VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? – Em todo momento de nossa vigília
diária, nos defrontamos com escolhas que temos que fazer. Grapear primeiro isso
ou arrumar? Segurar ou largar? Correr ou ir devagar? E na maioria das vezes
optamos mecanicamente: é o cis do inopinado. Vai ou volta? Para ou continua?
São muitas coisas que temos que decidir e não nos damos conta quando chegamos ao
travesseiro na hora de dormir. Da hora que abrimos os olhos até fechá-los pro
dia seguinte, nossa rotina é essa: escolhas. E a gente só toma pé mesmo disso,
quando alguém nos diz: - Ninguém sabe o que diz, só se lembra do que recebe. Ou
seja: a gente age tão intuitivamente que nem sequer temos consciência do que
fazemos realmente, esquecendo-se que são nossos atos que falam mais altos do
que aquilo que pensamos e do que queremos que os outros abstraiam de nós. É
nesse dia a dia que construímos nossa personagem para que as pessoas nos vejam
como queremos ser vistos. Contudo, para tragédia da nossa convicção, são exatamente
as escolhas que fazemos, nossas atitudes impensadas, nossos comportamentos diante
do inesperado, nossas ideias acerca daquilo, nossos insights que dizem quem
realmente somos. E muitas vezes nos chocamos quando temos a constatação de que
o que pensamos que somos aos olhos dos outros, é exatamente o contrário do que
queríamos que vissem de nós. A máscara cai. E torna-se difícil o convívio
consigo mesmo diante dessa constatação, parecendo mais que vivemos para ver os
outros felizes conosco, do que a gente feliz consigo próprio. E aí? Como se diz
no popular: a casa cai. E a nossa infelicidade toma corpo e, se a gente deixar
levar, toma conta da gente, tudo por causa do nosso conflito entre o eu real e
o eu idealizado. Isso me leva a um poema do Mário Quintana, Nada sobrou: As pessoas sem
imaginação / Podem ter tido as mais imprevistas aventuras, / Podem ter visitado
as terras mais estranhas, / Nada lhes ficou. / Nada lhes sobrou. / Uma vida não
basta ser vivida: / Também precisa ser sonhada. Vamos aprumar a conversa! E
veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: On the Beach (1945), oil on canvas, do pintor franco-canadense Alfred Pellan (1906-1988).
Curtindo o dvd The Hyperion Ensemble - do compositor romeno Iancu Dumitrescu, Ana Maria Avram e o Io Quartet, London, Conway Hall, Modern Edition – Edições Salabert, 2008.
ANARQUISTA
FEMINISTA – Uma das figuras mais proeminentes do cenário político do
país, é a da anarquista e feminista brasileira Maria Lacerda de Moura (1887-1945), que se notabilizou por seus escritos
feministas, publicando os seus livros Em
torno da Educação Renovação: a
fraternidade na escola (1922), A
mulher hodierna e o seu papel na sociedade (1923), A mulher é uma degenerada? (1924), Lições da Pedagogia (1925) Religião
do amor e da beleza (1926), Clero e
Fascismo, horda de embrutecedores (1933) O Silêncio (1944), entre outras publicações. Considerada
uma das pioneiras do feminismo no Brasil, anticlerical e adotando uma
perspectiva de luta de classes, ela denunciou a opressão exercida pela moral
sexual burguesa sobre as mulheres e as camadas mais pobres, defendendo a
educação sexual entre os jovens, o amor livre, o direito ao prazer sexual, o
divórcio, a maternidade consciente, entre outros assuntos, contra os
constrangimentos do casamento, da prostituição e da escravidão do salário. A seu
respeito foi publicado o livro Outra face
do feminismo: Maria Lacerda de Moura, de Miriam Lifchitz Moreira (1984) e o
documentário Trajetória de uma rebelde
(2003), realizado pela equipe do Laboratório da Imagem e Som em Antropologia da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP/Fapesp. Nos estudos realizados por Jussara
Valéria de Miranda (UFU, 2006), encontra-se o texto Recuso-me, em que Maria Lacerda de Moura (O Combate, 1928) expressa
