VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? – Hoje
é Dia da Costureira! Salve, salve, todas as costureiras do planeta! Também é o
Dia Mundial dos Vizinhos! Salve, salve, todos os vizinhos. Ah, é hoje o Dia
Nacional da Adoção por força da Lei 10447/2002 (o que no meio de tantas leis é
mais uma para tema tão importante!). E, por fim, é Dia do Trabalhador Rural
(será que aí se incluem fazendeiros, parceleiros, rendeiros, agricultores ou
somente os andorinhas?). Cá pra nós: para mim todo dia é dia de comemorar a
vida, todas as profissões e tudo que a gente imagine crer. Ou a comemoração em
um dia para cada coisa significativa que o resto do ano seja só pé goela e
língua de fora? Sei não, cada dia vejo mais o completo desrespeito reinando entre os seres humanos. Vamos aprumar a conversa: por isso me mantenho entoando a minha
Crença pelo direito de viver e deixar viver. E aprume aqui.
Imagem: Study of a Female Nude, do pintor britânico Mark Gertler (1891-1939)
Curtindo Symfonia, In Paradisum (2011), do tecladista finlandês Mikko Härkin.
DIVINA
COMÉDIA – A obra Divina Comédia (1321- Ateneu, 2011), é a
obra prima do poeta e político italiano Dante
Alighieri (1265-1321), é um poema narrativo com trinta e três cantos cada
uma das três partes que passam pelo Inferno, Purgatório e Paraiso,
rigorosamente simétrico narrando a odisseia guiada por Virgilio e pela musa
Beatriz. Da obra destaco o trecho Paraíso que é dividido em duas partes, sendo
uma material e a outra espiritual, com os seguintes fragmentos: Canto I: Pois, ao excelso desejo se acercando, /
A mente humana se aprofunda tanto / Que a memória se esvai, lembrar tentando. Canto
V: Se má cobiça o peito vos
vicia, / Homens sede, e não brutos animais. / Que entre vós o judeu de vós não
ria. Canto XIV: Quem sempre reina, é uno, é duplo, é trino, / Em três,
em dois, em um sempre perdura, / Não abrangido — e tudo abrange — em hino.
Canto XIX: Nossa vista, de alcance tão finito, / Posto seja um dos raios
dessa Mente, / Que as cousas todas enche no infinito... Canto XXX: Ao centro áureo da Rosa sempiterna, / Que em degraus dilatada recendia /
Louvor ao Sol da Primavera Eterna. / Canto XXXIII: Muitos
desejam a Salvação; / mas não largam mão da orgia / e nem da 'surubalização'. / Muitos rogam pela Salvação; / mas, de
mais-valia em mais-valia, / ensurdecem para a Voz do Coração. / Muitos pensam que a Salvação / é uma
espécie de aposentadoria / que os livrará da infernalização. / Ó tolos: não há Salvação! / Não pode
ser substituída a Via / Que
obriga que se aprenda a lição. Veja mais aqui e aqui.
