domingo, janeiro 31, 2016

MULHER & SOLIDARIEDADE, JOYCE, MOLIÈRE, SÊNECA, DILERCY, NILZA AMARAL, JULIA CRYSTAL, CLAUDINHA CABRAL & MUITO MAIS!!!

TODO DIA É DIA DA MULHER: SOLIDARIEDADE - Quando publiquei aqui as histórias de Gersoca, Samira, Sulina, Derluza, Elvira, Gilvanícila e Sulamita, não previa que tantos mails e mensagens me chegassem, dando conta de que estava contando a vida de uma pessoa ou irmã, ou prima, ou familiar ou conhecida. Fui surpreendido com a avalanche de manifestações e as mais diversas. Algumas que me pediram que as mantivesse anônimas fizeram questão de me contar as suas desventuras. Confesso, chorei, choramos juntos. Outras lamentaram a sua própria sorte e das demais personagens das minhas histórias. Manifestei meu gesto solidário. Uma ou outra me detratou alegando que eu não tinha o direito de expor problemas dessa natureza, pois eu estava sendo um intruso por trazer ao público uma questão de foro íntimo e que eu não tinha o direito de invadir a privacidade alheia. Compreendi e manifestei minha gratidão. E mais outras tantas que me chegaram com apoio e solidariedade. O que me deixou deveras feliz foi que a grande maioria se tocaram com o problema, alguns tomaram ciência de que precisam de acompanhamento médico e psicológico para que possa reencontrar a vida, como o caso que narrei da Gilvanícila: ela seguiu sua vida enfrentando as suas sombras – inclusive, transformei essa historieta numa peça teatral e logo logo publicarei aqui. Outras fizeram questão de criticar o alheamento, o distanciamento, a falta de sensibilidade do ser humano para os mais diversos problemas graves que grassam na vida. Sei 1ue são casos tristes e inaceitáveis. São injustiças cometidas em nome da honra, do mando, do poder, da arrogância, da inumanidade. Aconteceram há milênios atrás, estão registrados na história até hoje e são cometidos da mesma forma agora, neste instante, e viram manchetes pra sanguinolência dos noticiários e, uma hora depois, foi-se, tudo esquecido. Até que um dia acontece com a gente ou com pessoas próximas ou de nossas relações, aí nos damos conta de que cada um de nós está sujeito a ser vitimado por tais sandices. O que pretendi com essas historietas, croniquetas e noveletas, foi trazer à tona casos que passaram e ainda hoje estão na pauta dos dias à margem da sociedade e da Justiça, entre os anônimos e invisíveis que vivem, respiram e lutam na vida. E que ocorreram e ainda ocorrem hoje sem que ninguém sinta a calamidade pública, ignorando o sofrimento alheio por completa ausência de alteridade e solidariedade. Infelizmente a tônica do umbigocentrismo é pra lá de perturbador, o descartável impera e incluem as relações pessoais e sociais nesse contexto. Surgem, viram escândalos, todo mundo se consterna, mas se esvaem para logo em seguida agonizarem no que passou. Namoros, casamentos e amizades são descartados ao bel prazer, levados pela mecânica da lata do lixo, como se jamais tivessem existido. Pessoas trocam de relações como quem troca de roupa, dentro da conveniência e do desejo. Tem gente que acaba uma relação amorosa de manhã e de tarde já desfila com outro sem nenhum remorso: basta um clique e tudo é deletado, imagens, momentos, passado. E quem doer que morra ou pegue o beco. É tudo na base da fila que anda. Este o reino da frivolidade e da veleidade das relações líquidas, da hipermodernidade. Foi-se, já era; que venha um novo e melhor – ou não. E se não der certo, reposição na hora, simplesmente a substituição. E ainda arranjamos culpados nos outros para nossos desatinos. A culpa é sempre do outro. E a cada dia fica mais difícil de encarar o espelho, de dialogar consigo próprio, de ver que é a partir de nós mesmos que todo bem ou mal se manifesta. Da minha parte eu digo: o prazer só tem valor porque sabemos o tamanho e a dimensão da dor. Ao contrário, não haveria prazer algum. E vamos aprumar a conversa com a solidariedade. (Luiz Alberto Machado).

Veja mais aqui.
 
PICADINHO
Imagem: Female Nude in the Mirror, do pintor alemão Paulo Paede (1868-1929).


Curtindo o cd/dvd Joyce ao vivo (EMI, 2008), da cantora, compositora e instrumentista Joyce.