suas ideias e propósitos em resposta às críticas ao seu posicionamento: [...] enquanto eu
estiver no goso das minhas faculdades mentaes e dentro do equilíbrio das idéas
em harmonia com o meu caracter, enquanto a minha consciência for o meu único
juiz, a benção de luz da minha vida interior – a resposta ao despeito, ao
fanatismo, ao sectarismo, ás injurias, ás calumnias, será continuar a pensar e
a viver nobremente a coragem excepcional de dizer, bem alto, o que penso, o
sinto, o que sonho, embora toda a covardia do rebanho humano apesar dos
escribas e phariseus da moral social. As minhas armas são os meus sonhos, é a
minha vida subjectiva, é a minha consciência, a minha liberdade ethica, é essa
harmonia que canta dentro de mim, e toda a minha lealdade para commigo mesma; e
eu não maculo a minha riqueza de vida, o meu thesouro interior, envolvendo-o na
mesquinhez e na perversidade das leis dos homens ou misturando-o com dinheiro,
essa cousa horrível que corrompe as consciências mais convencidas da sua
fortaleza inexpugnável, e as escravisa, acorrentando-as à gehenna do
industrialismo, as chocar-se umas contra as outras na engrenagem sórdida da
exploração do homem pelo homem. Veja
mais aqui.
TODA A AMERICA – O livro Toda a América (Poemas, 1925) do escritor brasileiro Ronald de Carvalho (1893-1935), reúne
poemas do autor em homenagem aos países e suas paisagens do continente
americano. Entre os poemas destaco o poema título Toda América: Do alto dos Andes, America, / do alto das sierras mexicanas, / de Laguna
dei Inca, de Punta de Ias Vacas, de Orizaba / e Xochimilco, / eu te vejo
deitada e intacta no claro músculo dos teus / cristaes, no ímpeto das tuas
águas, no frêmito fresco / das tuas folhagens luminosas. / Em ti está a
multiplicidade creadora do milagre, / a energia de todas as gravitações, / a
massa viva de todos os volumes, / a promessa de todas as fôrmas, / America
livre do terror! / America voltada para o futuro como um botão que espera / a
flor e o fruto, / America assentada nas praias atlânticas e pacificas, jogando
/ com as ondas, as espumas e as areias, / America dos cafezaes, dos seringaes e
dos cannaviaes, / America das locomotivas e das carretas de bois, dos
elevadores / e dos guindastes, das porteiras de peroba e das / comportas de aço
chromado de Pittsburgh, / America das usinas, dos dynamos, das válvulas e dos
embolos, / America dos opprobrios e das reivindicações, dos trusts / e dos
Estados insolvaveis, / America dos senhores de engenho liricos e trágicos, do /
pulque e da aguardente, do tequila e da coca, / America lasciva que dansa o
jarabe, o maxixe, o tango, o / fox, a cueca e a marinera, / America violenta do
cavallo selvagem do caudilho, do punhal / dos generaes, da fogueira, dos
lynchamentos, dos imperadores / banidos, dos Presidentes degolados, / America
sophista e causidica dos Parlamentos e dos Tribunaes, / America de todas as
imaginações, do azteca e do germano, / do guarani e do latino, do hispano e do
inca, do aimoré / e do saxão, do slavo e do africano, / America dos barões e
dos escravos, do ladrão e do capitão / mór, do santo e do heróe, / Eu vivo
todas as tuas indisciplinas, a tua cultura e a tua / barbaria, as tuas
pyramides e os teus arranhaceus, as / tuas pedras de sacrifício e os teus
calendários, os teus / pronunciamentos e a tua boa fé puritana, / America livre
do terror, / America dos meus avós guerreiros e constructores, / America do meu
Pai que morreu pelo Rei! Veja mais aqui.
DELICIOSA:
AVENTURAS GALANTES – O livro Aventuras galantes (Tinta da China, 2011), de Rabelais, um dos pseudônimos do jornalista e romancista pornógrafo
português Alfredo Gallis (1859-1910), reúne uma serie de narrativas, entre as
quais destaco Deliciosa: [...]
