CIDADE CORAÇÃO – A cidade
sou eu rio acima de nenhuma margem, menino que não precisava saber qualquer
coisa de nada. Se as ruas repletas de sangue coagulado são veias que se abrem do
talho involuntário, qual esquina não mora o agouro e eu sequer distinguia a
bondade congênita da malévola tapiação. Não devia o pé fora de casa, nenhum
passo além da placenta rasgada, inferno que pulsa a madrugada na festa vazia. Ali
eu pensava em nunca esquecer a distopia de heróis fugitivos dos gibis levando todo
mundo aos pandarecos, como se o estágio da esperança entre mendigos bem
aquinhoados, servissem à desolação do ermo. A cidade não existe nem nunca
existiu nas minhas migrações por pisos falsos e escravos de Babel: uma tábua
suspensa no ar, a qualquer momento despenca num poço sem fundo. Nunca se sabe por
aqui se é inverno ou verão, a chuva torrencial logo passageira se vai sem me
levar e deixa o Sol mostrar o avesso e a pirotecnia que nunca se viu. Todos dormem
diante do espetáculo horrível, ou não enxergam, nem querem ver. Eu não sei e a cidade
é um defeito de alheias convalescências. Nada mudou desde sempre além do
estardalhaço, nenhuma perspectiva no horizonte, nem há mais futuro, só agora a
se dissolver até quando acabar. Desconheço perguntas que soam ao vento, se versos
inauditos ou poemas sequer recitados, são vozes sombrias e ninguém escuta: os
mortos declamam a esperança de acender a noite revelando a vida real em que não
existem respostas largas ou longas, a memória violada de tantas agruras. Assim os
meus dias e outros dias e a cidade é uma nuvem de seres desérticos, coração em
chamas, outras escuridões. Todo dia é quarta-feira de cinzas por aqui, mesmo
ano a cada virada, quem diria. Apesar do calendário o que resta é sorrir sem
saber se tarde ou não, porque ninguém mais tem direção alguma para amparar e
viver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Estou argumentando que uma transição (ou
descontinuidade) de importância foi o surgimento do que eu poderia chamar de
"matéria inteligente", ou melhor, moléculas inteligentes. Moléculas
inteligentes são moléculas que podem ambas registrar (sentido) sinais em seu
ambiente e respondem mudando suas regras de engajamento - por exemplo,
moléculas alostéricas. Eu sugeri que tais
moléculas entraram em cena em algum lugar no curso da evolução de
macromoléculas como o DNA e proteínas, e além disso, que sua aparência era
crucial para o evolução subsequente dos sistemas vivos. [...] sugiro que uma vez que a matéria evolua para
a matéria inteligente, o alcance do que pode fazer torna-se enormemente
expandido. [...].
Trecho do
texto Auto-organização, automontagem e
inerente (Upsala University, 2009), da premiada física, escritora e
ativista estadunidense Evelyn Fox Keller, pesquisadora que enfoca a história e a filosofia da biologia moderna e
sobre o gênero e a ciência. Veja mais aqui.
BRAVE
MISS WORLD
Não tenho medo de falar sobre
meu estupro. Mas espero que os homens tenham
medo. Eu acho
que é muito importante falar. Porque essas mulheres que não falam, não querem
acreditar que isso aconteceu. Eles estão com medo de mencionar a palavra
estupro. Se eles disserem a palavra 'estupro', eles podem tremer e desmaiar.
Isso controla você. E por quê? Você deixa essa pessoa controlá-lo pelo resto da
vida. Eu acho que quando você coloca o que aconteceu com você do lado, e você
não tem medo de confrontá-lo, então você percebe que não é o que faz de você
quem você é. Eu não era como as outras
garotas. Eu nunca me culpei, ou pensei que isso aconteceu por minha causa. Eu
nunca guardei dentro. Na época, o que eu fiz pareceu normal. Mas agora percebo
que não foi. Porque a maioria das vítimas não fala, nunca. Eu sou bem única
nesse sentido. Eu falo, eu grito, não tenho medo. Espero que os homens não ajam como animais.
O documentário
Brave Miss World (2013), dirigido por Cecilia
Peek, conta a triste história e a superação da vencedora do concurso Miss Mundo
1998, a atriz, amodelo e advogada israelense Linor
Abargil.
Seis semanas antes de ganhar o prêmio, então com 18 anos de idade, ela foi
sequestrada e estuprada pelo agente de viagens Shlomo
Nour, posteriormente condenado em Tel Aviv. Anos depois ela declarou: Nunca
passou pela minha mente que aquele 'bom' homem iria me prejudicar. Mais tarde,
percebi que este ato foi cuidadosamente planejado e a visão daquela noite
terrível esteve em meus pesadelos por muitos anos. Desde então se tornou
uma ativista contra a violência sexual, ajudando vítimas de estupro ao redor do
mundo e luta contra essa cultura machista. Veja mais aqui.
A ESCULTURA
DE HENRY MOORE
A verdadeira base da vida está nas relações humanas. Em certa medida,
toda arte é uma abstração.
A arte do premiado escultor britânico Henry Moore
(1898-1986) que desenvolveu uma obra tridimensional predominantemente
figurativa, com breves incursões pela abstração. Veja mais aqui.
A OBRA DE MÁRIO QUINTANA
Minha vida está nos meus poemas, meus poemas
são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.
A obra do
poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994) e muito mais
aqui.