EPÍGRAFEBonus nocet qui malis parcet, sentença do tragediógrafo e filósofo estoico latino Lúcio Aneu Sêneca (4ac-65), que quer dizer: quem o inimigo poupa, nas mãos lhe morre. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A MULHER MEDIEVAL – No livro O feminismo uma abordagem histórica (Zahar,1979), de Andreé Michel, encontro que os homens dos séculos XII e XIII, implantaram uma sociedade patriarcal que proporciona às mulheres uma nova forma de enclausurá-las, legitimada nesse momento por lei. Portanto, a sociedade reserva a elas o espaço privado, responsabilizando-as pelo afazeres domésticos, e o conforto dos maridos e dos filhos. Algumas mulheres resistiram a essas novas formas de enclausuramento, como por exemplo: as parteiras que foram cruelmente castigadas por não aceitarem as condições impostas a elas, que recebem o titulo de feiticeiras, devido ao fato de na hora do parto – quando complicado – fazerem uso da escolha pela vida de um ou outro, e que nesta situação as parteiras escolhiam pelas vidas das mães como meio de resistirem ao enclausuramento. Os comerciantes da classe média, junto à igreja e os novos burocratas, não aceitavam a opção das parteiras e muitas eram condenadas a serem queimadas vivas. A esse respeito, expressa o autor que [...] no seio da Igreja, a inquisição celebrizou-se enviando à fogueira muitas dezenas de milhares de mulheres acusadas de feitiçaria. As feiticeiras estavam sempre sendo de atacar a força sexual dos homens e de agir com o objetivo de exterminar a fé. Pelo visto, a mulher na Idade Média estava submetida ao fato de que a maioria das ideias e dos conceitos eram elaborados pelos eclesiásticos e esses possuíam acerca da mulher uma visão dicotômica, ou seja, ao mesmo tempo em que ela era tida como a culpada pelo Pecado Original, a Virgem Maria foi a mulher que deu ao mundo o salvador e redentor dos pecados. Na sua análise, encarando diversos desafios em prol do jovem salvador, essa mulher determinava a constituição de outro olhar sobre o feminino. Não por acaso, vê-se que o culto mariano, a canonização de mulheres e a reclusão nos conventos se elevam significativamente com esse tipo de reinterpretação. Além do mais, sendo um período histórico tão extenso, as mulheres assumiram papéis que extrapolaram os antigos preconceitos ainda reservados ao medievo. Sem dúvida, as mulheres medievais são muitas, variadas e dinâmicas, como as manifestações do tempo em que viveram. Veja mais aqui.

O FLORISTA – No livro O florista (Massao Ohno, 1997), da escritora e professora Nilza Amaral, destaco o trecho: O dedo indicador penetra cuidadosamente o interior da flor, permanece ali por instantes, deixa o intimo morno, acaricia com o dedo médio o pistilo saliente, sente a extremidade rija, esconde a flor na palma de uma das mãos e com os dedos da outra, deslizando pétala por pétala, tenta adivinhar a forma aveludada e enigmática daquele ser flexível, daquele corpo cósmico. O som de um suspiro ecoa no ar. A açucena brilha revivida pelo toque daquela mão. O florista, de olhos cerrados, cego de extase por desvirginar a flor, acaricia as pétalas por mais um momento, fecha novamente os dedos ao redor de seu caule, dessa vez para depositá-la no ramalhete das demais açucenas que esperam no balde defronte à barraca de flores. Como as outras, já não é mais virgem mas ainda é fresca e bela. Coloca-a em destaque para atrair olhares de possíveis compradores, e começa a trabalhar com o restante das flores da barraca, retirando folhas mortas, escuras e pegajosas dos caules mergulhados na água dos demais baldes [...]. Veja mais aqui e aqui.

AO MEU TRISTÃO – Entre os poemas da poeta e psicóloga Dilercy Adler, destaco a poesia Ao meu Tristão: Quisera ser pra ti / Isolda bela / no que ela tem em si / de mais divino / quisera ser também / a outra Isolda / que seu fio tece / e se enternece / ao satisfazer-te / da exigência mais premente fescenina / ao teu mais puro desejo de menino / e nós enfeitiçados atearíamos / o fogo da paixão em nossas almas / que embora para o humano inacessível / pra nós possível e aceso impagável! / Me olha dessa maneira / que s´[o os amantes sabem fazer / me enxerga fundo na alma / na intimidade maior de mim / me inala sentindo o cheiro / de amor no cio no amanhecer / me sente voluptuosamente / com mãos devassas / qual argamassa / nas mãos do artista / me sente inteiramente tua / na fantasia da poesia / que me inebria / por vir de ti! Veja mais aqui.