ENSAIOS – Na obra Ensaios (Imago, 1994), do escritor e filósofo estadunidense Ralf Waldo Emerson (1803-1882), recolhi
algumas das suas célebres frases: Deus constrói o seu templo no nosso coração sobre as
ruínas das igrejas e das religiões. A sabedoria consiste em compreender que o
tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido. A liberdade é um fato de
experiência que não pode ser negado. Não se trata contudo de uma liberdade
absoluta. Como tudo o que diz respeito so homem, ela é limitada e parcial. A
literatura é o esforço do homem para se indenizar pelas imperfeições da sua
condição. A natureza e os livros pertencem aos olhos que os vêem. A natureza
está constantemente a misturar-se com a arte. A maior das homenagens que
podemos prestar à verdade é utilizá-la. A glória da amizade não é a mão
estendida,nem o sorriso carinhoso,nem mesmo a delicia da companhia. É a
inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia
em você. Um amigo é a obra-prima da natureza. A única maneira de ter um amigo é
sendo um. Habilidade só se ganha fazendo. Faça aquilo que você mais teme. A
verdade sem dúvidas é linda; assim como as mentiras. Deviam parar com a
demagogia sobre as massas. As massas são rudes, sem preparação, ignorantes,
perniciosas em suas reivindicações e influências. Não precisam de lisonjas mas
de instrução. Insiste em ti mesmo: nunca imites. Nada se obtém sem esforço;
tudo se pode conseguir com ele. Nunca é cedo para uma gentileza, porque nunca
se sabe quando poderá ser tarde demais. O homem é livre, enquanto pode pensar. Os
homens são o que as mães fazem deles. Rir muito e com freqüência; ganhar o
respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; merecer a consideração
de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza,
encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma
saudável criança, um canteiro de jardim ou uma redimida condição social; saber
que ao menos uma vida respirou mais fácil porque você viveu. Isso é ter tido
sucesso. Veja mais aqui , aqui e aqui.
SEIS PERSONAGENS
À PROCURA DE UM AUTOR – A comédia Seis personagens à procura de um autor
(1921), do dramaturgo e escritor siciliano
Luigi Pirandello (1867-1936), relata um ensaio de teatro que é invadido por
seis persongens que, rejeitadas por seu criador, tentam convencer o diretor da
companhia a encenar suas vidas. Destaco o trecho inicial da peça teatral: [...]
Apagada a platéia, vê-se o Maquinista entrar
pela porta do palco, de macacão azul e com o saco de ferramentas à cintura.
Apanha alguns sarrafos, num canto do fundo, levando-os para a baixa e pondo-se
a pregá-los, ajoelhado no chão. Ao barulho das marteladas, entra, apressado, pela
porta dos camarins, o Assistente de direção. O ASSISTENTE Eh, você aí , que
está fazendo?... O MAQUINISTA Martelando. O ASSISTENTE A esta hora? (Olha o
relógio) Já são dez e meia. Daqui a pouco chega o Diretor para o ensaio. O
MAQUINISTA Mas eu também preciso de tempo para trabalhar. O ASSISTENTE Você vai
ter, mas não agora. O MAQUINISTA Quando?... O ASSISTENTE Quando não for mais
hora de ensaio. Vamos, vamos, leve embora tudo isso, e deixe-me arrumar a cena
para o segundo ato de A Cada Qual Seu Papel. O Maquinista, indignado,
resmungando, pega os sarrafos e vai embora. Entretanto, começam a entrar os
Atores da companhia, homens e mulheres, pela porta do palco; primeiro um,
depois outro, mais dois, juntos, como quiserem; nove ou dez, quantos se supõe
serem necessários para o ensaio da comédia. Entram, cumprimentam o Assistente e
uns aos outros, dando-se bons dias. Alguns irão para os camarins, outros, entre
os quais o Ponto, que tem o texto enrolado debaixo do braço, ficam no palco, à
espera do Diretor, para começar o ensaio, sentados em grupos ou de pé,
conversando entre si. Um acende um cigarro, outro se lamenta por causa do papel
que lhe foi distribuído, um terceiro lê para os colegas, em voz alta, notícias de
um jomalzinho teatral. Será conveniente que, tanto as Atrizes como os Atores,
estejam vestidos com roupas claras e alegres, e que esta primeira cena
improvisada tenha, na sua naturalidade, muita vida e movimento. Num dado
instante, um dos Atores senta-se ao piano e toca um trecho da dança; os Atores
e A trizes mais jovens começam a dançar. O ASSISTENTE (batendo palmas para
chamá-los à ordem) Vamos, vamos, parem com isso. O Diretor vem aí! O piano e a
dança param repentinamente. Os Atores ficam a olhar para a platéia, por cuja
porta entra o Diretor que, de chapéu coco na cabeça, bengala debaixo do braço e
um charutão na boca, desce pelo corredor entre as poltronas, cumprimentado
pêlos Atores, sobe ao palco por uma das escadinhas. O Secretário entrega-lhe a
correspondência: alguns jornais, um texto enfaixado). O DIRETOR Cartas?... O
SECRETÁRIO Nenhuma. Toda a correspondência está aí. O DIRETOR (entregando-lhe o
texto enfaixado) Ponha-o no meu camarim. (Olhando em volta e dirigindo-se ao
Assistente) Oh! Não se vê nada. Por favor, mande acender um pouco de luz. O
ASSISTENTE Pois não. O Assistente sai para dar a ordem. Pouco depois o palco se
iluminará, em todo o lado direito, onde estão os Atores, com uma viva luz
branca. Entretanto, o Ponto entrou na sua abertura, acendeu a lampadazinha e
abriu o texto diante de si. O DIRETOR (batendo palmas) Vamos, vamos, comecemos.
