VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? –
Uma frase do psicólogo estadunidense George Kelly (1905-1967) me chamou a
atenção: a nossa interpretação dos eventos é mais importante do que os eventos
propriamente ditos. Hem? Alguém aí? O que é isso? Fodeu. Melhor debrear com
indagação: nesse tempo de instantaneidade no meio das relações líquidas dá
tempo para interpretar algum evento? Ou somos passageiros deslumbrados com o
colorido na boleia dos acontecimentos? Hum, pergunta difícil dá trabalho. Seria
melhor arrumar outra lavagem de roupa, não? Mas pensando bem, isso me leva a
uma constatação: o ser humano é um carona privilegiado pelas cores da novidade e
sobrecarregado de informações por todos os lados. E ele: nem, nem. Tá nem aí
pra quem pintou a zebra. Deixa a vida me levar, vida leva eu. Vamos no embalo
das ondas... pensar é muito difícil. Há coisa pior que pensar, por exemplo, na
miséria humana? Ih! Botando os neurônios para se organizar, dá pra gente
perceber no ralo da ocasião que existem duas pobrezas? Vamos lá, miudamente: primeira,
a das posses - ou seja, dos excluídos e precarizados que vivem pendurados pegando
bigu na vida sob a promessa de que um dia o bolo engordará tanto que dará para
repartir com todos, contrariando a ideia de causa na acumulação e o
malthusianismo; e a de espírito – melhor dizendo: a dos profetas do Informe de Brodie de Jorge Luis Borges. Parece
que das duas, a segunda é a pior. Porque a primeira, tendo riqueza de espírito,
tem saída: a posse será relativa. A segunda, sei não, acho que inviabiliza,
inclusive, qualquer saída para a primeira. Hummmmm... dá pra sacar? Ou quer que
desenhe? Ou pedimos penico pros universitários? Deixe ver. Na tortura das
sinapses neuronais, troco mais amiudada: parece mesmo que vivemos chafurdando na
nossa miséria de espírito e adivinhando acontecimentos, como o de que uma mosca
pousará logo logo no nariz. Ah, isso faz eclodir o profeta Fabo: reprodutores
do óbvio. E vamos aprumar a conversa aqui.
Imagem: The Dream – Bouquet of Flowers, do artista plástico do Modernismo Pós-Impressionista francês Henri Rousseau (1844-1910)
Curtindo o show Atracatraca que o Naná vem chegando (Recife, 1998), com Naná Vasconcelos & grupo mineiro Uakti - Marcos Antonio Guimarães, Paulo Santos, Artur Andrés e Décio Ramos. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
A
NATUREZA DO PRECONCEITO
– O livro A natureza do preconceito
(1954), do psicólogo estadunidense Gordon
Allport (1897-1967), trata sobre o que é o problema do preconceito e
a generalização errônea e hostilidade, a normalidade do prejulgamento, formação
de in-groups e o preconceito pelo amor em oposição ao preconceito pelo ódio, a
rejeição out-groups e exame dos três graus de rejeição expressa, a rejeição
verbal, a discriminação, o ataque físico, entre outros assuntos. Ele é autor de
uma teoria humanista da personalidade com ênfase na individualidade e da
natureza dinâmica da motivação, apresentando o conceito básico de personalidade
como sendo a [...] organização dinâmica daqueles sistemas psicofísicos que determinam,
dentro do indivíduo, o seu comportamento e pensamento característicos. Ele
definiu as sete funções do self como sendo: sentido de corpo; auto-identidade; autoestima;
auto-extensão; auto-imagem; imitação(cópia) raciona; e batalhas(lutas) próprias.
Tratou também acerca dos traços ou disposições da personalidade, e também
definiu as características do proprium, como sendo: extensões do
"self" específicas, duradouras, perenes, isto é, envolvimento; técnicas
relacionadas visando um relacionamento caloroso com outros, exemplo de
confiança, empatia, genuinidade, tolerância; segurança emocional e
auto-aceitação; hábitos de percepção realistas (em contraposição à posição de
defesa); centralizar problemas e desenvolver destreza na solução deles; auto-objetivização
– visão de seu próprio comportamento, capacidade de rir de si próprio; e uma
filosofia de vida unificadora, incluindo uma orientação de valor particular,
sentimento religioso diferenciado e uma consciência personalizada. Veja mais
desse autor aqui.
