PRESTANDO CONTAS AO AMOR – Ah, bela
mulher-menina de Sun Prairie, o vivo olhar, ah, os olhos, cada detalhe de flor
nas aquarelas das caminhadas no Cânion Palo Duro, aprumo nas gravuras
abstratas, o carvão, a genitália, os crânios de animais, a paisagem do Novo
México, o Jimson Weed, a pura
abstração. Quantos amanheceres radiantes, quantos crepúsculos
inventados, tantas noites carregadas de folhas e pedras, as muitas vidas dos
seus olhos são minhas e só minhas. E uma rosa é uma
rosa, Geórgia, não mais que uma rosa, todas elas é você que desabrocha, púbis
ungido e sou inebriado com o perfume da sua carne. Ao desnudá-la, tomo em
minhas mãos a divina das estrelas, Astreia, que perambula personificando a
justiça para me fazer bem. A sua influência benigna prega a sabedoria e sua
fascinante arte me faz súdito discípulo. Eu também desconfio das palavras, embora
não as tenha lá muito bem ao domínio. O seu magnetismo tácito me atordoa e
extasia: um vulcão dormente que se aviva instantaneamente. É a sua arte a sua
linguagem, sua efígie e élan: começa no ventre e se espalha por todo seu corpo
sedutor, avultando sobre a minha alma desamparada, repleta de deslumbramento e
plenitude. Ah, Geórgia, minha Astreia, a minha incapacidade total de
desenhá-la, menor intimidade com traços e cores, me faz flagrar o seu encanto,
apenas, a fotografá-la de todos os modos e jeitos, para descobrir o que não
existe mais das apagadas memórias da felicidade no escrutínio dos resquícios da
alegria. Na sua expressão a mais viva face humana, nada mais real, diante do
espelho, das minhas lentes, é como desvelo os seus mistérios, todos os
mistérios, a sua aura, a sua alma. Na sua arte a sua vida, nua e transfigurada,
centrípeta, e se alastra estrelada no fogo da minha paixão centrífuga. No seu
corpo a sedução da fortaleza, a entrega plena alheia aos castigos do tempo.
Tenho-a minha, vencida, entregue, rendida ao amor, nos amamos: sou seu, é você,
somos um e desabamos juntos na dolorosa instância do amor extremo, porque
anímico, orgânico, necessário, inescapável, enlouquecido. Eu sei, Georgia,
minha Astreia, a impiedade e a violência humana nos afugentam e a obriga a
retornar aos céus dos meus sonhos, porque a desarmonia contraria a sua natureza
e sabemos que os trapaceiros prosperam para que os ingênuos feneçam sem razão.
E você assume o lugar da divina no meu céu. Sem você minha voz jamais se
ouvirá, sozinho na treva porque nunca esperou e nem fui suficiente. Perdi o
gesto, os olhos, sempre os seus olhos ternos e imantados; as mãos, sempre as
mãos inquietas e estendidas a vasculhar em mim os tormentos doloridos e a me
incendiar com o choque dos seus prazeres, para que eu tenha paz e possa sorrir
nem que seja só por um instante. A despeito das lágrimas prolongadas e da dança
das cinzas, submergimos no universo da palavra apenas por um dia e é a vida
eterna, mas é no silêncio da sua arte, do seu corpo, que eu tenho a vida: você
é o milagre do universo e vive em mim, sou você. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] A cidade e a cidadania podem vividas no
sentido de que as escolhas busquem assegurar condições para que as definições
da história não se limitem às imposições de uma minoria. O olhar do historiador
está comprometido com essa abertura para o infinito, com a certeza de que a
história não é um desfilar de nomes e datas, mas território de invenção e
aventura que tem, na cidade, um espaço privilegiado para a fabricação de um
cenário onde os personagens não se sintam como fantoches, mas como produtores
do seu próprio texto. [...].
Trecho
extraído da obra O Recife: histórias de uma cidade (FCCR,
2002), do professor, advogado, historiador e pesquisador Antônio
Paulo Rezende, que
desenvolve um trabalho relacionado com as relações afetivas de convivência
dentro da contemporaneidade, analisando as cartografias que tentam renovar as
sociabilidades.
TEU CORPO AINDA É MÚSICA – AL-CHAER
não podia ouvir
agora
este solo
de sax
de sexo
que me
derrete
que me
derrota
mesmo
que não quisesse
ele vem
e molda
tímpanos e pênis
sinto toda
a dimensão
de tuas curvas
e a melodia de tua pele
às minhas
idas e voltas
cantando
um derramamento
de suores
nos meus tempos
de sonhar um amor
escutado
um beijo interminável
que me parte calado
e me envolve
me envulva
me junta
colado pedaços gritados
para olhar
a distância de um dia
que chegou
e chagou
meu coração
vencido
para depois
entre
a vida e a morte e a revanche
como fazer meu corpo te desligar?
Poemas
do poeta, artista visual e professor Alberto
Al-Chaer, que edita o blog Visu-Al-Chaer. Veja mais aqui.
A ARTE
DE ANGELITA CARDOSO
A arte da artista visual, desenhista, aquarelista, gravurista,
historiadora e pesquisadora, Angelita Cardoso, que trabalha com aquarelas,
gravuras em metal, pesquisa iconográfica, calcografia, administra o seu sítio e
é colunista do Portal Catarinas. Veja mais aqui.
A OBRA DE RUBEM ALVES
A
vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.
A obra do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem
Alves (1933-2014) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,
aqui & aqui.
&
A ARTE DE GEÓRGIA O’KEEFFE
Uma rosa é uma
rosa, é uma rosa. Na cidade, a maioria das pessoas anda numa correria; por
isso, não têm tempo para olhar para uma flor. E eu quero que olhem, quer elas
queiram, quer não.