Se me perguntassem se essa mulher era bonita ou
feia, declaro‑lhes
que me encontraria em graves embaraços para dar uma resposta rapida, definitiva
e precisa. Não era formosa, mas tambem não era feia. - Então em que ficamos?, dirá
por certo o leitor. Tentarei explicar‑me e fazer‑me compreender. Não era formosa, porque lhe
faltavam esses tracos excepcionais que constituem a formosura das mulheres; e não
era feia, porque o brilho diamantino dos seus grandes olhos negros, profundos e
excitantes, e o vermelho carmim dos seus labios frescos e sensuais davam‑lhe a fisionomia picante e sugestiva uma expressão singular
que despertava interesse. Era levemente morena a sua tez e abundantes e revoltos
os opulentos cabelos, que ela enrolava com uma deliciosa e voluptuosa
negligencia, na qual pairava uma pontinha de coquetterie
muito expressiva. De mediana estatura, mais alta do
que baixa, era franzina de formas, magra mesmo. Dava nas vistas a maneira
aprimorada como ela se calçava. Sempre meias de seda e sapatos ou botinhas da
mais fina qualidade e do mais elegante e bonito talhe. Contavam os que de perto
a conheciam que as suas ligas eram verdadeiros bijous
de rendas e combinações de cores, e que as camisas
que usava se singularizavam pela arrojada fantasia que expressavam. Uns
depreciavam‑na dizendo
que ela não era merecedora de que lhe rendessem culto. Outros elogiavam‑na afirmando que ela era uma histerica dotada de um
temperamento de fogo, que se interessava excessivamente pelas lutas de Venus e
que possuia segredos quase maravilhosos para elevar as regiões de inenarráveis gozos
as mais insensiveis e cristalizadas decadências, gastas no abuso dos prazeres
da deusa. Aos primeiros respondia ela triunfantemente com as suas toilettes
de preço, as suas joias, os seus chapeus, as
carruagens em que andava e toda essa bagagem de luxo que custa sempre muito
caro e exige elevados reditos para se poder manter. Eu fui sempre da opiniao
dos segundos. [...] Mas…
achava‑lhe
um não sei que, um tic,
uma nota irritante e expressiva que me mordia a carne como um estilete de fogo,
pois me segredava que aquela mulher devia possuir verdadeiros tesouros de volúpia
quando a ardencia do seu temperamento, expressa no seu olhar quente e singular,
a levasse a interessar‑se pelo
homem que a possuísse. [...] Veja mais aqui.
PELE
DE LOBO – A comédia em
um ato Pele de Lobo (1875), do
dramaturgo, poeta e jornalista Artur
Azevedo (1855-1908), é uma divertida sátira ao sistema de policiamento do
império. Da obra destaco a cena X: [...] Cena X (Os mesmos e um Soldado) Soldado (a Cardoso.) Trouxeram este ofício e esta
carta para Vossa Senhoria. (Entrega a carta e o ofício e sai.) Cardoso De cá. (Abrindo a
carta.) Com licença. (Lê.) É um bilhete em que o oficial do gabinete
do ministro me participa haver sido outro nomeado para a vaga do Cantidiano...
E metam-se! Perdigão Hein?
Cardoso E metam-se a
servir o país! (Abrindo o ofício.) Com licença! (Depois de ler o
ofício.) Sabem o que é? Minha demissão. Perdigão e Amália Demissão? Cardoso Á vista do que a meu respeito tem aparecido na
imprensa periódica! Perdigão Não
falemos mais nisso! Vamos embora. Cardoso
Poupou-me o trabalho de pedi-la. Amália Quem não quiser ser lobo... Perdigão Mas o compadre acaba de despir a pele do lobo. (Apanhando
o fitão.) Ei-la! Cardoso Atxim!
(Saem tos os três e cai o pano.) (Cai o pano). Veja mais aqui.
