
OUTROS DITOS
Não me pergunta
mais nada do passado. São infinitos os modos como os tesouros caem do céu...
Pensamento do
escritor japonês prêmio Nobel de Literatura de 1968, Yasunari Kawabata (1899-1972).
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O OSSO, DE
HERMILO BORBA FILHO
[...] Na mesma comida de todos os dias,
três dias depois Lonico-Soldador na sopa viu o osso: reconheceu-o, não podia se
enganar; e sem ninguém lhe prestar atenção puxou o canivete e gravou na lasca
do osso um W que para ele significava vai-e-volta; e comeu tudo sem a menor
indisposição, até achando graça na picardia de Guará, sem o osso rico dando uma
de guaxumé na sopa sem guaxumé; e nos dias que se seguiram tratou de prestar
atenção à sopa dos outros e foi vendo o osso de prato em prato, ora nesse ora
naquele: chegava a se levantar da sua mesa, ia lá, agarrava o osso, via o W,
ria e voltava. De casa em casa, nas lides do oficio, soldando panelas,
frigideiras, papeiros, tachos, Lonico-Soldador, nos almoços de cozinha, quebra
da paga, foi acompanhando a vida do osso: tanto podia vir na sopa como no
chambaril, como no cozido como na mão-de-vaca; viu o osso na cozinha do
prefeito, na do juiz, na do médico, na do promotor, na do tabelião, voltou a
vê-lo no boteco do Guará e viu-o na cozinha do padre num dia, na do pastor
protestante no outro, vez por outra de novo em Guará, certa vez em casa de um
seleiro que morava na Rua da Ponte, outra na de um ferroviário, o osso sempre
amarelado, mas sem guaxumé, fingindo de rico sem mais sustança. Indo soldar o
cano de um quintal viu-o no reco-reco da roedura de um perdigueiro, deu-o por
perdido, mas no dia seguinte lá estava na rica e linda sopa do mais abastado
comerciante de sexos e molhados da cidade, boiando, resplandecente, o W cada
vez mais cavado; e até o fim da sua vida, que foi longa, Lonico-Soldador
conviveu com o osso, vez por outra falando com o osso quando não havia ninguém
por perto, não com medo do escândalo, mas com medo de que descobrissem o seu
segredo [...].
Trecho do conto extraído da obra Contos
(CEPE, 2017), de Hermilo Borba Filho. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui,
aqui, aqui, aqui & aqui.
FAZER AMOR, DE JEAN-PHILIPE
TOUSSAINT
[...] Mesmo
antes de nos beijarmos pela primeira vez, Marie já tinha começado a chorar:
Tinha sido em um táxi, havia mais de sete anos, ela estava sentada ao meu lado,
com o rosto coberto de lágrimas, na penumbra do veículo que atravessava as
sombras fugidias das margens do Sena e os reflexos amarelos e brancos dos
carros com que cruzávamos. Aquela altura, ainda não nos tínhamos beijado, eu
ainda tinha feito a mínima declaração de amor – mas será que algum dia eu já
lhe fiz alguma declaração de amor? -, e fiquei lá olhando para ela, comovido,
desamparado, por vê-la chorar daquele jeito ali ao meu lado [...].
Trecho extraído
da obra Fazer amor (Globo, 2005), do escritor, cineasta e fotógrafo
belga Jean-Philippe Toussaint. Veja mais aqui & aqui.
CRÔNICA DE AMOR
POR ELA: SOU NELA...
Atordoado por
seu encanto a noite voava dos porões de seu ser para me inebriar com a sua astuta
entrega nua celebrando o apogeu de nosso gozo inenarrável...
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