A PREFERIDA DE MOLIÈRE - A atriz francesa Ane-Françoise-Hyppolite Boutet, mais conhecida como Mademoiselle Mars, foi a maior intérprete do teatro cômico no século XIX e a atriz mais refinada de Paris. Entrou para a Comédie Française em 1795 e fez-se primeiro notar em papeis de ingênua, que interpretava com perfeição, como Isabelle, em A escola de maridos e Angélique, em Doente imaginário, do dramaturgo, ator e encenador francês Molière (Jean-Baptiste Poquelin – 1622-1673). No auge da beleza e da fama, tornou-se a autoridade absoluta na Comédie, pelo prestigio que desfrutava junto a Napoleão. Contribuiu para os primeiros sucessos do repertorio romântico, com sua recriação controlada pela inteligência e pelo charme, que era a antítese do estilo passional e espontâneo de Mme. Dorval. Veja mais aqui e aqui.

BREAKFAST ON PLUTO – O filme Breakfast on Pluto (Café da Manhã em Plutão, 2005), dirigido por Neil Jordan, é uma adaptação do livro homônimo de Patrick McCabe, contando a história do fruto de um relacionamento entre um padre e uma doméstica e de um homossexual que vive a procura da mãe desaparecida desde o seu nascimento. O filme é superinteressante e destaco a participação da atriz etíope Ruth Negga. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A belíssima e talentosa cantora Julia Crystal, eleita por unanimidade como a Musa Tataritaritatá Janeiro/2016. Veja mais aqui, aqui e aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à Claudinha Cabral & Equipe de Recreação Planeta Alegria.

Veja aqui.


Veja as homenageadas aqui.

E veja mais Tereza Costa Rego, Franz Peter Schuber, Maria João Pires, Tunga, Zygmunt Bauman, Ken Wilber, Kenzaburo Oe, Kate Beckinsale & muito mais aqui.


sábado, janeiro 30, 2016

A MULHER NA IDADE MÉDIA, AUTISMO, GERSÃO, FRITZ LANG, BENITA PRIETO, MAISA VIBANCOS & MUITO MAIS!!!

