AMOR DE CAMILLE
- Imagem da escultora francesa Camille
Claudel (1864-1943) - A vida nos olhos
de céu da menina guardavam as paisagens de Villeneuve com a pedra e a terra. Nas
mãos o brinquedo e o impossível saiam-lhe ao jeito dos dedos para fazer de
conta que fugia de casa, porque ali tudo era possível na infância de todas as
quimeras. Era da menina a descoberta de todos os véus com o jeito de todas as
coisas nas mãos, o que quisesse na magia manual, até esbarrar quase moça nas escolas
que barravam as mulheres. Viu-se viajante do deserto e não fosse um gesto de
abrigo, não saberia da gratidão a Alfred, apenas de antemão que seu mundo não
era aquele, um tempo estrangeiro em que aprendia nas faces as dores futuras de
tamanha desilusão: as dores de saber que ao redor todos só lhe dariam as costas
e ter de sozinha construir seu próprio momento. O padecimento surgia de todos
os lados, inclusive com o amor, a entrega e a solidão. Viu-se vitimada do castigo
no abandono da mãe: deveria ter nascido menino e jamais se envolvesse com
artes. Jamais preveria outras injustas sanções: de Paul, de Auguste, de todos os
que fabricaram seu abandono e loucura. Para quem só saberia do amor nas faces
de outra moeda: a dos amantes e rivais. Era cada vez mais íntima da dor, um aborto
e o rompimento. Quase se salva com o apoio de Claude, foi maior o sofrimento da
ausência do pai que se fora sem dizer adeus. Desconhecia a tragédia porque seu
gênio maldito queria dançar a La Valse
com o beijo enfeitiçado de Sakountala de Kalidasa. Ousou demais e a incompreensão levou-lhe ao
confinamento no estúdio: aprendia o amargo da solidão, um passo para a miséria
de roupas esfarrapadas, o esgotamento e a destruição. Não restava mais nada e
se entregou ao cárcere da obscuridade do mundo no universo de seus sonhos em
Montdevergues, abandonada por trinta anos, para enterrar toda vida e arte numa
vala comum. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
e aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] LOCUTOR I – E as
guerras prosseguem: o homem continuará a matar o homem para sempre, até o fim
dos tempos. [...] SARA (Começa a bater nele com os punhos. Sam
procura segurar-lhe as mãos) – Mas você é um doido, um doido de pedra! Todo ano
você faz uma loucura para desgraçar a minha família. No ano passado você jogou
a minha avó, que tem noventa anos, na piscina, para ver se ela boiava. No
aniversário do meu pai, você ficou nu em pelo, em cima do bolo. Depois desfilou
com os hippies e tirou as calças para protestar contra Biafra. Quando eu estava
grávida de oito meses, com uma barriga deste tamanho, você me apresentava como
“minha noiva”! SAM – Escuta aqui... SARA – Você enche o jardim de explosivos e
diz que são minas contra a formiga. Você tira as calças no prédio da Dupont,
para protestar contra a poluição. [...] SARA – Ah, como minha
mãe tinha razão! Ah, como o meu pai tinha razão! Um louco! Não casa com Samuel
Leibowitz, porque ele é louco. Todo mundo sabe que ele é louco. Desde criança
que ele só faz coisas diferentes, que ele é diferente de todo mundo! É
pacifista! Desfila com negros! Tira as calças na ONU. Mata formiga com
explosivos! Mas não! Eu tive que ir atrás da minha fixação sexual. Eu tive que
ir atrás desta minha maldita libido. Toma, pra aprender, toma! (Se esbofeteia.). [...] SARA – Primeiro um Papa, depois um Cardeal.
Só falta Jesus Cristo descer pra tomar sopa com a gente. [...] SARA – Seremos crucificados. [...].
Trechos
extraídos da peça teatral O dia em que
raptaram o papa, do dramaturgo, diretor, ator e tradutor João Bethencourt (1924-2006), uma
crítica à sociedade em um momento de trégua para as mazelas da humanidade.
A ARTE DE CAMILLE CLAUDEL
AGENDA:
&
Palmares, sonhos & ventos, Tamara Kamenszain, Hermann Broch, Jennifer Rubell, Bertoldo Kruse, Alberto
Passos Guimarães, Primavera, Orquestra Armorial & Quinteto Armorial aqui.
&
Começar, recomeçar & dois milhões de
beijabrações, James Joyce,
Joaquim Cardozo, Gilles Deleuze, Giorgio Agamben, Alexandre
Buisse, Rodolfo Amoedo, Bezerros, Show de Calouros &
Genésio Cavalcanti, Arrigo Barnabé & Vânia Bastos
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RÁDIO TATARITARITATÁ:
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conferir é só ligar o som e curtir. Foto de Andréa Rêgo Barros/PCR. Veja mais
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