sábado, abril 30, 2016

GEOFF DYER, VICTOR HUGO, MILES DAVIS, DEBRA HURD, LISA LYON, PEDRO CABRAL, VERNET & MAPPLETHOPPE


UMA CANÇÃO DE AMOR (Imagem a arte do escritor, arquiteto, professor e artista plástico alagoano Pedro Cabral) - Com o riso de Sol de sua manhã Iaravi, ela me ensina a olhar a essência das coisas: o rumo dos ventos, a precipitação das chuvas, o canto dos pássaros, as frutas do quintal, as flores dos jardins, a correnteza dos rios, a queda das cachoeiras, as ondas do mar, a altura das montanhas, a vertigem dos abismos, o mormaço do meio dia, as sombras frescas das árvores, os grãos de areia do deserto, as pedras do caminho, a paz dos bichos, as matizes de todas as cores, o incenso de todos os olores, os sons de todos os tons, a textura de todas as matérias, o teor de todos sabores, as sementes de tudo e os pés na poeira da Terra. E a rosa é mais linda quando ela me mostra além do perfume e de suas pétalas ao olfato. E o fruto é mais que o gosto do bago ou da drupa madura ao paladar. E as águas macias são mais densas quando tocadas, e a distância é tão perto quando além da visão está tão longe quão perto à palma da mão. E o sussurro de tudo é mais vivo e real além do ouvido, porque tudo é sentido em sua totalidade, porque me ensinou a plenitude de viver. E ao anoitecer, o seu poder de valquirya Freya ensinou-me com seu sorriso de música e sua voz de canção, os segredos de Euterpe. E com sua dupla flauta, ensinou-me a distinguir uma mínima de uma semimínima, uma colcheia de uma semicolcheia, uma fusa de uma semifusa na luz do luar. E me levou em seus braços por compassos binários aos ternários, quaternários e complexos, a me embalar por larghissimos e adágios, andantes e moderatos, alegro e prestíssimos e por todas as consonâncias das dinâmicas e nuanças de sonhos no brilho das estrelas. E marcou as batidas do meu coração, ora acelerado, ora apaziguado no meio de sua progressão harmônica e por todas as notas que brotam de sua expressão altaneira, com todos os acordes aos borbotões de sua gesticulação mágica pra descoberta de todos os meus sentimentos e a justapor o que é de amor ao que é de vida e a sobrepor o que é de entrega por toda felicidade. E a sua melodia se sobressai acima dos limites a me trazer as cenas mais sublimes e irreveláveis, a me contar as histórias não ditas e inexpressas, ao suscitar tantas e quantas emoções possíveis e inimigináveis, pra transformar-se em Aede e me ensinar o canto de todas as vozes e todos os ritmos. E quando a minha cabeça na imensa escuridão da noite densa não tem mais pra onde ir, ela me leva ao ápice dos prazeres com o êxtase da música das esferas e todas as dissonâncias atonais e dodecafônicas do universo, até que eu me perca de mim e no meio do caos eu me transborde no improviso do gozo de todas as manifestações em uníssino para minha completude mais que aquinhoada. E sou nela com tudo e todas as coisas: a comunhão plena da vida numa canção de amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui

 Imagem: Jazz, do artista plástico C. Vernet.

Curtindo o álbum duplo 4 vols. Miles Davis at Fillmore: Live at the Fillmore East (Columbia/Legacy, 1970) com os quatro shows 17-20/06/1970, do músico, bandleader e compositor de jazz estadunidense Miles Davis (1926-1991).

PESQUISA
O Livro do Jazz: de Nova Orleans ao século XX (Sesc/Perspectiva, 2014), de Joachim-Ernst Berendt e Günther Huesmann.

EPÍGRAFE
A música expressa aquilo que não pode ser dito em palavras e não pode permanecer em silêncio, do escritor, dramaturgo e ativista dos direitos humanos francês, Victor Hugo (1802-1885). Veja mais aqui e aqui.


Imagem: a arte da artista plástica e pianista estadunidense Debra Hurd.

LEITURA 
O romance Todo aquele jazz (Companhia das Letras, 2013) do escritor inglês Geoff Dyer.