TODO DIA É DIA DA MULHER: A MULHER NA IDADE MÉDIA – No período compreendido historicamente como a Era do Obscurantismo, ler e escrever era um privilégio dos mosteiros, mantendo-se a igreja cristã a consideração de que a mulher era um zero, desprezadas tanto pelos homens como por elas mesmas, mantendo a condução secular de Eva como a arquiteta responsável pela queda do homem. Contudo, após mais de cinco mil anos de inferioridade da mulher, começou-se a perceber o que era vigente desde os tempos aristotélicos: o homem não era o elemento crucial na procriação. Isso se deve à descoberta de que em Bizâncio, a Virgem Maria era devotada, promovendo o surgimento da Mariolatria, no século XII, pela devoção de Bernard de Clairvaux da Ordem Cisterciense. Também ocorre no século XIII, Tomás de Aquino, o Doctor Angelicus, definir a mulher de então: como ela tinha sido criada da costela de Adão, era destinada à união social com o homem e, portanto, era sua companheira, mas somente em assuntos para os quais se tornava biologicamente indispensável, ou seja, a procriação. Com a Mariolatria, surgem as Martas, aquelas que vivem e morrem nas cidades, e o culto à Maria Madalena que era a figura da prostituta que se arrependera para seguir Jesus, dando-se oportunidade à construção de lares para arregimentar e converter as decaídas que haviam reconhecido o erro de sua trajetória. A mulher secularmente desdenhada se transformava em dama honorável pelo jogo do amor palaciano, oriundo do amor puro dos árabes e da importação do culto à Virgem Maria de Bizâncio. Tratava-se de uma condução em que era honrada apenas por sua virtude de dama pura, inatingível, virtuosa, admirável. Surgia, então, na Idade da Grosseria a dama da Idade da Cavalaria que passou a ser o grande tema da literatura e da vida da classe superior, resultado das Cruzadas, nas quais muitas mulheres se viram na necessidade de cuidar das propriedades e administrar terras, impostos, dízimos e até a política, além de descobrirem os prazeres de serem cantadas por poetas e trovadores, como Mocadem de Córdoba, Ibn Sara e Ibn Hazn, com canções de amor de um romântico herói que lutaria com o mundo para merecer o amor da amada. Esses eventos tiravam-nas da vida monótona com seu senhor e seu séquito fora de casa: a vida imitava a arte. Exemplo disso foi Eleanor de Aquitânia que ajudou a estabelecer o ideal do amor palaciano, ao casar-se com Luiz VII em 1137, cultuando o roman, um romance contando uma história em versos rimados sobre as maravilhosas aventuras no amor e na guerra. Quando ela se casou com Henrique II da Normandia e Inglaterra, patrocinava muitos trovadores notáveis, entre os quais Bernart de Ventadom. Suas filhas, principalmente Marie de Champagne, convenceram Chrétien de Troyes a fundir histórias de amor com ação, surgindo a partir de então a cavalaria: a dama era a insígnia do comando. Foi daí que surgiu o romance que se tornou lenda, dando conta do amor de Jaufré Rudel pela condessa de Trípole, na Síria, uma legendária beldade sobre quem ele ouvira falar através de peregrinos que retornavam da Terra Santa, ou da Graça Divina, buscando a felicidade de expirar nos braços de sua dama bem-amada. Também Guillaume de Larris exaltara a ideia alegórica da mulher virtuosa e Jean de Meun que desclassificava aquelas que não eram suficientemente nobres, ricas ou belas, para serem qualificadas como heroínas do amor palaciano. É durante esse período que surgem os demônios, súcubus e íncubus que, segundo Hinemar, bispo de Reims, atormentavam e tentavam homens e mulheres. Assinalam ser o demônio que aparecia para tentar as mulheres, ao tomar aparência do homem que ela amava, como o caso de uma freira atormentada pelas visitas de um íncubo até o exorcismo. Bernard de Chivaux diz que lidou com um caso de uma mulher que fora visitada todas as noites, durante seis anos, por um demônio que extraía dela o seu prazer, sem ao menos despertar-lhe o marido. Ocorre, porém, que o costume das damas em terem amantes foi transformado de um devaneio literário para uma visão noturna, clássica fantasia feminina da visita de homens, propagando que os demônios estavam em ação, como a súcubo visitava um homem e recebia sua semente; então transformado em íncubo visitaria uma mulher para transmitir-lhe aquela semente. Foi por essa razão que surgiu o Malleus Maleficarum, em 1486, o primeiro grande manual dos inquisidores de feitiçaria, para reprimir os desejos femininos e seus envolvimentos os demônios. Ocorre, por fim, no século XIV, que Eva finalmente cedeu lugar a Maria, com seu culto entre os franciscanos dos séculos XIV e XV, tornando-se uma cálida e compassiva mãe dos pobres e infelizes da terra. A crescente popularidade de Maria deveu-se muito aos trovadores, aos cistercienses e franciscanos, aos nobres, mercadores e burgueses, passando a ser ela a terna, amorosa e bondosa. Ao mesmo tempo, surgem os livros de cortesia, os quais passam a ser adotados pelas mulheres burguesas para aperfeiçoamento, como também os cintos de castidade que era usado para proteção contra estupro e para coibir a libertinagem da mulher. Como visto, na Idade Média o processo de desvalorização, sedimentado pela Primeira Mulher, se transformava com a visão da Virgem Maria como um meio de renovação, continuando, mesmo assim, a serem as mulheres consideradas pelo clero como criaturas débeis e suscetíveis às tentações do diabo, logo, deveriam estar sempre sob a tutela masculina. (Luiz Alberto Machado).

Veja mais:
 
PICADINHO
 Imagem: Prostitute, do pintor do Expressionismo e Fauvismo francês, Georges Rouault (1871-1958).


Curtindo o álbum Flutes Sonatas (Flötensonaten nº 272-277 – Naxos, 2006), com obras do compositor alemão Johann Joachim Quantz (1697-1773), com a flautista Verena Fischer, o cello de Klaus-Dieter Brandt e o cembalo de Leon Berben.

EPÍGRAFEQuem olha para uma montanha distante não repara na beleza de um dente-de-leão que está bem na sua frente. E quem se aproxima para olhar o dente-de-leão não vê como é bela a montanha ao longe. Para nós, as vozes das pessoas são mais ou menos assim, frase extraída do livro O que me faz pular (Intrínseca, 2014), do premiado jovem escritor autista japonês Naoki Higashida. Veja mais aqui.

