GALATEIA DO GOITÁ – Galateia era uma matuta arrumada: boniteza de
rosto, bem feita de corpo, tímida, pudica. Mesmo com os olhões chamativos, a
dentadura de égua, a pele trigueira e a toda sua assimetria escultural pros
ajeitados das mãos insolentes dos sonhadores e desenganados. Mesmo assim, se
dizia desajeitada para o amor, por não saber lidar com a macharia obtusa. Era o
que dizia: todos os homens só queriam tirar uma casquinha e pinotar fora depois
das conchambranças. Ah, se era. Sabida, se precavia: Não vai ser uma conversa
mole que vai me derrubar. Daí largava logo uns bregues graves nos pretensos
pretendentes todos cheios de lábias e mimos, a ponto de ninguém querer nem mais
chegar perto, só morriam na mão. Coitada, impune solitária desejada por muitos
e tantos, recolhida na sua clausura. Foi na sua solidão que ela inventou de
confeccionar, às escondidas, um boneco com proporções humanas. Com afinco na
empreitada e nos mínimos detalhes, dedicada, a forma sonhada por ela. Depois de
todo ajeitado, fez-lhe indumentária máscula e viril, adquirindo secretamente
uma bimba de plástico, comprada numa loja do ramo, e escondida por baixo das
vestimentas dele. Pronto: Quero ver agora precisar de mais macho nenhum, hora!
Não havia mais aperreios para ela: na hora da apertura, reclusa, chorava na
vela. Dava para o gasto, não falhava e ao dispor quando quisesse. As falações
não perdoavam: diziam que ela ficara donzela pronta para o convento, ou sapatão
enrustida. Ela morria de rir. A cochichada atrevida cheirava a vida dela com
mexericos que ou pendia prum lado ou pro outro. E ela, nem nem. Assim passaram
anos e décadas. Foi de uma hora para outra, ela ficou acamada de ser recolhida
à emergência hospitalar. Diagnóstico: fora acometida de um vírus letal. Morre
mas num morre. Estava lá estendida numa maca, abandonada. Os dias passavam
dolorosamente na mesmice, até ser surpreendida por um cantador repentista que,
repentinamente, encheu seus olhos: chistes e arroubos, num é que o cabra
sapecou-lhe umas juras sentimentais libidinosas, dela ser salva depois duns
arrojos aprumados na maior beijação. Pois foi, almas, pernas, sexo, o maior
idílio e de verdade. O povo queimou a língua, quem diria. Mal quebrou o
resguardo, saiu saltitante nos braços do vate para a alcova do amor: amaram
tanto e sem limites de nunca mais perderem a esperança na vida. Para ela, o
reencontro real da satisfação carnal, paz de espírito, entrega total. Todavia, depois
de muita traquinagem de lábios, cochas e ventres, deu-se o maior bafafá
ciumento: a descoberta do Pigmalião pendurado na porta do guarda-roupa. Que é
isso? Uma briga sem precedentes, o boneco voou pelos ares todo estraçalhado e,
na horagá, ela não pestanejou da escolha: preferiu a peiada real, não
escondendo a saudade do totem escondido. Dias e noites, ninguém nunca mais
soube dos enamorados. Amavam e muito, além da conta, escondidos no lar. É certo
que na vida real não haverá nunca um final feliz, mas os dois vivem lá,
trancados, entre beijos e colisões, amando como podem e vivendo. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS
& DESDITOS: [...] Há muitas reflexões morais na história, mas quando se leva uma vida
completamente solitária podemos usar nosso trabalho como Gregory usou suas
cartas, como um escape de todos nossos sentimentos mais desmedidos, sem
perguntar se este é, artisticamente, o lugar de expressá-los [...] O homem, suas opiniões, sua
constituição física e psicológica, as necessidades de sua natureza, sua função
no mundo, sua dependência das circunstâncias sociais que o cercam – estas e as
questões menores que destas derivam, não são sequer mencionadas! [...] Uma garota ignorante, trabalhando dez horas
por dia, sem tempo para pensar ou escrever senão em algumas horas no meio da
noite, escreve uma pequena história como An African Farm; um livro que deixa a desejar em muitos aspectos,
completamente imaturo e cru, repleto de defeitos; um livro que foi
inteiramente escrito para mim, em um momento em que vir para a Inglaterra,
assim como publicá-lo, parecia impossível. E apesar disso conquistei algo,
quase centenas de cartas comentando o livro, vindas de toda classe de pessoas –
do filho de um Conde a uma costureira da Rua Bond, de um estivador a um poeta.
[...] É o ritmo em que essas pessoas
vivem, vidas pacatas como gado. Parece que as ruas estão todas repletas de
vacas e de ovelhas. Todos os homens parados às portas com seus braços cruzados;
se estão fazendo alguma coisa é como se nada fizessem, fazem-no tão vagarosamente
que você mal vê o movimento [...]. Trechos de Olive Schreiner Letters –
1871-1899 (Oxford - Richard Rive, 1988), da escritora e feminista sul-africana
Olive Schriner (1855-1920), que não possuía
educação formal e, na Inglaterra, ganhou a vida como governante e escrevendo
seus livros. Veja mais aqui.
A CINEMA DE SUZANA AMARAL
Cada vez que se faz um
trabalho sem subir um degrau, não se aposta em si. E para subir o degrau é
preciso arriscar.
SUZANA AMARAL – A arte da premiada cineasta e roteirista Suzana Amaral, autora de mais de 50
documentários de curta-metragens e que dirigiu, entre outros longas, o filme
Hotel Atlântico (2009), contando a história de um ator desempregado que parte
da cidade sem bagagens nem planos para o interior, baseado no livro de João
Gilberto Noll; o drama A hora da estrela (1985), adaptado do romance homônimo
de Clarice Lispector, contando a história da nordestina datilógrafa que sai
órfã para São Paulo; a minissérie Procura-se (1992) e a interpretação O
regresso do homem que não gostava de sair de casa (1996), entre outros. Veja
mais aqui e aqui.
A ARTE DE ANA MARIA PACHECO
Manter viva a fonte de origem é fundamental em qualquer processo
criativo. Minha infância e juventude são embutidas de imagens, experiências que
são únicas. É como um rio profundo onde mergulho e sempre descubro tesouros
infindáveis.
ANA MARIA PACHECO – A arte da escultora,
pintora, desenhista, professora e gravadora Ana Maria Pacheco, que é bacharel em escultura pela Universidade
Católica de Goiás (UCG), e em música pela Universidade Federal de Goiás (UFGO).
Ela foi diretora titular de Belas Artes na Norwich School of Art, Norfolk,
Inglaterra, além de ter sido professora visitante em universidades na Escócia,
Inglaterra e Irlanda do Norte. Em 2000, recebeu o título de doutora honoris
causa em Letras pela University of East Anglia, e, em 2002, doutora honoris
causa em Filosofia pela Anglia Pulytechnic University, ambas em Norfolk,
Inglaterra. Possui obras em importantes acervos no Brasil, Inglaterra,
Alemanha, Japão e Estados Unidos. Veja mais aqui.
PERNAMBUCO ART&CULTURAS
A ARTE
DE TITINO DE TRACUNHAÉM
A arte
de Titino (Ailton Ferreira Brito).
A poesia
do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista,
professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978) aqui.
A barlavento de Eduardo Diógenes aqui.
A arte de Marsa e Seu Pereira & Coletivo 401
aqui.
A exposição
Com os olhos de náufrago ou onde fica o
próximo ponto aqui.
Giomar verdureira aqui.
&
OFICINAS ABI – 2º SEMESTRE 2020