E
A DANÇA REVELOU O AMOR (Imagem:
Merce Cunningham and his dancers, 1958,
foto de Richard Rutledge) – O mundo na escuridão do quarto iluminado pelas centelhas
da noite enluarada nas frestas da parede e pelos cantos da porta na nudez da
nossa entrega. Eu não sabia nada alheio a tudo e ela se fez vestida do negrume
para que sua língua na dança de Paloma Herrera lambesse o sal da minha carne
para me levar por sonhos surreais da Cléo de Paris nua no Experimento primeiro
da Cosmogonia de Vázquez, no nosso mais que real anseio onírico. E os seus lábios
deslizaram no bailado de Sylvie Guillem pelos cantos mais sinuosos da minha abissal
compleição corpórea. E sua boca me sorveu como se levado prisioneiro para a
caverna dos embalos de Marcia Haydee e eu não tivesse mais que sombras temerosas
e o prazer de estar vivo ao seu lado. E sua face deslizou na minha pele como se
dançasse o Biped de Cunningham e eu
me perdesse de mim para me encontrar no seu feitiço Iaravi de todas as manhãs. E
os seus seios me envolveram nos rodopios de Debora Colker sobre a minha desolação
desprovida de esperanças, para que eu me sentisse alvo do poder de sua magia de
valkirya Freya me ensinando do conflito de logos e pathos na condenação da
moira. E o seu ventre buliçoso me ensinou da vida a se mostrar Monica Buriti pra
que eu estivesse vivo no presente sem passado nem futuro. E o seu sexo deslizou
na minha pele como uma Hisako Horikawa a me fazer dia para que eu soubesse
noite no útero e ventre de Gaia e me saciar de fome e de toda sede. E suas
coxas sambaram como Deborah Colker pra me ensinar a maravilha de viver num país
paradoxal de todas as falas e danças e cantos. E suas pernas me envolveram como
Erica Beatriz singrando toda imensidão do universo para que eu me visse ínfimo
diante de sua grandiosidade. E seus pés passearam como Maria Gidali no palco da
minha vida para que eu fartasse mais do que sou no seu balé infinito. E seus
olhos brilharam com os dentes do seu sorriso de camaleoa com todas as bailarinas
em si e o dia nasceu para nunca mais dizer adeus. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui
e aqui.
Imagem:
Anthropometries, do artista francês Yves Klein (1928-1962).
Curtindo
o álbum Fauré: Cello Sonatas – Scilienne, Elégie,
Pavane, & Papillon (Naxos, 2010), do compositor, organista,
pianista e professor francês Gabriel
Fauré (1845-1924), com os violoncelistas Ina-Esther Joost & Ben-Sasson & o pianista Allan Sternfield.
PESQUISA
A busca fálica: Príapo e a inflação
masculina (Paulus, 1994),
do psicólogo e psicanalista James Wyly.
Veja mais aqui e aqui.
LEITURA
O cavaleiro
insone (Civilização Brasileira, 1979), do romancista e poeta peruano Manuel
Scorza (1928-1983).
PENSAMENTO DO DIA
Foi no seu bailado que eu me fiz menino e cresci na sua dança que me ensinou a vida (LAM).
Veja mais Brincarte do
Nitolino, Manuel Bandeira, Amiri Baraka, João Cabral de Melo Neto, Vatsyayana
& Kama Sutra, Yasunari Kawabata, Pas de Deux, M. Richard Kirstel, Isabel Soveral
& António Chagas Rosa, Jose Manuel
Abraham & Ary Buarque aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Nu, do pintor espanhol Francisco Soria Aedo (1898-1965).
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá