ERA ASSIM MESMO EM ALAGOINHANDUBA - Quando o
juiz Teje-Preso tomou o poder, o alvo era pegar Zé Peiúdo que não era besta nem
nada de esperar por tempo ruim e escapuliu, ficou escondidinho – todo mundo
sabia, só o magistrado fez que não sabia aonde. Aí achou por bem meter
Zé-Corninho na cadeia. Ué, fiz o quê? Tenho certeza que você é ladrão! Mas,
mas, mas... Tenho convicção! Provas? Não adianta recorrer, você está fodido. E
estava mesmo, coitado. Com isso, o povo ficou em polvorosa, quase meio a meio:
os cheleleus, caboetas e oportunistas que eram a maioria de certa forma, na
maior claque; os outros, os indignados, com o rabinho entre as pernas. Fazer o
quê? Para se garantir, o togado inventou uma eleição extemporânea, assim, no
vexame do capricho e sumiu. Ao reaparecer dias depois, estava legitimado com o
dobro de votos dos eleitores. Vôte! Foi. Quem votou que não vi? Num sei. Duvidasse
não, um panfleto pregado nas portas, esquinas e postes, serviço de som
alardeando e carros volantes anunciavam a vitória esmagadora: agora era mais
que autoridade, era o Imperador Teje-Preso I. Não deu tempo nem de piscar os
olhos, recebeu na lata uma pesquisa: Como é que é? A cidade é doente, só tem
doente. Como assim? Tem mais farmácia e igreja que gente! Aonde? No município,
ora! Danou-se! Ah! No sopapo, a excelência achou por bem dividir todo
território em dois: à direita, um complexo predial enorme. Para quê isso? Reunir
a polícia e o Estado Maior; ao lado, outro edifício imenso comportando a
escola, isso da educação infantil à universidade: Quero os acadêmicos com os
generais das forças armadas, para detectar qualquer problema nas águas, na
terra e nos ares. Comigo não escapa nada! Do outro lado, à esquerda, fez
construir um arranha-céu maior que a doidice dele e que não tinha mais tamanho
para juntar todos os hospitais, públicos e privados, com toda especialidade
médica, enfermagem, psicólogos, religiosos de todo tipo – não sei quantos
centros espíritas e um bocado de terreiro dos pais e mães de santo foram
sacudidos dentro, junto com as clínicas, ambulatórios e laboratórios - e até
advogados que estariam lotados num anexo suntuoso, no qual estava o Fórum com
todos os cartórios, varas judiciais e escritórios advocatícios. Tudo junto e
misturado! No acesso às edificações fez instalar num galpão quilométrico todos
os supermercados e farmácias e, do outro lado da rua, todos os templos de todas
as crenças se engalfinhando no maior pega pra capar. Tudo para agradar o
freguês! No centro fez construir uma torre feito um panóptico, com faróis para
inspecionar todas as atividades da cidade. Decretou o toque de recolher a
partir das 21 horas, suspensão da energia elétrica a partir das 22 – com ordem
de atirar em quem estivesse premiado zanzando fora de hora -, e aboliu todo
tipo de arte, admitindo-se apenas a da guerra. Para tanto, reuniu-se com todas
as manifestações religiosas para erradicar qualquer memória: fizeram um monturo
e queimaram todos os álbuns de recordações familiares. Nenhuma lembrança mais –
tanto que o fotógrafo do local, seu Uiço, foi instado a inventar uma foto que
só durasse 24 horas, sob pena de ver seu negócio quebrado no pau! Por conta das
escapulidas noturnas, o cemitério ganhou proporções latifundiárias, fato que o
fez transformar-se em espaço agrícola público para manutenção da localidade,
obrigando-se a todo morador a dar um expediente de no mínimo 6 horas diárias, e
compulsoriamente os estudantes e professores ministrarem aulas duas vezes por
semana sobre o desenvolvimento de culturas agricultáveis no local. Com tudo em
ordem, sentenciou Zé Corninho à pena de prisão perpétua; Peiúdo aparecesse não,
pena capital, mas estava soltinho para lá e para cá, armando das suas. O
negócio ganhou na fuxicagem de bater em Brasília como reboliço. O rei Coiso temendo
concorrência desleal, entrou logo em contato, atendido na hora: Aí quem manda é
você, aqui quem manda sou eu; se der as caras por estas bandas, vai ser preso também
e saiba: bala é bicho que faz um buraco medonho e pode borrar sua maquiagem.
