sexta-feira, maio 15, 2015

BELLOW, SCHNITZLER, QUATERNAGLIA, FASSBINDER, RÖSCHMANN, JASPER & VENTURA DE LA VEGA.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? – Há muito tempo que deveríamos ter aprumado a conversa sobre o andamento da construção de um país melhor paratodos. E bote tempo nisso. Já se foram décadas e décadas. E apesar da coisa seguir na base do efeito da gangorra, uma hora vira onda, outra vira mesmice de calmaria; tem horas até que parece virar terremoto, mas foi só uma crise solitária, tadinha, vixe! Está mais que no momento da gente tomar conta de vez a respeito disso: o Brasil vira um país de verdade ou a gente quer essa zona pro resto da vida? Tá na hora de encarar em riba da fivela! Principalmente agora com o paroxismo de despropositais propostas de plantão - daquelas do tipo em tempo de iminência, do vai ou racha, ou fode tudo ou nada, vai que cola -, aliadas a coprólitos mentais de retorno à ditadura militar e desarranjo emergencial de uma classe política que não sabe nunca o que fazer além de paliativos salvadores de pátria, está aí a prova de que precisamos botar a coisa nos eixos. E bastam, pra começo de conversa, algumas ações individuais que já daremos alguns passos, por exemplo: não dar toco a funcionário público para resolver nossas pendengas, não vender o voto, não ir na conversa do primeiro político que aparecer, não ser fura-fila, não usar de carteirada, respeitar os sinais de trânsito, tomar ciência de que o vizinho também pode se incomodar e se lembrar que o umbigo é o centro do corpo e não do universo. Eita! Isso mesmo! Esses os passos iniciais pra gente começar a aprumar a conversa. Nunca é tarde! E aprume aqui.

Imagem: The Seasons, do pintor estadunidense Jasper Johns.

Curtindo o álbum Jequibau (Tratore, 2012), do Quaternaglia, formado pelos violonistas Chrystian Dozza, Fabio Ramazzina, Paola Picherzky, Thiago Abdalla e Sidney Molina.

HERZOG – O livro Herzog (Companhia das Letras, 2011), do escritor judeu canadense e Prêmio Nobel de Literatura de 1976, Saul Bellow (1915-2005), conta a história do vacilo de sanidade do pensador e professor universitário Moses Herzog, depois que foi traído pela esposa na meia idade e em crise com a profissão. Da obra destaco o trecho inicial: [...] Se estou louco, tudo bem para mim, pensou Moses Herzog. Algumas pessoas achavam que ele não estava regulando bem e por um tempo ele mesmo tinha questionado sua sanidade. Mas agora, embora continuasse se comportando estranhamente, sentiase confiante, animado, clarividente, forte. Em estado de graça, estava escrevendo cartas para todo mundo sob o sol. Estava tão agitado por essas cartas que, desde o final de junho, ia de um lugar para o outro com uma valise cheia de papéis. Tinha carregado essa valise de Nova York a Martha’s Vineyard, mas voltara de Vineyard imediatamente; dois dias depois voou para Chicago, e de Chicago foi para um vilarejo no oeste de Massachusetts. Escondido no campo, escreveu incessantemente, fanaticamente, aos jornais, a pessoas na vida pública, a amigos e parentes e, por último, para os mortos, para seus próprios mortos obscuros e finalmente para os mortos famosos. Era o auge do verão nos Berkshires. Herzog estava sozinho no velho casarão. Normalmente cheio de caprichos em matéria de comida, agora ele comia pão de fôrma Silvercup, feijão enlatado e queijo americano. De quando em quando colhia framboesas no jardim coberto de mato, erguendo os ramos espinhentos sem muito cuidado. Quanto ao sono, dormia num colchão sem lençóis era sua cama de casal abandonada ou na rede, coberto por seu casaco. Capim barbadebode bem alto e mudas de alfarrobeira e de bordo se espalhavam pelo terreno em volta. Quando abria os olhos à noite, as estrelas estavam próximas como corpos espirituais. Fogos, evidentemente; gases minerais, calor, átomos, mas eloquentes às cinco da manhã para um homem numa rede, enrolado em seu casaco. Quando algum novo pensamento se apossava do seu coração, ele ia para a cozinha, seu quartelgeneral, para passalo para o papel. [...]. Veja mais aqui.

