sábado, novembro 01, 2025

ISABELLE STENGERS, JACKIE KAY, SAMANTHA SHANNON & VAL MARGARIDA

 Imagem: Acervo ArtLAM.

A cor muda com cada modulação, mas a cor dominante é a da tonalidade em que a peça é escrita. Não acontece sempre que tocas ou ouves música e não ajuda necessariamente a memorizar a música, mas é, no entanto, uma coisa bonita de experimentar...

Pensamento ao som do álbum Water (Deutsche Grammophon, 2016), da pianista francesa, Hélène Grimaud (Hélène Rose Paule Grimaud), com peças de piano de autores como Berio, Ravel, Liszt, Debussy, Fauré, Albéniz, Janácek, Toru Takemitsu, Nitin Sawhney, entre outros. Ela é fundadora do Wolf Conservation Center, de New York, e autora dos livros Variations sauvages (Robert Laffont, 2003), Leçons particulières (Robert Laffont, 2005) e Retour à Salem (Albin Michel, 2013). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

Pavoa real, o arco-íris de plumas... - Céu azul de muitas nuvens na brisa da tarde e a lua quarto crescente na boca da mata: era a ilha de João Ubaldo. O arco-íris de Rubem Braga em confronto na relva: a Pavoa diante de uma cobra-de-veado sibilando freneticamente. A réptil poiquilotérmica armou-se como uma naja, tal atroz inimiga atiçando-a sarcástica, como na fábula de La Fontaine das queixas à Juno Hera. A insolência da rastejante fê-la inchar o papo colorido proeminente do Anambé-preto, com o canto grave do grande Pavó, no pescoço vermelho do Jacu-touro, no bico azul-claro do Jacupiranga. E assim invocava os poderes mágicos do sagrado Pavão Celestial para enfrentar todos os monstros míticos, todos os dilemas éticos, rios caudalosos, florestas densas e montanhas magistrais. A ave vaidosa deixou-se envolver pela sinistra, enroscando-se pelas escamas grossas de suas patas, como se olvidasse Paracelso: a ousada venenosa era seu alimento predileto, ofiófaga – não sabia dela o anjo Melek Taus, que criou todas as coisas e disso se arrependeu a chorar por 7 mil anos, para que suas lágrimas enchessem 7 jarras na extinção do inferno; muito menos de Tawûsê Melek, dos presentes de Salomão e de Oxum. A serpente agarrou-se ao tronco dela, quem perdoaria a picada e o pecado mortal do golpe píton. A emplumada bípede então piou de novo e os italianos disseram: era a voz do demônio na plumagem de anjo. E inflou incorporando em si o que era azul indiano, o verde asiático, o congolês, o Spalding, o leucístico, o papa-moscas do Pará, o arlequim, o dos ombros negros, brancos e albinos, até o de Taubaté. Assim abriu a cauda grave, recolorida e, penas arqueadas, suas garras longas e afiadas, velozes e ágeis, por trás da cabeça da víbora, a sacudí-la vigorosamente e cada bicada a dilacerá-la, até matá-la e digeri-la. Assim, um homem mata outro e quantos predadores devoram suas presas. A cena se repetia, a mesma de zis outras, revistas, repassadas. E quem testemunha sonhou como num filme em cartaz, deleite da plateia, divertido passatempo. Mas quem incrédulo presenciou o triunfo de vê-la ao Natyadharmi, guardando os seus 100 olhos de Argos Panoptes num poema de Ovídio. Viu-me ali e abriu o coração com o mantra da compaixão do Bodisatva: Om mani padme hū, Avalokiteshvara. Fez o ritual do acasalamento na dança de Krishna, enquanto transmudava na guerreira Kaumari, girando para mostrar-se deusa Santoshi, e sucessivamente era Yashumin, era Lakshmi, enfim Iemanjá com a sua paz de jardim do éden. Aproximou-se para me levar sonâmbulo à Cachoeira dos Andrades, no Vale do Mucuri. Chegando lá me levou à formosa Pedra do Lambuza e já era mais de meia noite, lua cheia de sexta pela Lagoa do Come Calado, pulsante refulgia e o ser alado levitava ao meu lado. Acomodou-me no seu privado valhacouto, com a profusão de seus insondáveis abismos na dignidade do silêncio e em mim fez um mundo povoado de lembranças secretas. Até mais ver.

 

Cecília Meireles: Adestrei-me com o vento e minha festa é a tempestade... Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Anne Sexton: Cuidado com o intelecto, porque ele sabe tanto que não sabe nada e te deixa de cabeça para baixo, balbuciando conhecimento enquanto seu coração cai da sua boca... Aproxime o ouvido da sua alma e ouça com atenção... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Erika Mann: As ações podem ser julgadas de acordo com o tempo e o lugar, e seus valores podem mudar; mas o estilo e a linguagem (além do conteúdo) são cristalizados no momento em que são criados... Veja mais aqui & aqui.

 

DELA

Imagem: Acervo ArtLAM.