DE ELOISA PARA ABELARDO – O poema De Eloisa para Abelardo (1717), do poeta inglês Alexander Pope (1688-1744) reúne seus poemas de caráter filosófico
e estético, defendendo seu ponto de vista sobre a verdadeira poesia e discute a
possibilidade de reconciliação dos males do mundo com a crença no criador justo
e misericordioso, tornando-se depois um satirista que ridiculariza a delicadeza
da corte da Inglaterra. Destaco da obra o fragmento traduzido pelo professor
Jorge Luis Gutiérrez: [...] Nesta profunda solidão e terrível cela, / Onde a contemplação celestial
do pensamento habita, / E sempre reina a meditação melancólica; / Que significa
esta agitação nas veias de uma virgem? /Por que meus pensamentos se aventuram
além do último retiro? / Por que sente meu coração este amplo e esquecido
calor? / Ainda, ainda eu amo! De Abelardo veio, / E Eloisa ainda deve beijar
seu nome. / Querido fatal nome! Restos nunca confessados, / Nunca passarão
estes lábios no sagrado silêncio selado. / Ocultá-lo, meu coração, dentro desse
disfarce fechado, / Quando se funde com Deus, sua falsa idéia amada: / Ó mesmo
não o escrevendo, minha mão - o nome aparece / Logo escrito – a purificação
acabo com minhas lágrimas! / Em vão a perdida Eloisa chora e reza, / Seu
coração ainda manda, e a mão obedece. / Inexoráveis paredes! cuja obscura ronda
contém / arrependidos suspiros, e amarguras voluntárias: / Vós rochas fortes!
Que santos joelhos desgastaram; / Vós grutas e cavernas inalcançáveis com
horrível espinhas / Santuários! onde as virgens mantiveram seus pálidos olhos,
/ E a tristeza dos santos, cujas estátuas aprenderam a chorar! / Embora frio
como você, imóvel, em silêncio crescente, / Eu ainda não esqueci-me como pedra.
/ Nem tudo está no céu enquanto Abelardo tem parte, / Ainda a natureza rebelde
mantém a metade de meu coração; / Nem a oração nem os jejuns acalmaram seus
impulsos persistentes, / Nem as lágrimas, ou a idade, o ensinaram a fluir em
vão. [...] Como é
imensa a felicidade da virgem sem culpa. / Esquecendo o mundo e o mundo
esquecendo-a. / Eterno resplendor de uma mente sem lembranças! / Cada oração
aceita e cada desejo realizado;/ Trabalho e descanso mantidos em iguais
períodos; / Obedientes sonhos dos quais podemos acordar e chorar; / Calmos
desejos, afetos sempre furiosos. / Deliciosas lágrimas, e suspiros que bóiam no
paraíso. / Graça que brilha a seu arredor com raios serenos. / O murmúrio dos
anjos arrulha seus sonhos dourados. / Por sua eterna rosa que floresceu no
Éden. / E as asas dos serafins derramam perfumes divinos, / Para ela, o esposo
prepara o anel nupcial, / para ela as brancas virgens cantam a canção da boda,
/ e ao som das harpas celestiais ela morre / e se desfaz em visões do dia
eterno [...]. Veja mais aqui e aqui.
CAPITAL
FEDERAL – A comédia Capital Federal (1907), do dramaturgo,
escritor e jornalista Artur Azevedo
(1855-1908), traz a visão critica do autor sobre o crescimento urbano e suas
contradições por meio de personagens estigmatizados e os costumes urbanos do
final do século XIX. Da obra destaco o trecho final: [...] Cena V - LOLA, MERCEDES, DOLORES,
BLANCHETTE, RODRIGUES, Pessoas do povo. LOLA.- Então? O Gouveia? Não lhes
disse? Bem me arrependi de o ter deixado ficar! Não teve mão em si e lá se foi
para o jogo! MERCEDES.- Que tratante! DOLORES.- Que malcriado! BLANCHETTE.- Que
grosseirão! LOLA.- E nada de bondes! MERCEDES.- Que fizeste do teu carro?
LOLA.- Pois não te disse já que o meu cocheiro, o Lourenço, amanheceu hoje com
uma pontinha de dor de cabeça? BLANCHETTE.- (Maliciosa.) Poupas muito o teu
cocheiro. LOLA.- Coitado! é tão bom rapaz! (Vendo RODRIGUES que se tem
aproximado aos poucos.) Olá, como vai você? RODRIGUES.- (Disfarçando.) Vou
indo, vou indo... Mas que bonito ramilhete franco-espanhol! A Dolores... a
Mercedes... a Blanchette... Viva la gracia! LOLA.- (Às outras.) Uma idéia, uma
fantasia: vamos levar este tipo para jantar conosco? AS OUTRAS.- Vamos! Vamos! BLANCHETTE.-
Substituirá o Gouveia! Bravo! LOLA.- (A RODRIGUES.) Você faz-nos um favor?