A MULHER, O PATRIARCADO E A ESCRAVIDÃO – No livro Mulheres: o gênero nos une, a classe nos divide (Sunderman, 2008), de Cecília Toledo, encontro que no processo de origem do patriarcado, a esposa passou a ser uma propriedade do marido, como os outros bens, confirmadas por descobertas antropológicas que permitiram afirmar que a mulher não nasceu oprimida, mas passou a sê-lo devido a inúmeros fatores, dentre os quais, os decisivos foram as relações econômicas, que depois determinaram toda a superestrutura ideológica de sustentação dessa opressão: as crenças, os valores, os costumes, a cultura em geral. Nesse sentido, autora assinala que [...] a opressão da mulher está vinculada à existência da propriedade privada dos meios de produção, e apenas poderá ser superada com uma mudança total na infraestrutura das sociedades assentadas neste tipo de relação. Tal fato sinaliza diretamente um regime escravocrata que submetia à mulher aos mandos do homem. Pensamento similar é encontrado no livro Ser humana: quando a mulher está em discussão (DP&A, 2002), de Marcia Moraes, ao observar que no período da escravidão [...] desde os tempos mais remotos, exercitava o extremo sexismo necessário às praticas patriarcais, e essa foi a forma pela qual nasceu a diferenciação das classes sociais [...] As mulheres eram escravizadas não apenas pela força do trabalho, mas também pelos serviços sexuais prestados aos seus donos e pela reprodução”. Tal fato define que a exploração de mulheres de classes sociais baixas pelos homens de classe alta pode ser facilmente observada em toda história humana, incluindo o feudalismo e os tempos atuais. Veja mais aqui e aqui.

A CIDADE DE ULISSES – No livro Cidade de Ulisses (Sextante, 2011), da escritora portuguesa Teolinda Gersão, destaco os trechos: [...] Expor-se é também esconder-se. E também no disfarce os criadores são mestres [...]. Ao longo dos séculos também nós vivemos essa história de mulheres esperando, sozinhas, de filhos crescendo sem pai. Foi assim nas cruzadas, nos Descobrimentos, na guerra colonial, na emigração, até ao século XX. [...] Penelópe cansa de esperar por Ulisses e cede aos pretendentes, sobretudo a um deles, Anfínomo. Ulisses regressa e mata-a, ao saber dos seus amores com Anfínomo; [...] Penélope cansa-se de esperar por Ulisses e deita-se com os cento e vinte e nove pretendentes. Desses amores nasce o grande deus Pã; Mas não existia nenhuma versão em que Penélope escolhesse um dos pretendentes, que se tornaria rei de Ítaca, e ela rainha a seu lado. E em nenhuma versão se tornava ela própria rainha de Ítaca, no lugar de Ulisses, dissemos. No entanto seria provavelmente assim que hoje contaríamos a história. Veja mais aqui.

POEMEL & MULHERA poeta e professora Maisa Vibancos, que também se assina Maísa Pupila, já foi selecionada e publicada no Painel Brasileiro de Novos Talentos, da Câmara Brasileira de Jovens Escritoas, foi moderadora do Fórum do Guia de Poesia do Projeto SobreSites – RJ e edita o excelente blog Olhares poéticos... não poesias – Maísa Pupila. Dela destaco inicialmente o Poemel: Mistura/ sem culpas / servido em versos, / adoçam o tempo / e vem tictacteando; / o mel cai e inspira / sinestesicamente... / o poema transpira / - grudam-se os sabores: / Poemel nascente. E também o seu poema Mulher: Mulher / sinfonia constante - / em silêncio / ou no último volume, / música eterna / de todas as idades, / calma ou estressada / sempre mulher; / companheira, mãe, namorada, / amiga, avó, serena ou descontrolada - /afaga qualquer momento, / acaba com qualquer solidão. / Mulher / Sempre Grande, / Intensa e Única, / é como a natureza, / não desperdiça nada / recicla valores, / e em suas raízes eterniza / o milagre do amor. Veja mais aqui.

MLLE DUMESNILMarie Dumesnil, pseudônimo de Marie-Françoise Marchand (1713-1803), foi uma grande atriz francesa que estreou na Comédie Française, como Clitemnestra, em Iphigénie em Aulide, de Racine. Foi uma das principais intérpretes de Voltaire, de quem fez Mérope (1743), seu maior sucesso. Garrick apreciou com entusiasmo seu talento dramático, fruto mais de instinto e sensibilidade que de estudo. Em 1800, depois de abandonar o teatro, ela publica suas memórias escritas que contem importantes informações sobre declamação. Veja mais aqui.

