segunda-feira, julho 20, 2020

GAYATRI SPIVAK, PILLE-RITE REI, CAIO CEZAR, RENATA DE BONIS, DANIELA MESQUITA & VITAL CORRÊA DE ARAÚJO



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA ASA DA PALAVRA - Meu coração está em toda parte porque nele não sou eu em mim, sou a elegia de Carlo no dia da amizade que partiu de Gênova e aqui está irrespirável tal como o verso de Adrian Păunescu: Não vamos morar aqui, é impossível / Não vamos morrer mais, não é mais livre. / Para lutar contra todos / em uma sangrenta guerra promíscua, / Viva a corrente que entra em nossos ossos! / Viva a festa, prisão, morte, o imposto! Momento assim inevitável Petrarca: Como difícil é salvar a casca da reputação das pedras da ignorância. Enquanto afugentam ânimos e propagam ódio e morte no meu país, insisto em viver e glorificar a vida: o poema do coração na asa da palavra.

DUAS DITAS PARA NÃO DIZER NADA - Sou processo, projeto em execução. Experimento e distingo, não é tão fácil viver, valho-me de Moholy-Nagy: Projetar não é uma profissão, mas uma atitude. A experiência do espaço não é um privilégio de poucos talentosos, mas uma função biológica. Meu talento está na expressão da minha vida e poder criativo através da luz, cor e forma. Como pintor, posso transmitir a essência da vida. Fiz do canto o meu destino: alma na garganta, coração às mãos. Não importa onde quer que esteja, persisto.

TRÊS VALENDO O QUE SOU & NADA MAIS - Longe de curvar joelhos, cruzar os braços, maldizer de tudo. De novo Petrarca dá o tom do momento: É verdade, nós amamos a vida, não porque estamos acostumados à vida, mas porque estamos acostumados a amar. Há sempre alguma loucura no amor, mas há também sempre alguma razão na loucura. O amor é a graça suprema da humanidade, o mais sagrado direito da alma, o elo de ouro que nos une ao dever e à verdade, o princípio redentor que reconcilia o coração para a vida, e é profético do bem eterno. O eco traz um solo transcendental de Carlos Santana que me fala ao ouvido: Amar a Vida vale a pena. Tudo é um campo de batalha. Se você luta com raiva, você é parte do problema, Se você luta com alegria, você é parte da Solução! O bem mais valioso que você pode ter é um coração aberto. A arma mais poderosa que você pode ser é um instrumento de paz. Eu estou rindo porque eu sei o segredo da vida. E o segredo da vida é que eu validei minha existência. Eu sei que eu valho mais do que minha casa, minha conta no banco ou qualquer outra coisa física. Tantas vozes, zis poemas. Enquanto respiro me imortalizo, porque sou sempre agora desde ontens até amanhãs. Até depois. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Se, no contexto da produção colonial, o sujeito subalterno não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno feminino está ainda mais profundamente na obscuridade [...] às camadas mais baixas da sociedade constituídas pelos modos específicos de exclusão dos mercados, da representação política e legal, e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estrato social dominante [...] Ao representá-los, os intelectuais representam a si mesmos como sendo transparentes [...] relação entre capitalismo global (exploração econômica) e as alianças dos Estados-nação (dominação geopolítica) é tão macrológica que não pode ser responsável pela textura micrológica do poder. Para se compreender tal responsabilidade, deve-se procurar entender as teorias da ideologia – de formações de sujeito, que, micrológica e, muitas vezes, erraticamente, operam os interesses que solidificam as macrologias [...] a teoria é um revezamento da prática (deixando, assim, os problemas da prática teórica de lado), e os oprimidos podem saber e falar por si mesmos. Isso reintroduz o sujeito constitutivo em pelo menos dois níveis: o Sujeito de desejo e poder como um pressuposto metodológico irredutível; e o sujeito do oprimido, próximo de, senão idêntico, a si mesmo. Além disso, os intelectuais, os quais não são nenhum desses S/sujeitos, tornam-se transparentes nessa “corrida de revezamento”, pois eles simplesmente fazem uma declaração e analisam (sem analisar) o funcionamento do (Sujeito inominado irredutivelmente proposto pelo) poder e desejo [...] o mais claro exemplo de tal violência epistêmica é o projeto remotamente orquestrado, vasto e heterogêneo de se construir o sujeito colonial como o Outro [...]  Sobre este último e a possibilidade de escolha pela liberdade [...] essa ênfase no livre-arbítrio estabelece o peculiar infortúnio de se ter um corpo feminino [...]. Trechos extraídos da obra Pode o subalterno falar? (EdUFMG, 2010), da crítica e teórica indiana Gayatri Spivak, considerado um texto fundamental sobre o pós-colonialismo e a autora uma importante representante da produção teórica pós-colonial, crítica feminista relevante, em termos de sua influência na produção intelectual em escala global.