Venha jantar com ramilhete franco-espanhol! RODRIGUES.- Eu?! Não posso, filha:
tenho a família à minha espera. LOLA.- Manda-se um portador à casa com esses
embrulhos. MERCEDES.- Os embrulhos ficam, se é coisa que se coma. RODRIGUES.-
Vocês estão me tentando, seus demônios! LOLA.- Vamos! anda! um dia não são
dias! RODRIGUES.- Eu sou um chefe de família! TODAS.- Não faz mal! RODRIGUES.-
Ora, adeus! Vamos! (Olhando para a esquerda.) Ali está um carro. O próprio
cocheiro levará depois um recado à minha santa esposa... disfarcemos... Vou
alugar o carro. (Sai.) TODAS.- Vamos! (Acompanham-no.) PESSOAS DO POVO.- Lá vem
afinal um bonde! Tomemo-lo! Avança! (Correm todos. Música na orquestra até o
fim do ato. Mutação.) Quadro IV A passagem de um bonde elétrico sobre os arcos.
Vão dentro do bonde entre outros passageiros, EUSÉBIO, GOUVEIA, D. FORTUNATA,
QUINOTA e JUQUINHA. Ao passar o bonde em frente ao público, EUSÉBIO levanta-se
entusiasmado pela beleza do panorama. EUSÉBIO.- Oh! a capitá federá! a capitá
federá!... PANO. Veja mais aqui e aqui.
REPERTÓRIO SELVAGEM – O livro Repertório selvagem: obra reunida (BN/UMG/MultiMais,
1998), da escritora paraense Olga Savary reúne seus dose livros de
poesia publicados na sua trajetória poética, entre os quais destaco
inicialmente Insônia: Quero
escrever um poema irritado. / Quero vingar meu sono dividido / (busco palavras
que interroguem essa alquimia / do poema, que vire a noite em fogo vário / e a
lua em pegada escondida atrás do muro / — vagaroso desmoronar de extinto vôo ).
/ Quero um poema ainda não pensado, / que inquiete as marés de silêncio da
palavra / ainda não escrita nem pronunciada, / que vergue o ferruginoso canto
do oceano / e reviva a ruína que são as poças d’água. / Quero um poema para
vingar minha insônia. Meritório de destaque o seu Geminiana: Esta quase
sempre correu, fugiu da armadilha, / De ser prendida descobre o encanto. Amor /
Que faz desta que sendo caça é caçador / E ama de maneira clara porque pertence
aos ares. Também o
seu belo poema Enquanto: Sou inconstante
como o vento / sou inconstante como a vaga / por isso fica / enquanto estou
desvelada / enquanto eu não for / vento ou vaga. Também merece o seu
Amanhã: Se devoras teus sonhos / quando
se ensaiam apenas / e secamente represas / essa linguagem de flores / e teu
desejo de asas / que restam subterrâneas, / quem serás tu, depois / do grande
sono, amanhã? Outro dos seus belos poemas é Fogo: Dar-me toda este verão / urdideiros de rio, é ser / serpente de prata.
Verão, / foi feita mais uma vítima / Sou um ser marcado, natureza. / A tarde crava
em meu magma / o selo de sua secreta pata. Veja mais aqui e aqui.
CLOSER – O drama Closer (Perto demais, 2004), do diretor Mike Nicholson é baseada na
peça teatral homônima e autor do roteiro do filme Patrick Marber, utilizando
vários trechos da ópera Cosi fan tutte, de Mozart, como música, contando a
história de uma fotografa bem sucedida que conhece e seduz um jornalista
fracassado que tenta lançar um livro, acabando por se envolverem num
relacionamento e se casam, quando ele passa a manter um caso com uma stripper
como musa inspiradora. O destaque vai para a atriz, produtora e diretora
estadunidense Natalie Portman que
ganhou o Prêmio Globo de Ouro como Melhor Atriz Coadjuvante em Cinema. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A bailarina e atriz Ana Botafogo em
ensaio no Theatro Municipal: Quebra Nozes, em 2007 (Foto: Ivo Foto: Ivo
González/Agência O Globo).
Veja mais sobre:
O direito à informação e qual informação, A formação social da mente de Lev
Vygotsky, O retrato do Dorian Gray de Oscar Wilde, a poesia de Manuel Bandeira,
a pintura de Vincent van Gogh & a música de Gonzaguinha aqui.