(Ao Assistente) Falta alguém?... O ASSISTENTE Falta a Primeira Atriz. O DIRETOR
Como sempre! (Olha o relógio) Já estamos atrasados dez minutos! Faça o favor de
pô-la na tabela, assim aprenderá a ser pontual nos ensaios. Mal acaba de falar,
e, da porta do fundo da platéia, se ouve a voz da Primeira Atriz. PRIMEIRA
ATRIZ Não, não, por favor! Estou aqui, estou aqui! (Vem toda vestida com um
chapelâo petulante na cabeça e um cãozinho no braço. Desce correndo pelo
corredor e sobe apressadíssima por uma das escadinhas). O DIRETOR A senhora
jurou fazer-me esperar sempre!... PRIMEIRA ATRIZ Desculpe-me, procurei tanto um
automóvel para chegar a tempo! Mas vejo que ainda não começaram, e eu não entro
logo em cena. (Depois, chamando o Assistente pelo nome, entrega-lhe o cãozinho)
Por favor, feche-o no meu camarim. O DIRETOR (resmungando) Ainda por cima o
cãozinho! Como se fôssemos poucos, os quadrúpedes, aqui. (Bate de novo as mãos
e dirige-seao Ponto) Vamos, vamos, o segundo ato de A Cada Qual o Seu Papel.
(Sentando-se na poltrona) Atenção, senhores. Quem está em cena?... Os Atores e
Atrizes saem da baixa do palco e vão sentar-se a um lado, exceto os três que
iniciam o ensaio e a Primeira A triz, a qual, sem prestar atenção à pegunta do
Diretor, foi sentar-se diante de uma das mesinhas. O DIRETOR (à Primeira Atriz)
A senhora então está em cena? PRIMEIRA ATRIZ Eu? Não, senhor. O DIRETOR (aborrecido)
Então saia dai, pelo amor de Deus! A Primeira Atriz levanta-se e vai sentar junto
aos outros Atores que já se afastaram. [...]. Veja mais aqui e aqui.
MACUNAÍMA – O romance Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (Martins, 1978), do escritor,
critico literário, musicólogo e folclorista Mário de Andrade (1893-1945), conta a história de um índio que
representa o povo brasileiro e sua atração pela cidade grande e pela máquina.
Da obra destaco o trecho inicial: No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa
gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o
silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia,
tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já
na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não
falando. Sio incitavam a falar exclamava: If — Ai! que preguiça!. . . e não
dizia mais nada."] Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o
trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já
velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de
saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra
ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos
juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam
gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo
si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão
nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém
respeitava os velhos, e freqüentava com aplicação a murua a poracê o torê o
bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo. Quando era pra
dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede
da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando
os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades
estrambólicas e dava patadas no ar. Nas conversas das mulheres no pino do dia o
assunto eram sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam muito
simpatizadas, falando que "espinho que pinica, de pequeno já traz
ponta", e numa pagelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era
inteligente. [...] Em 1969, a obra foi adaptada
para o cinema pelo cineasta Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), tornando-se
ganhadora de diversos prêmios no Festival de Brasília (1969) e no Festival
Internacional de Mar del Plata, Argentina (1970). Também a premiada cantora e
compositora Iara Rennó, inpirada na obra lançou o cd Macunaó.peraí.matupi ou Macunaíma Ópera
Tupi (2008). Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Capa do livro História de “O” (1975 - L&PM, 2013), do artista, ilustrador e
autor de história em quadrinhos italiano Guido
Crepax (1933-2003)– baseado no romance de Pauline Réage.