BLUE GARDÊNIA – O filme Blue Gardênia (A Gardênia Azul, 1953), do cineasta austríaco Fritz Lang (1890-1976), é baseado na história homônima de Vera Caspary, contando a historia de um assassinato sensacional que representa uma imagem da vida norte-americana, quando uma garota ingênua torna-se suspeita desse crime, em mais uma análise das origens do mal. O destaque é para premiada atriz estadunidense Anne Baxter (1923-1985). Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Sonhando (1985), do artista plástico Siron Franco.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à escritora e contadora de história Benita Prieto. Veja aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA 
Veja aqui.

Veja as homenageadas aqui.

E veja mais Mahatma Gandhi, Educação, Michelangelo Antonioni, Vanessa Redgrave, Genesis & Phil Collins, Carlos Zéfiro, Jennifer R. Hale, Maria Luísa Mendonça & muito mais aqui.



sexta-feira, janeiro 29, 2016

AS SOMBRAS DE GILVANÍCILA, HELOISA, JUVENAL, FASSBINDER, PASTORE, ITARARÉ, DEMÓCRITO, ISABELA MORAIS & MUITO MAIS!!!


TODO DIA É DIA DA MULHER: AS SOMBRAS DE GILVANÍCILA - Suetônio muito se esforçou doando de si uma dedicação exclusiva para se estruturar na vida, almejando dispor à Deusdith, a menina dos seus olhos, todo amor e condição de vida. Assim foi, anos a fio, para, enfim, contrair núpcias e viverem, no seu ideal, felizes para sempre. Casa montada com tudo do bom e do melhor, o idílio expansivo dos amantes reinando além das dimensões deles, tudo mais que mar de rosa na vigência da paixão. Assim foram por três anos que se passaram nas nuvens, chegando a notícia de que o irmão dele, Susdidido, há anos no Iraque, estaria de passando por ali de férias. Momento mais que propício para mostrar a felicidade do casal. Assim foi e ele preparou o quarto de hóspedes com uma festa de recepção para o mano. Abraços emotivos, saudades vingadas, Susdidido já pegava as malas para ir pum hotel, não admitido pelo irmão que insistiu ficasse ali na casa deles: - Aqui é a sua casa! Ali ficaram os três por dias e noites de muito calor humano e conversas longas noite adentro, só interrompida para Suetônio descansar do trampo que lhe exigia o dia seguinte. Enquanto isso, Deusdith e o irmão tagarelavam madrugada adentro até o raiar do sol. Findando as férias, hora do retorno e o irmão recebe a informação de que fora dispensado da empreiteira, não mais tendo que voltar pro estrangeiro. Irmão abatido, Suetônio entusiasmado, findou exigindo morar ali mesmo com eles. E assim foi, ao cabo de meses depois, Deusdith aparece grávida. Notícia mais que alvissareira para premiar o casal. Todavia, o que seria pra ser uma festa, não era: dava-se início a uma intranquila situação, daquelas bastante difíceis. Ela não sabia, Suetônio era estéril. Momento delicado. Coração bom, ele fez por menos, de nada acontecido. Meses de gestação todo de cuidado extremo, até o rebento: nascia Gilvanícila! Suetônio encheu-se de felicidades, dedicando pra ela todo seu mais extremado afeto: - Essa a minha filha! E assim foi, nvolveu a menina com carinhos e mimos, assistindo-lhe e fazendo tudo que ela pedisse ou quisesse. A menina crescia e Deusdith enciumava, adquirindo pela menina um ódio oculto e mortal. Quanto mais a criança crescia e se aformoseava, maior o desgosto dela. Susdidido cada vez mais acabrunhado, se escondendo, preferindo morar nos quartos do fundo do quintal para não ter que atrapalhar a felicidade do irmão. A menina gostava dele e, quando ela invadia seus aposentos, não perdia a oportunidade de abraça-la e senti-la no seu mais profundo acorçoo. Aquele abraço alimentava nele um sentimento além dos seus domínios, sobrepujando a frustração pelo insucesso na busca por empregos e a manutenção da condição de desempregado. Dependia ele da bondade do irmão para viver e ter um teto. Era todo grato e, inversamente proporcionar, era a inveja que crescia dentro dele por ver o casal feliz estruturado, com uma filha lindíssima. O que ele está fazendo ali? A vida prega peças. Abandonado, retraído, apenas sobrevivendo da filantropia do irmão que estava acima de qualquer situação. Revoltava-se consigo mesmo, sentiu-se um intruso, deprimido a ponto de perder a razão, tomar uma insana vontade de vingar-se, ao mesmo tempo, que se condenava pelo insucesso. E a cada chegada da visita da menina, a felicidade era tanta dele ser tomado por uma excitação que lhe remexia as entranhas e ser acometido por uma volúpia incontrolável que o tomava por completo. Dias e mais dias se martirizando por isso, quando num acesso de loucura, a menina chega braços abertos, envolvente, a felicidade ali pronta, ao seu dispor, até que, incontrolável de alegria, finda por abusá-la sexualmente. Deusdith acode aos gritos da menina e o enxota de casa. Quando Suetônio recebe a notícia de que a menina fora violentada pelo irmão e estava hospitalizada, não se conteve e caiu num desgosto profundo, não resistindo a mais essa fatalidade. Fora ali mesmo surpreendido por uma dor no peito, finando na hora. Deusdith enviuvara e fora tentada várias vezes por Susdidido, ao que ela negou qualquer possibilidade de novo envolvimento. Com a fortuna deixada pelo marido, ela pôde viver tranquilamente e encaminhar Gilvanícila para a casa dos avós para ser criada, vez que ela não aguentava aquela afronta em riste. Gilvanícila fora, a partir de então, criada pelo amor dos avós maternos, sempre perguntando pela mãe que a evitava, não quisera mais vê-la. Todas as noites as sombras da cena do estupro atormentavam seu sono, precisando, sempre, do apoio dos avós atentos aos seus pesadelos. O avô, mais atencioso, falecera algum tempo depois. Seguindo-se a avó, no ano seguinte. Gilvanícila viu-se só, apesar de possuidora de uma fortuna invejável deixada pelos avós, a solidão era maior. Procurou a mãe, não foi recebida. Insistiu e quando deu de cara com ela, recebeu a mais fria palavra materna: - Você não existe pra mim, você não é minha filha, me deixe em paz. Ainda hoje Gilvanícila tenta sobreviver aos pesadelos da infância e a implacável ausência da mãe que falecera anteontem sem um aceno ou afeto. (Luiz Alberto Machado).

