CARTA DE GRATIDÃO - Sou
grato, de fato e de direito. À mesa, um prato, abracadabra! Sirvo-me do
necessário, não gasto o disponível por que não tenho, nem excedo por que me
falta, mesmo que tivesse. Nem muito ou pouco me basta, vou sempre além do que
posso. Vá entender. Da minha parte sou grato pelo dia que amanhece e pela tarde
que convida a noite para a insônia da criação ou descanso das pugnas diárias;
pelo ar que respiro apesar de envenenado, pela água cristalina ou poluída que
mata a minha sede, pelo que ouço de harmonia e ruído, pela pele e superfícies
que toco, pelo perfume dos jardins e fedentina dos lixos; pelo chão que piso,
pela imensidão dos céus que almejo, pelos caminhos que me convocam a andada.
Sou grato pela Natureza: campos, seres e paisagens; pelas invenções incomuns e
pelas que são de fato engenhos científicos; pelos miúdos esvoaçantes até os
mais pesados que o ar, a me ensinarem a voar sem asas nos braços; pelos que
vivem no exato e os que se foram assim do nada. Sim, sou grato pelas pessoas
que passam, uns assim, outros assados; pelas senhoras Zefinhas que puxam a
escadinha dos seus Anclotinatos; pelas Conças mocinhas que sonham com
Fortunatos. Sou grato pela solidão de os verem passar e sempre serei, mesmo
pelos que não puderam vir, como pros que só servem para tirar retrato; pela
indiferença das soberbas e por aqueles que não entenderam nem poderão sequer
visualizar sua vida canhestra; pelos que acham solução para tudo na sua razão
de plantão e pros caricatos que quase me matam de rir, minha gratulação. Meu
reconhecimento no sentido mais lato paratodos: pros que não estão nem aí para o
que está acontecendo e pros que fazem dos outros gato e sapato com seus
fingidos apertos de mãos e abraços; pros que tenha que tomar bicarbonato de
sódio para poder digerir, afora os chatos de galocha que já são de doer; pelos
que mamam nas tetas públicas e se mostram em pleno celibato; pelos timoratos e
os que armam nos outros o seu artesanato; pros que precisam de contrato para
infringir as avenças e rompem seus tratos na maior cara lisa; os que são que
nem carrapato na cacunda da vítima e que aprontam sem o menor recato, como os
que fazem da lama o seu prato ou fazem valer que a vida é o maior barato, a
todos meu reconhecimento. Sou mais agradecimentos aos fratres e sorores,
ouroboros, saúdo, a vida é desiderato: cada qual tenha ou não, sigo adiante.
Sou eterna gratidão. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Os sistemas de cultivo e as técnicas
especialmente adequadas às necessidades dos agroecossistemas específicos
resultam em uma agricultura mais refinada, baseada em um mosaico de variedades
genéticas tradicionais e aperfeiçoadas, insumos locais e técnicas, sendo cada
composição ajustada a um determinado nicho ecológico, social e econômico. [...]
Ao converter os sistemas de monocultura
de alto uso de insumos para o manejo agroecológico, o desafio é a busca de
meios de utilização dos insumos externos apenas para obter elementos em déficit
no ecossistema e aumentar os recursos biológicos, físicos e humanos
disponíveis. Ao utilizar os insumos externos, dá-se atenção principalmente à
reciclagem máxima e ao impacto nocivo mínimo sobre o ambiente. O
desenvolvimento de agroecossistemas autossuficientes, diversificados e viáveis
economicamente surgirá de novos sistemas integrados de agricultura, com
tecnologias ao alcance dos agricultores e adaptadas ao meio ambiente. [...]
É crucial que os cientistas envolvidos na
busca por tecnologias agrícolas sustentáveis se preocupem com quem, finalmente,
se beneficiará com elas. Isso exige que eles reconheçam a importância do fator
político quando as questões científicas básicas são colocadas em discussão, e
não somente quando as tecnologias são distribuídas à sociedade. Assim, o que é
produzido, como é produzido e para quem é produzido são questões-chave que
precisam ser levantadas, caso se queira fazer surgir uma agricultura
socialmente justa. [...] além do
desenvolvimento e difusão de tecnologias agroecológicas, a promoção da
agricultura sustentável exige mudanças nas agendas das pesquisas, bem como
políticas agrárias e sistemas econômicos abrangendo mercados abertos e preços
e, ainda, incentivos governamentais. [...].