ICH – A noveleta Ich (Eu, 1927), do dramaturgo austríaco Arthur Schnitzler (1862-1931), traz o sentimento de perplexidade e alívio que o protagonista vivencia constante diante do funcionamento da sua própria língua, retratando a relação entre o autor e Sigmund Freud, o criador da Psicanálise. Da obra destaco o texto inicial: Até aquele dia fora um homem absolutamente normal. Às sete da manhã, levantava-se o mais silenciosamente possível, para não perturbar a esposa que gostava de dormir até mais tarde; bebia uma xícara de café, beijava o filho – que tinha de ir à escola – na testa e, com um suspiro, dizia jocosamente à Marie, que tinha seis anos: “Pois é, no ano que vem vai ser a sua vez.” Enquanto ele ainda brincava com a menina, a esposa costumava entrar; seguiase uma conversa inofensiva, às vezes até alegre e sempre tranquila, pois o casamento deles era bom, sem mal-entendidos e sem infelicidade, sem acusações recíprocas. À uma hora regressava da loja para casa, até não muito cansado porque o que ele tinha de fazer não era um trabalho nem cansativo nem repleto de responsabilidade – era chefe de departamento, o assim chamado chefe de Rayon em uma loja de departamentos de qualidade mediana na Währingerstrasse18. Depois vinha um almoço simples, bem-feito; os filhos, bonzinhos e arrumados, sentavam-se com ele à mesa; o menino contava da escola; a mãe, do passeio que fizera com a filha antes de buscar o pequeno na escola; e o pai falava de mil acontecimentos insignificantes na loja, de novas criações, dos artigos que lhes foram expedidos de Brno, na República Checa; contava do chefe preguiçoso que, na maioria das vezes, aparecia na loja só por volta do meio-dia; falava de um cliente estranho, de um homem elegante que sabe Deus por qual razão acabou indo parar na loja e que, no início, comportara-se um pouco presunçosamente, mas depois ficou até entusiasmado com a estampa de uma gravata qualquer; contava da Fräulein Elly que outra vez tinha um novo admirador – se bem que isso não era da sua conta, dado que ela era vendedora no departamento de calçados femininos. [...] Veja mais aqui.

POESÍAS – No livro Poesías (1866), do escritor e dramaturgo espanhol Ventura de la Vega (1807-1865), destaco o poema sem título: Ele é sem graça e eu odeio mui / Que tem pouca graça, / -Se em um canto  / Seja palha tolo. / É um dado em golpe vaga, / É uma falsa porra, / É fornicar-se, / É uma farsa, uma farsa. / Mas fazê-la tocar / Para a mão delicada / Uma menina bonita, / peito nu e para trás, / Isso já é muito diferente, / E ele merece aplaudir; / Porque uma palha bem-feito / Quase equivalente a um pódice. / Podice, da parte traseira / Eles são de tal magnificência, / Não há nenhuma maneira de foder / Tem cada vez mais adeptos. / A esposa do burro ré / Ele apresenta orifícios, / Para escolher o cipote / Que você vê o ajuste. / Acima ou abaixo, / Dois dedos afastados, / Enfim bainha / Como já foi dito, é excelente. / ... Esta forma de inferno, / Que por si só é recomendado / Eu aconselho com louvor / Um jovem honesto. / ... Não seja negligência, mulheres, / A ocasião é calvo; /Abra suas pernas / Antes Esse homem é distraído. / Se não, você ver como logo / Heck gasto em vão / Todas as munições / Eles têm no coldre. / Ostentada em seus olhos / Suas graças suave / Quando você quiser fornicar / e palha não é feito. / ... Não foder professores / Que jogaria um pod / À beira de uma cimitarra / Ou na ponta de uma lança. / Uma vez (lembrança agradável!) / Eu forniquei com uma garota / Sentado num banco de pedra / Com as pernas levantadas, / Eu coloquei em seus ombros que: / Ele está ajoelhando-se diante dela, pressionado; / E assim eu mandei o negócio / Na cadeira, sofá ou cama. Veja mais aqui.

LOLA – O drama Lola (1981), do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), faz parte do terceiro filme da trilogia Milagre Economico Alemão, contando a história ocorrida entre os anos 1957-58, na cidade de Coburg, na Alemanha Oriental, no período de reconstrução do país, envolvendo um empresário e empreiteiro de obras que enriquece como corruptor e proxeneta de uma prostituta. Destaque para a performance da premiada atriz alemã Barbara Sukowa. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 
A premiadíssima cantora lírica e soprano alemã Dorothea Röschmann.


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MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...