sexta-feira, julho 19, 2019

GEORGIA O'KEEFFE, RUBEM ALVES, AL-CHAER, ANGELITA CARDOSO, ANTÔNIO PAULO REZENDE & PRESTAR CONTAS AO AMOR


PRESTANDO CONTAS AO AMOR – Ah, bela mulher-menina de Sun Prairie, o vivo olhar, ah, os olhos, cada detalhe de flor nas aquarelas das caminhadas no Cânion Palo Duro, aprumo nas gravuras abstratas, o carvão, a genitália, os crânios de animais, a paisagem do Novo México, o Jimson Weed, a pura abstração. Quantos amanheceres radiantes, quantos crepúsculos inventados, tantas noites carregadas de folhas e pedras, as muitas vidas dos seus olhos são minhas e só minhas. E uma rosa é uma rosa, Geórgia, não mais que uma rosa, todas elas é você que desabrocha, púbis ungido e sou inebriado com o perfume da sua carne. Ao desnudá-la, tomo em minhas mãos a divina das estrelas, Astreia, que perambula personificando a justiça para me fazer bem. A sua influência benigna prega a sabedoria e sua fascinante arte me faz súdito discípulo. Eu também desconfio das palavras, embora não as tenha lá muito bem ao domínio. O seu magnetismo tácito me atordoa e extasia: um vulcão dormente que se aviva instantaneamente. É a sua arte a sua linguagem, sua efígie e élan: começa no ventre e se espalha por todo seu corpo sedutor, avultando sobre a minha alma desamparada, repleta de deslumbramento e plenitude. Ah, Geórgia, minha Astreia, a minha incapacidade total de desenhá-la, menor intimidade com traços e cores, me faz flagrar o seu encanto, apenas, a fotografá-la de todos os modos e jeitos, para descobrir o que não existe mais das apagadas memórias da felicidade no escrutínio dos resquícios da alegria. Na sua expressão a mais viva face humana, nada mais real, diante do espelho, das minhas lentes, é como desvelo os seus mistérios, todos os mistérios, a sua aura, a sua alma. Na sua arte a sua vida, nua e transfigurada, centrípeta, e se alastra estrelada no fogo da minha paixão centrífuga. No seu corpo a sedução da fortaleza, a entrega plena alheia aos castigos do tempo. Tenho-a minha, vencida, entregue, rendida ao amor, nos amamos: sou seu, é você, somos um e desabamos juntos na dolorosa instância do amor extremo, porque anímico, orgânico, necessário, inescapável, enlouquecido. Eu sei, Georgia, minha Astreia, a impiedade e a violência humana nos afugentam e a obriga a retornar aos céus dos meus sonhos, porque a desarmonia contraria a sua natureza e sabemos que os trapaceiros prosperam para que os ingênuos feneçam sem razão. E você assume o lugar da divina no meu céu. Sem você minha voz jamais se ouvirá, sozinho na treva porque nunca esperou e nem fui suficiente. Perdi o gesto, os olhos, sempre os seus olhos ternos e imantados; as mãos, sempre as mãos inquietas e estendidas a vasculhar em mim os tormentos doloridos e a me incendiar com o choque dos seus prazeres, para que eu tenha paz e possa sorrir nem que seja só por um instante. A despeito das lágrimas prolongadas e da dança das cinzas, submergimos no universo da palavra apenas por um dia e é a vida eterna, mas é no silêncio da sua arte, do seu corpo, que eu tenho a vida: você é o milagre do universo e vive em mim, sou você. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] A cidade e a cidadania podem vividas no sentido de que as escolhas busquem assegurar condições para que as definições da história não se limitem às imposições de uma minoria. O olhar do historiador está comprometido com essa abertura para o infinito, com a certeza de que a história não é um desfilar de nomes e datas, mas território de invenção e aventura que tem, na cidade, um espaço privilegiado para a fabricação de um cenário onde os personagens não se sintam como fantoches, mas como produtores do seu próprio texto. [...].
Trecho extraído da obra O Recife: histórias de uma cidade (FCCR, 2002), do professor, advogado, historiador e pesquisador Antônio Paulo Rezende, que desenvolve um trabalho relacionado com as relações afetivas de convivência dentro da contemporaneidade, analisando as cartografias que tentam renovar as sociabilidades.

TEU CORPO AINDA É MÚSICA – AL-CHAER
não podia ouvir
agora
este solo
de sax
de sexo
que me
derrete
que me
derrota
mesmo
que não quisesse
ele vem
e molda
tímpanos e pênis
sinto toda
a dimensão
de tuas curvas
e a melodia de tua pele
às minhas
idas e voltas
cantando
um derramamento
de suores
nos meus tempos
de sonhar um amor
escutado
um beijo interminável
que me parte calado
e me envolve
me envulva
me junta
colado pedaços gritados
para olhar
a distância de um dia
que chegou
e chagou
meu coração
vencido
para depois
entre
a vida e a morte e a revanche
como fazer meu corpo te desligar?
Poemas do poeta, artista visual e professor Alberto Al-Chaer, que edita o blog Visu-Al-Chaer. Veja mais aqui.

A ARTE DE ANGELITA CARDOSO
A arte da artista visual, desenhista, aquarelista, gravurista, historiadora e pesquisadora, Angelita Cardoso, que trabalha com aquarelas, gravuras em metal, pesquisa iconográfica, calcografia, administra o seu sítio e é colunista do Portal Catarinas. Veja mais aqui.

A OBRA DE RUBEM ALVES
A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.
A obra do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
&
A ARTE DE GEÓRGIA O’KEEFFE
Uma rosa é uma rosa, é uma rosa. Na cidade, a maioria das pessoas anda numa correria; por isso, não têm tempo para olhar para uma flor. E eu quero que olhem, quer elas queiram, quer não.
A arte da artista estadunidense Georgia O'Keeffe (1887-1986) aqui e aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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