CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: PONTE SOBRE ÁGUAS TURVAS- (Imagem: Vídeo/Arte de Meimei Corrêa) – (Ao som de Bridge Over Troubled Water, de Paul Simon e Art Garfunkel).
Ela chegou com a canção na surpresa da hora incerta. E os meus olhos pelos
ouvidos ao coração, souberam naquele instante que as palavras não são
nada diante do esplendor de sua bela face sorridente. Era seu sorriso cúmplice
do meu tão perdido pelas coisas insondáveis e inatingíveis, embalado pelo
refrão do seu encanto. E de tão familiar que se fizera, levou-me a vida pela
mão, enquanto as minhas em concha recolhiam sua graça como se fosse o último
recurso pros indóceis na cerração de todas as adversidades. E eu sorvi o seu
licor na taça de nossos brindes a me fazer calor do seu sol, flor da sua terra,
lua da sua noite, passos do seu mundo, riso da sua alegria. Em festa atirei versos
ao vento, versos feitos de sangue e choro e que se revelaram de giz na ventania
da tarde e ela recolheu e guardou o que se tinha inútil por estimação. E eu não
tinha mais nada afora o seu sorriso por abrigo na minha existência desaforada.
Por gratidão ungi seu gesto com meus carinhos e ali me fez lacaio do seu
palácio jungido por sua graça que me livrou do escárnio e dos grilhões das minhas
agonias, tornando-me um afortunado que nunca nada tive nem terei do infinito, além
das baixas e quedas de enganos erigidos no egoísmo e muito mais desenganos de
perder até o que nunca tive. Fui restituído à vida, lavado do meu suor que nada
valeu no que tenho feito pro flagelo da minha carne na água de qualquer poça, na
esmola de qualquer filantropa, como quem não tenha mais sequer salvação. E ela
me premiou com sua vida e meu brado vibrou por motes que eu pude glosar com toda
lonjura de astro cadente pra seu espanto, e a flor emurchecida do meu coração pôde
brotar na pérola do seu céu de todos os matizes e orvalho invulgar, como a
chave certa que bendiga a vida a quem sempre foi fera triste errante de nem
saber o sacrifício nem o prazer da posse, escapando pela vida e da morte. Bendita
é ela em minha vida que sempre rolou entre pelejas e margens que me esmagaram rangendo
dentes e me fizeram rasgar águas sem fim com o passado nos ombros e feito ondas
revoltas sucumbindo novos sonhos em cada derrota que não bastasse. Bendita é
ela como uma aragem de carícias a me semear os grãos do futuro, me ensinando da
chuva a tempestade e os meus olhos são dela, são pra ela como a água para a
sede e o dia pra viver. E os meus beijos são dela e são pra ela como a casa é
pra morar alumiando a solidão. E o meu riso é dela e é pra ela como quem nada
tem pra dar e dá de si além do que pode e tem. E os meus versos são pra ela e
são todos dela como a glória de vencer nas horas tão ligeiras. O meu canto é
dela e é só pra ela como a semeadura do jardim florindo todos os campos. E o
meu coração é dela como a ponte une as margens e não haja padecer que resista
ao seu bailado no apelo do amor. (Luiz Alberto Machado. Veja o vídeo da canção
aqui. E mais aqui, aqui e aqui).
CONFIRA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
PONTE SOBRE ÁGUAS TURVAS
PICADINHO
Imagem: a arte do pintor e escultor
português Rui Carruço.
Curtindo o álbum O tempo e o branco
(Tratore, 2014), da cantora e compositora Consuelo de Paula.
EPÍGRAFE
– Na vida real, os homens não escapam de sua situação de
personagens, eternamente empenhados, como no palco, em manter uma forma e
vestir sua aparência
[...] A arte vinga a vida. Na criação
artística o homem se torna Deus -, do dramaturgo e escritor siciliano Luigi Pirandello (1867-1936). Veja mais
aqui, aqui e aqui.
CIBERARTE – No livro Cibercultura: tecnologia e vida social na cultua contemporânea
(Sulina, 2007), do sociólogo André Lemos,
encontro no IV Capítulo – Corpo e Tecnologia, que: [...] A ciberarte aproveita o potencial das novas tecnologias para explorar
os processos de hibridização da cibercultura contemporânea. Em síntese, a
ciberarte tem, no processo de virtualização, digitalização e desmaterialização
do mundo, a sua força e particularidade. Ela é interativa e atua dentro de
processos híbridos da cultura contemporânea (o espaço, o tempo e o corpo). Por
ser imaterial, a arte eletrônica não se consome com o uso e pode circular ao
infinito, escapando da lei entrópica da sociedade de consumo. É nesta
circulação frívola de buts que está o coração da arte eletrônica da
cibercultura. Mas sensual e intuitiva do que racional e dedutiva, a ciberarte
tenta produzir novos espaços de experiências estéticas e interativas, sob a
energia do digital. Veja mais aqui.