E mais:
As funduras profundas do coração de uma
mulher, A arte de
amar de Erich Fromm, a música de Claude Debussy &
Isao Tomita, a poesia de Paul Verlaine & Ledo Ivo, a pintura de Fabius Lorenzi, a arte de Cornelia Schleime & Lula Queiroga aqui.
Fonte, Mal-estar na civilização de Sigmund
Freud, O jardineiro do amor de Rabindranath Tagore, O homem que calculava de
Malba Tahan, Escritos loucos de Antonin Artaud, Amem de Costa-Gavras, a música
de Fátima Guedes, a pintura de Vincent van Gogh, Cia de Dança Lia Rodrigues
& Brincarte do Nitolino aqui.
Mulheres de Charles Bukowski, a poesia de
Konstantínos Kaváfis, O entendimento humano de David Hume, O sentido e a
máscara de Gerd Bornheim, a literatura de Gonzalo Torrente Ballester, a música
de Brahms & Viktoria Mullova, o cinema de Imanol Uribe, a pintura de Monica
Fernandez, Academia Palmarense de Letras (APLE), Velta & Emir Ribeiro aqui.
A paixão avassaladora quando ela é a
terrina do amor &
a pintura de Julio Pomar aqui.
Função das agências reguladoras aqui.
Fecamepa: quando a coisa se desarruma,
até na descida é um deus nos acuda aqui.
A educação no positivismo de Auguste
Comte aqui.
Aurora Nascente de Jacob Boehme, A teoria
quântica de Max Planck, A megera domada de William Shakespeare, a música de
Pixinguinha, a pintura de Marcel René Herrfeldt, Bowling for Columbine de
Michael Moore, a arte de Brigitte Bardot, a Biopoesia de Silvia Mota &
PEAPAZ aqui.
Infância, Imagem e Literatura: uma experiência
psicossocial na comunidade do Jacaré – AL, A trilha dos ninhos de aranha de Ítalo Calvino,
Mademoiselle Fifi de Guy de Maupassant, A mandrágora de Nicolau Maquiavel, A
paixão selvagem de Serge Gainsbourg & Jane Birkin, a arte de Maria de
Medeiros, a música de Cole Porter, a pintura de Odilon Redon, Quasar Cia de
Dança & Sopa no Mel de Ivo Korytowski aqui.
A lenda do açúcar e do álcool, História da Filosofia de Wil Durant,
Educação não é privilégio de Anísio Teixeira, Não há estrelas no céu de r João
Clímaco Bezerra, a música de Yasushi Akutagawa, a pintura de Madison Moore, o teatro da lenda da Cumade Fulôsinha &
o espetáculo de dança Bem vinda Maria Flor aqui.
Cruzetas, os mandacarus de fogo, Concepção dialética da História de Antonio Gramsci, O escritor e seu fantasma de Ernesto Sábato,
Sob o céu dos trópicos de Olavo Dantas, a pintura de Eliseo
Visconti, a fotografia de Rita-Barreto, a ilustração de Benício & a música de Rosana Sabença aqui.
O passado escreveu o presente; o futuro,
agora, Estudos sobre
Teatro de Bertolt Brecht, A sociolingüística de Dino Preti, Nunca houve
guerrilha em Palmares de Luiz Berto, a música de Adriana Hölszky, a escultura
de Antonio Frilli, a arte de Thomas Rowlandson, a
pintura de Dimitra Milan & Vera Donskaya-Khilko aqui.
O feitiço da naja, Sistema de comunicação popular de Joseph Luyten, Palmares e o coração de Hermilo Borba Filho, a poesia de Mário Quintana, o teatro de
Liz Duffy Adams, a música de Vanessa Lann, a
fotografia de Joerg
Warda & Luciah Lopez aqui.
A rodagem de Badalejo, a bodega de Água
Preta, O analista de
Bagé de Luis Fernando Veríssimo, O enredo de Samira Nahid Mesquita, O teatro de
Sábato Magaldi, a música de Meredith
Monk, Pixote de Hector Babenco, a arte de Vanice Zimerman, a pintura de Robert Luciano & Vlaho Bukovac aqui.
Palestras: Psicologia, Direito &
Educação aqui.
Fecamepa –
quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
Cordel
Tataritaritatá &
livros infantis aqui.
História da mulher: da antiguidade ao
século XXI aqui.
Palestras: Psicologia, Direito &
Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis
Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.