Já me falaram dela. \ Como ela sempre, sempre. \ Como ela nunca, nunca. \ Eu observei e ouvi, \ mas ainda assim me apaixonei por ela, \ como ela sempre, sempre. \ Como ela nunca, nunca. \ Na pequena noite corajosa, seus lábios, momentos de borboleta. \ Tentei pegá-la e ela riu uma gargalhada tão alta \ que me partiu em duas, \ mas então me contaram sobre ela, \ como ela sempre, sempre. \ Como ela nunca, nunca. \ Nós duas ouvimos o vento. \ Nós duas galopamos a passos largos. \ Nós duas, para cima e para longe, \ para longe, para longe. \ E agora ela se foi, como disse que iria. \ Mas então me falaram sobre ela \ – como ela sempre, sempre iria.

Poema extraído da obra Life Mask (Bloodaxe, 2005), da escritora e dramaturga britânica Jackie Kay (Jacqueline Margaret Kay), autora de obras como Other Lovers (1993), Trumpet (1998) e Red Dust Road (2011). Veja mais aqui.

 

O PRIORADO DA ÁRVORE LARANJA - [...] Podemos ser pequenos e jovens, mas abalaremos o mundo por nossas crenças. [...] Não consigo dormir porque tenho medo não só dos monstros que estão à minha porta, mas também dos monstros que a minha própria mente consegue criar. Aqueles que vivem dentro de mim. [...] Quando a história não consegue esclarecer a verdade, o mito cria a sua própria versão. [...] Algumas verdades são mais seguras quando enterradas. Alguns castelos são melhores quando permanecem no céu. Há esperança em histórias que ainda não foram contadas. [...] Mas quando o coração fica muito cheio, ele transborda. E o meu, inevitavelmente, transborda para uma página. [...]. Trechos extraídos da obra The Priory of the Orange Tree (Bloomsbury Publishing , 2020), da escritora inglesa Samantha Shannon, autora de obras como The Song Rising (2017), The Mime Order (2015) e The Bone Season (2013).

 

EM TEMPOS CATASTRÓFICOS: RESISTINDO À BARBÁRIE QUE SE APROXIMA - [...] Ao escrever este livro, situo-me entre aqueles que querem ser herdeiros de uma história de lutas travadas contra o estado de guerra perpétuo que o capitalismo impõe. É a questão de como herdar essa história hoje que me faz escrever. […] Esse ato primordial que torna o homem genuinamente ele mesmo precede todas as ações individuais; mas imediatamente após ser posto em liberdade exuberante, esse ato afunda na noite da inconsciência. Não se trata de um ato que possa acontecer uma vez e depois cessar; é um ato permanente, um ato sem fim e, consequentemente, nunca mais poderá ser trazido à consciência. Para que o homem conheça esse ato, a própria consciência teria que retornar ao nada, à liberdade ilimitada, e deixaria de ser consciência. Esse ato ocorre uma vez e imediatamente afunda novamente nas profundezas insondáveis; e a natureza adquire permanência precisamente por meio dele. Da mesma forma, essa vontade, posta uma vez no início e então conduzida para o exterior, deve imediatamente afundar na inconsciência. Só assim é possível um começo, um começo que não deixa de ser um começo, um começo verdadeiramente eterno. Pois também aqui é verdade que o começo não pode se conhecer. Esse ato, uma vez feito, é feito por toda a eternidade. A decisão de que de alguma forma deve realmente começar não deve ser trazida de volta à consciência; não deve ser revogada, pois isso equivaleria a ser retomada. Se, ao tomar uma decisão, alguém retém o direito de reexaminar sua escolha, nunca dará um passo adiante. […] É a barbárie que hoje é tristemente previsível. Mas o teste aqui é, mais uma vez, abandonar sem nostalgia nem desencanto o estilo épico e sua grande narrativa de emancipação, na qual o Homem aprende a pensar por si mesmo, sem precisar mais de próteses artificiais. Essa grande narrativa nos envenenou, não porque nos tivesse atraído com a perspectiva ilusória da emancipação humana, mas porque nos deu uma versão degradada dessa emancipação, marcada pelo desprezo por aqueles povos e civilizações que nossas categorias julgaram muito antes de nos comprometermos a trazer-lhes, com seu consentimento ou pela força, nossa iluminação. Não nos reconhecemos em seus rituais, suas crenças, seus fetiches, essas próteses artificiais das quais fomos capazes de nos libertar? […]. Trechos extraídos da obra In Catastrophic Times. Resisting the Coming Barbarism ( Open Humanities Press 2015), da filósofa e historiadora belga Isabelle Stengers. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

A ARTE NAIF DE VAL MARGARIDA

A arte da artista e professora Val Margarida, que participou do Festival Internacional de Guarabira (FIAN); expôs na Feira de Arte de Goiás (Fargo) e foi selecionada para participar do Encontro Nacional de Arte Naif do Centro-Oeste-E BANCO/2019. Veja mais aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

Veja mais sobre MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.


 

 

ISABELLE STENGERS, JACKIE KAY, SAMANTHA SHANNON & VAL MARGARIDA

  Imagem: Acervo ArtLAM . A cor muda com cada modulação, mas a cor dominante é a da tonalidade em que a peça é escrita. Não acontece sempre ...