Veja mais aqui.




 
PICADINHO
Imagem: Nua, do artista plástico Ângelo Cantú (1881-1955).


Curtindo o dvd Live in Paradise (Roadrunner Records/8ft Records, 2005), da banda estadunidense The Dresden Dolls, que desenvolve um estilo cabaré punk brechtiano denominado Cabaré Dark, formado por Amanda Palmer (vocal e piano) e Brian Viglione (bateria, guitarra e vocal).

EPÍGRAFEPanem et circenses, frase latina recolhida de uma das sátiras do poeta e retórico romano Juvenal (Décimo Júnio Juvenal – 55-127), que significa pão e circo, censurando a preocupação da plebe romana com a ociosidade. Lourenzo de Médici o Magnifico dizia: Pão e festejos conservam o povo tranquilo. Também o escritor, dramaturgo e filósofo iluminista francês Voltaire (François Marie Arouet/1694-1778), escreveu em 1870, numa carta para Mme. Necker que, na França, tinha sido suprimido o pão dos romanos e conservado o circo, isto é, a Ópera-Cômica. Já o padre Lopes Gama, em uma das edições do periódico O carapuceiro (1837), comentava assim a situação do Brasil durante a regência: Nós vamos muito mal porque não se tem cuidado em tornar-nos industriosos e morigerados. Os antigos romanos, quando se corromperam e relaxaram, só pediam panem et circenses – comer e festanças. Nós hoje só queremos viver de empregos públicos e que muitos trabalhem para nós desfrutarmos. Viver da nossa própria indústria é uma ideia que muito nos desanima. Veja mais aqui e aqui.

HELOISA – A jovem bela e culta Heloisa de Paráclito (ou de Argenteuil – 1090-1164), sobrinha do cônego Fulber, contava com dezessete anos quando passou a ser aluna do célebre filósofo e teólogo escolástico francês Abelardo. Ambos se envolveram em uma paixão carnal, tornando-se amantes. Ao ficar grávida, ele resolve encerrar sua carreira religiosa e desposá-la. A família opôs-se ao casamento sentindo-se traída pela confiança depositada no mestre. O escândalo resultou em maledicências contra Heloisa, fato que levou os amantes a se casarem secretamente e, posteriormente, nascer o filho Astrolábio. Como vingança, o cônego contratou sicários para que castrassem o professor, levando-o a uma vida encerrada num mosteiro. Ela, por sua vez, resolveu entrar para o convento de Paracleto, em Argenteuil, tornando-se priora e vivendo na clausura por mais vinte e dois anos, quando passa a ser uma escritora e erudita abadessa francesa. Com a morte dele, ela o sepultou, sob a jura de que, quando morresse, fosse enterrada ao lado dele. O túmulo de ambos se encontra no cemitério de Père-Lachaise, em Paris. A história desse amor está contada no filme Em nome de Deus (Stealing heaven, 1988). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