Trechos
extraídos da obra Agroecologia: a
dinâmica produtiva da agricultura sustentável (EdUFRGS, 2004), do agrônomo
e entomologista chileno Miguel Altieri, que em
uma entrevista (Carta Maior, 2013), expressou que: [...] O Brasil está muito avançado, tem uma grande
diversidade de agricultura, permacultura, homeopatia, agroflorestas, etc. Mas
há uma confusão porque muitos pensam que isso é agroecologia, só que você pode
fazer uma monocultura orgânica que não tem base agroecológica. Então a
agroecologia não é somente um sistema de produção, é uma ciência com uma série
de princípios aplicados de uma forma tecnológica que fomenta processos
ecológicos. [...]. Veja mais aqui.
O TEATRO DE ODUVALDO VIANNA FILHO
[...] LUCA: ... gás S02,
brometos, DDT, 40 toneladas de corante, é isso que as pessoas comem! Vocês
estão comendo coisas mortas, fúnebres, e isso é que explode dentro do sangue de
vocês! Hein? E para fugir desta morte, hein? Essa ansiedade! Pra afogar essa
ansiedade vocês resolveram fazer o reino da fartura e pulamem cima da natureza,
querem domá-la à porrada e comem morte e engolem carnes, bloqueiam o corpo, os
poros, sobra o cérebro pensando incendiado em descobrir um jeito de não viver e
a tensão toma conta de tudo e vocês só parem guerras, as guerras pela justiça,
pela liberdade, dignidade e nada descarrega a tensão, o cheiro de podre vem de
dentro, o sexo entra pelas frestas, sobra o sexo nas noites solitárias
martelando, então mais guerra e napalm e guerras... [...] LUCA: ...
Já foram encontrados pinguins com inseticida no corpo, a Europa já destruiu
todo seu ambiente natural, diversas espécies de animais só existem nos jardins
zoológicos, as borboletas estão acabando, vocês vivem no meio de fezes, gás
carbônico, asfalto, ataques cardíacos, pílulas, solidão... essa civilização é
um fracasso, quem fica nela e se interessa por ela, essas pessoas é que
perderam o interesse pela vida... eu é que devia te chamar pra largar tudo
isso... é na pele a vida, é dentro da gente, vocês não sabem mais se
maravilhar! Eu não estou largado pai, ontem estive na porta de uma fábrica de
inseticida, fui explicar pros operários que eles não podem produzir isso...
[...].
Trecho extraído da peça teatral Rasga coração (SNT, 1979), do dramaturgo, ator e compositor Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), o Vianinha. O texto foi transformado no
filme homônimo, dirigido por Jorge Furtado, em 2018, contando a história de um
pai com 40 anos de militância que presencia o filho acusa-lo de conservador e,
no final, o próprio se vê repetindo as atitudes do pai. Veja mais aqui, aqui
& aqui.
A FOTOGRAFIA
MARIANO VARGAS
Minhas fotos são uma pequena homenagem à
feminilidade e criação artística. Eu tento capturar a beleza, a segurança, a
condição, o sentimento da mulher da nossa época através de uma abordagem arriscada
como é o nu. A nudez faz parte do nosso cotidiano. O erotismo é uma maneira de nos mostrar o mundo e está
presente em um olhar, um gesto ou uma pose. Sem
dúvida, o cotidiano é suscetível à inspiração, causando preocupação, rejeição
da artificialidade, conexão com o espectador... Meus modelos são mulheres
simples que encontro na rua, no metrô, em uma lanchonete ou em uma loja, mas
sempre extraídas da realidade mundana a que pertencem.
A arte do fotógrafo espanhol Mariano Vargas. Veja mais aqui.
A OBRA DE PETRARCA
O verdadeiro saber é o saber que temos de nós
mesmos. De pouco adianta conhecermos a natureza das coisas e desconhecermos a
natureza do homem.
A obra
do escritor, intelectual humanista e filosofo italiano Francesco Petrarca
(1304-1374) aqui, aqui, aqui & aqui.