Tenho dito, Teje-Preso I. Estava prestes a maior quebra-de-braço, de não se
saber como vai parar. Porém, para a autoridade alagoinhandubense, viverão todos
felizes para sempre. Foi nada, ôxe, o tempo passa e a coisa dá um giro do dia
pra noite de virar tudo de pernas pro ar. Quer ver? Destá. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] se por economia de subsistência não nos
contentamos em entender economia sem mercado e sem excedentes – o que seria um
simples truísmo, o puro registro da diferença –, então com efeito se afirma que
esse tipo de economia permite à sociedade que ele funda tão-somente subsistir,
afirma-se que essa sociedade mobiliza permanentemente a totalidade de suas
forças primitivas para fornecer a seus membros o mínimo necessário à
subsistência. Existe aí um preconceito tenaz, curiosamente coextensivo à ideia
contraditória e não menos corrente de que o selvagem é preguiçoso. Se em nossa
linguagem popular diz-se ‘trabalhar como um negro’, na América do Sul, por
outro lado, diz-se ‘vagabundo com um índio’. Então, das duas uma: ou o homem
das sociedades primitivas, americanas e outras, vive em economia de
subsistência e passa quase todo o tempo à procura de alimento, ou não vive em
economia de subsistência e pode, portanto, se proporcionar lazeres prolongados
fumando em sua rede. Isso chocou claramente os primeiros observadores europeus
dos índios do Brasil. Grande era sua reprovação ao constatarem que latagões
cheios de saúde preferiam se empetecar, como mulheres, de pinturas e plumas, em
vez de regarem com suor as suas áreas cultivadas. Tratava-se, portanto, de
povos que ignoravam deliberadamente que é preciso ganhar o pão com o suor do
próprio rosto. Isso era demais e não durou muito: rapidamente se puseram os
índios para trabalhar, e eles começaram a morrer. Dois axiomas, com efeito,
parecem guiar a marcha da civilização ocidental, desde a sua aurora: o primeiro
estabelece que a verdadeira sociedade se desenvolve sob a sombra protetora do
Estado; o segundo enuncia um imperativo categórico: é necessário trabalhar. Os
índios, efetivamente, só dedicavam pouco tempo àquilo a que damos o nome de
trabalho. E apesar disso não morriam
de fome. Os cronistas da época são unânimes em descrever a bela aparência dos
adultos, a boa saúde das numerosas crianças, a abundância e variedade de
recursos alimentares. [...] o que se
constata no mundo dos selvagens é um extraordinário esfacelamento das ‘nações’,
tribos, sociedades em grupos locais que tratam cuidadosamente de conservar sua
autonomia no seio do conjunto do qual fazem parte, com o risco de concluir
alianças provisórias com seus vizinhos, se as circunstâncias – guerreiras em
particular – o exigem. Essa atomização do universo tribal é certamente um meio
eficaz de impedir a constituição de conjuntos sócio-políticos que integram os
grupos locais, e , mais além um meio de proibir a emergência do Estado que, em
sua essência é unificador. [...] Na
sociedade primitiva, sociedade essencialmente igualitária, os homens são
senhores de sua atividade, senhores da circulação dos produtos dessa atividade
[...] Tudo se desarruma, por conseguinte,
quando a atividade de produção se afasta do seu objetivo inicial, quando, em
vez de produzir apenas para si mesmo, o homem primitivo produz também para os
outros, sem troca e sem reciprocidade. Só então é que podemos falar em
trabalho: quando a regra igualitária de troca deixa de constituir o ‘código
civil’ da sociedade, quando a atividade de produção visa a satisfazer as
necessidades dos outros, quando a regra de troca é substituída pelo terror da
dívida. Na verdade, é exatamente ali que se inscreve a diferença entre o
selvagem amazônico e o índio do Império Inca. O primeiro produz, em suma, para
viver, enquanto segundo trabalha, de mais a mais, para fazer com que os outros
vivam – os que não trabalham, os senhores que lhe dizem: cumpre que tu pagues o
que nos deves, impõe-se que tu eternamente saldes a dívida que conosco
contraíste. [...]
Trechos
extraídos da obra A sociedade contra o
Estado (Francisco Alves, 1988), do antropólogo e etnógrafo francês Pierre Clastres (1934-1977). Veja mais
aqui e aqui.
CHINESE BOX
Da sua
vida você me dá um momento e eu sei que apesar do passado e apesar do futuro
esse instante que é a nossa vida é o momento em que você me ama .
O drama Chinese
Box (Último entardecer, 1997), dirigindo por Wayne Wang, conta a história de um
jornalista que vive em Hong Kong e é secretamente apaixonado por uma
chinesa hostess de um bar. Durante o
período de apreensão e ansiedade que precede o Ano Novo, três vidas ligam-se
intimamente, de forma exótica e passional. O filme e baseado no romance Kowloon
Tong (1997), de Paul Theroux e foi ambientado e feito na época da entrega de
Honk Kong à República Popular da China, em 1997. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE
DENISE MILAN
Quero arte - essa pedra é o testemunho de
união e separação, isto é, o que pode ser comum a dois continentes distintos,
Africa e América, que antes da Grande Divisão, há 750 milhões de anos atrás,
formavam uma só terra. Esta é a metáfora dessa pedra, que desperta a
consciência da possibilidade de unificação.
A arte da escultora, pintora, artista multimídia e interdisciplinar
Denise Milan, que usa em sua arte a
pedra como eixo criativo, executando obras nas áreas de arte
pública, escultura, artes cênicas, poesia, impressão e vídeo-arte. Veja mais
aqui.
A OBRA DE GRAMSCI
O desafio da modernidade é viver sem ilusões,
sem se tornar desiludido.
A obra do filósofo e cientista político italiano, Antonio Gramsci
(1891-1937) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
&
Culto da Rosa no Rondonotícias aqui.