TODO DIA É DIA DA MULHER – UMA: APOLOGIA À MULHER DO DIABO – Era
assim chamada aquela que tem na sua lápide o epitáfio de ter sido a precursora
do feminismo e indianista, a baiana Leolinda Daltro (1859-1935) Quem? Ela tinha o propósito de educar os índios sem a
interferência da igreja e de legalizar o voto feminino, fundando o Partido
Republicano Feminino – legalizado, mas que não poderia receber votos por ser
formado apenas por mulheres -, para mobilização pelo direito ao voto, precursor
na luta pela cidadania das mulheres. Por sua coragem e determinação, ela foi
acusada de masculinizar o adorável sexo e ganhou a alcunha de Mulher do Diabo por seu extremo senso
de Justiça, razão pela qual foi criticada, ridicularizada, perseguida e
escorraçada pela imprensa, igreja e poderio latifundiário. Enfrentando tudo e todos,
ela expressou: Como mulher que sou, com
um sentido superior de altruísmo, tenho me preocupado com a necessidade de
minorar o sofrimento humano e de se atingir uma melhor distribuição da Justiça.
Ativa politicamente e desquitada numa sociedade patriarcal e católica, ela
acreditava na sua missão, mesmo taxada de diabólica e excêntrica, monomaníaca e
louca, mantendo-se firme como mãe visionária e professora ativista. Essa a minha
homenagem! DUAS - E NUM É QUE É MESMO?
- Nesses tempos de boatos virtuais, as panelinhas dos sectários dissecam qualquer
um, mesmo sem ao menos ter morrido. Como é que é? Simples: formam-se grupelhos
de fuxiqueiros fundamentalistas que preparam a cova, queimam o filme e sacodem
invencionices nas costas dum escolhido alvo e jogam-lhe todo tipo de
degeneração, de deixá-lo mais ralo que caldo de biloca, quer dizer, o mesmo que
morrido e matado, pronto. Oxe, é mesmo? Ora, se. Havia um tempo em que, pela
frente, você era elogiado por coisas que nunca vez e, pelas costas, detratado
por crimes que nunca cometera. A gente sabia pela imprensa que sempre viveu de
sensacionalismo para condenar a reputação de quem não lhe caísse às graças,
bastando algumas somas próximas das avultantes para denegrir qualquer desafeto.
Como os veículos de comunicação de massa perderam a credibilidade por jogar não
se sabe mesmo a favor de quem, a não ser do bolso dos donos deles e a favor dos
achegados, agora a boataria ganhou foro de verdade por baixo dos panos. Como sobreviver
a isso? Ora, o melhor conselho vem da memorável Tônia Carrero: Se me
importasse com o que pensam e falam de mim, não levantaria da cama. Enquanto
houver sangue em meu corpo, não paro de atuar. Pois é, quem tiver peito que
sustente esse badalo, porque a coisa que vem da politicalha está pior que a catinga
duns quinhentos lixões a céu aberto. TRÊS:
A MENSAGEM DA MALDITA - A talentosa escultora Camille Claudel (1864-1943) amou demais, além da conta e caiu em
desgraça. O escândalo e a solidão levaram-na para um manicômio, aliás,
diagnosticada com esquizofrenia. Na verdade, o irmão, o amante e a sociedade
queriam mesmo era livrar-se dela, esquecer sua obra. Ela, delirante e
paranoica, apenas dizia: Tua força
interior e tuas convicções não têm idade. Teu espírito é o espanador de
qualquer teia de aranha. Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida.
Atrás de cada trunfo, há outro desafio. Enquanto estiveres vivo, se sentes
saudades do que fazias, torna a fazê-lo. Não vivas de fotografias amareladas.
Viva Camille. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
abaixo e aqui.
DITOS
& DESDITOS: [...] Eu vi tudo. Tudo. Também o
hospital, eu o vi. [...] Como puderia evitar de vê-lo [...] Quatro vezes no museu em Hiroshima. Eu olhei
as pessoas. Eu olhei eu mesma, pensativa, o ferro. O ferro queimado. O ferro
quebrado, o ferro tornou-se vulnerável como a carne. [...] Peles humanas flutuantes, sobreviventes,
ainda no frescor de seus sofrimentos. Pedras. Pedras queimadas. Pedras destruídas.
Cabelos anônimos que as mulheres de Hiroshima encontravam inteiramente caídos
pela manhã, ao acordar [...] Eu vi as
atualidades. […] Eu as vi. Do
primeiro dia. Do segundo dia. Do terceiro dia. Mesmo no amor esta ilusão existe,
esta ilusão de nunca poder esquecer, assim eu tive a ilusão diante de Hiroshima
que nunca esquecerei. Assim no amor... [...]. Escute-me. Como você, eu conheço o esquecimento. Como você, eu sou
dotada de memória. Eu conheço o esquecimento. Como você, eu também, tentei
lutar com todas minhas forças contra o esquecimento. Como você, eu esqueci.