PENSAMENTO DO DIA
O riso é dela e nela o meu jazz. (LAM).
Veja mais Federico Garcia Lorca, O gênese africano, Gianni Guadalupi, Alberto Manguel, Duke Ellington, Lars von Trier, Caco Galhardo, Nicole Kidman, Tatiana Parcero & Rô Lopes aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem da modelo e fisiculturista Lisa Lyon (1981), do fotógrafo estadunidense Robert Mapplethoppe (1946-1989).
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá
Veja aqui.



sexta-feira, abril 29, 2016

MANUEL SCORZA, FAURÉ & INA-ESTHER JOOST, YVES KLEIN, SORIA AEDO, PRÍAPO & JAMES WYLY,


E A DANÇA REVELOU O AMOR (Imagem: Merce Cunningham and his dancers, 1958, foto de Richard Rutledge) – O mundo na escuridão do quarto iluminado pelas centelhas da noite enluarada nas frestas da parede e pelos cantos da porta na nudez da nossa entrega. Eu não sabia nada alheio a tudo e ela se fez vestida do negrume para que sua língua na dança de Paloma Herrera lambesse o sal da minha carne para me levar por sonhos surreais da Cléo de Paris nua no Experimento primeiro da Cosmogonia de Vázquez, no nosso mais que real anseio onírico. E os seus lábios deslizaram no bailado de Sylvie Guillem pelos cantos mais sinuosos da minha abissal compleição corpórea. E sua boca me sorveu como se levado prisioneiro para a caverna dos embalos de Marcia Haydee e eu não tivesse mais que sombras temerosas e o prazer de estar vivo ao seu lado. E sua face deslizou na minha pele como se dançasse o Biped de Cunningham e eu me perdesse de mim para me encontrar no seu feitiço Iaravi de todas as manhãs. E os seus seios me envolveram nos rodopios de Debora Colker sobre a minha desolação desprovida de esperanças, para que eu me sentisse alvo do poder de sua magia de valkirya Freya me ensinando do conflito de logos e pathos na condenação da moira. E o seu ventre buliçoso me ensinou da vida a se mostrar Monica Buriti pra que eu estivesse vivo no presente sem passado nem futuro. E o seu sexo deslizou na minha pele como uma Hisako Horikawa a me fazer dia para que eu soubesse noite no útero e ventre de Gaia e me saciar de fome e de toda sede. E suas coxas sambaram como Deborah Colker pra me ensinar a maravilha de viver num país paradoxal de todas as falas e danças e cantos. E suas pernas me envolveram como Erica Beatriz singrando toda imensidão do universo para que eu me visse ínfimo diante de sua grandiosidade. E seus pés passearam como Maria Gidali no palco da minha vida para que eu fartasse mais do que sou no seu balé infinito. E seus olhos brilharam com os dentes do seu sorriso de camaleoa com todas as bailarinas em si e o dia nasceu para nunca mais dizer adeus. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui

 Imagem: Anthropometries, do artista francês Yves Klein (1928-1962).


Curtindo o álbum Fauré: Cello Sonatas – Scilienne, Elégie, Pavane, & Papillon (Naxos, 2010), do compositor, organista, pianista e professor francês Gabriel Fauré (1845-1924), com os violoncelistas Ina-Esther Joost & Ben-Sasson & o pianista Allan Sternfield.

PESQUISA
A busca fálica: Príapo e a inflação masculina (Paulus, 1994), do psicólogo e psicanalista James Wyly. Veja mais aqui e aqui.

LEITURA 
O cavaleiro insone (Civilização Brasileira, 1979), do romancista e poeta peruano Manuel Scorza (1928-1983).

PENSAMENTO DO DIA
Foi no seu bailado que eu me fiz menino e cresci na sua dança que me ensinou a vida (LAM).