A MÚSICA DE PILLE-RITE REI
Num dia frio de dezembro, em Malmö, fui a um concerto de Natal em que uma peça minha para orquestra e coro seria apresentada. Depois, os amigos me chamaram para comer pizza. Tinha uma brasileira no grupo, Daniela Mesquita. Perguntei de onde era e ela disse: ‘Brasil’. Do nada, comecei a cantar ‘O Pato’. Ela disse que eu tinha que ir para o Brasil e que ia dar um jeito de fazer isso acontecer. Eu ria, pois não acreditava. Poucos dias depois, porém, recebi um telefonema do líder de um programa de intercâmbio dizendo que tinha ouvido falar a meu respeito e que, se eu quisesse, poderia morar no Brasil como estudante. Dois meses depois, eu estava instalada em Ipanema. Tudo era exatamente como eu imaginava! Até melhor. Era como se eu tivesse estado no Rio antes. Eu amo o Rio. Jamais vou me esquecer da experiência que tive em 2018. Estava tocando na rua, em Ipanema. Um homem visivelmente pobre parou para me ouvir. Era vendedor de esponjas de cozinha. Ele mostrou com gestos que tinha gostado da música, mas não poderia colaborar. Respondi que não precisava dar dinheiro, bastava escutar. Ele ouviu todas as músicas e, quando terminei, me deu uma esponja de presente. Nessa altura, estávamos os dois com lágrimas nos olhos
PILLE-RITE REI - A música da cantora, saxofonista e compositora estoniana Pille-Rite Rei, que já lançou o álbum Brazilian Adventures (2019).
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O CANTO DE DANIELA MESQUITA
A arte musical de Daniela Mesquita, que fez seu mestrado em Música da UFRJ (PROMUS), sobre o tema Kindertotenlieder, de Gustav Mahler – quando a luz transcende a morte: performance e relato de experiência (2017), um estudo da obra Kindertotenlieder, de Gustav Mahler, com foco na interpretação do cantor lírico. Veja mais aqui.

A ARTE DE RENATA DE BONIS
Comecei a me perguntar por quanto tempo essas rochas existiam, por quanto tempo o processo de formação de areia preta ocorreu e assim por diante... Nesse momento, comecei a experimentar esses elementos, opondo-os a objetos de outro tempo. Em algumas esculturas, elementos naturais, como pedras e conchas, são contrapostos a materiais de construção, como concreto e gesso, que nos cercam e nos envolvem nas grandes cidades. Minha intenção era discutir e refletir sobre a brevidade e a fragilidade da vida humana diante de materiais que testemunharam muito mais do que nós. Minha atenção voltou-se para os próprios materiais e sua representação se tornou secundária. O que acho interessante nessa transição é que a percepção da paisagem não desapareceu do meu trabalho: ela migrou da pintura - que é uma representação muito estática em uma superfície, para uma visão ampliada da paisagem. Parei de pintar os lugares para investigá-los. Essa experiência também chamou minha atenção para a passagem do tempo. As dimensões do lugar me fizeram sentir questões insignificantes e existenciais sobre a transitoriedade da vida humana acabaram se tornando um dos principais temas do meu trabalho.
RENATA DE BONIS - A arte da artista visual Renata De Bonis, que se formou em Artes Visuais na FAAP em 2006 e mestrado pela UNESP, e tem desenvolvido a sua investigação em pintura e obras tridimensionais, como esculturas e instalações sonoras. Sua pesquisa envolve interesse em diferentes percepções de tempo, como o geológico e o mundano e as relações do homem contemporâneo com a natureza e a paisagem. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A arte do violonista, produtor musical e arranjador Caio Cezar, autor do álbum musical Caio Cezar interpreta João Pernambuco que lhe rendeu a indicação para o Prêmio Sharp, afora ter composto trilhas sonoras para teatro e cinema, incluindo o desenho animado Alma Carioca, sobre Pixinguinha e João da Baiana, vencedor do Prêmio Petrobras. Como pesquisador trabalha no levantamento das obras de Canhoto da Paraíba e Pixinguinha - colaborando com o Instituto Moreira Salles. É diretor do Centro de Ópera de Acari, que reúne 250 jovens da comunidade de Acari no Rio de Janeiro. Do projeto surgiu a orquestra de cordas dedilhadas AcariOcamerata, que vem se destacando junto a crítica e o público.
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A poesia absoluta de Vital Corrêa de Araújo: Dicionário anticrítico de êmbolos e lampejos, Pálpebra de pedra, Atanor, Inesperadas nêsperas & Vate Vital aqui, aqui, aqui & aqui.
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A música de Orquestra Armorial & Quinteto Armorial aqui.
Terra pernambucana, do professor, jornalista e escritor Mario Sette (1886-1950) aqui.
Guerra sem testemunhas, do escritor e dramaturgo Osman Lins (1924-1978) aqui & aqui.
A obra de Maria Áurea Santa Cruz aqui.
O lamentável expediente da guerra aqui.
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O município de Sanharó aqui & aqui.


ALICIA PULEO, CRISTINA GÁLVEZ MARTOS, TATYANA TOLSTAYA & BARRO DE DONA NICE

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Britten Piano Concerto (1990), MacGregor on Broadway (1991), Outside in Pianist (1998), D...