Como você, eu desejei possuir uma inconsolável memória, uma memória de sombras
e de pedra. Eu lutei, [...], com todas
as minhas forças, a cada dia, contra o horror de não entender o porquê de se
lembrar. Como você, eu esqueci... [...] “Não, você não conhece o esquecimento [...]. Não, você não é dotada de memória”, e a protagonista insiste: “Como
você, eu sou dotada de memória. Eu conheço o esquecimento. Assim no amor, […]
eu tive a ilusão diante de Hiroshima que
nunca esquecerei.” [...] Eu o
reencontro. Eu me lembro de você. Quem é você? Você me mata. Você me faz bem.
Você me agrada. Que acontecimento. Você me agrada. Que lentidão repentina. Que
suavidade. Você não imagina. Você me mata. Você me faz bem. Você me mata. Você me
faz bem. Eu tenho tempo. Eu lhe imploro. Devore-me. Deforme-me até a feiúra.
Por que não você? Por que não você nesta cidade e nesta noite igual às outras ao
ponto de me confundir? Eu lhe imploro... [...] Eu fiquei perto do corpo dele o dia inteiro e a noite inteira. [...]
Ele se tornou frio pouco a pouco sobre
mim. Ah! como ele demorou a morrer! Quando? Eu não sei exatamente. Eu estava
deitada sobre ele. [...] Eu posso dizer
que eu não conseguia encontrar a mínima diferença entre o corpo dele e o meu...
[...] Você entende? Foi o meu primeiro
amor [...] perdida, que a conduz literalmente
para fora de si mesma e que a leve em direção a um homem novo [...].
Trechos extraídos da obra Hiroshima mon amour (Gallimard,
1959), da romancista, novelista, roteirista, poeta, diretora de
cinema e dramaturga francesa Marguerite Duras (1914-1996). Veja mais
aqui & aqui.
HIPÓLITA DE MELO
Quem não
é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que
viver com desonra.
HIPÓLITA DE MELO - A autora da carta que denunciava a traição da
Conjuração Mineira, Hipólita de Melo
(1748-1828), era participante ativa, uma mulher rica e de vasta cultura, que
atuava contra a exploração do povo e financiava ações, dispondo sua fazenda
para ser o quartel general dos revoltosos. Foi ela quem denunciou a traição de
Joaquim Silvério dos Reis, contra seus companheiros, no episódio que ficou
historicamente denominado de Inconfidência Mineira. Com o fim da Revolução, o
exílio do marido e sofrendo pesadas sanções, ela conseguiu ainda negociar com o
governo português e retomar parte dos seus bens.
BOI NEON
O premiado
drama Boi Neon (2015),
dirigido por Gabriel Mascaro, conta a história dos bastidores das vaquejadas,
especificamente de um vaqueiro de curral, que prepara os bois para o espetáculo
típico do interior nordestino e tem o sonho de se tornar estilista de moda. A
casa é o caminhão que leva os animais de evento em evento e o cotidiano intenso
de outros personagens que juntamente como protagonista compõem a narrativa. Juntos
formam uma família improvisada e unidade, em meio a uma região rural que está
em rápida transformação econômica e que sedia um importante polo de confecção
de roupas do Brasil. Veja mais aqui.
A ARTE DE IRMA GRUENHOLZ
O processo varia muito, dependendo do projeto. Posso resumir com as seguintes etapas básicas: li o texto ou o texto
com atenção e enfatizo o que considero mais importante. Reuno
todas as informações sobre o assunto e começo a desenvolver conceitos. Não desenho esboços em detalhes; Prefiro
mergulhar na ilustração, trabalhando diretamente em três dimensões assim que
tiver uma ideia clara em mente. Meus esboços são desenhos
muito esquemáticos que me ajudam a dirigir a ilustração e a especificar os
materiais e a paleta que vou usar. Às vezes, faço esboços
rápidos em três dimensões, usando placa de espuma e plasticina para verificar
dimensões, composição e enquadramento. Quando a escultura
é concluída, tiro uma foto e retoco a imagem digitalmente.
IRMA GRUENHOLZ – A escultora e ilustradora espanhola Irma Gruenholz, trabalha com a criação de ilustrações
esculpidas à mão com argila e vários materiais que permitem trabalhar em três
dimensões, explorando as possibilidades de cada projeto e experimentando novas
soluções e texturas. Veja mais aqui.
TODO DIA É DIA DA MULHER PERNAMBUCANA
A ativista Adalgisa
Rodrigues Cavalcanti (1907-1998), foi militante do movimento feminino de Pernambuco, criando comitês, ligas e
associações de mulheres. Ela foi a primeira deputada estadual, presa muitas
vezes e, aos 60 anos, foi recolhida ao Presídio Feminino Bom Pastor, nos
idos anos do Golpe Militar de 1964.
A poesia de Marco Polo Guimarães aqui.
&
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