de se sentar a uma secretária em plano elevado e falar para baixo
para os empregados, tanto mais que eles têm de aproximar-se bastante, porque o
patrão é ruim de ouvido. Bem, ainda há uma esperança; depois de ter economizado
o suficiente para pagar o que os meus pais lhe devem — o que deve levar outros
cinco ou seis anos —, faço-o, com certeza. Nessa altura, vou me libertar completamente.
Mas, para agora, o melhor é me levantar, porque o meu trem parte às cinco [...]. Veja mais aqui e aqui.
AUTO DA BARCA DO INFERNO – A alegoria dramática O auto da
barca do inferno (ou auto da moralidade, 1517), do poeta e dramaturgo
português Gil Vicente (1465-1537), é
uma sátira social da sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI. Do
texto destaco a cena inicial: Diabo — À barca, à barca, houlá! Que temos gentil
maré! — Ora venha o carro a ré! Companheiro — Feito, feito! Bem está! Vai tu muitieramá, e
atesa aquele palanco e despeja aquele banco, para a gente que virá. À barca, à
barca, hu-u! Asinha, que se quer ir! Oh, que tempo de partir, louvores a
Belzebu! — Ora, sus! Que fazes tu? Despeja todo esse leito! Companheiro
— Em boa hora! Feito, feito! Diabo — Abaixa aramá esse cu! Faze aquela poja
lesta e alija aquela driça. Companheiro — Oh-oh, caça! Oh-oh, iça, iça! Diabo — Oh, que caravela esta! Põe bandeiras, que é
festa. Verga alta! Âncora a pique! — Ó poderoso dom Anrique, cá vindes vós?...
Que cousa é esta?...Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz: Fildalgo — Esta barca onde vai ora, que assim está
apercebida? Diabo — Vai para a ilha perdida, e há-de partir
logo ess'ora. Fildalgo — Para lá vai a senhora? Diabo — Senhor, a vosso serviço. Fildalgo — Parece-me isso cortiço... Diabo — Porque a vedes lá de fora. Fildalgo — Porém, a que terra passais? Diabo — Para o inferno, senhor. Fildalgo — Terra é bem sem-sabor. Diabo — Quê?... E também cá zombais? Fildalgo — E passageiros achais para tal habitação? Diabo — Vejo-vos eu em feição para ir ao nosso
cais... Fildalgo — Parece-te a ti assim!... Diabo — Em que esperas ter guarida? Fildalgo — Que leixo na outra vida quem reze sempre
por mim. Diabo — Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi,
hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarnecer por que rezam
lá por ti?!... Embarca — ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai
meter a cadeira, que assim passou vosso pai. Fildalgo — Quê? Quê? Quê? Assim lhe vai?! Diabo — Vai ou vem! Embarcai prestes! Segundo lá
escolhestes, assim cá vos contentai. Pois que já a morte passastes, haveis de
passar o rio. Fildalgo — Não há aqui outro navio? Diabo — Não, senhor, que este fretastes, e primeiro
que expirastes me destes logo sinal. Fildalgo — Que sinal foi esse tal? Diabo — Do que vós vos contentastes. Fildalgo — A estoutra barca me vou. Hou da barca! Para
onde is? Ah, barqueiros! Não me ouvis? Respondei-me! Houlá! Hou!... (Pardeus,
aviado estou! Cant'a isto é já pior...) Oue jericocins, salvador! Cuidam cá que
são eu grou? Anjo — Que quereis? Fildalgo — Que me digais, pois parti tão sem aviso, se
a barca do Paraíso é esta em que navegais. Anjo — Esta é; que demandais? Fildalgo — Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de
solar, é bem que me recolhais. Anjo — Não se embarca tirania neste batel divinal.
Fildalgo — Não sei porque haveis por mal que entre a
minha senhoria... Anjo — Para vossa fantasia mui estreita é esta
barca. Fildalgo — Para senhor de tal marca nom há aqui mais cortesia? Venha a prancha e
atavio! Levai-me desta ribeira! Anjo — Não vindes vós de maneira para entrar neste
navio. Essoutro vai mais vazio: a cadeira entrará e o rabo caberá e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso, vós e vossa senhoria, cuidando na tirania do pobre povo
queixoso. E porque, de generoso, desprezastes os pequenos, achar-vos-eis tanto menos
quanto mais fostes fumoso. Diabo — À barca, à barca, senhores! Oh! Que maré
tão de prata! Um ventozinho que mata e valentes remadores! Diz, cantando: Vós
me veniredes a la mano, a la mano me veniredes. [...] Veja mais aqui.