MÁXIMAS & MÍNIMAS DO BARÃO – Entre as Máximas e mínimas do barão de Itararé (Record, 1985), do Barão de Itararé, pseudônimo do jornalista e articulista Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971), encontro a narrativa O uísque: Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não... - Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa. Tirei a rolha da primeira garrafa è despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi. Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei. Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei. Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi. Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção. Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha. Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por exceção. Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem. Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário. Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca... Veja mais aqui.

MEU POEMA – Entre os poemas da poeta e professora Claudia Pastore, destaco o seu Meu poema: Cada vez mais e mais / Eu te vejo mais / Orgânico / Mais azul / Quisera saber / O porquê / A razão / Me destes a cor / és todo azul / Azul que incendeia / Azul que inebria / Azul que mete medo / Não és o mar / Tão pouco o céu / Lugares-comuns / Pra um azul / Tão azul / És um azul inteiro / Um azul que tenho / Tinteiro que jorra / E que cai pelo ar / Calor que conduz / Sangue pisado / Difícil e doce / Mormaço melaço / És a poesia / Que fala do azul / E que não encontra / No azul / O todo-você / Que é assim / Só pra mim / Azul / Ao sul / Do meu ser / Azul / Que passa / Brilhando / Por todo o meu corpo / Mas todo, inteirinho... / O meu corpo nu. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A DIVINA MELPOMÈNE – Chamada por Voltaire como a Divina Melpomène, a atriz francesa Claire-Leris Josephus, que adotou o pseudônimo de Mademoiselle Clairon, e atendendo pelo apelido da mãe Bugle (1723-1803), foi uma das maiores atrizes do seu tempo. Registrada em suas memórias, ela relata o abuso da mãe que a queria por costureira, fugindo de casa para entrar no teatro. começou na Comédia-Italienne, em 1736, com a idade de treze anos, sendo contratada um ano depois no em Rouen, onde permaneceu e se envolveu com um pretendente que, posteriormente desprezou e que ele, por vingança, publicou um panfleto rude contando a sua vida e costumes íntimos. Ela se muda e vai para a Comédie-francesa, em 1743, estreando como Phaedra, de Jean Racine, obtendo sucesso. Por conta disso, tornou-se rival implacável da Mademoiselle Dumesnil, nascendo uma rivalidade sem precedentes, sendo presa após uma conspiração entre atores. Retorna ao teatro em 1770, para representar Hipermmnestra, de Lemierre, na corte. Escreveu um livro sobre a liberdade da França, envolvendo-se com o conde de Valbelle, em 1773, até vê-se envolvida por um jovem perdidamente apaixonado por ela, levando-a para seu principado. Retorna à Paris, na véspera da revolução, afundada na miséria. Veja mais aqui.

O DESESPERO DE VERONIKA VOSS – O premiado drama O desespero de Veronika Voss (Die Sehnsucht der Veronika Voss, 1982), do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), é baseado livremente na carreira da atriz Sybille Schmitz por de uma história que ocorre numa cidade alemã no ano de 1955, em que uma ex-estrela de cinema é protegida pelos nazistas e que sofre com a interrupção da carreira pela derrota do regime após o término da Segunda Guerra Mundial. Viciando-se em morfina, envolvendo-se com um jornalista que, durante o namoro, procura investigar a razão do seu internamento, sem saber que está colocando-a num perigo mortal. O destaque do filme é para a atriz alemã Rosel Zech (1942-2011). Veja mais aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
 A arte de Demócrito Borges. Veja mais aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à cantora, compositora & educadora Isabela Morais & Brisas da Isa (foto: Fernando Lemos).

 Veja aqui.

 Veja as homenageadas aqui.

E veja mais Tolinho & Bestinha, Emmanuelle Seigner, Radamés Gnatalli, Anton Tchekhov, Germaine Greer, Linda Buck, Clóvis Graciano & muito mais aqui.



PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...