DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA ASA DA PALAVRA - Meu
coração está em toda parte porque nele não sou eu em mim, sou a elegia de Carlo no dia da amizade que
partiu de Gênova e aqui está irrespirável tal como o verso de Adrian Păunescu: Não vamos morar aqui, é impossível / Não vamos morrer mais, não é mais
livre. / Para lutar contra todos / em uma sangrenta guerra promíscua, / Viva a
corrente que entra em nossos ossos! / Viva a festa, prisão, morte, o imposto! Momento
assim inevitável Petrarca: Como difícil é salvar a casca da reputação
das pedras da ignorância. Enquanto afugentam ânimos e propagam ódio e morte
no meu país, insisto em viver e glorificar a vida: o poema do coração na asa da
palavra.
DUAS DITAS PARA NÃO DIZER NADA - Sou processo, projeto em execução. Experimento
e distingo, não é tão fácil viver, valho-me de Moholy-Nagy: Projetar não é uma
profissão, mas uma atitude. A experiência do espaço não é um privilégio de
poucos talentosos, mas uma função biológica. Meu talento está na expressão da
minha vida e poder criativo através da luz, cor e forma. Como pintor, posso
transmitir a essência da vida. Fiz do canto o meu destino: alma na garganta,
coração às mãos. Não importa onde quer que esteja, persisto.
TRÊS VALENDO O QUE SOU & NADA MAIS - Longe de curvar joelhos,
cruzar os braços, maldizer de tudo. De novo Petrarca dá o tom do momento: É
verdade, nós amamos a vida, não porque estamos acostumados à vida, mas porque
estamos acostumados a amar. Há sempre alguma loucura no amor, mas há também
sempre alguma razão na loucura. O amor é a graça suprema da humanidade, o mais
sagrado direito da alma, o elo de ouro que nos une ao dever e à verdade, o
princípio redentor que reconcilia o coração para a vida, e é profético do bem
eterno. O eco traz um solo transcendental de Carlos Santana que me fala ao ouvido: Amar a Vida vale a pena. Tudo é um campo de batalha. Se você luta com
raiva, você é parte do problema, Se você luta com alegria, você é parte da Solução!
O bem mais valioso que você pode ter é um coração
aberto. A arma mais poderosa que você pode ser é um instrumento de paz. Eu
estou rindo porque eu sei o segredo da vida. E o segredo da vida é que eu
validei minha existência. Eu sei que eu valho mais do que minha casa, minha
conta no banco ou qualquer outra coisa física. Tantas vozes, zis poemas. Enquanto respiro me
imortalizo, porque sou sempre agora desde ontens até amanhãs. Até depois.
© Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Se, no contexto da produção colonial, o
sujeito subalterno não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno
feminino está ainda mais profundamente na obscuridade [...] às camadas mais baixas da sociedade constituídas pelos modos específicos
de exclusão dos mercados, da representação política e legal, e da possibilidade
de se tornarem membros plenos no estrato social dominante [...] Ao
representá-los, os intelectuais representam a si mesmos como sendo
transparentes [...] relação
entre capitalismo global (exploração econômica) e as alianças dos Estados-nação
(dominação geopolítica) é tão macrológica que não pode ser responsável pela
textura micrológica do poder. Para se compreender tal responsabilidade, deve-se
procurar entender as teorias da ideologia – de formações de sujeito, que,
micrológica e, muitas vezes, erraticamente, operam os interesses que
solidificam as macrologias [...] a
teoria é um revezamento da prática (deixando, assim, os problemas da prática
teórica de lado), e os oprimidos podem saber e falar por si mesmos. Isso
reintroduz o sujeito constitutivo em pelo menos dois níveis: o Sujeito de
desejo e poder como um pressuposto metodológico irredutível; e o sujeito do
oprimido, próximo de, senão idêntico, a si mesmo. Além disso, os intelectuais,
os quais não são nenhum desses S/sujeitos, tornam-se transparentes nessa
“corrida de revezamento”, pois eles simplesmente fazem uma declaração e
analisam (sem analisar) o funcionamento do (Sujeito inominado irredutivelmente
proposto pelo) poder e desejo [...] o
mais claro exemplo de tal violência epistêmica é o projeto remotamente
orquestrado, vasto e heterogêneo de se construir o sujeito colonial como o
Outro [...] Sobre este último e a possibilidade de escolha pela liberdade [...]
essa ênfase no livre-arbítrio estabelece
o peculiar infortúnio de se ter um corpo feminino [...]. Trechos extraídos
da obra Pode o subalterno falar? (EdUFMG,
2010), da crítica e teórica indiana Gayatri
Spivak, considerado um texto fundamental sobre o pós-colonialismo e a
autora uma importante representante da produção teórica pós-colonial, crítica feminista relevante, em termos de sua influência na
produção intelectual em escala global.