AMERICAN BEAUTY – O premiadíssimo filme American
Beauty (Beleza Americana, 1999), dirigido e roteirizado por Sam
Mendes, escrito por Alan Ball e música de Thomas Newman, ganhou quase todos os
Oscars de 2000: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original, melhor
fotografia e melhor ator. Trata-se de uma sátira sobre as noções de beleza e
satisfação pessoal, sendo inspirado no julgamento de Anny Fisher, em 1992. Já
tendo sido destacado por aqui, hoje a motivação de nova menção foi o papel
desempenhado pela belíssima atriz estadunidense Annette Bening. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Anatomy, do fotógrafo Freddy
Martins
Veja mais sobre:
Os cinco prêmios do amor, A história social da criança e da
família de Philippe Ariès, Laços de família de Clarice Lispector, a música de
Egberto Gismonti, a pintura de Gustav Klimt & Nelson
Shanks aqui.
E mais:
A família, entidade familiar,
paternidade/maternidade e as relações afetivas aqui.
Origem da vida – de onde eu vim? & Programa Tataritaritatá aqui.
Sexo, sexualidade, educação sexual &
orientação sexual para educação materna/paterna aqui.
Vamos aprumar a conversa, Herzog de Saul Bellow, Ich de Arthur
Schnitzler, a poesia de Ventura de la Vega, o cinema de Rainer Werner
Fassbinder & Barbara Sukowa, a pintura de Jasper Johns, a música de
Quaternaglia & Dorothea Röschmann aqui.
Brebotes nos clecks arruelados, Padre Bidião, Doutor Zé Gulu & South
Park, Zé Bilola, Zé Corninho & Hussan Aref Saab aqui.
A arte de Tammy Luciano aqui.
É domingo nas mãos, A obra de arte & reprodução de
Walter Benjamim, a poesia de Ascenso Ferreira & Chico Buarque, Enciclopédia
do Cinema Brasileiro de Fernão Ramos e Luiz Felipe, a arte de Nora Dorian, a pintura de Giuseppe
Cacciapuoti & Umberto Brunelleschi aqui.
Aprendendo no compasso da vida, A psicologia social de Arthur Ramos,
Sharon & a sogra de Suad Amiry, o pensamento de Roger Bacon, a música de Nação
Zumbi, a pintura de Georges Ribemont-Dessaignes & Hans Richter,
Transhumance for Peace & a arte de Jiddu Saldanha aqui.
O dia amanhece e é maravilhoso viver, o pensamento de Aristóteles, A literatura brasileira de
Afrânio Coutinho, o teatro de Françoise Sagan &
Catherine Deneuve, a música de Bach & Maggie
Cole, A sinfonia pornográfica de Charles Baptiste, Arte Yoga, a arte de
Hannah Höch & Orly Faya aqui.
A filharada de Zé Corninho, O homem, a mulher & a natureza de
Alan Watts, Travessia marítima de Thomas Mann, O casamento de Anne Morrow
Lindbergh, o cinema de Rainer Werner Fassbinder & Hanna Schygulla, a música
de Charlotte Moorman, Emmanuelle Seigner, a
arte de Hansen Bahia & Attila Richard Lukacs aqui.
Quadrilha das paixões mais intensas, Vaqueiros e Cantadores de Luís da
Câmara Cascudo, Terra de Caruaru de José Condé, a poesia de cordel de Serrador, a música da Orquestra Armorial & Cussy
de Almeida, a arte erótica de Roberto Burle Marx, O casamento de Maria Feia de
Rutinaldo Miranda Batista, a arte de Vermelho & Severino Borges, a
xilogravura de J. Miguel & Costa Leite aqui.
Entre nós, vivo você, Cartilha do cantador de Aleixo Leite
Filho, a música de Sivuca, Cancão de Fogo de Jairo Lima, a poesia de Belarmino França, a arte de Lasar Segall & Luciah
Lopez, a xilogravura de J. Borges & José Costa Leite aqui.
Dos bichos de todas as feras e mansas, O romance da Besta Fubana de Luiz
Berto, Cantadores de Leonardo Mota, O martelo alagoano de Manoel Chelé, o ativismo de, Brigitte Mohnhaupt,
a escultura de Antoni Gaudí, a música do Duo Backer, a xilogravura de J. Borges & a
arte de Natalia Fabia aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
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Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.