ROSY
LA BOURRASQUE – A
comédia Rosy la bourrasque (Rosy Furacão, 1980), do cineasta e roteirista italiano Mario Monicelli (1915-2010), conta a
história de uma grave lesão sofrida por um pugilista que se junta a uma equipe
de luta livre feminina, na qual conhece a imponente Rosy, com quem se casa,
acompanhando o crescimento estonteante da carreira dela e a decadência até o
esquecimento da sua carreira, tornando-os amantes adversários. É uma adaptação
livre de um romance de Carlo Brizzolara, no qual traz como destaque a atriz
estadunidente Faith Minton. Veja
mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Nude black and white, do pintor e desenhista do
Romantismo francês Pierre-Paul Prud'Hon
(1758-1823)
Veja mais sobre:
Ética e moral aqui.
E mais:
Ética a Nicômaco de Aristóteles, a poesia
de John Donne, Casa das bonecas de Henrik Ibsen, Justine de Marquês de Sade, O
anjo exterminador de Luis Buñuel, a arte de Darel Valença Lins, a música de
Antonio Carlos Nóbrega, a pintura de Hieronymus Bosch & A maneira de ser de
Marilene Alagia Azevedo aqui.
As drogas & as campanhas antidrogas, Ética, A droga é só um pretexto de Francis Curtet, o pensamento de Milton
Friedman, Pé na estrada de Jack Kerouac, a música do Yes,
a pintura de Félicien Rops & Carlos
Schwabe aqui.
A educação na sociologia de Émile
Durkheim aqui.
Diário da guerra do porco de Adolfo Bioy
Casares, A canção de Guillaume de Poictiers, a música de Charles Mingus, Cabra
marcado para morrer, a pintura de Pierre Bonard, Estética Teatral, a fotografia
de John Watson & a arte de Louise Cardoso aqui.
A literatura de Monteiro Lobato, o teatro
de Jerzy Grotowski, a poesia de Antero de Quental, a arte de Patrícia Galvã –
Pagu, a pintura de Jean-Baptiste Debret, a música de Uakti & Sacudindo
Choro aqui.
A festa das olimpíadas do Big Shit
Bôbras, Nietzsche & a modernidade de Oswaldo Giacoia Junior, a poesia de
Gregory Corso, Intelectuais à brasileira de Sergio Miceli, a música de Wanda
Sá, a pintura de Augusta Stylianou, o grafite de Banksy, a arte de Nancy L
Jolicoeur & Nádia Gal Stabile aqui.
O sonho do amor, a literatura de Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, a
Gestalt de Afonso Lisboa da Fonseca, a arte de Ana Maia Nobre, As ventanias de
Ana Viera Pereira, a pintura de Sandra Hiromoto, Luciah Lopez & Ana
Cascardo aqui.
Andejo da noite e do dia, A era dos extremos de Eric Hobsbawm, A
felicidade paradoxal de Gilles Lipovetsky, O amor de Martha Medeiros, a música
de Gal Costa, a escultura de Nguyen Tuan, a pintura de Jeremy Lipking, a arte
de Shanna Bruschi & Conto&Cena de Gisele Sant'Ana Lemos aqui.
Perfume da inocência, O amor e o matrimônio de Carmichael
Stopes, a poesia de Automédon de Cízico, A psicologia do amor romântico de
Robert A. Johnson, a fotografia de Beth Sanders, a pintura de Peter Blake, a
arte de Chris Buzelli, a música de Maria Leite &
Rebeca Matta aqui.
Do que fui pro que sou, Borges e os orangotangos de Luís
Fernando Veríssimo, Moby Dick de Herman Melville, Novíssima arte brasileira de Katia Canton, o Big Jato de Xico Sá & Matheus
Nachtergaele, a música de Robertinho de Recife, a coreografia de Simone
Gutierrez & a pintura de Andre Kohn aqui.
Da inocência e da injustiça milenar, As aventuras da dialética de Maurice
Merleau-Ponty, Histórias do tempo de Lya Luft, a poesia de Ilya Kabakov, a música de Yo-Yo Ma, a arte de Deise
Furlani, a pintura de Oswaldo Guayasamin & Patrick Palmer, o cinema de
Milos Forman & Natalie Portman aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis
Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Aprume a conversa aqui.