Veja mais Brincarte do Nitolino, Manuel Bandeira, Amiri Baraka, João Cabral de Melo Neto, Vatsyayana & Kama Sutra, Yasunari Kawabata, Pas de Deux, M. Richard Kirstel, Isabel Soveral & António Chagas Rosa, Jose Manuel Abraham & Ary Buarque aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Nu, do pintor espanhol Francisco Soria Aedo (1898-1965).
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá
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quinta-feira, abril 28, 2016

EDUCAÇÃO, GIANNETTI, JEAN DELVILLE, ANDRÉ LEMOS, ROSANA LAMOSA & LYGIA COELHO


A EDUCAÇÃO NOSSA DE CADA DIA - Para todo lugar que a gente se vire, seja na esquina, nos auditórios, nos holofotes, nas fofocas, onde quer que seja, uma unanimidade: a educação é fundamental para melhorar o ser humano e a realidade no mundo em que vivemos. E isso é repetido a torto e a direito: é preciso investir maciçamente na educação para melhorar a humanidade. Por conta disso, como todo mundo fala, vou também colocar o meu bedelho no assunto. Cá pra nós, é evidente que a educação não será jamais a panaceia para todos os males da sociedade, mas indubitavelmente é o alicerce fundamental para um melhor encaminhamento da humanidade, como também para resolver um bocado de bronca oriunda de equívocos e desinformação no Brasil. Nisso todos concordamos. Principalmente quando se procura saber qual o problema da educação brasileira. Usualmente esse problema é visto de uma forma maniqueísta e, diga-se de passagem, bastante reducionista, colocando-se como apenas dois: os alunos não querem saber de pirocas nenhuma, quanto mais estudar; ou os professores estão naquela do Vampeta: fingem que ganham altos salários, fingindo que ensinam. Quer dizer, colocam a culpa do fracasso escolar ou no aluno, ou no professor. E só. Quando muito, uma visão um pouco mais esclarecida, ao que parece, grita a necessidade de maior investimento em educação. Bem, ao que se sabe, oficialmente, o Brasil investe 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representa, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econônico (OCDE), R$ 5,5 trilhões e que está acima da média dos países mais desenvolvidos do planeta. Tá. É muito? Não, todo mundo está careca de saber que é pouco. Todavia, melhor a gente dá uma olhada mais acurada para ver se é isso mesmo o nó do problema. Analisemos friamente: o que os alunos da educação básica até o ensino superior esperam da educação são conteúdos importantes e diretamente relacionados com a sua realidade, aulas dinâmicas e preparação para a vida, pro trabalho e pra vida. Sim. O que os professores esperam da educação é uma valorização profissional, estabilidade e condições dignas de existência, estrutura adequada pro desempenho de suas funções, alunos aplicados e ambiente horizontal nas relações hierárquicas. Certo. Quanto ao investimento governamental na educação pública brasileira é uma coisa a se considerar, vez que a gente também está careca de saber que existe muita tramoia desviando a finalidade das verbas públicas em tudo quanto é área de responsabilidade governalmental. Não é à toa que o Brasil é o país da espórtula e do vamos nos arrumar. Então, vamos colocar mais gente na roda para avaliação melhor, ou seja, vamos colocar os pais, a comunidade e a sociedade nesse contexto. Os pais depositam total responsabilidade pela educação dos filhos na escola, esquecendo-se - para não dizer eximindo-se - das suas próprias responsabilidades a respeito, se livrando dos filhos como se os sacudisse em um turno ou tempo integral lá dentro, dizendo: tomem esse troço e dêem um jeito aí nessa bronca, a responsabilidade é de vocês, se virem! Esse também é o desejo da comunidade e, por tabela, de toda sociedade. Ninguém quer segurar no bico do bule para ver o quanto está fervendo, joga a responsabilidade pros outros. Por conta disso, os pais esperam que a escola faça dos seus presepeiros e indomáveis pupilos, gente quieta, obediente, direita e promissora, capazes de lhes proporcionar orgulho no futuro. Entretanto, há uma coisa a ser dita: educação não é só depósito de conteúdo, condicionamento, reforço, aperto no disciplinamento, meritocracia e religiosidade. Educação é muito mais. Já a escola com seus altos muros quase impenetráveis, fechada e sem diálogo com a comunidade, muito menos com a sociedade, precisa ser vista: é lá que estão os alunos e os professores apontados como os dois principais problemas da educação. Além de professores, a escola reúne outros tantos profissionais que fazem o corpo de gestores e administração. Muito se fala por aí na eleição