DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: AB IMO PECTORE - Inventário
do que sobrou: trapos e cacos, coágulos eclodem nas cicatrizes e o sangue a se
derramar dos olhos: todos os mortos e mortes comigo e em mim. E era uma vez
duas três vezes muitas e todas, resisto e as feridas cobrem a pele, sinal de
aprendizado. A voz é rouca, mas é capaz da Dedução
de Maiakovski: Não acabarão nunca com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está
provado, pensado, verificado. Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e
faço o juramento: Amo firme, fiel e verdadeiramente. Tal como o poeta, sou todo coração.
DUAS: O QUE É DE HOJE NÃO É AMANHÃ – Não há futuro senão
agora. O tempo de ontem ou amanhã é o presente, o que ficou ou passou e o que
virá, este o instante e a existência, não mais nem menos. Ouvi Rubem Alves: A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no
presente. Por isso, mais do que nunca, eu vivo e voo.
TRÊS: A VOZ EXPLODE O PEITO - Sempre falei de amor, mesmo que
olvidassem. Assim, sempre aprendiz: amor&arte, amorarte, o que ainda não
sei, dedicado. E me disse Herbert Marcuse: A verdade da arte reside no
seu poder de quebrar o monopólio da realidade estabelecida para definir o que é
real. E a me confundir entre a verdade e o real, o ilusório e o atual, Degas riscou no meu ouvido: A arte não é o que você vê, mas o que você
faz os outros verem. Ah, quisera me salvar entre devires e simulacros. Não
dá para calar, agora a voz explodiu o peito. Até segunda. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Fazer ou não fazer o trabalho. Pode ajudar pensar dessa forma. Se você
foi destinado a descobrir a cura do câncer, escrever uma sinfonia, conseguir realizar
a fusão a frio e não o fizer, você não apenas causará mal a si próprio. Ou até
mesmo se destruirá. Você causará mal a seus filhos. Causará mal a mim. Causará
mal ao planeta. Você envergonha os anjos que o protegem e contraria o
Todo-Poderoso, que criou você e apenas você com seus dons exclusivos, com o
único objetivo de empurrar a raça humana um milímetro para a frente, em seu
longo caminho de volta a Deus. O trabalho criativo não é um ato egoísta ou um
pedido de atenção por parte do ator. É uma dádiva para o mundo e para todo ser
vivo que o habita. Não nos prive de sua contribuição. Dê-nos o que você possui. Trecho de A vida do
artista, extraído da obra Guerra da arte: supere
os bloqueios e vença suas batalhas interiores de criatividade (Ediouro, 2005), do escritor e roteirista estadunidense Steven
Pressfield, obra esta que é dividida em três partes: o livro 1,
trata da definição do inimigo, a resistência invisível, interna, insidiosa,
implacável, impessoal, infalível, universal, nunca dorme, joga para ganhar,
alimenta-se do medo, atua em única via e direção; é mais forte na reta final,
recruta aliados e procrastina, além de relacionar a resistência com o sexo, aos
problemas, dramatização, automedicação, vitimização, escolha de parceiro, a
infelicidade, o fundamentalismo, a crítica e a falta de confiança em si, o medo
e o amor, ser uma estrela e o isolamento, cera e apoio, a racionalização e a
resistência a ser vencida. No livro 2, combalendo a resistência para se tornar
um profissional e sua relação com amadores, o dia-a-dia de um escritor, um
pobre coitado, amor ao jogo e a relação do profissional com a paciência, ordem,
desmistificação, diante do medo a reação, não aceitar desculpas, enfrentar
condições que se deparar, preparado e não se exibe, dedica-se a dominar a
técnica, não hesita em pedir ajuda, se distancia do seu instrumento, não leva o
fracasso ou sucesso para o lado pessoal, suporta adversidade, homologa a si
próprio, reconhece limitações, reinventa a si próprio e é reconhecido como
aquele que não desiste. No livro 3, trata além da resistência, o reino
superior, anjos no abstrato, abordando o mistério, invocando a musa, testamento
de visionário, a magia de começar e continuar, vida e morte, ego e self, experiência
e medo, território e hierarquia, orientação hierárquica, definição de
escrevinhador, orientação territorial, a virtude suprema, os frutos do trabalho,
o retrato e a vida do artista.
COMO SE
PODE SER POETA?, DE EVE MERRIAM
tome a folha de uma árvore / trace sua forma exata / suas bordas
externas / e suas linhas internas / memorize o modo como se prende à haste / (e
como a haste arqueia a partir do galho) / como em abril ela se expande / como
em julho ela se enrijece / em fins de agosto / amasse-a em sua mão / para que
você cheira sua tristeza de fim de verão / mastigue seu talo de madeira / ouça
seu tagarelar de outono / veja como no ar de novembro ela se pulveriza / no
inverno então / quando não há folha que sobre / inventa uma.
EVE
MERRIAM - Poema da escritora estadunidense Eve
Merriam (1916–1992), que teve um musical na Broadway, chamado
Inner City, baseado no seu livro Inner City Mother Goose. Veja mais aqui.
A ARTE DE CHIE YOSHII
A arte
da pintora visionária surrealista japonesa Chie
Yoshii, que possui uma obra inspirada na analogia entre os contos
mitológicos e a psicologia humana. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
A arte da premiada pintora, ceramista, tapeceira e
escultora Inalda Xavier
(1930-2017), que participou de exposições coletivas e individuais dentro e fora
do Brasil e fundadora da Oficina Guaianases de Gravura.
&
A música do multi-instrumentista, maestro, arranjador,
compositor e orquestrador Sivuca –
Severino Dias de Oliveira (1930-2006) aqui e aqui.
Reencontro, do escritor e dramaturgo Osman Lins
(1924-1978) aqui.
Do amor
e suas perversidades, da poeta, psicóloga e editora Dione Barreto aqui.
Mulheres
construindo a igualdade – Caderno Etnicorracial,
organizado por Celma Tavares et al aqui.
Zona da Mata de Pernambuco; estudo de alternativas de
geração de emprego e renda no meio urbano,
coordenado por João Policarpo Rodrigues de Lima et al aqui.
&