Veja mais sobre:
Conselho dum bebão na teibei, A História do Brasil de Cláudio Vieira,
Gênero & violência de Heleieth Safiotti, A coluna social de Edu Krieger, a pintura de Salvador Dalí & Por um
Brasil democrático de Emir Sader aqui.
E mais:
Cordel Tataritaritatá & livros infantis aqui.
Vamos aprumar a conversa, A arte de viver de Jiddu Krishnamurti,
A arte de viver em paz de Pierre Weil, Ação cultural para a liberdade de Paulo
Freire, a música de Heitor Villa-Lobos & Bidú Sayão, A grande arte de Rubem
Fonseca, a poesia de Camilo José Cela, a pintura de Salvador Dali, O teatro na
educação de Paulo Coelho, o cinema de Eduardo Coutinho & a escultura de
Jean-Baptiste Carpeaux aqui.
O homem ao quadrado de Leon Eliachar aqui.
Brincarte do Nitolino, Hino ao Sol de Akhenaton, a música de
Kitaro, Manifesto Pau Brasil de Oswald de Andrade, Medeia de Eurípedes,
Belfagor de Nicolau Maquiavel, a poesia de Percy Bysse Shelley, Fundador de
Nélida Piñon, Dicionário do Aurélio, o cinema de François Truffaut, a pintura
de Otto Lingner & Nina Kozoriz aqui.
Quando não é na entrada é na saída, O autor como produtor de Walter Benjamin,
Carna, A poesia pornográfica: de Gregorio de Matos a
Glauco Mattoso, Linguística & Estilo, Fronteiriços de Anna Bella Geiger, a música de Andrea dos
Guimarães, a xilogravura de Gilvan Samico, a arte de Matéria Incógnita
& Wunderblogs aqui.
Crônica de amor por ela, Os 120 dias de Sodoma de Marquês de
Sade, a poesia de Ana Cristina César, Teoria da Literatura de Rogel Samuel,
a música de Roberto Carnevale, a pintura de Pablo
Picasso, o teatro de Chris Wilkinson & Linda
Marlowe, Dia da Prostituta, a arte de Claudia Andujar & Lygia Pape
aqui.
Betúlia, a belezura e os restos nos
confins do mundo,
Uivo & Kadish de Allen Ginsberg, Evolução e sentido do teatro de Francis
Fergusson, Porto calendário de Osório Alves de Castro, a
pintura de Federico Beltrán Massés & Fayga Ostrower, a música de Consuelo
de Paula, a arte de Claudia Andujar & Iemanjá, Mãe
D’Água de Petrolina aqui.
Terra do que sou, vida que me cabe, Elogio da madrasta de Mario Vargas
Llosa, a poesia de Thiago de Mello, Galalaus & Batorés de Mário Souto
Maior, a música de Eduardo Ponti, A pintura de Shelley Bain & Natalia Goncharova, a fotografia de Yan Pierre, Taha Hassaballa Malasi, a
arte de Rachel Mascarenhas & Ana Paula Pessoa aqui.
Domingo do que fui e não sou, O erotismo de Georges Bataille, a
poesia de Federico Garcia Lorca, Os segredos da ficção de Raimundo Carrero, a
música de Laurie Anderson, a pintura de Marta Nael & Cecily
Brown, a xilogravura de MS, a arte de Benedict Olorunnisomo & Paula Valéria de Andrade aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis
Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.