COMO
O “HOMEM” CHEGOU – No
livro Clara dos Anjos (1948), e do
escritor Lima Barreto (1881-1922), encontro o conto Como o homem chegou,
que narra a busca absurda por um prisioneiro demente que deve ser trazido da
Amazônia para o Rio de Janeiro. Da obra destaco o trecho: [...] Tomava a condução que o devia trazer à
cidade, quando a lembrança do meio de transporte do dementado lhe foi presente.
Ao guarda-civil, ao representante da Sili na zona, perguntou por um instante: -
Como há de vir o “sujeito”? O guarda, sem atender diretamente à pergunta,
disse: - É... é, doutor; ele está muito furioso. Cursono pensou um instante,
lembrou-se dos seus estudos e acudiu: - Talvez um couraçado... o “Minas Gerais”
não serve? Vou requisitá-lo. Hane, que tinha prática do serviço e conhecimento
dos compassivos processos policiais, refletiu: - Doutor: não é preciso tanto. O
“carro-forte” basta para trazer o “homem”. Concordou Cursono e olhou as alturas
um instante sem notar as nuvens que vogavam sem rumo certo, entre o céu e a
terra. [...]. Veja mais aqui e aqui.
PRESENTE – No livro Mar de sargaços
(1985), da poeta Regine
Limaverde, destaco o poema Presente: Hei de me dar a ti / em nada mais / do que
sou: / em alegria, esperança, / - itinerário do amor. / Aqui estou: / (um
presente a mais / dos muitos que te dei). / Minha vida acesa / chama,
interminável / carregada de verdes. / Um ponto de pó / carrego comigo. / Um
ponto de pó / molhado de lágrimas! / Hás de me ter mais / em risos do que em
lágrimas / não sou vertente de rios. / Minhas águas são navegáveis. / Tu me
verás mais / ao dia. / Sou bicho diurno; / A noite me mete medo. / Dar-me-ei a
ti / em nada mais do que sou. Veja mais aqui.
LA BARCA D’AMÉRICA – Tive oportunidade de assistir em 2000, no aconchegante Teatro Crowne
Plaza, em São Paulo, à montagem da peça teatral La Barca D’América, do dramaturgo, escritor e comediante italiano Dario Fo, com direção de Herson Capri e Susan Garcia, um monólogo que conta a descoberta
e a colonização da América, contada por um marinheiro italiano que naufraga na
costa americana e é aprisionado pelos índios. O monologo acompanha a gradual
mistura de cultura europeia com a nativa. Veja mais aqui e aqui.
LA FEMME DE CHAMBRE DU TITANIC – O drama La Femme de chambre
du Titanic (A Camareira do Titanic, 1997), do cineasta e roteirista espanhol Bigas
Luna (1946-2013), é baseado no romance homônimo de Didier Decoin, contando
a história da de um casal, um trabalhador de fundição que é caso com a mulher
mais bonita da cidade e ela é cobiçada pelo proprietário da fundição. Quando o
marido ganha o bilhete para ver a navegação do Titanic, ele conhece uma linda
jovem é uma das camareiras da embarcação. Essa jovem não tem onde dormir porque
todos os hotéis estão lotados e ele concorda em partilhar o seu quarto, ela
dormindo na cama e ele na poltrona. Contudo, no meio da noite ela tenta
seduzi-lo e finda ele com uma foto dela e, ao regressar, ele é promovido e ao
mesmo tempo encara rumores de envolvimento entre a sua esposa e o patrão.
Torna-se um bêbado para afogar as mágoas, lembrando-se da camareira quando
recebe a notícia do naufrágio. O destaque do filme fica por conta da belíssima
atriz espanhola Aitana Sánchez. Veja
mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Laudanum (1998),
fotogravuras da artista australiana Tracey
Moffatt - O título é uma ironia à droga láudano, usada no século XIX para
acalmar os nervos femininos.
DEDICATÓRIA
TODO
DIA É DIA DA MULHER