direta de diretores nas escolas públicas em atendimento à gestão democrática, mas todo mundo sabe que a maior parte, principalmente nas cidades interioranas, as diretorias das escolas são ocupadas por pessoas ligadas ao prefeito ou de suas relações políticas, muitas delas, inclusive, alheias a área. Essa direção racha a escola em duas: a área pedagógica, que deve resolver as principais broncas e fim de papo; e a área administrativa, que é a dos achegados na gestão financeira. A bronca pedagógica é delegada aos coordenadores e supervisores; a bufunfa fica nas mãos de quem passa a tratar a escola pública como um negócio rentável que tem que dar certo e, se possível, lucro para o diretor e os seus, mesmo em se falando de escola pública, observe. Assim não fosse, não apareceria tantos problemas com a merenda escolar no noticiário. Epa! Mas dizem que isso é problema da secretaria de educação. Sim, se a gente olhar quem é que ocupa as secretarias municipais de educação no Brasil, constatará que em sua esmagadora maioria, também, está ocupada por pessoas ligadas ao gestor público ou de suas relações políticas e, provavelmente, de área alheia à educação, afora um quadro de pessoal descomprometido com a questão, que está ali apenas para garantir sua aposentadoria e ter o que fazer, salvo raríssimas exceções, atente pra isso. Contudo, salvo melhor juízo, o caso das broncas da merenda escolar é doutra esfera: da secretaria estadual de educação. Tá. Não precisamos perguntar quem é o secretário de educação na maioria dos estados brasileiros, que seguem a cantilena dos municípios, também ocupados por pessoas das relações políticas do governador e que, em sua grande maioria, nada tem a ver com a educação, salvo as raríssimas exceções, reitero. Todavia, esta secretaria coloca a culpa no Ministério da Educação (MEC). Sim, também, se a gente for ver quem é o Ministro dá pra sacar que o problema começa em cima, afora os gabinetólogos de bunda quadrada que em Brasília querem fazer uma educação uniforme e homogeneizada para o Brasil todo, desconsiderando a heterogeneidade regional do nosso continental país. Em suma, uma primeira conclusão: há mais interesse individual na educação pública brasileira que qualquer outra coisa. Sim, a tragédia está tanto na educação pública como na rede privada: a diferença entre elas é só a limpeza e disciplina. O resto é uma tragédia só. Isso faz com que a educação não só tenha um ou dois problemas, mas muitos como uma corda de guaiamum bastante complexa. Excetuando-se aqui, ali ou alhures alguma iniciativa louvável raríssima e pontual, da educação infantil até o ensino superior, a educação brasileira é no mínimo disfuncional, quando não contraproducente: preparam os estudantes apenas e tão somente a serem serviçais do capitalismo. Trocando em miúdos: o problema da educação começa pela negligência, descompromisso e descomprometimento dos pais com o futuro dos seus filhos, ou por uma compreensão equivocada acerca do futuro da humanidade. Das duas, uma. Não será bastante alertar que o futuro pode ser no mínimo um abrigo pros pais negligentes ou, de uma forma mais contundente, a consideração da covardia que levarão nossos filhos a nos responsabilizar por não termos a competência, a coragem e a seriedade de resolver os nossos próprios problemas a respeito, transferindo-os como uma avalanche para uma realidade mais grave e trágica no futuro. Pense nisso. E vamos aprumar a conversa & tataritaritatá! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. PS: e por falar em Educação veja mais aqui, aqui e aqui

 Imagem: a arte do pintor, escritor e ocultista belga Jean Delville (1867-1953).


Curtindo o álbum da ópera Jupyra (Biscoito Fino), do compositor Francisco Braga, com a cantora lírica Rosana Lamosa & a OSESP. Veja mais aqui.

PESQUISA
Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea (Sulina, 2007), do sociólogo e professor André Lemos. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

LEITURA 
A ilusão da alma: biografia de uma ideia fixa (Companhia das Letras, 2010),
o economista, sociólogo e professor Eduardo Giannetti. Veja mais aqui e aqui. 

PENSAMENTO DO DIA
 Quem se acha dono da razão, com certeza nunca teve educação. 

Veja mais Osman Lins, Adolphe Appia, Paul Éluard, Pedro Almodóvar, Alberto de Oliveira, José Malhoa, Paulo César Pinheiro, Penélope Cruz &Valéria Pisauro aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Deusa Flora, da pintora Lygia Coelho.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá
Veja aqui.


MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...