A MÚSICA
DE PILLE-RITE REI
Num dia frio de dezembro, em Malmö, fui a um concerto de Natal em que
uma peça minha para orquestra e coro seria apresentada. Depois, os amigos me
chamaram para comer pizza. Tinha uma brasileira no grupo, Daniela Mesquita. Perguntei de onde
era e ela disse: ‘Brasil’. Do nada, comecei a cantar ‘O Pato’. Ela disse que eu tinha que ir para o Brasil e que ia
dar um jeito de fazer isso acontecer. Eu ria, pois não acreditava. Poucos dias
depois, porém, recebi um telefonema do líder de um programa de intercâmbio
dizendo que tinha ouvido falar a meu respeito e que, se eu quisesse, poderia
morar no Brasil como estudante. Dois meses depois, eu estava instalada em
Ipanema. Tudo era exatamente como eu imaginava! Até melhor. Era como se eu
tivesse estado no Rio antes. Eu amo o Rio. Jamais vou me esquecer da
experiência que tive em 2018. Estava tocando na rua, em Ipanema. Um homem
visivelmente pobre parou para me ouvir. Era vendedor de esponjas de cozinha.
Ele mostrou com gestos que tinha gostado da música, mas não poderia colaborar.
Respondi que não precisava dar dinheiro, bastava escutar. Ele ouviu todas as
músicas e, quando terminei, me deu uma esponja de presente. Nessa altura,
estávamos os dois com lágrimas nos olhos
PILLE-RITE REI - A música da cantora,
saxofonista e compositora estoniana Pille-Rite
Rei, que já lançou o álbum Brazilian Adventures (2019).
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O CANTO
DE DANIELA MESQUITA
A arte musical de Daniela Mesquita, que fez seu mestrado em Música da UFRJ (PROMUS), sobre
o tema Kindertotenlieder,
de Gustav Mahler – quando a luz transcende a morte: performance e relato de
experiência (2017), um estudo da obra Kindertotenlieder, de
Gustav Mahler, com foco na interpretação do cantor lírico. Veja mais aqui.
A ARTE DE RENATA DE BONIS
Comecei a me perguntar por quanto tempo essas rochas
existiam, por quanto tempo o processo de formação de areia preta ocorreu e
assim por diante... Nesse momento, comecei a experimentar esses elementos,
opondo-os a objetos de outro tempo. Em algumas esculturas, elementos naturais,
como pedras e conchas, são contrapostos a materiais de construção, como
concreto e gesso, que nos cercam e nos envolvem nas grandes cidades. Minha
intenção era discutir e refletir sobre a brevidade e a fragilidade da vida
humana diante de materiais que testemunharam muito mais do que nós. Minha
atenção voltou-se para os próprios materiais e sua representação se tornou secundária.
O que acho interessante nessa transição é que a percepção da paisagem não
desapareceu do meu trabalho: ela migrou da pintura - que é uma representação
muito estática em uma superfície, para uma visão ampliada da paisagem. Parei de
pintar os lugares para investigá-los. Essa experiência também chamou minha
atenção para a passagem do tempo. As dimensões do lugar me fizeram sentir
questões insignificantes e existenciais sobre a transitoriedade da vida humana
acabaram se tornando um dos principais temas do meu trabalho.
RENATA DE BONIS - A arte da artista visual Renata De Bonis, que se formou em Artes Visuais na FAAP em 2006 e
mestrado pela UNESP, e tem desenvolvido a sua investigação em pintura e obras
tridimensionais, como esculturas e instalações sonoras. Sua pesquisa envolve
interesse em diferentes percepções de tempo, como o geológico e o mundano e as
relações do homem contemporâneo com a natureza e a paisagem. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
A arte do violonista, produtor musical e arranjador Caio Cezar, autor do álbum musical Caio Cezar
interpreta João Pernambuco que lhe rendeu a indicação para o Prêmio Sharp,
afora ter composto trilhas sonoras para teatro e cinema, incluindo o desenho
animado Alma Carioca, sobre Pixinguinha e João da Baiana, vencedor do
Prêmio Petrobras. Como pesquisador trabalha no levantamento das obras de
Canhoto da Paraíba e Pixinguinha - colaborando com o Instituto Moreira Salles.
É diretor do Centro de Ópera de Acari, que reúne 250 jovens da comunidade de
Acari no Rio de Janeiro. Do projeto surgiu a orquestra de cordas dedilhadas
AcariOcamerata, que vem se destacando junto a crítica e o público.
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A poesia
absoluta de Vital Corrêa de Araújo: Dicionário
anticrítico de êmbolos e lampejos, Pálpebra de pedra, Atanor, Inesperadas
nêsperas & Vate Vital aqui, aqui, aqui & aqui.
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A música
de Orquestra Armorial & Quinteto
Armorial aqui.
Terra
pernambucana, do professor, jornalista e escritor Mario Sette
(1886-1950) aqui.
A obra
de Maria Áurea Santa Cruz aqui.
O lamentável expediente da guerra aqui.
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